terça-feira, 1 de outubro de 2024

[#1310][Ago/95] MAGIC KNIGHT RAYEARTH

Assim, eu não sou o maior fã do mundo do Jovem Nerd. Não é nem que eu não gosto, eu apenas nunca tive muito interesse e isso é isso, deixa os caras no canto deles e vida que segue. Só que existe uma coisa que foi dita em um Nerdcast que eu não sei se foram eles que inventaram mas eu nunca havia ouvido antes: a regra dos quinze anos. A definição é a seguinte:

“Se você viu um filme antes dos 15 anos de idade e gostou dele, não reveja. É possível que você ache ele uma merda porque você não tinha capacidade de perceber antes.”

Pra mim isso não é realmente uma novidade, eu trabalho diariamente com coisas que eu conheci antes (ou por volta dos) meus quinze anos. É literalmente o que eu faço aqui, e algumas coisas são melhores do que eu lembrava (como o Squall em FINAL FANTASY 8), algumas coisas são piores do que eu lembrava (como eu adorava DOUBLE DRAGON 3 é um dos grandes mistérios da vida, pq pelas santas almas que me regem...). O jogo que jogamos aqui é esse.

Na publicação ocidental, a Working Designs fez três capas diferentes para o CD do jogo e distribuiu aleatoriamente. Um colecionador entusiasta de Guerreiras Magicas pode querer comprar três vezes esse jogo para ter as três artes... que foi, pq vc tá me olhando assim?

Isto sendo dito, contudo, todavia, porém, entretanto, o assunto de hoje é um pouco diferente pq agora sim a Regra dos 15 Anos me pegou de um jeito que, rapaz, eu não tava preparado. Mas nem remotamente. Hoje falaremos da Cavaleiras Mágicas do Raio Terra.

Mas vamos começar do começo: Guerreiras Mágicas de Rayearth é um anime muito especial para mim, e sob muitas maneiras eu posso dizer que foi o anime que fez eu realmente me apaixonar por animes. Quero dizer, quando o grande boom dos animes começou no Brasil com Cavaleiros do Zodíaco obviamente que eu estava no trem do hype e tudo mais (alias esse sim é um que dá aula na Regra dos 15 Anos, pq CdZ é uma coisinha que vou te contar... mas esse não é o tema hoje), mas até então pra mim era apenas outro desenho animado, ser japonês não o tornava muito especial tanto quanto os desenhos poloneses (ou sei lá que raio de Uzbequistão tiravam aquelas coisas com 4 quadros de animação por minuto que passava no Glub Glub) que passavam na TV Cultura não significavam muita coisa pra mim.

Só que com o boom do sucesso de CdZ na Manchete, todo mundo e a mãe de todo mundo começou a correr atrás de um anime para chamar de seu e obviamente que o SBT tentou a sorte também. Para isso eles trouxeram alguns animes como Dragon Ball (que eu nunca achei essa Coca Cola toda, mesmo quando criança) e Dragon Quest (que veio pra cá como "Fly, o Pequeno Guerreiro" e eu confesso que nunca sentei pra ver direito).

Eu vejo essas armaduras e fico pensando que o cara acorda e a primeira hora da manhã é dedicada a vestir isso e estudar em quais portas ele não vai conseguir passar

Com tudo dito e feito, o anime que realmente me fez parar pra prestar atenção que tinha alguma coisa realmente especial acontecendo do outro lado do mundo foi justamente esse, e reassistindo hoje eu consigo entender as razões. Primeiramente, pq esse anime é bonito para senhor de um vistoso caralho não apenas pq ele se baseia no traço do mangá da Clamp que sempre é um espetáculo, como o estúdio TMS (que hoje produz alguns animes que vc REALMENTE deveria prestar atenção, como Undead Unluck e Megalobox) botou uma grana bonita aqui.

Isso significa que, especialmente os primeiros episódios, tem uma qualidade de animação que flerta com o OVA e isso é um choque muito grande com tudo que se fazia na época, especialmente os animes de orçamento extremamente questionável da Toei. Se pegarmos a animação de coisas como Sailor Moon e Cavaleiros do Zodíaco, Rayearth parece um filme do Wes Anderson em comparação.


