Já que Aladdin da Disney na Vingança de Nasira é na verdade uma sequência da sequencia em filme lançada direto em vídeo, "O Retorno de Jafar", vamos começar falando primeiro desse – até porque eu nunca realmente tratei de sequências da Disney neste blog antes. E nós somos um blog multicultural aqui, não somos?
[EU NÃO ACHO QUE "MULTICULTURAL" SIGNIFICA O QUE VOCÊ PENSA QUE SIGNIFICA...]
Bolognhesa, Jorge. Meu ponto é—hã, qual era meu ponto mesmo? Deixa pra lá, vamos começar do começo então... 
Nos anos 90, todo mundo e a mãe de todo mundo conhecia muito bem os sucessos animados da Disney, especialmente na primeira metade da década. THE LITTLE MERMAID, THE BEAUTY AND THE BEAST, ALADDIN, THE LION KING — todos clássicos atemporais, todos com músicas que até hoje moram de graça no nosso cérebro coletivo. Eu já escrevi sobre isso, yada yada yada. Não é sobre isso que quero falar hoje. O que realmente me interessa é o que veio depois.
Veja, quando filmes são bons assim, eles não geram apenas boas lembranças ou aclamação da crítica — eles geram montanhas de dinheiro. E não só da bilheteria. Estou falando do bandejão capitalista completo: camisetas, brinquedos, lancheiras, mochilas, brinquedos de parque de diversões, apontadores de lápis, álbuns de trilha sonora, cereais matinais, videogames — todo esse jazz. E a Disney adora suas montanhas de dinheiro. Até porque, honestamente, quem não ama?
Então, imagine que você é Walt Disney Jr. III — sentado no topo do seu império de animais cantantes e realeza com cabelo perfeito. Você tem uma propriedade intelectual que escorre dinheiro e um exército de crianças que não vão parar até espremer até o último centavo dos pais... ou levá-los à loucura tentando. Nesse cenário dourado (para você como CEO, e para o departamento de marketing de todo fabricante de camisinha que pode lembrar a todo mundo vendo a cena que "isso poderia ter sido evitado"), como você extrai ainda mais dinheiro desses miseraveis pais?
Bem, há várias maneiras, claro. Mas uma continuação dos seus amados clássicos animados — isso sim é uma mina de ouro garantida (tanto que por algum tempo Frozen 2 foi a maior bilheteria de uma animação na história, mesmo sendo um filme beeeeeeem marromenos). Exceto... que tem um problema com essa ideia. Filmes são caros. Filmes de animação são muito caros. E filmes de animação 2D desenhados à mão são tão caros que fazem Yog-Sothoth parecer barato e misericordioso em comparação.
Claro, você poderia engolir o choro e financiar uma sequência totalmente animada para os cinemas. Mas isso significa gastar dinheiro, que é o oposto do que você, um semideus corporativo sem alma, quer fazer. Então qual é a alternativa? Fácil: contrate uma equipe de animação de TV mal paga, diga a eles para fazer um episódio de 20 minutos, e então que estiquem de qualquer jeito que eles conseguirem — contanto que não custe um centavo a mais — até que fique longo o suficiente para vender como um "filme".
É um truque barato? É. Economicamente e moralmente. Mas então a questão que realmente importa é... um império global de entretenimento como a Disney realmente se rebaixaria a esse nível só por uns trocados a mais? E a resposta é sim. Claro que sim. Várias vezes. Sem nem piscar.
Então, o que exatamente é "O Retorno de Jafar", além de, você sabe, o Jafar retornando? Bem, a resposta curta é que é basicamente um episódio de 20 minutos do que mais tarde se tornaria a série de TV do Aladdin — só que esticado até de alguma forma atingir a duração de "filme". Ele acabou servindo até como o piloto do seriado. Mas nós chegaremos lá daqui a pouco.
Porque, acredite ou não, a ideia central do Jafar retornar não era tão estúpida quanto parece. E nós vivemos em um mundo onde alguém foi pago mais dinheiro do que eu jamais vou ver na vida para escrever a frase "De alguma forma, Palpatine retornou". Então é, o padrão para "estúpido" com o que estamos acostumados é bem baixo.
Veja, a equipe da sequência foi até que esperta com essa. Como todo mundo se lembra (e se você não lembra, spoilers de um filme velho o suficiente para ter netos), Aladdin engana Jafar fazendo-o desejar se tornar um gênio. Jafar, muito ocupado secando as escolhas de guarda-roupa da Jasmine para pensar direito, aceita — e acaba preso em uma lâmpada. Clássico Jafar.
Mas aqui está o detalhe interessante — o pequeno detalhe que a maioria das pessoas esquece. Apenas por pura mesquinharia, Jafar arrasta seu papagaio Iago para dentro da lâmpada com ele. E essa, meus amigos, é a parte realmente importante.
