quarta-feira, 21 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 047] AERO THE ACRO-BAT (SNES e Mega Drive, 1993) [#530]




O ano é 1993. Pouco tempo se passou após depois do da maior, mais tragica, terrivel tragédia na história dos videogames, conhecido como "A Tragédia". Mais conhecido ainda como Sonic: The Hedgehog. Isso significa que todas as empresas estavam convencidas que o segredo do sucesso fácil era ter como protagonista um animal super maneiro repleto de atitude. Mais precisamente, era tudo que eles achavam que era necessário ... como foi provado por "Awesome Possum... Kicks Doctor Machino's Butt", Bubsy, Chester Cheetah, Cool Spot, Plok! e a lista vai e vai...

Claro, uma vez na vida e outra na morte os planetas se alinhavam e saia algo de bom disso, como Rocket Knight Adventures e... hmm, e tem também o... hã... bem, é isso na verdade. Seja como for, esperanças são elevadas quando uma empresa como a Sunsoft decide entrar na brincadeira com o seu "mascote super maneiro". Só que a Sunsoft é uma empresa alguns passos acima do decente, tendo ótimos jogos na geração passada como BATMAN RETURNS e Gremlins 2

Verdade que nessa geração eles ainda tem muito o que provar, com jogos bastante... djezuz christ... como BLASTER MASTER 2 e TAZ-MANIA 
Propagandas dos anos 90, amirite?

Mas hey, ninguem pode desaprender tanto assim a fazer jogos bons, não é? Tenho certeza que para esse jogo eles tem excelente ideais para mecanicas, personagem e level design! 

... quer dizer, eles tem essas coisas, certo? CERTO?!?

...



Hmm, mais ou menos. Eles tem um trocadilho, serve? 

Aero, o Acro-Bat. Entenderam? Hã? Hã? Parabéns ao cazalbé de plantão na Sunsoft, já que aqui o jogador é presenteado com um jogo de plataforma em que o protagonista é um bat acrobat. Isso é o dobro de bats que qualquer jogo do Batman jamais teve - a menos que tenha um jogo onde o batman enfrente o manbat, aí estariamos empatados em bats.



Mas vá lá, embora o personagem não seja exatamente bonito (morcegos são basicamente ratos com asas, e ele tem muita cara de ratão preto), o trocadilho pelo menos chama atenção. E fora isso, o que mais o jogo tem a oferecer?

Então... como eu posso colocar isso? Mais nada realmente. Tipo, é isso. Acabou aí e eu estou falando bastante sério.



Seu personagem, por exemplo, não elimina seus inimigos pulando neles ou disparando algo neles - quer dizer, até tem um disparo de estrelas mas é tão raro achar munição que nem conta direito. Então como você pode se defender nesse jogo?

Bem, como vocês sabem, em 1993 jogos de luta estavam com toda fúria no gosto da galera e nenhum jamais foi tão popular quanto Street Fighter 2! Então qual não foi a sacada da Sunsoft ao usar um iconico golpe de Street Fighter como ataque nesse jogo!

UAU! ENTÃO VOCÊ TEM UM HADOUKEN COMO ATAQUE?!?

Então... não exatamente...

HÃ, UM SHOURYUKEN ENTÃO? SPINING BIRD KICK?

Também não...

UÉ, MAS QUE GOLPE ICONICO DO STREET FIGHTER É O SEU ATAQUE PADRÃO NESSE JOGO?

Bem...



De todos os golpes de todos os jogos de luta, alguém olhou o torpedo do Dhalsim de Street Fighter e realmente pensou "Sabe o que? Vamos fazer desse movimento seu único ataque no nosso jogo de plataforma!".

Que? Apenas... quê?



Isso ... é uma das coisas menos práticas que eu já vi na minha vida. 4REELZ. Quem achou que isso é uma boa ideia? Quer dizer, ter como um extra a poder pular na cabeça dos inimigos é ok, mas isso ser o seu único movimento? Mas que merda... puta merda...

Mas enfim, vamos adiante... graficamente, Aero, o Acro-Bat, parece tão adorável quanto pode parecer um jogo onde o protagonista parece que vai ter passar PESTE BULBONICA. As escolhas ruins apenas se empilham, é impressionante...

Muitos dos chefes do jogo são máquinas operadas por esse esquilo chamado Zero, que eventualmente ganharia o seu próprio jogo também because anos 90

Como esperado, a versão do SNES é mais colorida que a versão Mega Drive, mas a animação dos sprites parece mais fluída no console da Sega. A nivel de movimento, Aero parece o Sonic. Conforme você joga ele parece menos com um morcego (exceto pelo torpedo do Dhalsim, just because) e mais como um um impostor de ouriço vermelho com asas e movimentos levemente mais leves. Ou seja, ele é menos ruim de controlar que o Sonic, mas não tanto assim.

