quarta-feira, 19 de agosto de 2020

[AÇÃO GAMES 051] TOTAL CARNAGE (Arcade 1992, SNES 1994)[#465]




Essa semana mesmo eu escrevi um longo texto sobre Super Metroid, e um ponto que eu defendi é que o conceito do jogo é tão ou mais importante que o gameplay em si. Como você se sente a respeito da experiencia, o que você pensa do jogo quando não está jogando ele é o que realmente determina se ele será lembrado ou esquecido.

Parece uma ideia louca dizer que o gameplay não é o mais importante sobre um jogo, mas cada vez mais eu acredito nisso e esse jogo em especifico aqui é a prova perfeita do que eu quero dizer. Eu tenho aqui dois jogos essencialmente iguais, lançados na mesma plataforma e para o mesmo público. Só que um deles é lembrado até hoje com um certo carinho, e o outro foi solenemente esquecido nas areias do tempo.

Estou falando do sucessor ignorado de S.M.A.S.H. TV, Total Carnage.
Flyer do arcade original
Porém, vamos começar do começo: SMASH TV é um top down shooter criado para comer a maior quantidade de fichas nos arcades possível no menor espaço de tempo possível. Você é jogado em uma arena em que dezenas de inimigos são jogados sobre você e boa sorte com isso - sendo que sua ferramenta de defesa é atirar para todos os lados da tela.


Não parece um jogo muito memorável descrevendo assim, e não é realmente: SMASH TV não é lembrado pelo seu gameplay, e sim pela sua ideia absurda. A coisa toda se passa em um reality show de ultraviolencia e morte, bem ao estilo distópico do Running Man de Stephen King (mais conhecido pelo filme com o Schwarzenegger)


O senso de humor negro do jogo, com seu apresentador Gugu Liberato-like anunciando massacre de centenas como programação de domingo é reforçado pela decisão estranha de converter o dinheiro que você coleta (ou seja, seus pontos) em produtos cotidianos.

Assim esse é o único jogo do mundo que eu consigo lembrar que você participa de um reality show para ganhar 375 mil dolares em torradeiras, ou 745 mil dolares em carne. Eu não acho que exista uma geladeira o suficiente para armazenar toda essa carne, o que significa que logo após esse jogo ocorreu o primeiro churrasco a céu aberto do mundo que alimentou um continente inteiro.

Como eu disse, o gameplay em si de SMASH TV não faz muita coisa pelo jogo, mas todo mundo lembra dessa ideia do reality show do capeta.



E o que aconteceria se SMASH TV fosse estripado do seu conceito? Tira o reality show, tira ganhar 7785 viagens de férias, tira tudo e deixe apenas o mesmo gameplay em um plot genérico, o que teriamos?

Foi essa a experiencia que a Midway fez dois anos depois, lançando o "sucessor espiritual" de SMASH TV sob o nome de Total Carnage. O que quer dizer que é basicamente o mesmo jogo, apenas com uma premissa bem mais esquecível. O quão esquecível?



Bem, após a terceira guerra mundial de 1999 (uh, essa foi bem feia) um ditador maligno do oriente médio colocou as mãos em um reservatório de armas quimicas capazes de transformar as pessoas em monstros. Diante desse roteiro escrito por Dick Cheney, os Estados Unidos respondem mandando seu maior e mais bombado homem (ou homens, jogado de dois jogadores) para resolver as coisas ao bom e velho estilo americano...


... hã, o OUTRO bom e velho estilo americano...


Enfim, jogando como Capitão Carnage e Major Mayhem, você precisa abrir caminho pelas forças do general Akhboob (sim, esse é o nome), resgatar o máximo de civis capturados possível e se sentir bem constrangido de fazer parte disso, dado como sabemos que o envolvimento americano no oriente médio no mundo real funcionou.

Os controles são quase os mesmos de Smash TV, com dois joysticks por jogador no arcade (no SNES os botões do controle fazem as vezes do segundo joystick). Um fará você se mover, enquanto o outro faz você atirar em qualquer direção. 



E é basicamente isso, a única grande real mudança para TV é que você não está mais fechado em telas e sim que o scroll se move em alguma direção, embora frequentemente ela para até que você mate algumas ondas de inimigos. 

Tem também um botão para soltar minas terrestres/bombas, mas elas não servem pra muita coisa senão explodir portões. Não que o jogo te diga isso, mas enfim. E como já mencionado, os prêmios aleatórios não aparecem nesse jogo, sendo substituídos por soldados capturados, bandeiras americanas, repórteres e turistas que você pode coletar para ganhar pontos de bônus.



Existem alguns inimigos novos, mas muitos são versões atualizadas dos inimigos que você enfrenta em Smash TV. E, mais importante, você ainda enfrenta alguns milhares de criaturas que não dominam o conceito de "combate à distância", correndo pra cima de você como loucos abilolados. O que faz sentido em um cenário reality show, mas faz menos sentido quando você está tentando invadir a base de um exército. Enfim.

Todo o problema com o Total Carnage é que, embora haja algumas melhorias na estrutura geral, ele não faz muito para sequer resolver alguns dos problemas de Smash TV. Muito parecido com o jogo original, é interessante quando você está começando, mas em pouco tempo você acaba ficando entediado. Os cenários moveis significam que você tem menos espaço para manobrar, o que significa que você provavelmente morrerá muito mais. O jogo também é tão longo quanto o jogo original, se não mais, portanto o jogo fica cansativo ainda mais rápido.



Enfim, parece que esse jogo foi criado sob encomenda para provar o meu ponto de que o que cerca um jogo é tão ou mais importante que o jogo em si, porque é assim que seres humanos funcionam. Basicamente o mesmo jogo, mas nesse não tem o Gugu Liberato do capiroto dizendo "BIG PRIZES! BIG MONEY! I LOVE IT!". Pouco surpreendentemente, todo mundo lembra do primeiro e caga para este.

A promotoria descansa o seu caso.