terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

[AÇÃO GAMES 005] GAIN GROUND (Master System, 1990) [#127]



Estamos no ano 3000. A raça humana atinge o ápice da sua civilização: não há mais pobreza, guerra ou discriminação. Crime e violência são conceitos que pertencem apenas aos bancos de dados de história. O ser humano é essencialmente bom e sabe viver em harmonia com seu semelhante.

Isso levou o Governo Unido da Terra a uma preocupação: e se, por qualquer motivo, a raça humana precisar se defender? Vai ser muito ruim termos um planeta habitado apenas por moloides inofensivos. Então, para reviver os instintos de sobrevivência dessa sociedade perfeita eles desenvolveram um incrível simulador de guerra, o Gain Ground System.

Como você já pode deduzir, isso deu filhadaputamente errado. O sistema entrou em berserk, e todos seus criadores se tornaram seus refens. O Governo Global enviou um grupo de resgate, que com sua habilidade em ser moleirões acabou apenas sendo cooptado pelo sistema. E então mais outro, mais outro, e mais outro.

Na última tentativa, porém, três soldados voltaram com vida. Agora o governo tentará mais uma última vez, enviando esses sobreviventes. Se eles falharem, a única opção remanscente será explodir a coisa toda com todas as pessoas que estão refens lá dentro. É aqui que você entra, jogando com  um desses três bravos guerrilheiros que terá que entrar novamente no coração da besta e não sair até ter GANHO TERRENO.

... o que também significa que as pessoas que você mata no jogo são aquelas que você deveria estar salvando. Mas hey, bem vindo a maravilhosa lógica dos games dos anos 80!


Gain Ground foi um arcade criado pela Sega em 1988 e posteriormente adaptado tão bem quanto possível para os sistemas caseiros da empresa (Mega Drive e Master System). Então, apesar da Ação Games falar do port para Master System aqui nós vamos ao encontro do mais forte direto a fonte e falar da versão de arcade!


Os diretores da Sega escreveram no memorando que queriam um arcade matador, e foi exatamente isso que foi feito. Quer dizer, a tela de abertura desse jogo tem um efeito estroboscópico que deve ter causado 14 tipos de epilepsia no Japão. Com efeito eu não vou nem postar um gif dessa abertura aqui porque vai que eu mato meu único leitor...




Ao iniciar o jogo você pode escolher um desses três personagens mutilados pelos horrores da guerra simulada. Segundo o manual do jogo eles são Jonny (sem H mesmo), Betty e Ashra. Eu não faço ideia do que essas letras no canto deveriam significar, mas a diferença entre eles é basicamente a seguinte: Jonny possui o tiro com maior alcance, porém não tem nenhuma arma especial. Betty pode arremessar granadas por cima dos obstáculos, mas seu tiro é menor. E Ashra é o esquisitão que arremessa lanças porque ele achou que seria uma boa ideia.

Aparentemente o futuro do ano 3000 é um daqueles onde todas as vencedoras são especiais e ninguém nunca disse a Ashra que ele era um imbecil. Bem, ele vai descobrir isso do jeito dificil agora.


Basicamente, o objetivo do jogo é fiel ao nome: ganhar terreno. Existe um número limitado de inimigos na tela, mostrado pelo contador ali em cima, e você pode terminar o estágio de duas maneiras: matando todos os inimigos (ou seja, as pessoas que você deveria estar resgatando) ou levando todos os personagens até o marcador de saída. Pense nisso como um futebol americano bem bizarro.

Agora eis a coisa interessante sobre esse jogo: ele foi programado com um nível de preguiça que só comparavel a sua ganancia em comer fichas ... bem, ok, é um jogo da Sega, né? O que acontece é o seguinte: você tem os três personagens acima, que são as "vidas" da sua ficha. Você precisa fazer com que um deles marque o touchdown, então os outros podem simplesmente morrer que você passa de fase do mesmo jeito.

Jogando com dois ou três jogadores a coisa continua igual: se um personagem de qualquer um dos três marmanjos se acotovelando no fliperama passar, os outros podem jogar suas fichas foras matando os personagens que o estágio está concluido.

Ou seja, a Sega inventou o Pay-to-Win em 1988! Inacreditável!

Mas se você acha que essa é a única maneira de tomar fichas com o menor esforço possível que esse jogo faz, nas palavras do grande pensador Cumpadi Washinton: sabe de nada, inocente.


Em muitas fases o único jeito de avançar é matar inimigos em posições elevadas, para isso você precisa das granadas da Betty ou das lanças do Ashra. Mas aí você pode se perguntar: ok, mas e se eu só tiver o cidadão de cabelo loiro, como na imagem acima, como eu troco de personagem?

Simples: não troca! Aha! Basta apenas morrer e selecionar outro!

Sim, você tem que gastar uma vida para trocar de personagem (que não volta até você colocar outra ficha) e isso é indispensável para avançar no jogo.

Mas certo, você pode estar pensando "bobagem, no caso acima é só ir correndo que não dá nada!". Hm, será ?


 Então toma o que te mandaram!

Sério, eu já vi muitos arcades feitos exclusivamente para matar o jogador no menor espaço possivel, mas mesmo estes jogos tinham outros valores na produção. Aqui não, a coisa ultrapassa o rídiculo de uma forma inacreditavel!


Aqui mesmo que toda essa galera não te mate de alguma forma, ainda tem arqueiros snipers. Certeza que só não colocaram também tubarões que disparam lasers de lava porque não tinha como programar.


Ok, partiu tomar a fortaleza! Vai K9!


Um bilhão de flechas! Volta que deu ruim, volta que deu ruim!


Meu Arceus do Céu, olha só isso! Sem mentira, eu consegui passar dessa parte na proporção de 1:1, ou seja eu perdia uma vida para matar um inimigo isso quando eu ia muito bem. Que desnecessauriedade socar inimigos arremessadores de facas em um espaço apertado com arqueiros snipers! Ah não fode, porra!



A cada dez estágios tem também um chefe, que usualmente leva um bazilhão de hits para morrer mas pelo menos tem a decência de ficar parado...


A menos que você esteja jogando a versão de Master System. Pq aí o lafranhudo se move mais rápido do que você (o que não é tão dificil assim, na verdade) because fuck you, that's why.

Mas estou sendo rabugento, porque a versão de Master System é de fato mais fácil que a de Arcade. Quer saber como? Bem, você tem vidas infinitas, simples assim. Se você morrer, você continua da onde parou sem nenhum inimigo dar respawn. Então vencer é só uma questão de paciencia, na verdade.

O que é praticamente a mesma coisa que jogar no emulador com fichas infinitas no Arcade. O que não quer dizer que você vai terminar o jogo, mesmo com fichas ou vidas infinitas, porque a Sega tinha uma última carta na manga para arrancar o seu rico dinheirinho...


Dois segundos depois...


Game Over. Pq na última fase você só tem uma vida!

Não importa quantas fichas você tenha na máquina ou quantos continues você tenha nas versões caseiras, se morrer uma vez o jogo acaba! Because pau no seu cu!

A Sega deliberadamente programou um jogo que não pode ser vencido because coins!

Mas só como eu sou cuzão, vou postar o final do jogo mesmo assim:


Isso vai ensinar uma lição a eles a nunca mexerem com alguém que sabe usar o YouTube! Chupa, Sega!




Bem, esse foi Gain Ground, um arcade que você absolutamente nunca ouviu falar e agora sabe o pq!