Então, um ano depois do primeiro jogo, a Bandai lançou a continuação de Dragon Ball Z Super Butoden. Como eu disse na época, o jogo realmente saiu do seu caminho para emular o estilo de luta do anime com uma ideia original baseada em voar e disparar raios dragonballisticos. Embora a ideia seja louvavel e dedicada a proposta de fazer você sentir que está jogando uma adaptação de um anime, a época a Bandai não tinha experiencia em fazer jogos de luta e o resultado é um jogo lento, truncado e nada funciona exatamente como deveria.
Assim era apenas esperado que o segundo jogo mantivesse a proposta e melhorasse as partes tecnicas do jogo, e é exatamente esse jogo que o segundo Dragon Ball Z para Super Nintendo é. Mesma ideia, mas muito melhor enquanto jogo de luta: os personagens não pulam como se estivessem na Lua, os golpes saem muito mais macios com os comandos e a disputa entre grandes magias ficou muito fluída dado que os comandos especiais são mais reconhecidos.
É basicamente o mesmo jogo, só que melhorado nos aspectos tecnicos - como esperado de uma continuação, afinal.
Esse segundo jogo se foca num trecho muito especifico da franquia, o modo campanha vai do torneio da saga do Cell até o OVA do Bojack, lançado no Brasil com o nome de "A Batalha nos Dois Mundos" (o que é um nome que não faz o menor sentido, não tem nada disso no filme).
Então eis o que eu pensei em fazer aqui: vou assistir esse filme que eu nunca tinha visto (na verdade eu nunca vi nenhum dos VINTE E TRÊS longas desse anime) e comentar sobre ele aqui, já que o jogo não tem MUITO o que acrescentar do primeiro jogo.
Sim, essa era a ideia. E sim, eu vi o tal do filme. E não, eu não vou falar sobre ele pelo fato que eu simplesmente tinha esquecido do quão TERRÍVELMENTE CHATO Dragon Ball Z é. Sério, de todos os animes shonen que poderiam ter se tornado o maior sucesso pangalactico intermundial, não faz sentido NENHUM pra mim que justamente um dos menos interessantes dele tenha se tornado o mais popular de todos.
A ideia de animarem cenas do anime como cutscenes do jogo é legal, thou |
Quer dizer, não tem nada de único ou interessante em Dragon Ball Z, mas tipo nada MESMO. Cavaleiros do Zodíaco é um horror escrito por uma criança bebada, mas AO MENOS os personagens tem golpes diferentes e as armaduras são brinquedos legais. Dragon Ball Z nem isso! Os personagens sequer golpes especiais diferentes tem, todos apenas atiram a mesma energia amarela e é isso!
AH, MAS É UM MANGA DA SHONEN JUMP DOS ANOS 80, VOCÊ NÃO PODE REALMENTE ESPERAR QUE...
Shigau. Sim, eu posso esperar muito mais porque existiam mangas muito, muito melhores na época a serem adaptados. Eu entendo que o mundo ainda não estava pronto para a genialidade de Jojo's Bizarre Adventure, mas mesmo tirando esse ours-concours da mesa ainda sim tinhamos opções muito melhores.
Dragon Ball Z não tem, por exemplo, os níveis ridiculamente insanos de violencia e macheza doida de Hokuto no Ken...
... ou os personagens bem definidos de Yu Yu Hakusho...
... ou o cenário histórico complexo de Rurouni Kenshin:
Dragon Ball Z não tem bons personagens, não tem boas lutas, não tem uma boa história, nenhum diferencial atraente, não é particularmente bem desenhado (com efeito, Akira Toryiama só sabe desenhar uns 8 personagens e então repete eles com outro cabelo)... então o que esse anime tem de bom, exatamente?
Então...
Talvez vocês não saibam disso, mas Akira Toriyama é um autor de manga com um senso de humor incrível. Eu sei que ninguém associa isso com a obra dele, mas Toriyama é um cara realmente divertido:
Akira Toriyama zoando a si mesmo e sua inabilidade como desenhista em Dr. Slump |
Dragon Ball, o manga original, era uma aventura galhofa que parodiava a lenda do Rei-Macaco em mundo que tinha um cachorro como presidente. Sério, são vários níveis de "QUÉ?!" aqui. Ao contrário da macheza louca que dominava a shonen jump da época, ele estava mais preocupado em fazer um manga divertido de aventura.
