Começarei o texto de hoje fazendo uma revelação bombástica: jogos ruins são, bem, ruins. Sim, eu sei, eu sou um Xerox Rolmes. Mas então, muito raramente, quanto as estrelas estão certas e o vento sopra a favor, nós temos um jogo ruim... diferente.
Veja, existem alguns jogos que não são apenas ruins, eles são tão ruins que fazem as coisas de uma forma espetacularmente ruim ao ponto que vc fica hipnotizado pela ruindade e pelas escolhas pavorosas que eles tomaram. É o tipo de jogo que vc nem fica puto realmente, vc fica em choque com a mão no queixo e um sorriso nervoso de "meu deus, como eles não viram que essa ideia é uma merda"?
Em outras palavras, esse jogo é o The Room dos videogames. Simples assim, aquela coisa que é tão catastroficamente ruim que é na verdade uma perola pela sua ruindade! Isso sendo dito, vamos começar do começo...
Desenvolvido pela Shade e publicado pela THQ, a Saga Grande Fluxo foi lançada em 1997 e entre o nome genérico do jogo, a desenvolvedora sem renome e a editora não muito mais consagrada que isso, eu não tenho certeza se conheço uma combinação de palavras menos interessante na história dos videogames.
Não surpreendentemente, Grandstream Saga passou completamente batido na época, e como seria diferente? Porém se as pessoas ainda estivessem acordadas depois de ouvir a respeito desse jogo, descobririam que estavam perdendo uma combinação única de elementos. Não boa, mas definitivamente única.
Antes de tudo, entretanto, é necessário entender quem é a Shade a desenvolvedora desse jogo... que só fez esse jogo pq essa informação é importante. Vê, a coisa é que se você pensar em Action RPGs para o Super Nintendo, muito provavelmente a imagem que vai te vir a mente é... bem, THE LEGEND OF ZELDA: A LINK TO THE PAST, dã... mas se vc for além do clássico seminal da Nintendo, provavelmente você vai estar pensando em algum jogo da Quintet: ILLUSION OF GAIA ou Terranigma, por exemplo.
Bem, em 1995 o diretor Koji Yokota saiu da Quintet para fundar a sua própria empresa, levando consigo alguns dos nomes mais importantes da Quintet e assim nasceu a Shade. A lógica era simples: se a Quintet era a maior produtora de Action RPGs para o Super Nintendo, o quão dificil seria replicar isso no Playstation ... com o orçamento de uma empresa de fundo de quintal?
HÃ, MUITO?
Muito, de fato. Isso pq enquanto a Quintet tinha seu jogos publicados (e logo o orçamento) de uma companhia grande como a Enix, a Shade não era ninguém na fila do pão e o melhor que eles conseguiram foi... bem, a THQ. Então vc pega uma galerinha que sabia fazer jogos no Super Nintendo mas não entende bulhufas de programar em 3D e muito menos no PS1, tira o suporte financeiro e solta essa galera no mundo pra ver o que acontece. O que possivelmente poderia dar errado?
Bem, vamos dizer apenas que depois desse jogo, o pessoal voltou correndo para a Quintet com o rabo entre as pernas e isso já dá um bom tom do que podemos esperar a seguir...
A história do jogo, saiba você, é interessante. Bastante interessante, de facto: muitos séculos atrás, uma terrível guerra tornou toda superfície do planeta em oceano. Imagine uma mistura de guerra nuclear com aquecimento global, ao invés de tornar o mundo um deserto radioativo a guerra elevou o nivel dos mares ao estilo Waterworld.
Então para que a humanidade não fosse extinta, os magos ergueram quatro grandes ilhas flutuantes que é onde as pessoas vivem. O problema é que depois de tanto tempo a magia está perdendo efeito e as ilhas flutuantes estão caindo no oceano: com efeito, a primeira cena do jogo é o pai adotivo do nosso herói está cortando nacos de terra da ilha pra diminuir o peso e fazer a ilha cair mais devagar - o que não vai resolver o problema, mas o que mais ele poderia fazer senão ganhar o máximo de tempo possível?
Agora, esse é um cenário muito interessante, e vc pode imaginar que nosso herói terá um papel pivotal em resolver a situação de alguma forma. E com algum tipo de experiencia em videogames, vc pode tambem imaginar que vc terá que passar em cada uma das quatro ilhas e resolver o problema delas individualmente antes da dungeon final onde vc enfrentará algum tipo de deus maligno ou algo assim porque é assim que RPGs japoneses rolam.
