quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

[AÇÃO GAMES 010] BIG RUN: The Supreme 4WD Challenge (SNES, 1991) [#117]


Videogames funcionam como qualquer outra grande indústria - tipo a música ou o cinema. É só alguma coisa fazer sucesso que está estabelecida a política de "siga o líder!". Desta forma, tanto no cinema quanto nos games, para cada grande título famoso existem 8.4 octobilhões de clones safados.

Neste caso aqui, o "líder" a ser batido é o clássico Outrun: todo mundo quis fazer o seu próprio "pegue o seu porche e saia pelas estradas" genérico, até mesmo a Square entrou nessa (nascendo assim Rad Racer".


Você sabe que o protagonista de Outrun é podre de rico não porque ele tem uma Ferarri Spider ou uma namorada, mas pq ele organizou um racha só pra ele e a arquibancada lotou para assistir!
A Jaleco (Rival Turf, Totally Rad) não foi exceção, criando o seu clone de Outrun para os arcades sob o nome de Big Run. Supostamente o jogo é baseado no clássico rally Paris-Dakar, mas isso tem tanta relevancia para o arcade quanto a história do jogo do Sonic tem para o Mega Drive.

Só que aí na hora de fazer o port do jogo para o Super Nintendo alguma alma iluminada na Jaleco pensou "olha, ao invés de lançar o 59 bilhonésimo clone de Outrun, E SE, veja bem, E SE nós fizessemos um jogo diferente e realmente baseado em Rally"?

Foi assim que nasceu BIG RUN (não confundir com BIG RIGS!)


 
Ao contrário do que normalmente acontece, a tela de Press Start é uma das coisas mais feias do jogo. Visualmente melhora depois desse trabalho de quinta série no Wordart

COMO FUNCIONA O RALLY PARIS-DAKAR

Você pode achar que eu comi minhoquinha de goma que caiu no chão por querer explicar isso, certo? Quer dizer, é uma corrida! Os caras saem de Paris e quem chegar primeiro em Dakar (a capital do Senegal) vence, certo?

Bem, sim e não.

Com certeza o objetivo é fazer o menor tempo, mas em um rally existem regras especificas para isso. A corrida é dividida em várias rotas, e elas são especificas para serem cumpridas e cronometradas individualmente. No final se soma a média do tempo de todas as rotas e temos um vencedor.

O grande lance é que a rota só é divulgada em cima da hora, então o piloto tem que ter um navegador com mapinha na mão pra achar o caminho. Imagine tipo jogar "Keep Talking and nobody explodes" só que versão taca-lhe pau marco véio.

Eu diria que deve ser a modalidade de automobilismo mais divertida de se praticar, mas eu sou suspeito pra falar porque eu cresci lendo "Aventuras no Camel Trophy - Dois Brasileiros no Inferno de Bornéu". Tipo, literalmente, qualquer um que foi criança nos anos 90 sabe que nós tinhamos tão poucas opções de entretenimento que nós lemos todos os livros que tinha em casa até as letras desgastarem.

Curiosidade: o seu carro sempre é branco, mas se você escolher sua equipe só com mulheres ele fica cor-de-rosa.




Além disso algumas dessas rotas passam por quebradas muito doidas, como saltar barrancos de 20 metros ou passar por atoleiros da morte fr0m h3ll. Tipo o Rally Porto Alegre-São Paulo e a prova de hoje é ir de Caxias a Porto Alegre passando por Viamão.

É quase um tipo de corrida individual, mesmo que eventualmente voce encontre outros carros na pista.

Se o seu carro quebrar no caminho - e acredite, as rotas são feitas para isso - você pode trocar peças entre uma rota e outra, mas é penalizado no tempo por cada guaribada no seu carro (tipo você viu que o pneu não vai aguentar outra rota e troca ele, já começa a próxima com uma penalidade de X segundos) . Então o segredo não é só dirigir tacando a bunda na vida, mas também dirigir de forma a conservar o seu possante. O truque está em encontrar o equilíbrio entre os dois.

Eu gosto de como a Ação Games não colocou nenhuma foto do jogo, só de telas de menu. Obrigado, única fonte de informação da época!


TÁ, ENTENDI, MAS E O JOGUIM DE SUPERNEÍS?

A Jaleco teve uma ideia tão boa que me surpreende que ela não tenha sido melhor explorada de lá pra cá. Basicamente eles pegaram a ideia de corrida para chegar em checkpoints de Outrun e adicionaram alguns gimmicks de Rally.

Então funciona assim: você escolhe uma equipe e tem um orçamento (você pode pegar a que dá mais dinheiro ou uma que de menos dinheiros mas vem com sets de peças diferentes) para o rally todo. Com esse orçamento você tem que contratar navegador, mecanico e tecnico de manutenção (quanto mais caro, mais eficiente). Você tem também que comprar peças sobressalentes  e pode escolher quais do seu estoque vai levar no carro com voce em cada rota (quanto mais pesado o carro, mais lento).

A coisa é que o seu carro vai se desgastando na corrida então as vezes compensa mais dirigir cautelosamente do que como um boi brabo - tal qual em um rally de verdade. Além disso o jogo não investe muito na disputa com outros carros, mas tem corridas bastante criativas no meio de atoleiros, desertos (que você se guia só pelo seu navegador), a noite, florestas e até estrada de vez em quando. Eu diria que é um dos jogos com mais variedade de situações que eu já vi.

Dirigindo a noite para fazer valer o dinheiro que você gastou no navegador


PARECE LEGAL. MAS ISSO FUNCIONA?

Big Run é um jogo interessante, mas é mais interessante no sentido de curiosidade pela proposta diferente do que pela qualidade do jogo em si. O problema é aquele que você já pode imaginar: o jogo é difícil demais.

E não dificil em um sentido desafiador cuphead, e sim dificil no sentido que dando pau feito um louco já é dificil completar a corrida a tempo. Então não tem cautela porra nenhuma, é pé em baixo o tempo todo senão game over maluco!

Só isso já joga contra a proposta do jogo, mas o que mata de vez é que seu carro é feito de papel machê e sandália da Xuxa. Mesmo dirigindo cautelosamente (não que de para terminar a corrida assim) ele se desmancha como se fosse de açúcar. E trocar um pneu que seja já come um tempo que você nem tinha em primeiro lugar, mesmo a punição por trocar um motor fora da corrida já acaba com suas chances.

De que adianta o jogo ter opções legais se você nunca pode usar elas pq elas inviabilizam a partida?

Umaa das telas de Game Over mais doidas que eu já vi na vida.

Visualmente o jogo tem seus problemas também, como ele é adaptado de um arcade anterior ao mode 7 ele usa uma tecnologia que lembra um pouco Road Rash e como resultado seus movimentos na pista são limitados, e nas subidas você não faz ideia de onde está indo - o mesmo problema que acontecia em RR, só que aqui o dano do seu carro importa e muito. A trilha sonora não tem absolutamente nada de especial também.

Enfim, Big Run do SNES tentou ser algo além de um clone de Outrun (até o nome é intencionalmente parecido) e definitivamente tinha boas ideias aí, tanto que não temos muitos jogos de rally afinal. O problema é que essas boas ideias são soterradas por um gameplay desnecessariamente dificil e uma jogabilidade que parece saída do paleolítico quando pensamos que esse jogo saiu junto com F-Zero.

Pouco surpreendentemente, esse jogo nunca foi lançado fora do Japão apesar de ser todo em ingles - o que significa que eles pretendiam mas o projeto foi abortado pela baixa diversão do mesmo.

PREVIEW NA EDIÇÃO 006