Entretanto mangas são coisas inclementes de serem produzidas, o autor (especialmente um iniciante) faz muita coisa pessoalmente e a quota de trabalho para ser entregue semanalmente é brutal. Quando você já é um autor estabelecido a própria editora providencia assistentes para você tercerizar execuções, mas no começo de carreira é osso dia e noite.
Por isso mangas normalmente tem torneios de luta, porque são coisas muito simples de fazer e os autores normalmente usam para ganhar tempo e respirar na produção, e o então iniciante Akira Toriyama não foi diferente. Ele também colocou torneios de luta no seu manga Dragon Ball, mas... o que ele sabia realmente sobre mangas de luta?
Ele só era um cara divertido que gostava de escrever aventuras, como você transforma isso em um manga de luta? Bem, ele fez a única coisa que ele sabia fazer: fez uma paródia dos mangas de luta da época. Sabe aquela coisa de níveis de poder, tecnicas proibidas, escalonamento de poder e toda essas coisas que a gente pensa "uau, isso é mais genérico que um anime de luta pode ser"? Então, Toriyama colocou tudo isso no seu manga porque ele podia não entender muito de mangas de luta, mas entendia de zoeira.
Só que então uma coisa que ele definitivamente não esperava aconteceu: as pessoas levaram a sério a paródia dele. E não apenas levaram a sério, mas gostaram! Adoraram, na verdade! Com efeito, nas semanas seguintes a redação da Shonen Jump recebeu uma enxurrada de cartas (eram anos 80 isso, crianças) elogiando as sessões de luta de Dragon Ball.
Toriyama então foi chamado para conversar pelo seus editores e se decidiu que esse seria o rumo que o manga tomaria dali para frente. Era o que ele realmente queria fazer? Não. Mas se tem uma coisa que ele queria mais ainda era pagar os boletos do mês, então ele disse "foda-se essa merda" e deu as pessoas exatamente o que eles queriam.
Por isso a reta final de Dragon Ball é do jeito que é (a própria coisa das Dragon Balls é deixada de lado completamente), e por isso que Dragon Ball Z é do jeito que é. Até hoje Toriyama nunca entendeu realmente porque as pessoas gostaram tanto das lutinhas placeholder que ele enjambrou pra ganhar tempo.
Isso explica porque DBZ é tão popular assim no Japão, mas porque ele é tão popular assim no ocidente? Bem, a resposta curta é que Dragon Ball Z é para os Estados Unidos o que Cavaleiros do Zodíaco é para o Brasil: pode ser um anime medíocre, mas é um anime medíocre em uma época que a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar de animes antes.
Podemos concordar que mesmo os animes mais miseraveis ainda sim tem traços de cultura, assinaturas visuais e narrativas que são muito, muito diferente do que o ocidente entende por animação - especialmente nos anos 90.
O choque de ver um anime, mesmo que um anime fraco, pela primeira vez é muito grande e explode cabeças por onde passa. Aconteceu com um anime patético como Cavaleiros do Zodíaco no Brasil, e EXATAMENTE a mesma coisa aconteceu nos Estados Unidos com Dragon Ball Z.
Bem, tecnicamente DBZ não foi o primeiro grande hit de anime nos US and A: esse título seria melhor atribuído a Pokémon, que varreu o mundo com uma febre ja bem documentada baseado em um jogo solidamente bom para Game Boy (talvez não atemporalmente bom, mas para a época era um jogo inacreditavel para se ter em um portátil).
Entretanto você tem que entender a cultura dos anos 90, a era de ouro da insegurança masculina. Pokémon era uma adaptação decente de um videogame (embora um dos mais fracos desses "animes de monstrinhos" que viraram moda na época justamente por causa do sucesso de Pokémon - Digimon foi um anime bem melhor), mas ainda é um anime infantil e como a Ação Games tão bem representou o pensamento retrogrado dessa era ao afirma que "isso é coisa de meninas e meninos pequenos".
Não que os garotos adolescentes não gostassem de pokemon, ou não assistissem, mas eles não admitiam abertamente faze-los porque é assim que o ego frágil dos meninos dos anos 90 rolava. Isso quer dizer que era só questão de tempo até alguém perceber que animes tinham um enorme potencial a ser explorado se fosse algo que meninos adolescentes abertamente dissessem que gostavam.
