quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

[MEGA DRIVE] TAZ in ESCAPE FROM MARS (Junho de 1994)[#613]



Se você fosse um adolescente americano nos anos 90, você provavelmente queria ter ATITUDE. De Sonic a Bart, passando por John Connor ao Lucas da Powerglove, todos os jovens descolados e ultradinâmicos queriam ter ATITUDE, é sobre isso que os anos 90 eram, ter ATITUDE. 

E a melhor coisa dos anos 90 é que as crianças não tinham nada contra o que se revoltar realmente, não tinha nenhuma causa ou justificativa - a era da ATITUDE não foi como os hippies nos anos 60 ou os punks nos anos 80. Apenas você tem ATITUDE para mostrar aqueles COROAS quem é que manda, tá ligado?

É claro que na prática isso serviu apenas para punir a humanidade com toda sorte de produto licenciado porcaria como o já citado SONIC THE HEDGEHOG, jogos licenciados porcaria da Ocean e da LJN, deus, até mesmo bonecos de teste de colisão tinham ATITUDE, né THE INCREDIBLE CRASH DUMMIES?



Definitivamente as empresas se lavaram de fazer dinheiro fácil com bem pouco esforço criativo. E uma das mais notórias tomadas de ATITUDE dessa época foi justamente fazer alguns personagens dos Looney Tunes ultra maneiros e descolados, repletos de respostas snippy e humor que os COROAS não entenderiam. O que nos leva ao Diabo da Tasmânia (pq ele é um devil, olha que subversivo - mas um subversivo que não realmente vai incomodar ninguém), que até então só tinha aparecido como antagonista do Pernalonga em não mais que 3 cartoons nos anos 40/50, mas foi elevado ao status de estrela dos cartoons e até hoje Taz é personagem reconhecido. Tudo fruto da erada ATITUDE.

O que nos leva a ele ter seu próprio cartoon e, é claro, seus próprios videogames. O primeiro TAZ-MANIA para sistemas da Sega é um daqueles jogos que se não fosse o personagem licenciado, ninguém sequer lembraria que esse jogo existiu. Quer dizer, talvez elas lembrassem dos controles ruins, do ataque que faz você perder o controle do personagem e do número absurdo de saltos de fé... se bem que é preciso ter uma memória muito boa pra lembrar TODAS as vezes que você encontrou isso no Amiga 2.0, digo, no Mega Drive.

Nossa história começa quando Marvin, o Marciano, decide incrementar seu zoológico galáctico adicionando a exótica espécie de um Demônio da Tasmânia. O que me faz ter várias perguntas sobre o sistema de entretenimento marciano, porque se o seu plano de diversão é ir até a Australia (apesar do nome, os Demônios da Tasmânia estão praticamente extintos em seu habitat original e existem só na Australia hoje em dia) pegar algo da fauna nativa para levar para casa... isso não é entretenimento, é um pedido de socorro.

Há muito pelo que um marciano pode viver, Marvin! Não desista!

EU SEI ONDE VOCÊ VAI CHEGAR COM ISSO...


EU SABIA...

... ahn, caham... então, Taz é abduzido e vai parar no Zoo marciano.


Infelizmente para Marvin, entretanto, o projeto do Zoo marciano foi sublocado para empreiteiras brasileiras e as paredes do Zoo foram construídas basicamente por areia e o sonho de ver o Grêmio não passar vergonha na Libertadores, os dois materiais mais frágeis conhecidos pelo homem. De modo que Taz escapa sem a menor dificuldade e começa sua jornada de rodopios de volta para casa.

Ao que eu realmente não sei porque os aliens se dão ao trabalho de resistir. Gente, sério, esse é um bicho que sobrevive no Outback australiano, vocês acham mesmo que terão alguma chance de vence-lo? 

Então esse é Taz em fuga de Marte, e depois de jogar este jogo eu acho que descobri a fonte de toda a revolta que os jovens cheios de ATITUDE dos anos 90 puxavam sua ATITUTOSIDADE: eles tiveram que jogar todos esses videogames mediocres dessa época, do qual esse jogo é um grande ofensor.

Porque Taz toma emprestado pesadamente a ATITUDE do ouriço azul da Sega não apenas em conceito, mas porque esse é um jogo rápido de plataforma com layouts de níveis bizarros em que você passa sem realmente saber para onde você está indo.

A maior diferença disso aqui para Sonic são os controles do jogo. Acho que todo mundo pode imaginar a essa altura que eu não sou um grande fã do jogo-icone da Sega (nenhum deles), mas pelo menos você pode controlar o Sonic. Eu realmente não posso dizer a mesma coisa para o Taz nesse jogo.


No papel, a coisa é simples: esquema de controle de três botões em que um pula, outro interage com itens do cenário e o terceiro faz a giradinha de marca registrada do Taz - que para o propósito deste jogo é o seu ataque. Tudo parece bom e fácil na teoria. O problema é a execução disso.

