sábado, 29 de agosto de 2020

[AÇÃO GAMES 053] MARIO'S TIME MACHINE (SNES, 1993) [#475]


Uma coisa que eu digo vez e novamente aqui é que um jogo deve ser julgado não pelo que você gostaria que ele fosse, mas pelo que ele é. Por exemplo, eu não gosto de jogos de navezinha, eu não consigo me divertir com shmups. Então seria apenas idiota eu analisar um shmup negativamente por ele ser o que ele é. Não, isso é retardado.

 Assim, eu não tenho um problema real com jogos educativos per se. É o que me diverte? Não. Eu compraria? Não. Mas eu tenho que analisar o jogo pelo que ele se propõe a fazer, que é ser um jogo educativo. Por isso é tipo um esporte olímpico na internet descer a lenha em jogos como MARIO IS MISSING, mas eu disse na época que ao que se propõe a fazer ele é um jogo realmente bem realizado.

Na história de hoje, o Bowser mais mal desenhado do mundo cansou de sequestrar princesas e usou uma máquina do tempo que ele tinha ali de bobeira para roubar artefatos históricos porque agora ele tem um crush na Carmen Sandiego or something (e quem não). Só que ele deixa a porta do castelo aberta e a máquina largada no meio do salão junto com os artefatos, então o Mario usa ela pra devolver tudo. Bowser colocou nesse plano quase tão pouco pensamento quanto os criadores buscando uma desculpa pra esse jogo

Tem uma apresentação excelente (com efeito, usa os sprites e efeitos sonoros de Super Mario World), uma mecanica ok e efetivamente ensina as crianças coisas interessantes sobre os lugares do mundo. Se mais nada, Mario is Missing fez mais para ensinar o eu de 10 anos de idade onde ficam os países do mundo do que qualquer aula de geografia jamais ensinou. O que meio que permaneceu verdade uma vez terminado todo o ensino médio, mas isso é mais demérito do ensino público brasileiro do que crédito do joguim.

 Anyway, Mario is Missing é maneiro ao que ele se propõe a fazer. Isso sendo dito, vamos então falar sobre outro jogo que toma tanto pau quanto Mario is Missing, o outro jogo educativo do Mario lançado nos anos 90 para consoles da Nintendo: A Máquina do Tempo do Mario.

Mario reflete sobre a única vez que a palavra "onward" foi usada em um videogame

 O que podemos esperar aqui, então? Um jogo educativo que injustamente leva pau apenas porque todo mundo quer pagar de legalzão como se fosse o próximo AVGN?

Sim, mas não.

Um fato histórico pouco conhecido é originalmente a Mona Lisa usava maquiagem pesada de fim de balada

 Quer dizer, sim, o jogo apanha mais que o fandom de Steven Universe em um comício do Bolsonaro, e sim, o jogo merece realmente apanhar o tanto quanto ele apanha. Mas não pelos motivos que lhe são atribuídos.

 A grande coisa pela qual MTM é culpado não é que ele é um jogo educativo e isso por si só ruim, não. O grande problema de MTM é que ele é um jogo educativo ruim.

Eu espero encontrar muitas coisas em um jogo do Mario, mas nada me preparou para o Platão sugerir usos pouco cristãos do seu measuring stick no encanador 

 Porque senão, vejamos: qual é o público alvo de um jogo educativo? Ora, majoritariamente crianças, certo? Essa sequer é uma opinião minha, está escrito pela própria Nintendo no manual do jogo:


 Então como esse jogo funciona para crianças? Pessimamente, eu temo. O jogo tem muito poucos elementos visuais e quase nenhum de gameplay. O que o jogo tem então? Blocões de texto. O jogo tem muito, muito diálogo, e dialogo sobre temas que não são interessantes para crianças. Quer dizer, hoje eu acho muito interessante saber sobre a vida de Isaac Newton, com 10 anos de idade eu tenho que dizer que saber sobre Cálculo me interessava bem menos. Ou que Platão acreditava que o governo ideal seria uma meritocracia de filosofos. Não parece o tipo de coisa que atraia o interesse de crianças.


 Mas ok, o conteúdo não é interessante para crianças e não é apresentado de uma forma lúdica interessante, mas então o jogo poderia interessar um público mais velho interessado em aprender sobre história? Se alguma coisa, os jogos de Carmen Sandiego já mostraram que existe um público para isso, afinal.

 Então... não.

Nascido em um bambu, em 1642, Isaac Newton


 
Não existe um desafio lógico aqui que poderia manter o jogador interessado. Você poderia falar com os NPCs e eles te darem dicas das quais você pode inferir as respostas do puzzle, isso certamente seria um desafio e justamente por isso aprofundaria o aprendizado. Mas não é o que acontece aqui, sua tarefa é meramente burocrática de ler o texto e então preencher o formulário que completa o level com as informações que você acabou de ler. Não poderia ser mais desinteressante mesmo que tentasse.

Com efeito, a forma mais interessante de jogar o jogo é não jogar ele: tentar preencher as respostas com o que você sabe de cabeça e ver o quanto você sabe. Sério, quando pular o jogo é a melhor alternativa, algo errado não está certo aqui.

Estou vendo essa passagem sobre o Thomas Edson sem mencionar o Tesla... #opovonãoébobo #anintendomente

Então o jogo não tem nenhuma qualidade redentora? Ter, até tem. Eu gosto que se você conversar com os nativos, o jogo sai do seu caminho para falar coisas menos óbvias do que apenas a sua lição básica de história. 

Fatos como o fato de Thomas Jefferson lutar contra a escravidão ao mesmo tempo que ele próprio tinha escravos era visto como algo polemico na época, ou que a época da composição da 9a Sinfonia, Beethoven já era visto como uma estrela decadente que vivia de glórias passadas.

A capa da versão para computador é... bem, ela é alguma coisa, com certeza, algo

São de fato pequenas trivias interessantes que dão um tempero especial... uma pena que o que está sendo temperado é uma salada de chuchu, em um prato perfeitamente bom seria algo realmente memorável. 

Eu genuinamente aplaudo a ideia de fazer um jogo de história que tenta sair do basicão (ao contrário de Mario is Missing, em que apenas o básico das atrações turísticas é abordado), mas então novamente eu tenho que perguntar... esse jogo foi feito pra quem, exatamente?

 A base é interessante, mas sem parecer saber responder isso o jogo acaba não indo a lugar nenhum.