Uma coisa que eu digo frequentemente aqui é que um jogo deve ser analisado dentro do que ele se propõe a fazer, no que ele se propõe a fazer. Por exemplo, eu não sou exatamente o maior fã de jogos com fases labirinticas só que se um jogo tem isso, eu não posso julgar pelo meu gosto pessoal e sim pelo que o jogo se dispõe a fazer. O jogo te dá orientações para onde ir? Referencias visuais? Como é o limite de tempo? Como é navegar pela fase? Essas são as coisas que eu analiso dentro da proposta do jogo, eu gostar ou não desse tipo de level design é irrelevante.
E por que eu estou falando isso? Porque Top Hunter me fez pensar em um patamar além dessa questão: é devido considerar um jogo não apenas pelo que ele é, mas também pelo sistema que ele saiu. Exemplo em questão: Top Hunter é um misto de run'n gun com beat'm up - ou seja você corre socando tudo na tela naquele clima vamo que vamo dos run'n gun, mas tem que limpar a tela dos inimigos para aparecer a placa de "go" que você pode avançar.
Posteriormente essa formula seria refinada na super famosa e amada série "Metal Slug", mas aqui Top Hunter se sai bastante bem por si próprio. Daqui a pouco eu falo mais sobre o jogo, mas a questão que realmente importa é que Top Hunter é um jogo totalmente legalzinho e se fosse um título de SNES ou algo assim não teria nada contra ele.
Porém esse jogo não saiu para Super Nintendo, Mega Drive, ou Brick Game de 7 pila no camelô da Independencia. Não, ele saiu para o fodendo Neo Geo - o console que era literalmente um arcade e cada cartucho pesava mais que um prato de pedreiro em buffet livre.
O Neo Geo foi lançado em 1990 por um preço que empalideceria o 3DO: 649.99 gringodolares, e não caiu muito depois disso. Pior ainda, cada cartucho (que realmente tinha o tamanho de uma biblia impressa em fonte Helvetiva 46) custava cerca de 200 a 300 dolares. Isso não é preço ajustado, é o valor real de 1990!
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Os cartuchos de Neo Geo eram o arcade na sua casa, mas isso não era marketing. Literalmente tinha uma placa de arcade dentro disso |
O que nos remete a Top Hunter aqui. Seria um jogo bonitinho de SNES? Totalmente. Agora, é um jogo que vale de 200 a 300 dolares de 1990 (aproximadamente 1800 reais hoje)? Mas nem fodendo e cantando cara caramba cara cara ô!
E aí, como fica então? Se analisa Top Hunter pelo que ele seria em uma bolha espaço-tempo isenta da realidade em que é possível chegar até ele, ou o jogo deve ser julgado pelo atual contexto do jogo? Eu não acho que exista algo como academicos de discussão de games, mas definitivamente seria algo para ser debatido por catedráticos.
O que pode ser dito sobre esse jogo, entretanto, é que ele é definitivamente bonitinho no que se propõe a fazer. Rodhy e Cathy são dois caçadores de recompensas integalacticos que estão na trilha de uma gangue composta por quatro bandidos e seu chefe e... bem, é isso realmente. Não nada além disso, não tem intro, não tem nada. Embora o jogo tenha personagens muito fofinhos, eu realmente poderia usar um pouco mais de esforço por parte da SNK em fazer eu me importar com eles já que o cliente está pagando 200 dolares por esse jogo. Mas não, eles tem um nome, eles parecem bonitinhos e isso é tudo que você tem.
O gimmick desse jogo é que nosso heróis tem braços extensíveis (por nenhuma razão em particular) que socam como o Dhalsim se você segurar o botão de soco. Eles também podem ser usados para pegar coisas e arremessar objetos do cenário, fazendo esse jogo tipo a versão japonesa kawaii de
TWO CRUDE DUDES. Só que aqui temos caras machões fazendo coisas machonas e mais coisas espalhadas por cada fase como... um mecha com luvas adoráveis.
É boa ação de desenho animado em seu melhor, com o ocasional macaco bugio gigante enfurecido como sub-chefe e algum minion tirando um tempo de sua agenda lotada de ser um capanga para pescar. Como eu disse, boa diversão cartunesca para toda família. E, como é o caso da maioria dos jogos que não se levam a sério, ele consegue ser divertido.
Isso vale o dobro para as batalhas contra chefes, que geralmente tem algum truquezinho para derrota-los como usar itens do cenário contra eles, ou reaproveitar os ataques que eles lançam e jogar de volta neles como em Mario 2. Os chefes são grandes e criativos, que é o que se espera de um jogo com essa tonalidade afinal.
O outro gimmick desse jogo é que existem dois planos em que seu personagem pode caminhar ou, idealmente, com dois jogadores cada jogador pode ocupar uma lane e socar a partir dali. Mais ou menos algo que run'n guns como
ROLLING THUNDER, só que agora aplicado ao formato beat'm up desse jogo.
Eu não posso dizer que o jogo realmente explora isso de formas criativas ou mesmo exige que você use, é mais uma coisa que está lá e você pode utilizar. Ou não.
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Olha o minhoco! |
Como aspecto negativo do jogo não tem muito o que possa ser dito senão o que você já espera: jogos de Neo Geo são basicamente arcades, e arcades são basicamente sobre comer fichas. Então espere uma dificuldade feita como se eles estivessem sendo pagos pra isso porque... bem, porque estão. Bullet hell, chefes que dão sequencias de ataques longas antes que você possa ataca-los, inimigos com muito alcance, o pacote completo. No Neo Geo não é tanto problema porque você tem créditos infinitos, mas definitivamente é... inconveniente.
Então é isso, Top Hunter é um beat'm up com elementos de run'n gun criativo no visual e redondinho na jogabilidade. Seus gimmicks não são realmente explorados, mas suponho que seja legal que eles existam. O que nos remete ao problema inicial do texto: se fosse um jogo de Super Nintendo, valeria aquela alugada gostosa e meio que vai até aí. Mas como um cartucho de quase dois mil reais?
Hã, cê não tá com essa bola toda não, amigo.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 067