domingo, 7 de janeiro de 2024

[#1215][Abr/98] SUPER TEMPO

Ao longo de todos incontáveis anos da história dos videogames, diversos protagonistas de jogos de plataforma já tiveram incontáveis super poderes. Alguns uteis, alguns quebrados, e alguns realmente pitorescos, porém dentre estes, nenhum é realmente mais pitorescos do que os poderes do nosso gafanhotinho maneiro Tempo.

E qual seus poderes, vc pergunta? Bem, acredite ou não, ele tem o super poder de se abraçar com videogames morrendo da Sega que deram catastroficamente errado - e se esse não é um dos piores poderes da história dos videogames, bem, é preciso comer muito feijão com arroz pra chegar lá.

Explico: o jogo original do nosso Tempo boy-magia saiu em março de 1995 como um exclusivo para o fodendo 32X. Lembra do 32X? Claro que não, ninguém lembra, porém nesse blog já abordamos a história do 32X (vide COSMIC CARNAGE) e vamos resumir que existe um motivo pelo qual ninguém lembra dessa abominação.

Aí se passam 3 anos e eis que surge um novo jogo do Tempo, agora exclusivo... para outro console da Sega que também estava morrendo! Caralho Tempozera, vai te benzer irmão! Isso pq em abril de 1998 o Sega Saturn já tinha ido de base e tava só o corpo presente, o espirito já tinha partido desse mundo. Com efeito, seu sucessor - o Sega Dreamcast - seria lançado em seis meses e a Sega da América já tinha completamente desistido do desastre que foi o Saturn, enquanto a Sega do Japão ainda tentava pagar uns boletos com esse fogo no parquinho - logo, eis a razão desse jogo existir.

E essa é também a razão do jogo nunca ter sido lançado fora do Japão: a Sega da América não acreditava que um jogo de plataforma com gráficos 2D resolveria muito a sua vida a essa altura (não que alguma coisa resolvesse, na verdade). Há uma grande chance de você ler por aí, entretanto, que a razão desse jogo nunca ter sido lançado no ocidente é que ele era estranho e japonês demais - o que, enquanto não é verdade (realmente foi a situação economica da Sega aliada a percepção que as pessoas tinham de jogos de plataforma 2D a essa altura)... bem, eu realmente consigo entender de onde vem esse pensamento.

Quer dizer:


ESPERA, VC É CATAPULTADO DE UM GIRINO GIGANTE PARA UM BLOCO DE QUEIJO ONDE DESCOBRE QUE ESTAVA NADANDO NA CACHOEIRA DE UM LIQUIDO BRANCO SAINDO DO PIPI DO MENINO?

Exactamundo. Super Tempo, senhoras e senhores.

Então, sim, eu realmente consigo ver pq esse jogo sofreria "algumas" mudanças se fosse lançado no ocidente e nao apenas a ... cachoeira de porra de uma criança... e sim pq esse jogo em vários momentos lembra o humor estilo "mano, o que é que vocês fumaram e onde eu consigo desse baguio?" de EARTHWORM JIM 2.

O que, obviamente, é uma coisa boa. Muito boa. 

Eu realmente não sei explicar para o que eu estou olhando aqui. Então, novamente... MANO O QUE É QUE VOCÊS FUMARAM E ONDE EU CONSIGO UM DESSES?

Mas... o resto do jogo acompanha essa qualidade lisérgica ou é algo tem aos moldes também de EARTHWORM JIM 2 que você acompanha as loucuras APESAR do jogo e o gameplay meio que te odeia? É o que veremos a seguir.

A história desse jogo é que... bem, eu vou ser sincero com vocês, eu não falo japonês e você também não, então como esse jogo nunca foi lançado fora do Japão meio que não importa pq nós nunca vamos entender nada sobre isso. 

Mas se vc absolutamente precisa saber, saiba que no mundo da música de inverno (isso é uma coisa, aparentemente), o Príncipe do Mundo da Música é sequestrado e levado para o Planeta Technotch. Enquanto isso, nosso garoto gafanhoto verde “Tempo” e sua namorada, a garota borboleta branca “Katy” tinham falido pq viver de música é mais duro do que as pessoas dão o crédito... então eles decidem salvar o principe para ganhar a grana da recompensa e assim poder pagar os boletos do mês.


