segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

[#1043][Mar/97] BLAST CORPS (ou "Blastdozer" no Japão)


Se tem algo que eu aprendi após 1042 reviews, é que definitivamente eu não era uma criança muito brilhante. Na verdade, dado que eu estou escrevendo esses reviews que ninguém lê, eu não diria que eu sou um adulto muito brilhante, mas essa é outra discussão. Um dos exemplos mais clássicos que eu lembro da minha falta de brilhantismo foi que eu fiquei absolutamente impressionado pelo 3DO, o fucking TRÊISDÊÓ, por causa de ... que os deuses dos doguinhos me perdoem ... SUPREME WARRIOR.

Sim, meu sonho de infancia era gastar 700 dolares (mais do que todas gerações juntas da minha familia já haviam possuído somadas até então) pra jogar SUPREME WARRIOR. Eu definitivamente não era um biscoitinho muito afiado.


Porém, saibam vocês, essa não foi a única. Talvez a pior, mas não a única. Isso teve um jogo, apenas um, que realmente me impressionou e que me fez desejar ter um Nintendo 64 de verdade. SUPER MARIO 64, você pergunta? THE LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time? GOLDENEYE 007? Qualquer jogo first party da Nintendo que era fucking BOM?

Não, é claro que não. Como eu disse, eu não era o lápis mais bem apontado da caixa. O que eu queria jogar, queria de verdade mesmo, era... Blast Corps. Fucking Blast Corps.


Em defesa do eu pré-adolescente, isso precisa ser dito, Blast Corps tem um conceito maravilhindo: um caminhão carregando misseis nucleares perdeu o controle, e a única forma de evitar uma hecatombe termonuclear é chamar a CORPORAÇÃO EXPLOSÃO para abrir caminho para ele levelando tudo que tiver pela frente. Você sabe, tipo VELOCIDADE MÁXIMA, só no lugar de um onibus com a Sandra Bullock de sei lá, 14 anos na época é um caminhão carregando um míssel nuclear.

E claro, pessoas mais céticas e mortas por dentro podem argumentar que provavelmente devem existir formas melhores de resolver essa situação do que usar veículos de obras para destruir tudo no caminho do caminhão desgovernando, mas como eu disse, essas pessoas já estão mortas por dentro.


O que mais me chamou atenção nesse conceito foi que eu sempre adorei a ideia de destruir o cenário em jogos, eu não sei pq mas é algo realmente satisfatórioem ver como vc pode interagir com a coisa. Claro, nessa época as opções eram limitadas, mas eu realmente ficava fissurado em coisas tipo jogar os inimigos na vitrine em BATMAN RETURNS. E olha que eu nem gostava desse jogo, eu gostava só de quebrar o cenário.

Interagir com o cenário era algo que encantava não só a mim, mas é uma constante no coração dos gamers: Fortnite se tornou um dos jogos mais jogados do mundo adicionando construção no meio de uma partida da tiro... por alguma razão, mas deu muito certo... e mesmo o clássico SIM CITY nasceu porque seu criador Will Wright descobriu que se divertia mais fazendo os mapas para o jogo "Raid on the Bungling Bay" do que jogando o jogo realmente. Então pelo menos nisso eu não sou maluco.


Então, para 1997 a ideia de ter um jogo que era essencialmente VELOCIDADE MÁXIMA NUCLEAR COM DESTRUIÇÃO DE CENÁRIO parecia realmente a coisa mais awesome que jamais awesomizou. Então na época eu fiquei muito pilhado por esse jogo, imaginei um enredo envolvente (quer dizer, não é como se 152 caminhões carregando misseis nucleares tivessem como dar defeito), desafios únicos e grandes e belas explosões. E você poderia me culpar por tal?

Provavalmente sim, pq infelizmente, não foi assim que Blast Corps acabou sendo.

Acredite, controlar o caminhão para empurrar a caixa de TNT contra a casa não é tão divertida quanto parece. E não parece nada divertido.

Pra começar, a única história que você terá é durante a demo de abertura do jogo. De fato o jogo alterna entre um caminhão carregando misseis nucleares e apenas destruir uma zona sem motivo nenhum dentro do tempo. O manual do jogo descreve a Blast Corps como "Uma equipe cujo objetivo original era derrubar prédios e reconstruir cidades devido à decadência urbana". Inverno nuclear e gentrificação. Não são as duas primeiras coisas em que você pensa ao discutir um título apoiado pela Nintendo da década de 1990 ...

Seja como for, o que resta após abrir caminho para o caminhão nuclear é... estranho. Depois de abrir um caminho para a segurança, você pode realizar objetivos secundários como salvar os sobreviventes. Como você faz isso? Demolindo os prédios em que os sobreviventes estão, é claro. Assim, a única maneira de libertar alguém preso em um prédio é derrubar o prédio em cima deles. Eu não sou um especialista em engenharia civil, mas desconfio que não é assim que funciona.