Prioridades, eu te digo |
Até aí tudo bem, magrão, e eu vou te dizer que a premissa do que está rolando em cada ilha é bem criativa as vezes, onde por exemplo na ilha do fogo (é claro que as ilhas são temáticas elementais, obvio) existe um vulcão ativo no meio dela. Para impedir que a ilha balance (já que é uma ilha flutuante, afinal) e a lava derrame por toda parte, foram construidas duas cidades em lados opostos da ilha e o peso delas é medido constantemente - tanto que quando vc chega na ilha, vc e seu grupo são literalmente pesados para ver para que cidade vocês podem ir sem perturbar o balanço da porra toda.
Um pouco exagerado, mas criativo. O que é bom, e de igual modo todas as ilhas tem algum tipo de treta interessante rolando... no papel. Pq na prática... bem, lembra quando eu disse que esse jogo é o The Room dos videogames? Então, é aqui que começa.
Como eu vou colocar as coisas... ah, ja sei: PUTA QUE O PARIU COMO CHATO PRA CARALHO NESSE JOGO! MINHA NOSSA SENHORA EM QUASE OITO ANOS DE BLOG EU NUNCA VI UM JOGO TÃO CHATO PRA CACETA.
Vcs acham que eu estou exagerando, mas eu juro que não estou: pra entrar na primeira dungeon leva MAIS DE UMA HORA DE ENROLAÇÃO. Sério, eu olhei no relógio (pq eu estava tão entediado que eu não tinha mais nada pra fazer) UMA HORA E DEZ MINUTOS DE ENCHEÇÃO DE LINGUIÇA! Sabe aqueles papo farinha de NPC de jogo dos anos 90? Agora imagine MAIS DE UMA HORA DISSO.
Mas mermão, é UMA HORA E MEIA DESSES PAPINHOS QUE NÃO LEVAM A LUGAR NENHUM APENAS PRA COMEÇAR O JOGO! |
Uma hora onde nada relevante acontece, ninguém tem personalidade nenhuma, vc só vai de um lugar a outro com as fetch quests mais genéricas concebidas pelo homem! A treta da ilha do vento, a primeira, é que uma sacerdotiza foi sequestrada por piratas e pra vc ir até a porra da nave pirata é uma burocracia do caralho. Fale com o Zezinho, agora tem uma ceninha absurdamente mal escrita onde vc vai pra outro lugar e mais pessoas falam coisas básicas e genéricas de RPG.
E isso é só a introdução para a primeira dungeon, apenas imagine que vc tem quase uma DEZENA de horas desse papinho mole. Sério, eu não sei o que os caras da Shade estavam pensando aqui: se o foco do jogo é na ação, então eles não repararam que leva quase UMA HORA E MEIA pra vc entrar na primeira dungeon?
Ou se o foco do jogo é a narrativa... eles não perceberam que o texto deles colocaria pra dormir o cracudo cheio de Red Bull com Cocaína mais louco do quarteirão? Sério, como eles não viram o quão tedioso e básico é o texto desse jogo antes de colocar HORAS E HORAS DISSO no jogo? Chega a ser uma arte como eles não consegue ver o quão narcoléptico esse jogo é!
E realmente não ajuda muito que os personagens que vc verá durante várias horas da sua vida são as coisas mais obvias e previsiveis desde que o primeiro japonês se arrastou para fora do oceano e deu origem a vida na Terra.
Eon é o seu herói típico otimista que não poderia machucar uma mosca, Arcia é uma santa ingenua que não tem maldade de como o mundo funciona e Laramee é nossa tsundere que não é como se eu gostasse de você nem nada, baka! Este é o nosso trio e suas interações se escrevem fazendo cada pedacinho de diálogo tão previsivel que vc já sabe tudo que eles vão dizer dois dias antes que eles falem. Absolutamente adoravel.
Agora, verdade seja dita, eu não sei o quanto foi perdido na tradução - e dado o histórico do que aconteceu com a tradução de ILLUSION OF GAIA, que foi feito pelos mesmos caras afinal, não seria surpresa - então eu não posso ter certeza que a versão japonesa não seja algo que seres humanos consigam ler sem entrar em coma por tédio pelos próximos seis meses, talvez a história seja mais interessante do que brincar de telefone passando recados de um NPC a outro, e talvez os personagens tenham personalidades reais
E sim, obviamente que o seu herói é o chosen one com um poder que trará equilibrio a Força ou algo assim |
O que eu tenho certeza é que certamente algo aconteceu durante a localização porque não apenas o jogo tem erros crassos de nomes (como uma cidade ser escrita de duas formas diferentes), como a pontuação foi muito maior nas revistas japonesas do que aqui. Então, sim, eu considero essa possibilidade.
PARA DE DEFENDER ALIENIGINA FILHO DA PUTA |
Sério, eu tive lutas que duraram minutos pq o desgraçado apenas não parava de defender |
Edição 131 (Setembro de 1998)
Edição 052 (Julho de 1998)
Edição 033 (Agosto de 1998)