Durante a segunda guerra mundial alguns soldados sofriam condiçoes tao desumanas, eles viam coisas tao terriveis que nao era tao comum assim encontrar nos postos militares soldados com olhares catatonicos de quem realmente viu coisas que jamais deveriam ser vistas. Posteriormente a revista TIME fez uma matéria sobre isso e chamou de “Thousand yard stare”, como se aqueles homens vazios por dentro estivessem olhando a mais de mil jardas de distancia.
E por que eu estou falando disso hoje? Ora pq! Pq EU vi coisas! Coisas que nenhum ser humano deveria ver, coisas que sequer deveriam existir! Como por exemplo um jogo de escolta produzido pela Ocean para Amiga, ninguém independente do crime que cometeu nesta ou em qualquer outra vida jamais deveria experimentar tamanho horror absoluto. E ainda sim eu o fiz, eu joguei EEK! THE CAT como último jogo do vil e malfadado ano de 2020.
Porém o que eu nao sabia na época, e desejaria jamais saber disso, é que a Ocean é como um psicopata que mata pela primeira vez e toma gosto pela coisa. Mais precisamente, a Ocean percebeu que havia um oceano inteiro (trocadilho nao intencional, esse jogo me deixou deprimido demais para tentar ser engraçado) de jogos hediondos de Amiga prontos para serem portados para todos os consoles conhecidos pelo homem.´
Entao é com muita dor e pesar que eu vos apresento mais um jogo bosta de Amiga que a Ocean desencavou. Pelo menos dessa vez nao é um jogo de escolta, embora chegue perigosamente perto disso.
Nossa história começa em um dia muito importante para o Brasil: 17 de julho de 1994, Pasadena, California. Em uma das decisoes mais imbecis de uma entidade conhecida por suas decisoes imbecis, a FIFA decidiu que a final da Copa do Mundo de 1994 seria jogada exatamente ao meio dia e meia no auge do verao da Californa. 37 graus na chapa, geral nao conseguia ficar 5 minutos na sombra sem se hidratar e foi nesse momento que a FIFA escolheu que seria jogada a partida mais importante daquela decada até entao. Parabéns a todos os envolvidos.
E essa partida é particularmente importante para o Brasil porque pode nao parecer hoje, mas em 1994 a Copa do Mundo era uma grande coisa. Hoje se o Brasil for na copa e tomar 7x1 todo mundo vai rir, aproveitar o resto do feriado, e no dia seguinte é vida que segue. Faz uns memes e vamo que vamo. Mas naquela época nao, as pessoas realmente se importavam com a seleçao brasileira, torciam como se fosse um clube. A história de como a populaçao brasileira se tornou mais pragmática nesses vinte e cinco anos de lá pra cá é uma bem longa e eu nao estou com vontade de entrar nisso hoje, vamos apenas assumir que naquela época isso realmente importava.
Entao, lá estava a final da Copa do Mundo de 1994, Brasil x Italia, o Brasil finalmente disputando uma final de Copa depois de 24 anos, nervos a flor da pele, os dois times em campo, o calor comendo que nem um condenado, e entao...
...ALIENS ATACAM! Mais especificamente, Aliens roubam a Copa do Mundo! Oh noes! Bem, meu palpite é que os aliens usaram seus poderes alienéticos para prever que o Brasil ia ganhar essa Taça e é melhor roubar que deixar na mao do Brasil, a última que o Brasil ganhou já foi derretida e vendida nas lojinhas de “Compro ouro” (isso é verdade, a taça da Copa de 70 que o Brasil ganhou foi roubada e só foi encontrada a base dela, toda parte de ouro sumiu - ao que se especula que foi derretido e vendido). Bem, antes eles do que ir parar no calçadao de Sapucaia, eu suponho...
Só que enquanto os aliens iam embora cantando “a Taça do Mundo é nossa! Sou da quinta dimensao de Kibrow, nao há quem possa!” eles sao atingidos por dois caras num meteoro (tá achando que roubar brasileiro é para amadores?) e nao apenas sua nave é destruída como a Copa do Mundo se despedaça e vai parar em vários continentes diferentes! Oh noes!
Quem poderá nos ajudar?
Bem, aparentemente... ninguém, tá todo mundo cagando pra essa merda e ninguém faz nada. Exceto por um menino, ele, o lendário, o inigualável, o único... SOCCER KID! Que coloca seu uniforme de futebol, pega sua bola e vai agora viajar pelo mundo para recuperar a Copa do Mundo para que possamos ter cena mais iconica da televisao brasileira dos anos 90:
Cara, o Galvao apenas falando coisas aleatórias é um daqueles momentos que realmente nao tem preço. Mas nada disso vai acontecer se voce nao recuperar a Taça, entao vá a luta Soccer Kid, guerreiro do tetra!