Porque a ideia original era que Jafar passaria os próximos mil anos esfriando a cabeça em uma caverna do tesouro, ruminando em sua própria raiva até que algum arqueólogo infeliz no ano 3000 desenterrasse sua lâmpada nas escavações para a construção de mais um Levi'sDonald's no deserto. (É, jeans e fast food são uma coisa só nessa época. Tempos difíceis.)
Mas aqui está a pegadinha — e a reviravolta genuinamente esperta: Iago não fazia parte do contrato mágico. Ele não estava preso à lâmpada. Significando que não havia nada impedindo ele de simplesmente... sair andando. O que ele faz. Com a lâmpada. E, honestamente? Palmas para os roteiristas por isso. Eles pegaram um detalhe minúsculo, quase descartável, com o qual ninguém se importava, e realmente o usaram para justificar a existência de toda a sequência. Isso é mais pensamento do que metade dos remakes em live-action da Disney jamais teve. Então kudos onde kudos são devidos.
Enquanto isso, nosso bom moço Aladdin — o homem com um coração de ouro e uma carteira vazia — está lá fora lutando contra a desigualdade social da única maneira que conhece. Claro, ele está namorando uma princesa agora, mas isso na verdade não lhe concede muito poder além de conseguir dar uma bitoquinha family friendly na terceira princesa mais gata da Disney. (E, pelo bem da minha dignidade — o que sobrou dela — eu não vou nomear as duas primeiras.)
Mas isso nos leva à verdade desconfortável sobre Agrabah. Este é um reino cujo palácio tem — e eu contei — doze cúpulas douradas tão massivas que você pode vê-las do espaço. Doze. E ainda assim, logo fora dos portões do palácio, tem crianças morrendo de fome. Lembre-se, a primeira coisa que vemos no filme original é Aladdin roubando comida, quase morrendo por isso, e então entregando seu único cacetinho (lá ele) para duas crianças literalmente famintas. Enquanto isso, dentro do palácio, o Sultão está brincando com seus soldadinhos de brinquedo e Jasmine está jogando, sei lá, quarenta quilos de carne fresca por dia para seu tigre de estimação. Porque aparentemente, ter um predador exótico que requer importação diária de carne é o que está na moda entre as princesas agora.
Que baita de uns cuzões. Sério. Às vezes me pergunto o quão pior o governo do Jafar poderia ter sido, porque o nível da monarquia aqui não é algo lá muito heroico.
Enfim — de volta ao Aladdin. Nosso garoto decide ir full Robin Hood, roubando dos ricos para alimentar os famintos, porque diferente de certas princesas mimadas no palácio, ele realmente se lembra como é a sensação de passar fome. Claro, ele é esperto o suficiente para roubar de ladrões, já que Agrabah ainda é um país islamico old school, e Aladdin prefere manter suas duas mãos se ele tiver como escolher.
Essas músicas são nível o filme do Tom e Jerry, iaicks
O problema é, esses ladrões não estão exatamente felizes por serem roubados pelo tal herói do povo. E veja só — um deles acaba esbarrando em uma certa lâmpada empoeirada no meio de suas escapadas deserticas. Entra em cena Abis Mal — que, honestamente, é um nome fantástico para um vilão de baixo escalão.
Então, Abis Mal se torna o "mestre" de Jafar — e estou colocando isso entre as maiores aspas possíveis — porque Jafar não é exatamente o pateta adorável que nosso Gênio era. Embora, tecnicamente, ele ainda não possa matar ninguém graças à letrinha miúda cósmica no manual do Gênio, ele é esperto o suficiente entrar em lawyer mode nos detalhes. Ele deixa abundantemente claro para o pobre Abis Mal que, enquanto não pode assassiná-lo diretamente, pode definitivamente tornar sua existência extremamente desagradável se as coisas não saírem de acordo com seu plano. E o plano de Jafar, naturalmente, envolve vingança — especificamente contra nosso adorável rato de rua, o único homem em todo este reino com qualquer coisa que se assemelhe a uma consciência social.
Isso é basicamente o enredo do filme em poucas palavras. E honestamente, não é um terrível. Na verdade, como um episódio de TV, teria sido perfeitamente aceitável — talvez até divertido. Eu não teria muito do que reclamar... SE ELES NÃO TIVESSEM ESTICADO A COISA TODA DE 20 PARA 69 (hehe) MINUTOS!
E quando eu digo "esticado", não é eu sendo mesquinho com o filme — se alguma coisa, eu que sou a verdadeira vítima aqui! Porque sério, eles preencheram essa coisa como se fosse uma redação do ensino médio que precisava atingir uma quantidade minima de palavras.
