sábado, 24 de fevereiro de 2018

[AÇÃO GAMES 010] RUNNING BATTLE (Master System, 1991) [#125]



Hoje falaremos de um jogo do qual ninguém nunca ouviu falar, estou muito animado com isso porque tenho certeza que essa é uma perola perdida a ser descoberta e... como é que é, produção? É um jogo de Master System... sei, e o que mais? Da Opera House, a empresa que fez "My Pet Dolphin" pro DS? Hm, e o que mais? Hã, ele foi lançado só na Europa e no Brasil?

Ok pessoal, não vou enganar ninguém. Esse jogo vai ser uma bosta, mas vamo que vamo...


Running Battle é como a resposta do Master System ao Super Mario Bros 3, se Super Mario Bros 3 fosse um beat'm up genérico, sem identidade alguma, isso é. Na  verdade, para dar ao jogo incorretamente intitulado "Running Battle" (inclui muito pouca corrida) algum crédito, é mais divertido jogar isso do que a maioria dos ports de arcade que saiu para o Master... se bem que praticar auto-cirurgia é mais divertido do que isso também... mas enfim, estou divagando. 

O jogo se passa na América, em um futuro próximo.


Ok, isso é interessante, mas você poderia me providenciar um pouco mais de contexto, jogo?


Holyputaqueparil! E você achando que textões de Facebook que faziam seus olhos sangrarem era uma coisa recente! O que tecnicamente são, porque esse não é o Facebook que é meio que um pré-requisito do termo "textão de Facebook" Mas enfim, para aqueles de vocês que estão paralisados pela péssima apresentação do texto ou porque simplesmente não se importa, vou resumir a história do jogo:


Em um futuro próximo, temos a cidade de "Dark Zone" na América. Porque nomear uma cidade como "Dark Zone" é exatamente o que você faz esperando que ela seja como qualquer outra cidade. Suponho que ela fique em algum ponto passando Twilight Zone, antes de chegar em Out Zone. Para surpresa de absolutamente ninguém, acaba que nada pode gerir medo nas pessoas como chegar perto de Dark Zone, mas isso é só porque os palhaços à prova de bala não existem. O sargento Brody fica farto de toda bocabrabisse em Dark Zone, e então vai sozinho até lá pôr fim a isso.  

Os resultados são exatamente os que você poderia esperar. Ele é morto antes que consiga dizer "aiaiai Guacamole!". O parceiro de Brody é o personagem do jogador, o Detetive-Sargento Gray, que jura vingar seu colega de trabalho caído, seguindo exatamente o mesmo plano que matou primeiro Brody em primeiro lugar.  Tenho certeza que o Detetive-Sargento Gray pode ser bom em muitas coisas (espero que seja em correr e batalhar, a julgar pelo nome do jogo), mas certamente perceber padrões não é uma das suas qualidades

A parte mais interessante de tudo isso - que ficou fora desta captura de tela - é que as palavras moribundas de Brody foram "Hypnotist ... M ...", então parece que estou indo para essa distopia futurista combater o hipnotizador maligno que revela segredos dos mágicos. E eles ainda dizem que os videogames não contam boas histórias!

Certo, então, em Running Battle, temos a configuração padrão de jogos de 8 bits: um botão pula, o outro ataca. Você quer pular e chutar alguma coisa? Go crazy, é por isso que a força policial imbuiu Gray com estas pernas robóticas anti-gravidade. Quer dizer, eu suponho que é por isso que Gray pode pular dez metros no ar e cair em uma velocidade que nunca parece certa. Sua outra opção de combate é se abaixar e socar os bandidos no saco. Ei, amigo, você pode fazer isso se quiser. Não estou julgando aqui.

O jogo é um pouco como Double Dragon, se você desse zoom na tela e se usar o soco fosse excruciante. Dar socos é tão ruim porque seus inimigos têm mais braços bem mais longos do que você. então socar as pessoas é um problema para o nosso Detetive-Sargento Horácio. O que é realmente injusto, a propósito.