Não foi com One Piece que a Toei aprendeu a ser mão de vaca, acredite

Adicione a isso que a trilha sonora do anime foi composta num dia que a Naomi Tamura acordou, tomou um café sem açucar, deu um tapa na mesa e anunciou: "HOJE EU TO CÁ GOTA!". E cá gota ela estava, realmente:


E não apenas isso, como a própria versão brasileira da abertura é um patamar acima numa época que as adaptações são lembradas por serem muito boas:



Então, é, Guerreiras Mágicas de Rayearth tem valores de produção astronomicamente altos para um anime de 1994. Até certo ponto, mas já chegaremos a isso.

A outra coisa que esse anime tem a seu favor é que ele é baseado em um mangá relativamente curto. O manga original da CLAMP! tem apenas três volumes e por mais que fosse normal enfiar filler até embaixo da lingua para os animes durarem indefinidamente, de modo geral a coisa anda num passo muito mais rápido que o esperado. Eu digo que a titulo de comparação, por exemplo, o anime original de Sailor Moon tem 46 episódios e apenas 18 tem algum tipo de relevancia ou desenvolvimento para a trama. E isso era puta normal MERMÃO, 70% dos episódios serem filler era como se fazia anime para televisão na época!

Rayearth, nesse sentido, é bem mais enxuta: a primeira temporada tem 20 episódios e mesmo tendo filler, eles mais ajudam do que atrapalham pq ajudam a fixar os vilões que no manga aparecem apenas uma vez cada e olhe lá. Então, é, o ritmo é bem melhor também. Bem, sim, verdade que no mesmo ano de 1995 depois veio Neon Genesis Evangelion e deu uma pirocada Lilithiana na cara de todo mundo a respeito do que deveriamos esperar e como deveria ser um anime para televisão, mas para sua época Rayearth definitivamente é uma produção diferenciada... até certo ponto.

Dentre as grandes dublagens brasileiras que são frequentemente citadas, a dublagem da Marine passa injustamente batida pq ela é uma barraqueira espetacular. Meu momento favorito é quando ela diz "Minha filha, se ser irresponsável é evolução então qualquer motorista de beira de estrada é uma Guerreira Mágica"

Então, é, não é dificil ver porque Rayearth foi uma grande coisa no seu tempo, com um esforço da TMS além do que se podia esperar de adaptações de mangas nessa época. Adicione a isso um elenco feminino, mas bem definido e carismático numa época que nenhuma menina de verdade falava comigo e...

ALGO QUE NÃO MUDOU ATÉ HOJE, GOSTO DA CONSISTENCIA DO SEU PERSONAGEM

... obrigado pela valiosa consideração, Jorge, mas eu dizia que todas essas coisas consideradas não é dificil entender pq esse anime apelou tanto para o meu patético eu adolescente. Pois muito que bem, agora que estamos todos na mesma página a respeito do que Rayearth é, é hora de falar sobre o que eu tirei da experiencia de reassistir o anime já sendo um macaco velho no ramo. E é aqui onde a regra dos quinze anos entra, eu temo.

Vamos lá: a primeira coisa que você vai reparar nesse anime é o quanto ele é... hã... conciso, vamos dizer assim. E por isso eu quero dizer que a coisa tem um ritmo bem mais toco-y-mi-voy do que eu realmente lembrava, a coisa é meio rushadinha sim. E por isso eu quero dizer que você sabia que o Guru Cleff, que supostamente é o mentor das meninas, passou exatamente SETE MINUTOS com elas. Eu não to zoando, eu contei no relógio, SETE MINUTOS.

Propaganda japonesa do jogo...

Assim, gurias, eu sei que vocês tem empatia e tenho certeza que são ótimas pessoas nos seus corações de 14 anos, mas fica realmente esquisito elas passarem o resto da temporada lamentando a perda de alguém que elas conviveram durante SETE MINUTOS. SETE. MINUTOS. Tá, eu sei, o herói perder o seu mentor é parte do Manga 101 pra ter um peso emocional na jornada, tanto que normalmente isso acontece quando o mentor criou o herói ou passou um tempo considerável com ele. Mas então nesse caso aqui, novamente, SETE FUCKING MINUTOS.