E para esse proposito, Dragon Ball Z era o anime mediocre perfeito: era violento mas não a ponto de incomodar alguém, não tinha temas polemicos (ou tema algum na verdade), enfim é o anime perfeito para americanos adolescentes se sentirem machões assistindo sem realmente pisar no calo de nenhuma associação de mães southparkianas.
DBZ era o anime ruim na hora certa. No Brasil aconteceu algo mais ou menos parecido com Dragon Ball Z quando este foi o primeiro (e de cabeça assim o único) grande anime shonen exibido pela Rede Globo. Embora tecnicamente Rurouni Kenshin tenha passado antes, Samurai X é um anime de luta que envolve política e história demais para o gosto do adolescente ocidental médio. Então dos grandes animes shonen, esse foi o primeiro a passar na emissora mais popular do Brasil - justamente por causa do sucesso nos Estados Unidos.
Tanto que Dragon Ball Z já tinha passado antes na Band e ninguém dava muita bola, porque ninguem realmente liga para a Band. Mas quando começou a passar na Globo, aí as coisas foram tratadas de uma forma inteiramente diferente. Poucas coisas são capazes de pistolar mais um adolescente revoltz brasileiro dos anos 90 que ele paga pau pra Globo, mas a repercussão de Dragon Ball Z na Band e na Globo é um argumento indiscutível.
De qualquer coisa, como qualquer coisa que foi moda nos anos 90 isso se tornou uma profecia autorealizavel e ninguém mais vai se prestar a analisar as coisas pelo que elas eram realmente. Exceto eu, claro, e esse é um dos motivos pelos quais eu sou melhor que todos vocês.
Por isso mangas normalmente tem torneios de luta, porque são coisas muito simples de fazer e os autores normalmente usam para ganhar tempo e respirar na produção, e o então iniciante Akira Toriyama não foi diferente. Ele também colocou torneios de luta no seu manga Dragon Ball, mas... o que ele sabia realmente sobre mangas de luta?
Ele só era um cara divertido que gostava de escrever aventuras, como você transforma isso em um manga de luta? Bem, ele fez a única coisa que ele sabia fazer: fez uma paródia dos mangas de luta da época. Sabe aquela coisa de níveis de poder, tecnicas proibidas, escalonamento de poder e toda essas coisas que a gente pensa "uau, isso é mais genérico que um anime de luta pode ser"? Então, Toriyama colocou tudo isso no seu manga porque ele podia não entender muito de mangas de luta, mas entendia de zoeira.
Só que então uma coisa que ele definitivamente não esperava aconteceu: as pessoas levaram a sério a paródia dele. E não apenas levaram a sério, mas gostaram! Adoraram, na verdade! Com efeito, nas semanas seguintes a redação da Shonen Jump recebeu uma enxurrada de cartas (eram anos 80 isso, crianças) elogiando as sessões de luta de Dragon Ball.
Toriyama então foi chamado para conversar pelo seus editores e se decidiu que esse seria o rumo que o manga tomaria dali para frente. Era o que ele realmente queria fazer? Não. Mas se tem uma coisa que ele queria mais ainda era pagar os boletos do mês, então ele disse "foda-se essa merda" e deu as pessoas exatamente o que eles queriam.
O jogo também tem Broly como personagem secreto, e eu sei que é um dos personagens de filme favoritos de fãs. Mas sem jeito no inferno que eu vou assistir isso, então foda-se. |
Por isso a reta final de Dragon Ball é do jeito que é (a própria coisa das Dragon Balls é deixada de lado completamente), e por isso que Dragon Ball Z é do jeito que é. Até hoje Toriyama nunca entendeu realmente porque as pessoas gostaram tanto das lutinhas placeholder que ele enjambrou pra ganhar tempo.
That doesn’t make any sense to me, since I think I draw things the wrong way. I guess because it’s too much of a world where anything goes. Once you’ve got that as your setup, you can draw anything and nobody can complain that it’s impossible.De uma forma bastante ironica, Dragon Ball Z é avô de One Punch Man elevado ao poder de luta mais de 9 mil: era uma piada que muita gente levou a piada a sério. E como o dinheiro continuou entrando ele continuou fazendo.