Um dos grandes problemas com a luta nesse jogo é que os inimigos simplesmente ficam parados no lugar socando, e como os braços deles são maiores que o seu significa que você não pode atingi-los sem tomar um soco primeiro. Mesmo os capangas mais básicos levam dois hits para despachar, então não é como se você pudesse matar QUALQUER UM sem perder alguma vida no processo. Seu único recurso é tentar saltar e acertar uma voadeira, mas a hit detection desse jogo é tão ruim que eu senti saudade de Golden Axe 2. 

Bem, o jogo se chama "Running Battle" e a parte de "Battle" é uma sonora bosta. Toda minha esperança está no "Running", então. Vamos testar isso.


Eis o candidato ideal. Eu meio que não quero socar esse cara, estou supondo que ele é a pessoa que fez essa pichação de "Sega". Nada abrilhanta uma zona de morte urbana como um belo e brilhante pedaço azul de pichação escrito "Sega". O artista deve ser elogiado, não chutado na nas costeletas.

Eu decidi não lutar contra ele. Em vez disso, pulei sobre ele e fugi. Isso funcionou surpreendentemente bem, porque depois de alguns momentos de fingir que me perseguia o cara se virou e saiu da tela. Artistas não são conhecidos por sua dedicação ao trabalho maçante, eu suponho. 


Já o próximo pichador é claramente um daqueles socialistinhas safados que posta contra o capitalismo no seu iphone X dentro da Hilux do papai. Sabe muito bem onde enfiar essa pichação de paz aí, cretino. Vou afofar esse na porrada... o que acabou me rendendo a arma que ele carregava! AHA, se eu não conheço o tipinho, hã?

Para pouca surpresa de todos os envolvidos, ser a única pessoa na cidade a usar uma arma mudou o fluxo do combate. A pistola tem munição limitada, com certeza, mas quando esse limite é de trinta balas e há cerca de vinte inimigos nesta primeira etapa, é difícil sentir-se muito restringido. Você poderia até mesmo disparar alguns tiros pra cima em comemoração ao seu novo poder de matar e ainda ser mais do que capaz de limpar o nível. Parece estranho que, como policial americano, Gray não tivesse uma arma em primeiro lugar. Ele é muito mais eficiente quando tinha uma arma. Não estou dizendo que ter uma arma automaticamente o torna um policial melhor, é claro. Apenas um que sobrevive mais, sobretudo quando sua outra opção é usar seus braços de 20mm de comprimento.

Não me deixa de soar estranho que de todos os lugares do mundo, é justamente em DARK ZONE nos ESTADOS UNIDOS o lugar onde nenhuma pessoa na cidade inteira além de você usa arma de fogo. Seria esse jogo ambientado em um futuro distópico onde o controle de armas entrou em vigor, transformando o pior pesadelo dos americanos em realidade? (seria tipo imaginar um futuro distopico no Brasil onde nenhum carro pode parar em qualquer lugar só porque apertou o pisca-alerta). Seria esse jogo uma critica social e um debate acalorado sobre as consequências do controle de armas? Estariam os videojogos dos anos 90 indo audaciosamente onde poucos livros tiveram coragem de ir?


 Por algum motivo, eu duvido disso.

De qualquer forma, depois de caminhar pela rua em linha reta um pouco Gray entra dentro de um prédio e...




Espera, espera, espera... então as primeiras telas de carnificina sangrenta ocorreram antes da batalha começar? Essa é uma narrativa ousada por parte de Running Battle, dando ao jogador a oportunidade de experimentar um prólogo jogável no qual Gray mata um grupo de pessoas que podem ou não estar relacionadas à sua missão de vingança. Só porque alguém é de Dark Zone, você assume automaticamente que eles são criminosos tão vis e depravados que eles merecem nada além de uma execução sumária? Eu pediria que você entregasse seu distintivo e sua arma, Gray, mas temo que isso faria pouco para dissuadi-lo. Além disso, nosso "herói" perde sua arma nas lutas contra chefes de qualquer maneira.