... uau, essa é uma desculpa pra um jogo realmente idiota, mesmo para os padroes de Amiga dos anos 90 heim, puta merda... Mas enfim, esse é o nosso Soccer Kid, ou como é conhecido na América/Japao como “The Adventures of Kid Kleets” mesmo que apenas os americanos chamam futebol de Soccer e faria mais sentido o jogo se chamar “Soccer Kid”. Enquanto na versao europeia, onde eles chamam futebol de football e nao soccer, nao faz sentido chamar o jogo de "Soccer Kid" entao, mas porque fazer o que faz sentido quando voce pode apenas chutar tudo pro alto por absolutamente razao nenhuma?
Pois é, foi o que eu pensei.
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| Pelo menos a versao europeia do jogo vinha com uma tatela da Premier League (o campeonato ingles de futebol), entao pra ALGUMA COISA esse jogo servia |
Agora, verdade seja dita, a proposta desse jogo é curiosa: é um jogo de plataforma em que sua arma é uma de futebol. A grande sacada aqui é que a bola é um objeto na tela com programaçao e fisica próprias, ela nao é um ataque do seu personagem que voce só aperta um botao, nao. Se voce aperta o botao de “ataque” seu personagem chuta. Para alguma coisa acontecer voce tem que chutar a bola, que é um ser inteiramente separado e que tem suas proprias regras da fisica.
Enquanto é, de fato, uma ideia interessante, também parece algo bem... tricky de fazer em um videogame de 1993. Em um jogo de plataforma de Amiga entao... sofrimento e dor. Como de costume. Ainda sim eu nao posso deixar de achar a ideia interessante, e quando criança mais de uma vez eu segurei a fita na mao para aluga-la... e por algum motivo sempre acabava desistindo para alugar MEGA MAN X ou VEGAS STAKES mais uma vez. Eu nao saberia dizer na época, mas eram meus instintos gamer me avisando para ficar longe de um jogo de Amiga.
Mas... é tao ruim quanto parece?
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| Bem, pra dizer que nao tem NADA de bom nesse jogo, pelo menos voce pode dar boladas em comunistas. Isso sempre é bom. |
Em uma palavra: sim.
Pra começar, Soccer Kid repete todos os problemas de todos os jogos de plataforma de Amiga: level design ruim com controles piores ainda. Nesse caso, o jogo lembra terrivelmente ZOOL onde seu personagem se move rapido demais e voce nao consegue controlar direito para onde está indo e em quem voce esbarra. Pra vc ter uma ideia do quao mal programado esse moleque é, quando voce vira o lado para o qual o seu personagem está virado a camera nao acompanha suavemente e dá uma chicotada que faz voce ficar tonto!
Nao, sério cara, olha uma merda dessas! Como é que alguém faz uma desgraça dessas em um jogo e consegue dormir a noite? O cara que faz isso nao tem mae, nao pode ser uma porra dessas!
O outro problema desse jogo é que a bola é, bem, uma bola e em um jogo de plataforma que se move a 250 km/h e nao tem como isso acabar bem. Tal qual jogar pelada na rua, é muito fácil voce perder a bola depois de um chutao. E esse é um mundo repleto de vizinhos véios-furabola. Isso é ruim nao apenas porque voce perde o gimmick diferencial desse jogo, voce também perde SEU ÚNICO MODO DE ATAQUE. Deixa eu repetir: voce tem uma, e apenas uma, forma de atacar nesse jogo. E é super uper duper fácil literalmente chutar ela pra longe e nunca mais encontrar.
QUÉ? APENAS... QUÉ?
O que é mais que falta? Controles horríveis que voce nao tem ideia do que ta fazendo? Check. O controle de bola é um mistério, as vezes a bola “cola” em voce, as vezes ela apenas fica e voce vai. E é claro que ela tem que ficar no pior e mais doloroso lugar possível. Claro que vai.
E caso, apenas caso, voce tenha a ideia louca de deixar a bola pra trás e tentar só jogar o jogo como um jogo de plataforma horrível do Amiga... bem, o padrao de qualidade AMIGA também tem suas bases cobertas. Nao passarao, fam!
E eu nao vou nem começar a respeito das batalhas de chefes. Nao, sério, escolham outro otário pra falar disso. For real.
Enfim, esse jogo consegue nao apenas errar em tudo, mas absolutamente TUDO que tenta fazer de formas que eu sequer achava possiveis tanto quanto ele responde uma pergunta que eu nem sabia que era possível fazer: o que pode ser pior que um jogo tradicional de Amiga? Bem, aparentemente, um jogo de Amiga que tenta ser criativo. Quem nao consegue fazer nem o básico realmente deveria pensar duas vezes antes de tentar algo novo. Se bem que se fosse para pensar bem nao haveriam jogos de Amiga...
Ediçao 069
MATÉRIA NA GAMERS
Ediçao 001