Hã, é uma história estranhamente relacionavel essa daí, quem diria. Nosso herói tem seus sonhos e suas habilidades... mas foda-se tudo isso pq a gente tem que pagar boletos, então bora tankar um trabalho bosta because fuck. Taí uma crítica social que eu não esperava de um jogo de plataforma 2D de um console falido morrendo, todo dia você aprende uma coisa nova...

E quando eu digo "tankar um trabalho bosta", eu estou sendo bastante literal aqui pq é onde os problemas do jogo começam: jogar Super Tempo realmente é um trabalho bosta. E eu não sei vocês, mas se a descrição de JOGAR O JOGO pode ser feita como "encarar um trabalho bosta"... alguma coisa errada não está certa aqui.

Digo isso pq os controles desse jogo... não são bons, vamos colocar assim educadamente, sim?

Apesar de ser um jogo inegavelmente japonês (até demais), Super Tempo infelizmente marca todos os checkboxes dos jogos merda de plataforma europeus. Isso quer dizer, por exemplo, que entre você apertar o botão e o boneco fazer a ação na tela existe um lag realmente desconfortável. Quero dizer, sério caras, esse tipo de problema já devia ter sido resolvido em 1993, e ainda sim estamos em 1998 e eu tenho que falar as mesmas coisas? Num fode véi.

E definitivamente não ajuda muito que quando seu boneco finalmente decide se mexer... bem, ele REALMENTE parece um jogo bosta de plataforma europeu pq ele é todo floaty e cheio de momentum, o que quer dizer em termos leitos que o jogo passa uma desagradavel sensaçao de ser uma fase do gelo na Lua. Yammy yammy, vcs não adoram quando isso acontece? Pois é.

Seguindo ainda a risca a cartilha do jogo merda de plataforma europeu, o ataque de Tempo não apenas tem um alcance insatisfatório como precisa de muitos ataques para derrotar um inimigo bem básico. Imagine SUPER MARIO WORLD onde vc precisa de pelo menos uns 3 pulos na cabeça para matar o goomba mais básico do jogo. 

Só que imagine pior que isso, pq do jogo TEMPO anterior foi tirado o ataque com pulo na cabeça para matar os inimigos... mais ou menos. Agora para matar os inimigos vc tem que atirar bolhas no cara (mais do que o bom senso recomendaria) até ele ficar preso numa bolha e só então pular nele. Se isso tudo soa mais burocrático e complicado do que deveria ser para derrotar os inimigos mais básicos do jogo... é pq é exatamente isso que esse jogo é e apesar do nome, Super Tempo tem um ritmo super horrível.

Pq é claro que o seu ataque com alcance ridiculo que precisa de um bazilhão de hits pra acertar alguma coisa não vai matar os caras antes que eles te acertem, isso é o que você pode esperar desse jogo

Nas fases que você alterna o controle para Katy ao menos ela usa um lança-chamas, o que soa realmente awesome e facto elimina vários passos do processo (ele apenas carboniza os inimigos direto, ponto), mas... eu realmente não posso dizer que é tão mais satisfatório assim dado que o alcance do lança-chamas é bem curto e ele é igualmente fraco, precisa de mais hits para matar alguma coisa do que os inimigos se importam em ficar parados para colaborar.

A principal diferença entre Tempo e Katy, entretanto, é que ao contrário de Tempo nossa menina magia Katy pode voar em velocidades alucinantes para qualquer lugar da tela! E por "velocidades alucinantes" eu quero dizer que é quase aceitável, pq tudo nesse jogo é tão terrivelmente lento que parece que eu estou jogando um jogo rodando em um fucking Amiga.

Quer dizer, sério, olha Tempo subindo numa corda:

Caralho irmão, se vai demorar tanto tempo (trocadilho não intencional) pra subir numa corda ao menos tenha a decencia de colocar a trilha sonora adequada, né?


