quarta-feira, 5 de agosto de 2020

[ANTIGA GAMERS 002] THE HORDE (3DO, 1994)[#453]




Hmm, esse vai ser uma interessante. Veja, embora eu não tenha jogado todos os jogos de console do mundo, posso dizer com razoavel segurança que tenho uma boa noção sobre a maior parte dos jogos já lançados e existem bem poucas coisas que eu nunca ouvi falar a respeito. Jogos exclusivos do 3DO são um desses raros grotões dos quais eu não sei realmente muito a respeito - já que como eu disse a maioria dos título de 3DO acabou saindo para Playstation. 

Agora, jogos do 3DO que ficaram no 3DO? Hmm, não tenho exatamente certeza se isso é uma coisa boa. Provavelmente não, mas veremos.



ESSE JOGO NÃO SAIU TAMBÉM PARA SEGA SATURN? TECNICAMENTE NÃO É UM EXCLUSIVO DE 3DO...

Bem, voltando a falar dos videogames DE VERDADE... como era comum naquela época, os produtores estavam maravilhados com as possibilidades de jogos em CD e isso significa é claro muitas cenas gravadas com atores reais - como era moda nos consoles de 32 bits no começo da quinta geração (rapidamente a Sony percebeu que isso era bullshit e nos próximos anos o Playstation parou com isso). Assim sendo, vamos ver a introdução em live action desse jogo:


Isso é... olha... surpreendentemente legal. Quer dizer, é tosquinho, claro, mas é um tosquinho que tem noção do quão tosco é e se diverte com isso. A cada tantas fases você tem cutscenes dessa historinha, que é basicamente sobre o conde tentando ferrar sua vida com o rei da forma mais paspalhona ao estilo do Mestre na séries clássica de Doctor Who... e isso é realmente bacaninha realmente.

Não é algo que se diga "minha nossa que cinematografia digna de Oscar", mas ao que se propõe a fazer The Horde tem cenas divertidas e que recompensam o jogador por progredir. Isso é realmente inesperado pra um jogo que nunca saiu do 3DO, porque eu esperava apenas sofrimento e dor...

Capa japonesa da versão para Saturn

NA VERDADE ELE SAIU DO 3DO, A VERSÃO DE SEGA SATURN...

SOFRIMENTO E DOR, eu te digo. Então, é, ao que se propõe a fazer, eu realmente vejo como isso pode dar certo. Tudo que precisa agora é não cagar tudo no gameplay, mas o quão difícil isso pode ser realmente?

...

... eu acho que não devia ter dito isso.


Enfim, eis como as coisas rolam por aqui: The Horde é um jogo composto por duas partes. A primeira é tipo um city builder, a segunda é a parte onde a ação rola na cidade que você preparou. A proposta é interessante, mas vamos ver como isso funciona na prática.

Conforme a apresentação adoravelmente patética mostra, você foi incumbido de ser o protetor de uma terra que é atacada por uma horda de capirotos chamadas de... bem, "A Horda", que é a razão do nome do jogo e não porque esse é um spin-off não licenciado das aventuras sexuais do Durotar.



Então você tem um pool limitado de recursos para preparar a cidade para o ataque da horda, que é a segunda parte do jogo. Para isso você jogar em um estilo Sim City em que posiciona armadilhas, unidades de defesa (apenas nas fases mais avançadas) ou itens que gerão recursos mais pra frente.

Por exemplo você pode plantar sementes por uma moeda cada, mas fases seguintes essas sementes vão virar arvores que podem ser colhidas te dando 5 moedas. A forma mais eficiente de fazer dinheiro, entretanto é comprar vacas. Cada vaca custa cem moedas, mas a cada fase que elas ficarem vivas dão 25 dinheiros em recurso de volta.

A outra coisa que pode ser feita é comprar itens de defesa para sua cidade: fossos com espinhos, muros, guardas estacionários, etc. A Horda não é composta pelas bolachas mais espertas do pacote, então eles não realmente tentam evitar suas armadilhas e defesas, então eles funcionam ok.



