segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

[#1051][Jun/96] RAGNAGARD (ou "Shinohken" no Japão)


Na metade dos anos 90, a SNK travava uma ferrenha batalha morro acima pela liderança de um dos mercados mais disputados dentro do mundo do videojogos: os arcades. E ao que eles iam bastante bem, apesar da gigantesca competição pelo primeiro lugar. THE KING OF FIGHTERS era o crem de la crem dos jogos de luta 2D no arcades, e coisas como SAMURAI SHODOWN 4: Amakuza's Revenge e REAL BOUT FATAL FURY seguravam as pontas bonitão. 

Apesar de enfrentar concorrencia pesada dos jogos 3D (como TEKKEN 3 e SOUL EDGE) e especialmente os jogos VS da Capcom (como X-MEN VS STREET FIGHER), a SNK se virava bonitaço. Ou pelo menos teria, não fosse o fato que nesse momento a SNK não estivesse lutando em dois fronts ao mesmo tempo dado que eles também investiam no campo de hardware desde o final dos anos 80 com o Neo Geo... e aí a coisa complicava.


Suponho que eu não precise explicar o quão espinhoso é o mercado dos consoles domésticos e quanta gente tentou sem sorte sobreviver nesse cenário - e por isso eu quero dizer gente até mesmo grande como a Apple, no meio de nomes famosos no mercado como a Eletronic Arts (com o 3DO) e a Atari (com o Jaguar Dodemat).

O principal problema do Neo Geo é que ele era abusivamente caro (tipo uns 600 dolares caro), seus jogos eram quase tão caros quanto (cerca de 150 dolares por jogo) e ele era alimentado quase exclusivamente pela própria SNK. Você tinha literalmente arcades em casa (sério, os cartuchos pesavam vários quilos e eram literalmente placas de arcade), mas estava preso a jogar os títulos da SNK.

Outro problema é que a SNK precisava urgentemente de dinheiro, então eles não podiam se dar ao luxo de fazer os ports dos seus arcades serem exclusivos da sua plataforma. Claro que ter uma adaptação exclusiva de THE KING OF FIGHTERS 96 no Neo Geo ajudaria a vender consoles, mas eles tinham que licenciar o jogo para vender no PS1 e no Saturn também because boletos. Então... qual era o ponto de ter um Neo Geo, afinal?


A empresa japonesa então tentou resolver esse problemas lançando o Neo Geo CD, o que baratearia o preço dos jogos, e desovando jogos a rodo para fazer volume na biblioteca do console - uma estratégia não muito diferente do que a 3DO Company tentou fazer para salvar o seu petardo. E é aqui que entra o jogo de hoje, ele faz parte desse contexto, desse esforço de guerra para fazer volume na biblioteca do Neo Geo CD.

E isso que o jogo foi feito no apavoro fica imediatamente óbvio mal vc liga ele: o jogo é essencialmente a tentativa da SNK de tentar fazer o seu KILLER INSTINCT com imagens pré-renderizadas convertidas em sprites. Só que ao contrário do jogo da Rare/Nintendo, aqui a coisa foi CLARAMENTE feita no atropelo e faltam muitos quadros de animação, fazendo com que os bonequinhos pseudo-3D sejam incrivelmente duros... e honestamente, não muito bonitos.


O outro problema do jogo, além dele não ser bonito e não ser bem animado, é que... bem, ele não tem muito mais para ele do que isso. Quer dizer, é essencialmente o esqueleto de THE KING OF FIGHTERS (que é o jogo que a SNK sabia fazer) feito no time attack e não muita coisa para ele além disso.

Com efeito, existem apenas duas adições ao seu tradicional jogo de luta - e eu já adianto que não achei nenhuma das duas particularmente brilhante. A primeira mecânica é o "Sistema de Elementos" - sim, virou Pokemon saporra. Mas é, cada personagem tem duas afinidades elementais de quatro possiveis (Fogo, Água, Eletricidade e Vento) e os jogadores jogadores pode carregar o medidor de energia de uma das duas afinidades (segurando ABC carrega uma, segurando BCD carrega a outra). 


Quando o medidor de energia está cheio, não apenas os movimentos da mesma afinidade elemental se tornam mais fortes, mas também dropam tokens desse elemento que o jogador pode coletar para utilizar o desperation move.

A segunda principal mecânica de jogo é o "Sistema de Batalha Aérea": ​​depois de atingir um oponente, o jogador pode pressionar para cima mais os dois botões fracos para fazer juggling com o oponente, permitindo que o jogador siga batendo no oponente no ar para fazer combos aéreos. O que, não crie muitas esperanças nisso, já aviso que não funciona tão bem como em um X-MEN VS STREET FIGHER da vida.


E é isso, o jogo tem um sistema de air combos meia bomba e umas frescuras para dar o desperation move, nada muito além disso em cima do combate faltando quadros de animação. Yay,

Pra mim a coisa mais interessante desse jogo é o seu elenco de personagens, isso pq enquanto a premissa não é realmente revolucionária (Deus finalmente desistiu dessa porra e decidiu começar de novo criando um novo mundo, então antes de puxar o carro ele criou um torneio de luta de deuses pra ver quem ficava no controle da coisa), a escolha do elenco é dado que os deuses que participam desse torneio são bem menos mainstream do que vc poderia pensar.

Esqueça nomes famosos como Anubis ou Thor, quem sai no pau nesse jogo são deuses tipo a deusa Inuit do oceano, Sanna, ou a deusa armeniana da guerra e da sabedoria, Nane. Ou a deusa Benten, um dos sete deuses da sorte do budismo japones. Pessoal bem underground MERRMO, isso tem que ser dado a eles.

ISSO PARECE UM USO BASTANTE INTERESSANTE DA ENCICLOPEDIA BARSA NA ÉPOCA, MAS NÃO CREIO QUE SEJA SUFICIENTE PARA SUSTENTAR UM JOGO INTEIRO

Eu nunca disse que era, apenas que era curioso. Um jogo feito no bumba meu boi só para fazer volume na biblioteca do Neo Geo CD, e enquanto é verdade que um jogo de luta feito nas coxas pela SNK ainda é infinitamente superior as porcarias que sairam para fazer volume na biblioteca do 3DO, no fim do dia não deixa de ser só um jogo feito na moda loka só pra fazer volume.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 116 (Junho de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 039 (Junho de 1997)

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 019 (Junho de 1997)