 Então, é, ao menos quando vc joga com Katy ela se move numa velocidade mais perto do adequado... o que meio que só torna pior quando o jogo te obriga a voltar ao Tempo, mas enfim... eu acho que grande parte do problema desse jogo é que a animação é bonita demais. E enquanto ser bonito não é um problema per se, quando você coloca muitos quadros de animação em um personagem ele se torna lento para responder pq o jogo espera ele executar todos os frames antes de dar sinal de vida.

O que é exatamente o mesmo problema que cagou completamente e transformou SHAQ FU no meme que ele é hoje. E eu não sei vocês, mas no meu livro a ultima comparação que eu quero que um jogo de plataforma faça na vida é com o fodendo SHAQ FU.

Adicione a isso erros de design básicos que tornam a experiencia completamente miseravel (como as lutas contra chefes que não dão o menor indicativo visual ou auditivo se vc está causando dano ou... se os seus ataques estão fazendo algo uma coisa ou vc deveria estar tentando algo diferente... que é uma das piores escolhas de design de chefes que eu já vi na vida) com um level design bem desinspirado e... bem, temos um jogo que parece miseravel e desinspirado para o jogador.

Sério jogo, podia me dar ao menos ALGUMA dica se alguma coisa está acontecendo? Os ataques estão contando? Como eu vou saber o que eu deveria estar fazendo? Caceta gente, é 1998, não é pedir a formula da pedra filosofal evitar problemas básicos assim!

Um bom exemplo do que eu estou falando são as fases estilo shmup, pq o jogo tem algumas delas. Enquanto elas não fazem nada de terrivelmente errado... porra gente, jogos do Nintendinho tinham mais variedade que isso. Estamos na fodenda quinta geração de consoles e o mais divertido que vcs conseguem fazer uma fase de navinha é... isso?


Hã, okay, essa é definitivamente uma das fases já feitas para um videogame. Não é tecnicamente quebrado em nenhum sentido, mas então não é grande também. E esse é o feeling do jogo inteiro: quando ele não está fazendo algo que ativamente te irrita, ele é meio que apenas "okay, isso é uma coisa que existe".

A boa noticia é que essses momentos de frustração não são tão recorrentes e na maior parte ele é apenas "blah, esse é um jogo já feito", a noticia ruim é que eu não tenho certeza se isso é uma coisa que deviamos estar comemorando, tipo "yay, this game dont suck... much". É.

Mas então olha como é fofinho esse power up que Tempo ganha a força de mil gafanhotos!

Enfim, Super Tempo é um um banquete para seus olhos com gráficos muito fofinhos, plataforma 2D desenhada de forma muito adorável e que piadas que lembram o senso de humor de EARTHWORM JIM 2. Eu apenas gostaria que fosse muito melhor como um todo. 

E enquanto o jogo original tambem não é muito impressionante, ao menos passa o feeling de estar jogando um jogo primitivo de Saturn no 32X. Curiosamente, com a continuação eu fiquei com a sensação de estar jogando um jogo de 32X no Saturn e isso não é uma coisa boa a se dizer. De todos jogos japoneses que nunca foram lançados no ocidente, temo em dizer que Super Tempo se enquadra na categoria "e nada de valor foi perdido nesse dia".

TERMINOU?

Sim, pq?

UÉ... SABE O QUE EU ESTOU REALMENTE ESTRANHANDO?

Hã, o que?

VOCÊ REALMENTE NÃO FALOU NADA DO POWER UP DA KATY. QUER DIZER, UMA INSETO FURRY DE PERNÃO E NEM UMA PALAVRA?


PUTA QUE PAREO! Esquece tudo que eu disse! GOTY! MOOTY! BOOTY! Uma obra prima perola dos videojogos! Classico atemporal! Menina Superpoderosa Insetona de Pernão para presidente!

AGORA SIM VOLTAMOS A PROGRAMAÇÃO NORMAL...

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 129 (Julho de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 052 (Julho de 1998)

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 032 (Julho de 1998)