E assim é a temporada toda, a coisa é bem no time attack mesmo. Elas não realmente passam muito mais tempo com a Priscila e depois elas passam a temporada lamentando o sacrificio de alguém que elas conheceram durante tipo 10 minutos. Caras, eu estou surpreso que vocês sequer lembrem o nome dessas pessoas, quanto mais fiquem tristes por elas!

Isso sendo dito, a primeira temporada não é ruim realmente. É um isekaizinho feijão com arroz, mas redondinho: três meninas são convocadas para um mundo mágico onde precisam reunir 3 mcguffins para derrotar o vilão do mal que odeia o bem, e seus generais malignos maleficentes.

Em comemoração aos 30 anos da animação, foi anunciado um remake em 2024

À primeira vista, Rayearth parece ser uma abordagem boba dos cliches de RPG, do ponto de vista de um shoujo-mangá. As personagens principais, embora charmosas, são tirados dos arquétipos de mangas anteriores. A moleca genki que fala mais que a lingua. A ojousama princesinha mimada. A recatada garota-esperta-de-óculos. Cada uma codificada com sua própria paleta de cores temáticas, obviamente, pq não somos barbaros afinal

Ajuda muito, verdade seja dita, que a CLAMP! tenha feito algumas coisas particularmente interessantes com essa formula. Em primeiro lugar, as coisas que elas tem que coletar são três fodendos mechas lendários e tudo sempre fica mais legal com robos gigantes. Eu não sei quem teve a ideia de colocar robos gigantes num cenário de fantasia, mas ficou legal para um caralho, parabens a todos os envolvidos. Verdade que elas usam os mechas apenas duas vezes, mas foi bem maneiro e isso não pode ser desdito.

A outra coisa que ajuda é que o vilão da temporada faz bastante sentido. O rolê aqui é que Cefiro é um mundo que literalmente só é mantido junto pq alguém tem que ser o pilar da sua existencia, e literalmente o trabalho dessa pessoa é rezar 24 horas por dia para a coisa toda não desmorone mais rápido do que as minhas esperanças fazendo um perfil no Tinder... o que é uma vida bem merda, vamos combinar. Tipo muito, sério. Então um belo dia, provavelmente numa terça-feira, o mago da corte decidiu sequestrar a princesa que é o pilar da porra toda apenas assim, de zoas só pra dominar o mundo e essas coisas de vilão, e sem ela rezando Cefiro literalmente está começando a se esfarelar. Com um último esforço, a princesa então convoca as lendárias Guerreiras Mágicas da lenda lendária lendistica para salvar o dia.


Encerramento do OVA, alguém prenda Naomi Tamura pq é ilegal ser tão boa assim!

Ao longo da temporada começa então a crescer a questão de que, você sabe, o mundo está literalmente desmoronando. Por mais que Zaggard seja um vilão do mal que odeia o bem por motivos malignisticos, ele ainda precisa que exista um mundo para ele viver, não? Quer dizer, pra você dominar o mundo vc precisa necessariamente que exista um mundo em primeiro lugar, não?

Entãaaaaaaao... a coisa é que Zaggard não apenas está ciente disso, como na verdade o motivo dele para fazer o que ele está fazendo meio que faz sentido. Ao longo de todos esses anos nessa indústria vital eu já vi inúmeros vilões que querem destruir o mundo because evil, mas Zaggard, hã, well...


Isso quer dizer que o final da temporada é simplesmente espetacular. Temos luta de mechas, temos plot twist duplo carpado, temos dramalhão mexicano, a porra toda de tudo que a vida tem de melhor a oferecer. Tanto que a última cena que encerra a temporada é literalmente essa:


As meninas voltam para Toquio chorando abraçadas, foi uma desgraceira só, ninguém ficou feliz, CLAMP! em seu clampismo máximo, como eu disse, all the good stuff. É um final bastante bom que eleva uma obra que estruturalmente faz apenas o básico mas fazia bem feitinho mesmo, pq se aprendemos algo com Rogue One é que um final bastante bom consegue elevar o patamar de uma obra até então apenas competente. Até certo ponto.