Este é definitivamente o esconderijo de algum tipo de organização criminosa. Você pode dizer pelos tambores de óleo por toda parte. Em videogames, os tambores de óleo são tipo contadores Geiger de atividades ilegais - quanto mais barris você pode ver, maior a concentração de punks de rua que se juntaram em uma gangue para seqüestrar a filha de alguém ou pedir resgate para não explodir a cidade ou qualquer dessas coisas que punks são conhecidos por fazerem.





Esta gangue é um pouco mais militarista do que o habitual, vestida com fardas de combate completo, em vez dos moicanos e ombreiras que os punks costumavam usar, mas apesar de carregarem armas de fogo eles decidem não usa-las. Melhor para Gray, que não tem tais escrupulos e passa fogo em todo mundo sem dificuldade.

O combate desse jogo é a coisa mais bipolar que eu já vi: quando você tem uma arma o jogo simplesmente não tem desafio, quando você só conta com seus punhos o jogo beira o impossível. Felizmente o jogo não é muito rogado antes de dar armas because América, fuck yeah!

A esse ponto já está bastante claro que o "Battle" não é muito divertido, mas e o "Running"? Bem acreditem ou não, a Ação Games tinha razão.




 De fato, apesar de pular como um lango-lango com taquicardia, e cair como a se a gravidade estivesse bugada, Gray pula muito mal de um buraco para o outro. Eu não sei explicar bem porque, mas a revista esta certa quando diz que eles são maiores do que parecem. Você sempre tem que pular bem da beiradinha, e mesmo assim chega com a sensação que foi por pouco.

Some isso a nenhuma variedade de inimigos e temos um jogo bem pouco ambicioso que consegue falhar mesmo nas poucas coisas que ele tenta fazer. Impressionante, não?

 De fato, a única coisa que chama atenção nesse jogo são os chefes. Não porque eles são bem programados, tem lutas inteligentes ou qualquer coisa do tipo, e sim porque MESMO NESSE JOGO eles são bizarros e deslocados. A sensação de estar jogando um episódio de Carrangers é enorme.

Como por exemplo, o primeiro chefe...


Parece que vou lutar contra um pirata. Ou, dado que essa gangue é administrada por um hipnotizador do mal, eu vou lutar contra um homem que foi hipnotizado para pensar que ele é um pirata. Se um dos chefes posteriores não for um homem que pensa que é um frango, ficarei muito desapontado.



 Para minha grande surpresa, acaba que o Capitão Brass na verdade é um leprechaum com a cabeça enfiada dentro de um chapéu. Suponho que seja assim que o bullying leprechaum role e enfiar o chapéu na cabeça seja o equivalente a puxar a cueca. De qualquer forma, eu não vejo como ele realmente parece de alguma forma com a imagem.


O que meio que eu não posso reclamar, já que o meu personagem parece o Kaneda na fotinho e na tela ele é essa coisa genérica sem graça. Ou seja, a Opera House inventou o Tinder vinte e cinco anos antes.


A segunda fase é igual a primeira, só a parede do fundo é verde. E os inimigos atiram em você. Felizmente isso é compensado pelo fato deles soltarem quantidades generosas de energia, de modo que pouca coisa pode realmente parar a sede de vingança de Gray, exceto talvez...




Quero dizer ... "Killer The Kid"? Sério?!Eles estavam com medo de tomar um processo dos descendentes do Billy The Kid ou isso foi uma tentativa de piada? Eu estou pendendo pela questão dos direitos, no entanto, porque eu não acho que eles tenham conseguido os direitos para usar a palavra "samurai" também.


Eu tenho fortes motivos para suspeitar que o homem-Sam Raimi não é um verdadeiro samurai. Primeiro, ele não sabe soletrar "samurai". Além disso, a bandeira japonesa não é um disco vermelho com listras em um fundo laranja brilhante. Outra vítima da hipnose do mal de M? Com certeza é o que parece.

