I.Q. Remix+: Intelligent Qube é, como o nome sugere de forma bem pouco sutil, um remix plus de I.Q.: Intelligent Qube, o puzzle de PS1 de 1997. E é isso, gente boa. Meu trabalho aqui está feito. Obrigado por virem, por favor, deem uma gorjeta para o Jorge na saída, e nos vemos na próxima!
...ah, vocês ainda estão aí? O quê, vocês realmente esperam que eu explique toda essa grande tolice? Vocês querem mesmo que eu descreva a mecânica de um jogo onde um homem de terno corre por aí de cubos flutuantes tentando não morrer da forma geometricamente mais humilhante possível?
Okay. Já que estou aqui mesmo ... e já que a minha vida claramente descarrilou para um acidente em câmera lenta de péssimas decisões, suponho que eu possa explicar como jogar essa loucura arquitetônica que de alguma forma se autodenomina entretenimento.
Mas, antes de começarmos, me permitam avisá-los sobre a maior decepção do jogo: não tem história. Nenhuma. Zero. Niente. Nem mesmo uma desculpa vaga na parte de trás da caixa para justificar por que um salaryman está correndo para salvar a própria pele em uma plataforma de pedra flutuante enquanto cubos colossais da morte rolam em sua direção como a personificação física do burnout.
Sim, eu sei que é tentador pensar: "Ah, isso é uma metáfora para o late capitalism tardio. Ou talvez alguma alegoria existencial profunda sobre a luta fútil da humanidade contra a maquinaria do progresso", mas não. Nem perto. Não há absolutamente nenhuma lógica por trás desse jogo além de... bem, isso é um jogo.
Então, o que exatamente você faz nesse pesadelo geométrico? Bem, cubos da morte vêm marchando, fileira após fileira, e seu trabalho — como a pobre alma presa neste purgatório espacial — é armar armadilhas e explodi-los antes que eles o esmaguem até virar uma fina panqueca corporativa. O botão X arma a armadilha, o botão O a detona.
Simples, certo?
…Até que deixa de ser.
Porque I.Q. Remix Plus Alpha Turbo Champion Edition não é a Casa da Mãe Joana! Ah não, meu amigo — aqui existem regras. Regras brutais, arbitrárias e esmagadoras de almas, mas não menos regras por conta disso!
Se você detonar um cubo preto, parabéns: você acabou de ser punido. Um pedaço do chão desaparece, diminuindo seu corredor seguro e te deixando um passo mais perto de uma morte bem poligonal. Por outro lado, se você deixar um cubo branco cair pela borda, também será penalizado. O jogo não tolera negligência — cada cubo exige respeito.
Mas o verdadeiro tempero do puzzle está nos Cubos de Vantagem — aqueles que brilham ameaçadoramente como marshmallows radioativos. Destrua um desses e ele deixará para trás uma grade de bomba 3x3 brilhante que pode ser acionada com o botão Triângulo, obliterando uma seção inteira de cubos de uma vez (incluindo os pretos, então talvez não o aperte só porque você gosta de explosões).
E... basicamente é isso. As regras do CuboDome são simples: um homem e 8475 cubos entram, um homem sai. Exploda os cubos cinzas, encadeie combos, evite os pretos e, pelo amor da geometria, não seja esmagado no processo — o que, de modo geral, é um bom conselho para a vida. Enxágue, repita e reze para Euclides. Existem alguns modos extras, mas o core é esse: sobreviva, pontue e sofra com elegância.
A atualização de Intelligent Qube para o PlayStation 2, apropriadamente intitulada I.Q. Remix+, mantém o mesmo núcleo de quebra-cabeça cerebral mas definitivamente não para por aí. A nova versão traz alguns modos de jogo extras, a esperada repaginada de PS2 (agora você pode testemunhar um pobre assalariado sendo esmagado em gloriosos 480i) e, mais notavelmente, o "Remix" que o título ostenta com orgulho.
E quando eles dizem remix, eles querem dizer remix MESMO — no sentido febril de balada do início dos anos 2000. A trilha sonora, antes misteriosa e minimalista, foi substituída por trance, house e o que soa suspeitamente como a primeira tentativa de alguém de fazer "dubstep antes do dubstep". A coisa toda pulsa com uma energia de tuntz-tuntz-tuntz que parece que você entrou acidentalmente em uma boate de Shibuya.
Visualmente, os desenvolvedores realmente abraçaram o tema: sobreposições piscantes, efeitos de pulsação e filtros de "remix" que parecem saídos diretamente do Windows Media Player de 2001. É brega, às vezes distrai a ponto de atrapalhar vc enxergar os cubos — mas, de uma forma estranha, é meio charmoso. É a coisa mais anos 2000 que eu já vi na minha vida, aquela época estranha onde o legal era usar óculos escuros o tempo todo e sobretudo preto mesmo sob o sol de 30 graus enquanto Rage Against the Machine vomita raiva contra o sistema — seja lá o que "o sistema" signifique. Ou seja, é menos um mero update e mais uma cápsula do tempo — uma que captura exatamente como o mundo pós-Matrix pensava que "maneiro" se parecia nos primeiros anos do PS2.