Se você estiver familiarizado com o personagem, deve saber que ele não se move ... graciosamente. O que funciona muito bem em um desenho animado, um personagem ser desajeitado ao se mover pode dar origem a todo tipo de slapstick comedy. Em um videogame, entretanto... não é engraçado. Pode ser adequado para o personagem que Taz seja troncho de controlar, mas quando simplesmente pular em uma plataforma é difícil ... isso não faz um bom jogo.

O principal problema não é nem o salto bem desajeitado, e sim que o ataque furacão é a arma do Taz e, como você esperaria, é bem difícil de controlar. O que leva você a girar aloucadamente destruindo itens uteis e caindo em buracos - tanto para tomar dano, morrer, ou pior ainda, voltar para o começo da fase - porque é impossível controlar o seu personagem com qualquer precisão.


Novamente, como esse é um traço iconico do personagem porque ele está no jogo. Alguém pode argumentar até que é uma escolha deliberada de design... mas isso não faz jogar o jogo melhor realmente. 

O que em última instancia é uma pena, porque existem algumas boas ideias neste jogo, perdidas entre pulos horríveis e design frustrante. Por exemplo, às vezes o Taz pode aumentar de tamanho ocupando a maior parte da tela. Quando gigante, ele pode destruir o cenário e avançar com facilidade. Da mesma forma, ele também pode encolher, esgueirando-se por aberturas que, de outra forma, seriam muito pequenas para ele entrar.

Isso foi anos antes de Mario começar a mastigar Mega cogumelos - que a Nintendo afirmou ser uma inovação ao promover o 'New Super Mario Bros' no DS. Da mesma forma, quando girando incontrolavelmente, o Taz também pode cavar em algum terreno macio e avançar por dentro da terra. É uma boa ideia, mas cavar é uma dor de cabeça ao invés de um prazer. Você mal consegue ver onde Taz está sob a Terra porquê apenas seus olhos são visíveis. 


Em outro nível, Taz encontra um dispositivo de hélice que permite que ele voe. É uma seção que realmente funciona como uma fase da agua, onde segurar o botão de ataque giratório faz Taz subir no ar. O problema é que soltar este botão o faz despencar e não há como se defender durante o vôo. É apenas uma questão de sorte progredir, pois a única rota através do nível labirintico está cheia de inimigos disparando projéteis.

Eu dou créditos ao desenvolvedor que eles estejam tentando integrar novas ideias no jogo, mas se você não conseguiu acertar nem o básico do básico no jogo acabam sendo todas mal implementadas. 


Além disso, é um minor nitpick mas "Taz in Escape from Mars" é um título extremamente enganador. Taz atinge esse objetivo quando derrota o primeiro chefe com 15 minutos de jogo. Neste ponto, o jogo apenas tacou o foda-se e não tem qualquer lógica para as fases. Depois de visitar um planeta de topeiras, Taz também aparece em uma casa mal-assombrada e no México. Claro que existem centenas de jogos de plataforma que apresentam fases abstratas e incomuns, mas estes não têm o nome do primeiro quinto do jogo no título. 

O que passa a ser um problema de verdade é que tem muitas partes de "Taz in Escape from Mars" que parecem pertencer a um jogo diferente e que foram socadas nesse jogo para extender sua duração. Enquanto a parte conceitual pode não ser tão importante, a gambiarra na produção é algo que afeta sim a qualidade final do jogo.


Os gráficos são bons, no nível dos outros jogos de Loney Tunes feitos pela Sunsoft, e felizmente a esse ponto eles meio que já tinham entendido como o acidente termonuclear que é a placa de som do Mega Drive funciona, então o áudio doloroso do primeiro 'Taz Mania' se perdeu aqui. Embora 'Taz in Escape from Mars' não tenha uma trilha sonora que você vai baixar para ouvir no seu telefone enquanto anda de trem, pelo menos você pode ouvir algo além de ruído branco e furadeira empenada. Dito isso, é uma coleção um pouco estranha de músicas que parecem ter tons alienígenas espaciais, mesmo quando você está jogando os níveis mexicanos. É quase como se a trilha sonora tivesse sido composta antes de os designers decidirem que fases colocar no jogo... o que eu realmente acredito que aconteceu.

A grande vantagem desse jogo é que é preciso se esforçar muito mais do que ele fez para ser jogo verdadeiramente pavoroso no Mega Drive, então dessa vez eu vou deixar passar com apenas um "okay, dessa vez passa, mas não repita isso". O que não é dizer muita coisa de bom sobre esse jogo, realmente.

Daí a a um jogo tão medíocre assim ter virado capa da Super Game Power... é algo que só os anos 90 explicam. ATITUDE, provavelmente.

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