Mas então, não deveríamos esperar menos do CLAMP. Rayearth foi planejada para ser um trabalho mais leve e amigável ao público do grupo que ficou conhecido por seus dramalhões ultra trágicos como o o angustiante e taciturno Tokyo Babylon e, mais tarde, X. Mas mesmo em seu material mais leve (Card Captor Sakura), a CLAMP tem uma tendência a apresentar relacionamentos proibidos, romances emaranhados e ninguem tendo o que queria, e o final de Rayearth não é diferente. Até certo ponto.

OKAY, TÁ, NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE TU USA ESSA EXPRESSÃO. "ATÉ CERTO PONTO" O QUE? QUE PONTO É ESSE?

Então... Jorge... então... é aqui que as coisas ficam mais complicadas realmente. Isso pq logo após este final que é bastante bom Clamp continuou publicando, o que nos leva a uma coisa que no manga foi chamado de "Rayearth 2" e no anime foi adaptado como a segunda temporada e... bem... as coisas começam a ficar estranhas a partir desse ponto. Tipo realmente estranhas. Pra começar, há uma mudança brusca no próprio genero da coisa toda.


Não, não esse tipo de mudança de genero. Eu me refiro a que se a primeira temporada é um isekai de fantasia medieval, a segunda é... hã... um anime de mecha/sci-fi... eu acho? Quero dizer, certamente a segunda temporada está muito mais perto de Neon Genesis Evangelion do que de Record of Lodoss War, e esse é meio que todo o ponto aqui.

A coisa é que alguns meses após o final melancólico e trágico da primeira temporada, as meninas são novamente aparatadas de volta para Cephiro... apenas para descobrir que tudo está mais melancólico e trágico ainda. Sem um pilar o planeta está literalmente morrendo e tudo que eles tem que fazer é torcer para que... hã, o planeta, eu acho, isso nunca é explicado claramente... escolha um novo pilar para sacrificar sua liberdade enquanto todo mundo mais ri nos campos verdejantes onde os Teletubbies vem brincar.

O que por si só não teria muito o que elas pudessem fazer a respeito, não fosse o fato que, acredite ou não, ALIENS ATACAM! 


ESPERA, COMO ASSIM "ALIENS"?

Estou falando literalmente de civilizações alieníginas com suas naves alieníginas e estereotipos culturais alienginas invagem Cephiro... não que tenha muito mais o que invadir, o planeta inteiro agora é uma terra barrenta e morta!

INVASÃO ALIENIGINA DUNEIDA EM UM CENÁRIO DE FANTASIA... MEU DEUS, É DARLING IN THE FRANXX TUDO DE NOVO, NÃO É?

Temo que seja levemente pior, Jorge, temo que seja pior. Pq sabe o que os aliens querem? Cada um deles, por seus próprios motivos, quer se tornar o novo pilar de Cephiro! E cabe as Guerreiras Mágicas impedir que isso aconteça!

ESPERA, ESPERA, ESPERA, TEMPO, TEMPO. DEIXA EU VER SE EU ENTENDI O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI: CEPHIRO ESTÁ MORRENDO PQ NÃO TEM MAIS UM PILAR...

Sim, mais do que morrendo, o planeta em si já saiu no BID para jogar pelo Vasco da Gama, a unica coisa que falta é literalmente as rochas que compõe o solo se despedaçarem no espaço e isso já está acontecendo.

TÁ, ENTÃO, TEM ESSES CARAS QUE QUEREM SER O NOVO PILAR... E ISSO NÃO RESOLVERIA O PROBLEMA? QUER DIZER, NÃO É COMO SE ELES PUDESSEM PEGAR A PILARIDADE E SAIR CORRENDO, NÃO É? ELES NÃO TERIAM QUE FICAR REZANDO EM CEPHIRO E TAL?