Pelo seu esforço, você é recompensado com Pontos de I.Q. como sua pontuação — já que tudo é um trocadilho com "Intelligent Qube" e "IQ" como em Quociente de Inteligência. O que me leva a uma pergunta sobre a qual provavelmente nunca terei uma chance melhor de falar a respeito: o que é QI e o que ele realmente mede?
Geralmente assumimos que aquele pequeno número (menor para as pessoas que não começam Pokémon com o inicial de grama) é a resposta definitiva para "o quão inteligente alguém é". Mas isso é uma simplificação — e, mais importante, uma simplificação errada.
A versão curta, que está nos livros, é que uma pontuação de QI (Quociente de Inteligência) mede a capacidade de raciocínio e resolução de problemas de uma pessoa em comparação com outras em sua faixa etária. Simples o suficiente. Mas a parte do "o que exatamente ele mede" é onde fica mais complexo — e controverso.
Em sua essência, um teste de QI é uma tentativa padronizada de medir uma gama de habilidades cognitivas — uma obsessão científica que remonta ao século XIX, quando os psicólogos tentaram quantificar a inteligência pela primeira vez. Muitas vezes, como você poderia imaginar, pelas piores razões imagináveis — como tentar justificar "cientificamente" o racismo e o classismo.
Ainda assim, quando despojado de sua história feia e visto como uma ferramenta cognitiva, o teste de QI normalmente se divide em várias áreas principais:
Raciocínio Fluido (Gf): A capacidade de resolver novos problemas e identificar padrões sem depender de conhecimento pré-existente — basicamente, "pensar rápido".
Exemplo: descobrir qual forma vem a seguir em uma sequência.
Conhecimento (Inteligência Cristalizada, Gc): O quanto você aprendeu — vocabulário, fatos e compreensão cultural.
Exemplo: definir palavras ou explicar um provérbio.
Processamento Visuoespacial (Gv): A capacidade de perceber e manipular mentalmente padrões visuais.
Exemplo: girar um objeto 3D em sua mente ou montar um quebra-cabeça.
Memória de Trabalho (Gwm): Seu espaço de trabalho mental — reter e manipular informações brevemente.
Exemplo: ouvir uma sequência de números e repeti-los de trás para frente.
Velocidade de Processamento (Gs): Com que rapidez e precisão você executa tarefas simples sob pressão.
Exemplo: escanear uma página em busca de símbolos correspondentes.
O QI de escala completa de uma pessoa é um composto desses subtestes. Embora os testes de QI não meçam diretamente coisas como raciocínio ou memória, décadas de pesquisa mostram que as pontuações de QI se correlacionam com elas. Estatisticamente falando, pessoas com QI mais alto tendem a se sair melhor em contextos acadêmicos e profissionais, ter maior escolaridade e até viver um pouco mais (devido a escolhas de vida melhores) — mas isso é correlação, não destino.
Um QI alto não garante o sucesso, e um QI mais baixo não condena ninguém ao fracasso. Motivação, criatividade, inteligência emocional, oportunidade e pura teimosia muitas vezes importam muito mais.
E esse é o principal mal-entendido sobre o QI: ele não mede coisas como:
Criatividade (a capacidade de produzir ideias originais)
Inteligência Emocional (empatia e autoconsciência)
Sabedoria, curiosidade ou bom senso
Resolução de problemas na prática, do tipo "esperteza"
Caráter, motivação ou saúde mental
Ou, francamente, a totalidade da inteligência humana.
A teoria por trás do QI é construída em torno do chamado "fator g" — abreviação de inteligência geral. Os psicólogos notaram que as pessoas que se saem bem em um tipo de teste cognitivo tendem a se sair bem em outros. Portanto, o fator "g" representa essa potência mental subjacente que influencia todas essas habilidades. Uma pontuação de QI, então, é apenas uma tentativa imperfeita de estimar isso.
Em outras palavras: um teste de QI não julga seu valor ou potencial. É um retrato do momento — uma medição de certas metricas cognitivas (como raciocínio abstrato e reconhecimento de padrões) em um determinado ponto da sua vida. Ele lhe diz algo útil sobre como seu "motor" funciona sob estresse lógico ou analítico — mas nada sobre a criatividade, determinação ou a direção que o motorista tomará na vida.
Então, quando Intelligent Qube lhe concede pontos de QI por sobreviver a mais uma rodada de geometria da morte, apenas lembre-se: não é um teste de sua verdadeira inteligência. Porque, no final, é isso que I.Q. Remix+ nos ensina: a inteligência não é sobre lógica, ou razão, ou mesmo reconhecimento de padrões. É sobre manter a compostura enquanto o universo literalmente joga cubos em você e um remix trance de sua desgraça iminente toca ao fundo. E, honestamente, essa pode ser a simulação mais precisa da vida adulta que eu já vi.
MATÉRIA NA GAMERS


.gif)

.gif)

.jpg)

