Por mais resmungão que eu seja, a verdade é que no fundo eu sou bastante indulgente com videogames - no sentido que eu dou colheres de chá aos seus defeitos que eu não daria a outras mídias. Mais ainda quando o jogo tenta algo novo e diferente, algo criativo.
Por exemplo, como a vez em que a Sega criou um jogo de furtividade em 1990.
TÁ, GRANDE COISA, METAL GEAR FEZ ISSO TRÊS ANOS ANTES!
Eu não terminei. Criou um jogo de furtividade para os ARCADES em 1990.
ESPERA, ISSO NÃO FAZ SENTIDO! ARCADES ERAM FEITOS PARA TIRAR FICHAS DAS CRIANÇAS, COMO SE FAZ ISSO EM UM JOGO QUE TEM O RITMO MAIS LENTO E QUE PRECISA DURAR MAIS DO QUE 30 SEGUNDOS PARA SER DIVERTIDO?
Nossa história começa... bom, na verdade depende muito de que parte do mundo você está para saber qual é a história desse jogo - porque ao contrário do que normalmente acontece, dessa vez faz diferença.
No jogo original japones, os irmãos Robo e Mobo são bandidos profissionais que entram nos lugares, roubam coisas, fogem no seu dirigivel e voltam para casa no fim do dia para admirar sua coleção de miniaturas ecchi de Madoka Magica.
Simples e elegante, certo? Porque isso é importante então?
Bem, resumidamente, porque os pais japoneses não são retardados - o que é mais do que se pode dizer do ocidente. Porque no ocidente o conceito de um jogo em que você joga com infratores da lei que odeiam a justiça causaria caos e comoção nas ruas, o inferno congelaria, a gravidade inverteria, gatos se amigariam com cachorros, nenhuma regra mais seria sagrada.
Obviamente, tentar explicar isso para um japonês seria uma tarefa divertidissíma:
OCIDENTAL: Então, esse jogo deve ser banido porque o protagonista comete crimes e vai incentivar as crianças a cometerem crimes!
JAPONÊS: Oh! Essa é uma alegação muito importante! No que você se baseia para afirmar que as coisas funcionam dessa forma?
OCIDENTAL: Hã... em nada realmente. Eu inventei isso da minha cabeça e quero que o mundo se adeque aos meus achismos!
JAPONÊS: Ah... entendi. Escuta, eu vou ali pq ouvi os passos de uma loli *desaparece em uma bomba de fumaça*
E depois a gente não sabe pq os aliens não falam com a gente... mas enfim, no ocidente o jogo recebeu duas versões diferentes para sua história: uma para os Estados Unidos e outra para os mercados periféricos (Brasil, Europa e Australia).
Na versão americana, Robo e Mobo são contratados por um milionário excentrico que quer "testar" a segurança dos seus estabelecimentos como a sua mansão, o seu banco, o seu cassino e a sua piramide. Sim, pq ele tem uma piramide, claro que sim, como não?
Na versão para os mercados chumbrega, os personagens são chamados de Myke e Spike e são condenados que recebem uma proposta do chefe de policia local: em uma cidade inteiramente corrupta, eles precisam recuperar provas das mãos dos meganhas do mal e assim ajudar a limpar a cidade.
Você pode escolher qual a versão mais absurda para o jogo simplesmente não dizer que estamos jogando com criminosos, mas não importa qual delas vença no fim nós é que perdemos.
Exposto sobre como quase sempre termina mal qualquer coisa que envolva a palavra "sociedade", falaremos do joguinho em si.
Em Manos Bonanza, você joga com um dos caras que tem que entrar, roubar os itens marcados no mapa e sair gloriosamente no seu dirigivel. O problema é que o lugar está lotado de guardas e você só tem uma arma atordoante que tem efeito por poucos segundos. Você pode alternar entre dois planos e passar pelos inimigos "pelo fundo" ou mesmo se esconder deles. Alguns estão até mesmo dormindo e você pode passar por eles desde que não faça barulho.
Parece um jogo de stealth bastante tradicional, certo? O que transforma isso em um arcade papa-fichas é que as fases tem tempo apertadissimo e você tem que correr como um leproso que tomou Sol (nota: pesquisar o que lepra significa, talvez não signifique o que eu penso que significa). Isso transforma o que seria um tatico jogo de furtividade em uma frenética corrida desesperada para driblar os policiais.
Eu meio que gosto dos gráficos que parecem aquelas animações stop motion suecas que você veria na TV Cultura |
Com um simples elemento, o tempo, o que era pra ser Metal Gear virou "Ronaldinho Game: dibro ou não dibro edition". Eu nunca entendi pq dizem que o meme é do Ronaldinho se quem falou essa frase foi o Anderson, mas como visto nesse texto tentar entender as pessoas no ocidente leva apenas a um caminho de lágrimas. O ponto é que depois de um tempo fica meio cansativo porque o jogo não oferece muito mais do que "corra como um Pedro Geromel e não olhe para trás".
Mas tudo bem, porque enquanto na maior parte dos jogos isso seria um problema sério, Bonanza Bros é salvo pelo modo cooperativo!
Jogando de dois jogadores é onde o cartuchito brilha em seu melhor, porque usar um parça para enganar a IA dos guardas é de um nível de cooperatividade muito gostoso de se jogar. Infelizmente para donos de Master System eles tem um Master System essa versão não conta com o coop.
Além de atirar balas de stun nos guardas a outra ferramenta que você possui é dar portadas na cara das pessoas. Sim, exatamente como em desenho animados, você abre a porta com blam e afofa o cidadão atrás dela na parede.
Pessoalmente eu acho Bonanza Bros é um jogo ok, divertidinho, mas que deveria ter abraçado mais esse elemento enviromental cartunesco e dado mais oportunidades ao jogador de lidar com os guardas de formas criativas e diferentes. Tipo Party Hard, saca? A coisa da porta na cara é criativa, mas se o jogo tivesse mais disso seria memorável e um clássico.
Como não tem, é só uma boa ideia que é só "divertidinha" mas amplamente esquecível.