A parte que você tem que sair do seu veículo para pegar outro durante a fase... vamos dizer que não funciona tão bem quanto em METAL WARRIORS, um jogo de uma geração anterior de dois anos antes

Outro dos objetivos opcionais de Blast Corps é acender 100 luzes em cada estágio. Isso simplesmente envolve dirigir ao redor da fase. Você sabe, é um jogo da Rare dos anos 90, ter colecionaveis nas fases é meio como eles rolavam.

As fases que não são sobre abrir caminho para o caminhão nuclear são sobre pegar o veículo que o jogo te der e destruir alguns edifícios em um tempo determinado ou apenas completar voltas na pista dentro do limite de tempo. O que, como a descrição sugere, parecem quase como jogos shareware ruins criados para estender a duração do jogo.

Agora, o curioso é que depois de abrir um caminho seguro, acender 100 UDRs e salvar os sobreviventes, o que mais sobra como atividade no jogo? Destruir todos os prédios ainda de pé. Agora me chame de louco, mas qual é o sentido de evitar uma explosão que destruirá tudo apenas para destruí-lo você mesmo?!

Normalmente, não fazer sentido não seria um problema quando se trata de um jogo em que você explode coisas, mas o REAL problema é qu eem Blast Corps explodir coisas não é muito divertido realmente. E por isso eu quero dizer que dirigir os veículos é uma experiencia BEM ruim. Pra começar tem a falta de capacidade de diminuir o zoom ou de ver um mapa não torna sua vida mais fácil, mas o que realmente me incomoda é que o controle dos veículos pode ser melhor descrito como "dirigir em uma pista de sabão molhado".

Todos os veículos diferentes em Blast Corps são manchadas por um controle muito ruim. Eu lembro de ter lido algo por cima em uma review antes de jogar o jogo, mas esperava que isso fosse um exagero. Não era. Minhas esperanças foram esmagadas no início de minha experiência em Blast Corps.

O caminhão basculante é de longe o pior infrator na categoria de controle de jogo: ele tem controles ruins, mas o caminhão basculante exige que você dê drift para destruir as coisas com a caçamba. Então imagine isso: você tem essencialmente o que é um jogo de corrida numa pista de gelo, mas você só causa dano dando drift no gelo. Com um limite de tempo apertado, yay, fun!


Mas a real é que embora a basculante seja a pior, todos os veículos, exceto a escavadeira e os robôs, são provavelmente os piores instrumentos de demolição que alguém poderia ter imaginado. A moto que dispara misseis tem uma area de tiro muito curta, o caminhão bate-estacas laterais exige posicionamento mais preciso do que essa fase do gelo exige.

Existem apenas dois veículos que são realmente divertidos de usar (ou seja, que têm um controle bom), e que obviamete são muito subutilizados no jogo. O robô J-Bomb oferece uma experiência de jetpack melhor do que em PILOTWINGS 64 e pisar em edifícios do alto é um dos poucos casos em que vc sente real satisfação em destruir algo. A escavadeira também é um bom veículo porque funciona simples (apenas bata nas coisas) e simples é tudo que esse jogo suporta.


É realmente uma pena que jogar esse jogo não seja muito divertido, pq o jogo realmente passa a sensação geral de estar brincando na maior sandbox do mundo com um conjunto de Hot Wheels, o que me parece a abordagem correta para esse tipo de jogo. Outra escolha muito feliz é a música do jogo ser uma música country super animada, o que vende muito bem a sensação de "vamos detonar coisas, yehawww!!!!"

O jogo ainda tem questionavelmente um problema de foco: sua apresentação e marketing parecem voltadas a destruição descerebrada, mas essencialmente esse jogo é um puzzle: existe apenas uma sequencia de coisas que vc tem que destruir e veículos para trocar. Um exemplo bem clássico é a fase que você tem que largar o seu J-Bomber para assumir o controle de um trem, dirigir o trem para preencher o buraco na ponte para que o caminhão-nuclear não caia, pegar um carro que está em um dos vagões do trem e voltar para o seu J-Bomber para continuar destruindo as coisas.


Eu não tenho nada contra fazer do jogo efetivamente um puzzle, mas novamente, eu tenho tudo contra fazer um puzzle com limite de tempo apertado e controles ruins. Eu sei que eu estou batendo muito nessa tecla, mas não tem como não apontar que é um jogo sobre destruir coisas onde destruir coisas não é satisfatório... bem, se isso não é a definição de um problema então eu não sei mais o que seria.

Definitivamente comprar um Nintendo 64 por causa de Blast Corps não é uma ideia pior que comprar um 3DO por causa SUPREME WARRIOR, mas ainda sim é bastante desapontante que um jogo com essa premissa tenha sido varrido pra debaixo do tapete da história. Blast Corpos poderia ter sido tão mais...

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 097 (Janeiro de 1996)

Edição 117 (Julho de 1997)



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 038 (Maio de 1997)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 018 (Maio de 1997)