Sim, resolveria totalmente o problema, e sim, eles não podem pegar os poderes de pilaridade e sair correndo, eles teriam que ficar e cumprir as funções de pilar para o planeta continuar existindo. E é por isso que as Guerreiras Mágicas tem que dete-los!

... ISSO... NÃO FAZ SENTIDO NENHUM... QUER DIZER, ALGUM DELES QUER SE TORNAR O PILAR PRA TIPO TORNAR CEPHIRO UMA COLONIA DE EXPLORAÇÃO OU ALGO DO TIPO?

Hã? Não realmente, todos estão preocupados em resolver os problemas dos seus mundos natais mas sabem que vão ter que ficar e cuidar de Cephiro também, então não é como se nenhum deles fosse realmente mau. Nada que sentar e conversar meia hora não resolvesse. E é por isso que as Guerreiras Mágicas tem que dete-los!

TÁ... ISSO REALMENTE NÃO TÁ FAZENDO MUITO SENTIDO...

De qualquer forma, pq sabe como se determina o novo pilar? O planeta escolhe ele mesmo. Então meio que não importa os aliens chegarem e fazerem o que bem entenderem, a palavra final é do planeta.

ENTÃO PQ AS GUERREIRAS MÁGICAS ESTÃO LUTANDO CONTRA ELES, EXATAMENTE?

Pra impedir que qualquer um chegue na sala da coroa e o planeta não possa apontar um novo pilar, obviamente!

QUE? MAS NÃO É A FALTA DE UM PILAR QUE ESTÁ LITERALMENTE MATANDO O PLANETA?

Sim, exatamente.

E A MISSÃO DAS GUERREIRAS MÁGICAS É IMPEDIR QUE QUALQUER UM CHEGUE PERTO DA SALA DA COROA PARA QUE O PLANETA NÃO POSSA NUNCA ESCOLHER UM NOVO PILAR?

Sim, exatamente.

MAS COMO CARALHAS ISSO VAI AJUDAR DE QUALQUER FORMA? NÃO SERIA MAIS LÓGICO FAZER JUSTAMENTE O CONTRÁRIO, CONVIDA TODO MUNDO A TENTAR E VER O QUE O PLANETA REAGE PARA SE ESCOLHER UM PILAR O QUANTO ANTES E RESOLVER A TRETA ANTES QUE O MUNDO ACABE?

Sim, seria. E é justamente isso que elas foram convocada para impedir que aconteça, saiba você.

ISSO NÃO ESTÁ FAZENDO SENTIDO NENHUM!

Não, não está. Mas calma que piora, pq a esse ponto as meninas da CLAMP já tinham assistido Neon Genesis Evangelion e decidiram que iam colocar crise existencial e sentimentos de remorso imperdoável na protagonista da temporada anterior.

VOCÊ QUER DIZER A MENINA SUPER ENERGÉTICA E POSITIVA?

Essa mesma.

TÁ, EU ENTENDO COMO ESSA DESCONSTRUÇÃO DE PERSONAGEM PODE FUNCIONAR. QUER DIZER, MADOKA MÁGICA EXISTE, AFINAL, E DEFINITIVAMENTE MAIS PESSOAS DEVERIAM CONHECER A OBRA PRIMA QUE É LAND OF THE LUSTROUS, ENTÃO SUPONHO QUE SE FOR FEITO COM CUIDADO E DESENVOLVIMENTO...

Acontece que a Lucy se apaixona por um cara depois de trocar 4 frases com ele. E como ele é irmão do vilão da temporada anterior, e como ela botou o vilão pra nadar com os peixes, ela assume que ele a odeia e isso desenvolve todo tipo de crise existencial shinjiikariana ao passo que ela desenvolve um alter ego maligno e ... carente, eu acho?

AAAAI... MAS TÁ... PELO MENOS ESSE ALIENS "INVADINDO" SÃO INTERESSANTES?

Olha, o design da CLAMP sempre é bom e sua aura de "todo mundo é meio gay" nunca falha. Quanto a contribuição para a trama, entretanto... jamais saberemos. Quero dizer, Águia do planeta Altozan é importante para a história, mas os outros dois planetas... meio que lutam duas vezes contra as guerreiras mágicas sei lá com qual proposito, e meio que é isso.