A segunda parte do jogo é a defesa da cidade em si, onde você controla um bonequinho na cidade que você parapetou. Essa segunda parte do jogo é bem mais padrão do que você poderia esperar de um  videogame: é um hack'n slash bem padrão. Você controla um personagem meio duro de controlar que tem um ataque giratório e meio que é isso.

Para dar uma incrementada nas coisas, mais pra frente você pode comprar coisas para usar na parte do combate desde pedaços de carne para largar no chão que manterão os capirotos maiores ocupados enquanto você bate neles até participação de um dragão que dispara bolas de fogo em lugares do mapa que você marcar.

A jogabilidade é meio troncha... na verdade, BEM troncha, mas é funcional.

OLHA, EMBORA NÃO SEJA BRILHANTE, PARECE DIVERTIDO. SE MAIS NADA, VALE PELA ORIGINALIDADE DA IDEIA.

Sim, eu achei isso também. Lembra um pouco do primeiro Actriser do Super Nintendo, e misturar administração de cidade com ação tem um bom potencial realmente. Um potencial pouco explorado nos videogames até hoje, diga-se de passagem.

LEGAL, LEGAL. ENTÃO, ONDE QUE ELES CAGARAM A PORRA TODA?

Mas oi?

NINGUÉM NUNCA OUVIU FALAR DESSE JOGO E ELE NUNCA FOI PORTADO PARA O PLAYSTATION. EXISTE UM MOTIVO PARA ISSO.

É, após quase 500 jogos suponho que não dá mais pra te enganar Jorge. De fato, The Horde pisa no tomate feio com algumas coisas e tornam o jogo muito, mas muito menos divertido do que ele deveria ser.

Em primeiro lugar a coisa mais obvia a respeito desse jogo é que ele claramente foi pensado para ser jogado usando teclado e mouse. Muito da parte de posicionar os recursos na primeira parte do jogo, especialmente a coisa de coletar as arvores maduras - sua principal fonte de renda inicial - seriam uma tarefa trivial de ser realizada. Com um joystick, entretanto... argh...



Fazer tudo nessa parte do jogo é doloroso e sem prazer nenhum. Apenas esse detalhe já mata muito da diversão do jogo, mas calma que piora.

O segundo problema é que a parte de preparação da cidade tem um limite de tempo, e um limite bastante apertado de se utilizar por causa dos controles já que a combinação de botões é nada intuitiva.

Vou te explicar os comandos desse jogo, veja se você consegue se visualizar fazendo isso com a velocidade que um limite de tempo apertado exige: o botão B alterna do controle do personagem na tela para o menu de comandos, mas que menu de comandos são esses?

No computador seria simples: cada tecla teria uma função. Em um controle de três botões (alias, porque CHAVASCAS UM CONTROLE DE 5A GERAÇÃO TEM APENAS TRÊS BOTÕES?!?), é necessário um pouco mais de... criatividade.


NA VERDADE SÃO CINCO BOTÕES, TEM L E R NO CONTROLE TAMBÉM. ELES APENAS ESCOLHERAM POR NÃO UTILIZA-LOS.

Mas puta que me pariu em chamas dançantes mesmo... Mas enfim...

Apertar B ilumina o menu, quando o menu está iluminado se você apertar para cima ele alterna para o mapa, se apertar para baixo ele volta a mostrar o personagem na tela.

Se apertar para os lados ele alterna entre os itens do menu, então você tem que alternar entre selecionar o item do menu. Depois de parar o cursor em cima do item que você quer, você tem que apertar B de novo para voltar ao mapa ou ao personagem na tela onde você pode instalar/remover o item que você selecionou.

Ou seja:


Esses controles, cara, esses controles...