Então, como eles preencheram todo esse tempo? Da maneira mais preguiçosa (leia-se: barata) possível. Tem cenas de perseguição que não levam a lugar nenhum, às vezes literalmente os mesmos quadros reutilizados repetidamente até você começar a questionar se o vídeo não deu pau. Os números musicais eles estão de volta — só que em vez de escrever novas melodias, a equipe simplesmente reciclou as do primeiro filme e colou novas letras neles (e letras bem nas coxas, diga-se de passagem). Porque, ei, compor nova música custa dinheiro, e já estabelecemos que o objetivo aqui é ganhar dinheiro, não gastar dinheiro.
E também tem uma subtrama completamente sem sentido sobre o Aladdin tentando esconder da Jasmine que ele acredita que o Iago pode ser do bem, em paralelo a outra não muito melhor em que o Sultão considera fazer de Aladdin seu novo grão-vizir — o que soa como se pudesse levar a algo interessante, mas em vez disso só se arrasta com Aladdin enchendo linguiça sobre "responsabilidade" por dez minutos seguidos. É filler em sua forma mais pura e profana.
Mas tá, para ser justo, nem tudo é total bullshit. Há na verdade um pequeno arco de redenção decente para Iago, onde ele troca de lado e se junta aos mocinhos — o que prepara bem o seu papel na série de TV que se seguiu. Não é ruim, honestamente. Mas mesmo essa subtrama poderia ter cabido confortavelmente dentro de um episódio de 20 minutos em vez de ser esticada ao longo de uma maratona de 69 (hehe) minutos de animação reciclada e déjà vu musical.
Ah, e o Gênio está de volta! Embora desta vez, ele seja dublado por Dan Castellaneta — porque Robin Williams, em sua infinita dignidade e bom gosto, se recusou a se rebaixar para este empreendimento direto para VHS. E honestamente, justo. Porque se você vai substituir uma das performances cômicas mais icônicas da história da animação, você poderia fazer pior do que o Homer Simpson. Opção de reserva sólida.
Infelizmente, o Gênio não faz muita coisa. O que é meio um problema quando seu personagem poderia, teoricamente, resolver o filme inteiro com um estalar de dedos — se ele não fosse, você sabe, um idiota. Esta é a maldição eterna dos mocinhos superpoderosos. É como aquele episódio da Liga da Justiça onde Lex Luthor troca de corpo com o Flash e imediatamente demonstra o quão terrivelmente quebrado o Wally West poderia ser se tivesse mais do que dois neurônios.
Enfim, o filme manca em direção ao seu clímax ardente onde, depois de uma hora cantando, conspirando e reutilizando animação, Jafar encontra seu fim — de novo — quando Iago, de todas as pessoas, chuta sua lâmpada para um poço de lava derretida. O filme não mostra isso de forma gore, claro — ainda é a Disney, afinal — mas ser derretido para o esquecimento por um vulcão ativo provavelmente não está no topo da lista de maneiras agradáveis de partir.
Eu realmente me pergunto quem foi que ouviu a voz rachada e irritante do Iago e pensou "hmm, temos que dar numeros musicais para ele"
Com Jafar finalmente eliminado, o Sultão decide fazer de Aladdin seu novo grão-vizir, o que soa como um final próprio e satisfatório. Exceto que Al recusa a oferta para viajar pelo mundo com Jasmine e a turma. E quer saber? Eu até que entendo ele.
Claro, como grão-vizir, Aladdin teria poder político real — a chance de fazer mudanças reais, alimentar os famintos, reformar a risivelmente corrupta monarquia do reino, talvez até fazer algo sobre as doze cúpulas douradas brilhando acima de uma população faminta. Mas ele também é um moleque de dezoito anos que acabou de conquistar a terceira princesa mais gata da história da Disney e está prestes a embarcar em uma lua de mel mundial. Então é. A escolha entre reforma política e alguns meses de viagens exóticas com a Princesa Jasmine? Vamos apenas dizer que aquelas crianças famintas nunca tiveram nenhuma chance.
Então Jafar se foi para sempre, Agrabah está bem (bem, seu povo não está, mas quem liga?), e todos dentro do palácio estão felizes. As ruas ainda estão cheias de órfãos famintos, mas pelo menos a família real tem cortinas novas e um tigre com uma dieta de carne fresca.
Bem, nem todo mundo está feliz.
Acontece que Jafar tem uma irmã — Nasira — e ela compreensívelmente não está tão feliz com toda a situação do "meu irmão foi derretido vivo em um vulcão". Ela decide fazer algo a respeito. Seu motivo, surpreendentemente, não é dominação mundial ou acumular poder para si mesma. Não, ela só quer trazer seu irmão de volta. Por amor. E honestamente? Isso é... até que fofo. É uma razão inesperadamente humana para uma vilã da Disney virar feiticeira das trevas. Se alguma coisa, quase pinta Jafar sob uma luz ligeiramente melhor. Talvez ele não fosse tão ruim assim — e especialmente se comparado à atual classe dominante de Agrabah.