Eu não te culpo, Jorge, eu tive a mesma sensação. A segunda temporada de Rayearth são 29 episódios de encheção de linguiça com lutinhas de mechas que não tem razão nenhuma para acontecer semeadas por crises existenciais que literalmente seriam resolvidas em 2 minutos de conversa.

Adicione a isso que os valores de produção diminuem bastante (até pq não existem mais cenários agora, o mundo inteiro é um cenário de luta de Dragon Ball Z) e temos 29 episódios de personagens fazendo sei lá o que, sei lá porque e que estão "lutando" por uma coisa que nenhum deles tem a mais remota ingerencia. Se isso não é absolute cinema, eu não sei mais o que seria.

Falando sério, eu realmente gosto do conceito do arco da Lucy nessa temproada. A heroína mentalmente instavel que deve capturar a força e o equilíbrio que costumava ter na primeira temporada e a escuridão por trás de seu coração literalmente rastejando e afetando tudo e todos ao seu redor? Além de ela não conseguir mais fazer as coisas que ela deveria fazer porque sua sanidade está indo de base? 

Eu legendaria essa imagem, mas não quero problemas com a Policia Federal

Caralho maluco, eu tenho uma tatuagem de Evangelion no braço, é óbvio que eu adoro esse tipo de coisa! Mas então, a execução disso ser resumida a "meu problema é que eu gosto de um cara com quem eu troquei 4 frases" diminui isso de tal forma que não dá, meu. Eu realmente acho que eles deveriam ter seguido na linha de "eu deveria ter resolvido o problema e tudo que eu fiz foi deixar pior ainda" pq o final da primeira temporada é tão bom que dá margem pra isso, mas a escolha que eles fazem é a mais desinteressante possível. Tá, eu sei que é baseado em um manga shoujo, mas qualé, o próprio manga lida com essas questões com muito mais elegancia e equilibrio do que o anime - a sensação que eu tenho é que a temporada foi escrita por um cara tentando chutar o que ele acha que meninas gostariam, ao passo que o manga foi escrito por meninas de verdade. Um funciona bem melhor que o outro, devo dizer.

Então adicione a isso que tudo mais ao redor consegue fazer menos sentido ainda, uma vilã maligna do mal que é colocada só para ter contra quem ter uma batalha final (que não existe no manga, novamente as coisas são resolvidas de forma muito mais elegante) e temos... 29 episódios que são bem, beeeeeem longos de se assistir. Regra dos 15 anos, meninas e meninos, regra dos 15 anos - eu realmente lembrava Rayearth, e em especial a segunda temporada, como sendo beeeeeeeem melhor do que essa esculhambação aí.


Tendo sido lançado no ocidente pela Working Designs, isso significa que todas as músicas do jogo serão cantadas pela Jenifer Stigile. E vou dizer que Yuzurenai Negai em inglês não ficou tão ruim assim, mesmo que o som pareça ter sido captado no banheiro

Mas bem, agora que eu já dediquei mais de tres mil palavras pra falar do anime, eu suponho que é meu dever civico e moral falar do jogo baseado nele, que por acaso é o último jogo de Sega Saturn que eu falarei nesse blog. Olhando em retrospecto, eu suponho que o último jogo de um console que nem é assim tão desprezível (o Saturn obviamente não é o PS1 e sequer é o Nintendo 64, mas também não é um Jaguar/3DO da vida) mereceria mais carinho, mas... vamos lá, é o Saturn, alguém realmente se importa?

Isso sendo dito, o jogo das Guerreiras Mágicas para Saturn é... surpreendentemente okay, na verdade. Mais do que okay, eu diria que é até impressionante que um videogame repleto de problemas em sua história tenha terminado sua vida com um jogo tão digno quanto esse, saiba você.

Talvez o último anúncio impresso de um jogo do Saturn no ocidente. “Three Righteous Babes”, de fato.