Sério, eu entendo que eles tiveram que ser bastante criativos para adaptar um jogo que foi pensado para um teclado para mouse e cinquenta teclas em um controle de apenas três botões, mas então eu realmente me pergunto porque diabos eles escolheram fazer um jogo com controles que não tem como ser satisfatoriamente adaptados para o controle que o videogame tem.

Mas ok, digamos que de alguma forma você não conseguisse conviver com esses controles pouco intuitivos... não que você consiga, mas digamos que pudesse apenas para proposito dessa review, o jogo ainda tem outro problema não realmente menor que isso.

Isso porque as mecanicas do jogo são bastante simples, ao ponto de que elas são abusivamente exploraveis mesmo sem o jogador não tentando fazer isso. Isso porque existem três formas do jogo acabar: sua vida acabar em combate contra a horda, seu dinheiro acabar e você não poder pagar os impostos do rei, ou a sua cidade ser inteiramente destruída.



A primeira e a terceira opções são muito, mas muito dificeis de acontecer porque o combate é muito simples e você mata a maior parte dos capirotos com poucos ou até mesmo um hit. A forma que a horda mais pode causar estragos a sua cidade é justamente atacando onde você não está defendendo, mas para impedir que ela seja completamente levelada é só parar em um lugar e defender aquela construção.

Então ter game over por morte do seu personagem ou destruição é muito, muito improvavel. Mas e quando ao game over por não pagar impostos? Bem, esse não é nem improvavel, é basicamente impossível. Isso porque uma vez que você entende como o dinheiro funciona, ele deixa de ser um problema: basta ter tantas vacas quanto o jogo permitir. Não existe nenhum tipo de IA na horda, então eles não targeteiam sua fonte de renda especificamente.

O resultado é que no segundo  mapa você já vai ter mais dinheiro do que pode gastar (e existe um limite para o quanto você pode gastar porque o jogo tem um limite de itens que você pode colocar no mapa), e os impostos do rei são ridiculos. Tipo você vai ter algo por volta de 17 mil, 20 mil dinheiros e o imposto do rei é 100 pila, duzentos.



O desafio nesse jogo é praticamente inexistente, seu maior inimigo aqui é apenas a burocracia em faze-lo... o que não é uma boa coisa a ser dita de um jogo que dura de 4 a 5 horas de duração. Cara, se eu quisesse ter cinco horas de atividade burocrática sem desafio ou estímulo algum... bem, eu já tenho, chama-se emprego, e pelo menos lá eu sou pago pra isso!

Sério, o que você tem que fazer é gastar todo seu dinheiro em saplings até poder comprar vacas quando seus problemas de dinheiro terminam, então vencer o combate extremamente simplório contra mobs sem IA, enxague e repita. Por horas e horas e horas.


Verdade que depois do terceiro mapa as coisas melhoram um pouco estrategicamente: o mapa é um deserto e você precisa usar suas ferramentas de terraformação para fazer as fontes de água transformarem o deserto em terras vacáveis. Sim, isso é um adjetivo de verdade.

SIM, ESSA PALAVRA EXISTE, MAS NÃO É... AH, DEIXA PRA LÁ...

Infelizmente essa fase do deserto tem dois problemas: ela acontece com quase três horas de jogo sem nada acontecer, de modo que apenas os mais insanos chegarão até lá, e pior ainda: se apenas fazer o básico com esses controles hediondos já é dificil no pouco espaço de tempo que a fase de setting dá, mas ter que terraformar o terreno (o que deveria ser divertido) se torna um martírio.


The Horde é um jogo bastante ambicioso no papel, a forma com que a cidade cresce entre uma fase e outra dependendo do que você conseguiu proteger é bastante organica e tem bastante programação esperta aí, e a ideia de misturar administração de cidade com combate não é desprezível. Somadas as cutscenes patetas e temos algo digno de nota aí.

Mas fazer isso funcionar em um joystick estava muito além das capacidades da Crystal Dynamics, fazer isso funcionar por cinco horas está completamente fora de questão.

MATÉRIA NA GAMERS
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