Enfim, Nasira elabora seu plano. Ela sequestra Jasmine e o Sultão, prende o Gênio na Caverna das Maravilhas e o despoja de seus poderes — porque aparentemente Alá decretou que nunca devemos ter um Gênio útil quando o enredo precisa de um. Ela então chantageia Aladdin para reunir um conjunto de relíquias mágicas antigas espalhadas por Agrabah, alegando que se ele as juntar todas, ela pode usá-las para ressuscitar Jafar.
E, claro, Aladdin concorda — não porque ele tem um plano mais esperto para salvar todo mundo sem trazer o Jafar de novo, mas porque ele é o protagonista e se ele não fizer isso não tem jogo. A aventura então o leva através do Oriente Médio "Disneyficado" — ruas de mercado, templos, desertos, vulcões — o buffet de platforming usual. Tudo culmina na caverna vulcânica ardente de Nasira, onde ela finalmente consegue ressuscitar Jafar. Brevemente. Porque Aladdin quebra as relíquias, o destrói novamente (dificil sua vida, heim Jaff), e a coisa toda vai pelos ares.
A própria Nasira consegue escapar, o que, francamente, é mais do que a maioria dos vilões da Disney consegue. Ela é vista pela última vez desaparecendo na fumaça, presumivelmente esperando sua chance de estrelar "A Vingança de Nasira 2: Ainda Mais Vingança", que — tragicamente — nunca aconteceu.
E eu digo "tragicamente" porque, para minha grande surpresa, este jogo não é tão ruim assim. Quer dizer, é um cashgrab baseado em outro cashgrab — e você está me dizendo que agora a Disney decidiu colocar algum esforço nisso? Bem, aparentemente, eles colocaram. Não a Disney per se, claro, mas a Argonaut Games — sim, o mesmo pessoal por trás de STARFOX. Os que não fizeram nada muito significativo desde então. (Os jogos do CROC: The Legend of Gobbos são... mais ou menos na melhor das hipóteses.)
Os gráficos são nada para escrever para casa, e embora sejam absurdamente feios nas cutscenes quando a camera dá close, na maior parte do tempo dão energia suficiente de "isso é Aladdin" para passar. O platforming também funciona bem — básico, mas com alguma variedade. Você tem três tipos de fases:
- Fases do Aladdin, seu platforming 3D habitual com pulo e luta de espada — uma versão muito simplificada, mas funcional.
 - Fases do Abu, onde você não pode lutar contra nada, mas ganha pulo duplo e pode rastejar por espaços apertados.
 - E uma única fase da Jasmine — uma seção de furtividade horrível onde ela vai full Solid Snake e se esconde dos guardas dentro de um vaso. Seria engraçado se os controles não fossem tão ruins. Então da próxima vez que você reclamar das missões de furtividade da Mary Jane no Spider-Man do PS4, lembre-se: culpe este jogo. Foi aqui que tudo começou.
 
Fora desse nível amaldiçoado da Jasmine, porém, o jogo controla... bem. Aladdin pula na medida, Abu pula demais — o que funciona para um jogo claramente feito para crianças mais novas. É um pouco vazio e "flutuante", claro, mas eu não esperaria diferente para esse público. E para seu crédito, há uma quantidade surpreendente de fases bônus — incluindo uma onde a Jasmine anda de skate. Porque alguém na Argonaut claramente tinha um fetiche muito específico. Mas quem sou eu para julgar?
No final, até porque foi lançado justamente para o natal de 2000, A Vingança de Nasira é um daqueles "jogos presente de tio" — sabe, o tipo que tio que não entende nade de videogames dá como presente genérico, e vendo o nome da Disney na capa então com certeza não vai ser um jogo inadequado com o bonus de alguma qualidade a ser esperada. O que é bem o que esse jogo é, realmente.
Olha, a Argonaut nunca foi o que você chamaria de um estúdio brilhante, mas eles também não estragaram este. O combate mal importa — é simples, flutuante e largamente ornamental — mas o platforming funciona. E em um jogo de plataforma 3D, meio que importa a parte de plataforma ser boa. Eu sei, eu exijo coisas tão insanas dos jogos...
Não espere nada além do básico, claro. Isto não é SPYRO THE DRAGON, não é nem CROC 2. É uma aventura modesta, funcional, ocasionalmente charmosa que se lembra do mínimo do que faz um platformer divertido sem tentar inventar a roda de qualquer maneira. Mas, novamente, você está jogando um cashgrab de um cashgrab. Se você entrou nisso esperando qualquer coisa mais do que isso, bem — então a culpa é toda sua, amigo.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 155 (Setembro de 2000)
EDIÇÃO 155 (Setembro de 2000)








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