O resto do jogo não é feio, contudo. Os sprites inimigos são variados assim como os chefes, que são bons e grandes. O tema do jogo é circo, então temos coisas variadas como anéis de fogo, cama elástica e montanhas-russas, então tudo que você poderia esperar para um título de 16 bits.

I'm acro-batman!
Em termos sonoros,  Aero, o AcroBat, é medíocre, e isso é muito raro para um jogo da Sunsoft. A música dos primeiros níveis é um loop de 5 segundos do jingle icônico de circo ("uma cambalhota, duas cambalhotas, bravo, bravo") composta com precisão cirúrgica para te deixar louco, porque aqui o som FX do SNES é um lixo.

Queria uma palavra melhor para descrevê-la, mas algumas das escolhas aqui são ... curiosas. É como se a versão Mega Drive fosse portada para o SNES, porque a máquina da Nintendo é capaz de muito mais do que esse som de xilofone rolando escada abaixo. Mas o pior mesmo é que muitas vezes os efeitos sonoros não correspondem ao que está acontecendo. Experimente o canhão-humano (canhão-morcego?) para um exemplo bizarro de um canhão que por algum motivo faz som de cama elástica.

Aero questiona suas escolhas de vida quando suas opções são um canhão que faz som de cama elástica ou um palhaço menor que um morcego


Mas ok, eu sou bastante leniente com som ruim desde que a jogabilidade compense. E em Aero, o Acro-Bat... isso não acontece. Na verdade, o gameplay é a pior parte do jogo. Em cada fase você você tem que reunir algum número de itens espalhados por seu design labirintico. Com limite de tempo. Imagine o level design de Bubsy se não tivesse feito por discipulos do Jordan Mechner.

Se Bubsy fosse feito por gente que soubesse o que está fazendo, seria esse jogo. Só que uma merda bem produzida ainda é uma merda, não importa o quanto de confetti você tenha comido antes para dar uma colorida na coisa.

Voe pequeno palhacinho, seja livre!
No primeiro nível, por exemplo, você tem que encontrar e pular três vezes em cima de 15 plataformas azuis. Se você perder qualquer uma delas, tem que rodar a fase de cima a baixo achando as porcarias. É basicamente a coisa de achar as pulgas em Plok! só que aqui não tem a setinha dizendo para que lado ir - é só você e deus no sertão. Te garanto que isso é tão divertido quanto a descrição soa.

Alias por que eliminar plataformas para desbloquear o final da fase? Qual a lógica disso? Ah, e você tem que achar o final da fase também, apenas porque foda-se. Muito frequentemente você vai chegar ao final da fase apenas para descobrir que tá faltando colecionar itens e nenhuma ideia do que você deixou passar - minha ideia de diversão. Navegar pela fase em busca das porcarias que faltam é pior ainda do que deveria ser devido a coisa de você não ter um ataque decente, só a porcaria do parafuso do Dhalsim.

A fase de bonus é inspirada em Pilotwings, bom toque


Durante o jogo, a coisa toda passa uma distinta falta de satisfação. Os inimigos não têm outro propósito senão ser um incômodo e você sente que eles são apenas caras cuidando da sua vida, por que você deve pulverizá-los? Honestamente você não parece cool, Aero, e sim só um babaca.

O level design melhora assim que você sai do circo... ou seja, após a quinta fase, uma hora após o início do jogo e mais ou menos pela metade da aventura. As fases são um pouco menos labirinticas e envolvem bem menos backtracking, além de ter um pouco de variedade como correr a fase rolando em bolas de pedra. 

Sim, você ainda continua espancando palhaços que só parecem estar cuidando das suas vidas, mas ter mais o que fazer torna o Aero mais toleravel. Novamente, teria ajudado mais se você não tivesse que esperar até a metade do jogo para as coisas melhorarem.

Na continuação exclusiva para Game Boy Advance, o Japão sentiu que precisava dar uma... japanificada ... no personagem
O principal problema do Aero, o Acro-bat, é que não há incentivo para jogá-lo. Como dito, o gameplay é um saco e eu acho que não me importo muito com o fato de um palhaço do mal ter sequestrado os funcionários de um parque temático auxiliado por um maluco conhecido como Zero, o esquilo Kamikaze (trocadilho level... prassódia!). 

A curva de dificuldade é ok, mas não faz muita diferença o jogo não ser facil ou dificil demais quando você não tem vontade de jogar o jogo. Os níveis de bônus são interessantes, mas algumas tentativas são suficientes para matar a curiosidade. Eu sinto que com um protagonista mais carismático, uma trilha sonora que não pareça saída do Mega Drive e A PORCARIA DE UM ATAQUE DECENTE, poderia ter sido um bom jogo de plataforma. 

Mas pensando bem, se você for fazer tudo isso... então é o mesmo que dizer que eles queriam que refazer quase o jogo inteiro para ele ser bom. Que merda.



PREVIEW NA EDIÇÃO 038