 
Vai que Samrai Man não era o assassino do seu parceiro afinal. Outro suspeito detido e espancado, outro caso de identidade trocada, outro possível processo em espera de Gray se ele escapar de Dark Zone. Quando os policiais se queixam de que suas mãos estão atadas por burocracia e burocracia, é isso que eles querem dizer. Se eles não tivessem tantos formularios para preencher, eles poderiam estar lá nas ruas, chutando samurais e evitando pichações da Sega.


 A próxima fase não é uma fase realmente, você apenas encontra Mary em uma tela antes do chefe. Ela é a irmã de Brody. Por que o vilão M raptou a irmã de Brody? Nunca é explicado. Talvez fosse parte de uma tentativa de conseguir que Brody interrompesse a vingança de um homem contra a Dark Zone, mantendo seus entes queridos como refém, mas o péssimo sinal de celular impediu que a mensagem fosse entregue. 

Ou talvez seja porque este é um jogo de ação de 8 bits e os desenvolvedores são contratualmente obrigados a incluir pelo menos um resgate de donzela em cada jogo. Mary parece ser um desses bustos de brinquedo que tinha para as garotas praticaremm aplicar maquiagem. Não que Gray pareça muito melhor, sua jaqueta vermelha o faz parecer um Kaneda do Paraguai. O retrato não é o ponto alto deste jogo.


O próximo chefe é um luchador cor de rosa com poderes psiquicos que arremessa tijolos telecineticamente em você. Sim, ninguém menos que o lendário MILACLE MAN! Não sei se estou mais impressionado por eles terem escrito o nome assim ou pela WWE nunca ter usado essa ideia.

De qualquer forma, eventualmente Gray vence o primo psiquico do Kalisto e a brutalidade policial de Gray paga dividendos. Depois de Milacle Man você vai direto para o combate com M, porque os programadores meio que já desistiram do jogo a essa altura e querem só ir pra casa a tempo de assistir as aventuras de Tintim. 
  
M, o grande vilão, governa tudo - exceto talvez encontrar nomes legais para sua gangue. M é um hipnotizador e vimos que seus tenentes têm acesso a uma variedade de poderes fantásticos, por isso estou certo de que essa batalha terá energia mágica crua e habilidades mentais insondáveis voando a torto e a direito!


 Ou, você sabe, M pode só mandar um tanque voador verde. É, isso pode funcionar também.

Ter que lutar contra uma gigantesca arma de fogo robótica parece um pouco injusto, principalmente com Gray não tendo acesso a armas em batalhas contra chefes. E para piorar as coisas se você morrer, você é enviado de volta ao início do último nível e tem que enfrentar Samrai Man e Milacle Man novamente antes que você possa ter outra chance contra M.

O que poderia parecer terrivelmente dificil, não fosse o fato que em meio a todos seus poderes hipnóticos M deixou passar um pequeno defeito de design que culminará em sua perdição!


É, bem, você devia ter pensado nisso melhor, heim M? 

SESSENTA socos depois, o bem vence o mal e o espirito de Brody pode finalmente descansar em paz.


"Agora, Brody pode descansar em paz, espero que não seja assediado pelos espíritos de todos aqueles que golpeei até a morte para conseguir justiça para ele, muitos dos quais apenas estavam andando na rua e não tinham nada haver realmente com M ".

Como este é todo o fim que você obtém, nada se sabe sobre o que acontece com o Gray depois que sua missão em Dark Zone foi completada. Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que envolveu uma enorme quantidade de papelada e, espero, uma reabilitação psicológica intensiva.

Bem, esse foi Running Battle. É um péssimo jogo que não se esforça em absolutamente nada para ser qualquer coisa além de péssimo, porém não dá para negar que tem um certo charme em sua ruindade. Você fica meio que curioso para ver o quão preguiçosos e clichés eles tem coragem de ser, e o jogo meio que não te desaponta nisso. É tipo assistir quase qualquer coisa que foi feita nos anos 80, que é ruim mas ruim de um jeito inocente (e não deliberadamente Stranger "eu sou ruim, olha pra mim, estou tentando ser ruim lalala" Things).

O que significa, é claro, que eu estou feliz que jamais terei que jogar esse jogo na vida novamente.