When Toriyama was asked about the significant boost that his Dragon Ball series gave to Jump's sales, he was even more straightforward: I'm happy to hear that, but...it doesn't really make sense to me. A while ago I reread the series for the first time in ages, and while the Frieza arc was suspenseful enough to grab my interest...I still wondered why it was so popular.
Isso explica porque DBZ é tão popular assim no Japão, mas porque ele é tão popular assim no ocidente? Bem, a resposta curta é que Dragon Ball Z é para os Estados Unidos o que Cavaleiros do Zodíaco é para o Brasil: pode ser um anime medíocre, mas é um anime medíocre em uma época que a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar de animes antes.
Podemos concordar que mesmo os animes mais miseraveis ainda sim tem traços de cultura, assinaturas visuais e narrativas que são muito, muito diferente do que o ocidente entende por animação - especialmente nos anos 90.
O choque de ver um anime, mesmo que um anime fraco, pela primeira vez é muito grande e explode cabeças por onde passa. Aconteceu com um anime patético como Cavaleiros do Zodíaco no Brasil, e EXATAMENTE a mesma coisa aconteceu nos Estados Unidos com Dragon Ball Z.
Bem, tecnicamente DBZ não foi o primeiro grande hit de anime nos US and A: esse título seria melhor atribuído a Pokémon, que varreu o mundo com uma febre ja bem documentada baseado em um jogo solidamente bom para Game Boy (talvez não atemporalmente bom, mas para a época era um jogo inacreditavel para se ter em um portátil).
Entretanto você tem que entender a cultura dos anos 90, a era de ouro da insegurança masculina. Pokémon era uma adaptação decente de um videogame (embora um dos mais fracos desses "animes de monstrinhos" que viraram moda na época justamente por causa do sucesso de Pokémon - Digimon foi um anime bem melhor), mas ainda é um anime infantil e como a Ação Games tão bem representou o pensamento retrogrado dessa era ao afirma que "isso é coisa de meninas e meninos pequenos".
Não que os garotos adolescentes não gostassem de pokemon, ou não assistissem, mas eles não admitiam abertamente faze-los porque é assim que o ego frágil dos meninos dos anos 90 rolava. Isso quer dizer que era só questão de tempo até alguém perceber que animes tinham um enorme potencial a ser explorado se fosse algo que meninos adolescentes abertamente dissessem que gostavam.
E para esse proposito, Dragon Ball Z era o anime mediocre perfeito: era violento mas não a ponto de incomodar alguém, não tinha temas polemicos (ou tema algum na verdade), enfim é o anime perfeito para americanos adolescentes se sentirem machões assistindo sem realmente pisar no calo de nenhuma associação de mães southparkianas.
DBZ era o anime ruim na hora certa. No Brasil aconteceu algo mais ou menos parecido com Dragon Ball Z quando este foi o primeiro (e de cabeça assim o único) grande anime shonen exibido pela Rede Globo. Embora tecnicamente Rurouni Kenshin tenha passado antes, Samurai X é um anime de luta que envolve política e história demais para o gosto do adolescente ocidental médio. Então dos grandes animes shonen, esse foi o primeiro a passar na emissora mais popular do Brasil - justamente por causa do sucesso nos Estados Unidos.
Tanto que Dragon Ball Z já tinha passado antes na Band e ninguém dava muita bola, porque ninguem realmente liga para a Band. Mas quando começou a passar na Globo, aí as coisas foram tratadas de uma forma inteiramente diferente. Poucas coisas são capazes de pistolar mais um adolescente revoltz brasileiro dos anos 90 que ele paga pau pra Globo, mas a repercussão de Dragon Ball Z na Band e na Globo é um argumento indiscutível.
De qualquer coisa, como qualquer coisa que foi moda nos anos 90 isso se tornou uma profecia autorealizavel e ninguém mais vai se prestar a analisar as coisas pelo que elas eram realmente. Exceto eu, claro, e esse é um dos motivos pelos quais eu sou melhor que todos vocês.
As vezes o sucesso vem de criatividade, trabalho duro e inspiração. As vezes vem de estar no lugar certo na hora certa. Eu não tenho certeza se Akira Toriyama pode colocar seu dedo em qual dos casos é o dele, mas suponho que essa é uma preocupação menor quando você criou um produto licenciado que te permite trocar de Ferrari todo ano.