O jogo de despedida da Sega para o Saturn no ocidente não é o melhor jogo que a Sega já fez, não é nem um dos melhores jogos do Saturn... mas ao mesmo tempo, é um último esforço que destaca o que o Saturn era capaz de fazer de melhor. Gráficos fofinhos 2D em uma era em que o 3D reinava supremo, a capa com arte do manga quando o hiper-realismo era a ordem do dia, não esconder suas origens de anime em uma época em que os jogos americanos eram cuidadosamente selecionados para evitar qualquer coisa muito japonesa e, por último, uma história level juntamente com uma tradução que nunca se levou muito a sério, em uma época em que os jogadores exigiam épicos de mais de 80 horas que mudassem suas vidas.

O jogo se baseia apenas na primeira temporada do anime e ainda sim beeem naquelas, já que ele toma várias liberdades criativas, por assim dizer, e conta não apenas uma história bem diferente como os personagens são totalmente diferentes também - como Rafaga nunca é um inimigo controlado por Zaggard, e Alcione é mais a equipe Rocket desse jogo que qualquer outra coisa.


Com efeito, o jogo tem várias cenas em anime produzidas especialmente para esse jogo - o que é diferente do que eu esperava, achei que eles só iam copiar e colar cenas do anime, como usualmente é o caso nesses jogos licenciados. Ainda sim, vc tem um mundo de fantasia medieval animesistica onde precisa resolver o problema do dia da vilazinha da vez e nas horas vagas encontrar os templos para ativar os três mashins

O jogo funciona como um Action RPG com visão de cima, o formato imortalizado por THE LEGEND OF ZELDA: A Link to the Past. Você pode alternar entre as três meninas a qualquer momento, o que é útil pq cada uma tem uma barra de mana e energia separada, e as magias elementais delas são usadas para resolver os puzzles.


Além disso o ataque delas é diferente entre si, então depende do estilo de luta que vc ache mais conveniente: Anne dispara flechas fracas mas que podem ser teleguiadas, Marine tem o ataque mais forte com a espada mas ataca apenas em linha reta e Lucy é intermediaria mas sua espada ataca em arco. Nada de muito inovador aqui, mas o que o jogo faz ele faz bem: a hit detection é okay, os designs das dungeons é okay e os puzzles são interessantezinhos.

Claro, nenhum jogo publicado no ocidente pela Working Designs pode ser analisado sem discutir a qualidade da tradução e aqui com as protagonistas sendo três colegiais do nosso mundo, este jogo não soa tão estranho com a propensão da Working Designs para o humor e referências à cultura pop (em alguns jogos elas não fazem absolutamente nenhum sentido, né ALBERT ODYSSEY?). Em particular,  eu gosto da cena que as meninas usam várias referências à cultura pop para insultar Alcione, mas Alcione não entende as girias do nosso mundo e isso a deixa confusa. Isso acontece várias vezes durante o jogo e funciona muito bem.

A solução para representar os mashins no jogo como uma fase de shmup foi bastante bem sacada, tenho que dizer

Todas as coisas consideradas, Magic Knight Rayearth é um Action RPG. O jogo não tenta nada de novo, mas cumpre o que se propõe a fazer. É decentemente longo, a música é sólida, a história tenta algo diferente do anime e os visuais são excelentes. A tradução da WD também é bastante boa, é engraçado onde deveria ser e embora as personalidades sejam totalmente diferentes do anime (Anne em particular é bem mais marrentinha nesse jogo do que a nerdinha educada do anime), é okay. 

Como eu disse antes, o jogo realmente representa o ponto forte do Saturn: gráficos 2D bem desenhados com jogabilidade tradicional. Você pode argumentar que o Saturn era mais uma continuação do Mega Drive e menos o salto para a nova geração que o PS1 e o N64 foram, e você não estaria errado.

"Errei, fui shoujo" - Cione, AL

Ainda sim, essa é a história que eu tinha para contar sobre o Sega Saturn, e é assim que ele termina: uma abordagem muito competente de um gênero tradicional que não tenta nada muito novo, mas tem sucesso no que é. Ou seja.. too little, too late.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 138 (Abril de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 046 (Janeiro de 1997)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 038 (Fevereiro de 1999)