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| Neste jogo seu protagonista é o Darkseid com uma bunda na cabeça. 10/10 GOTY |
Eric Chahi é um sujeito realmente fora da curva. Trabalhando praticamente sozinho em um projeto de fazer um jogo tipo DRAGON'S LAIR para Amiga... as coisas não saíram como esperado e ao invés disso ele acabou ao invés disso criado um novo genero que hoje é conhecido como "Puzzle Pltaformer". Essas coisas acontecem, eu suponho...
Enfim, Puzzle Plataformers são jogos de plataforma, frequentemente com controles não muito bons, mas que isso não é um problema porque eles não se focam na ação e sim na resolução de puzzles para avançar. Mais ou menos como um point'n click, só que com controles de jogo de plataforma.
E o jogo que Eric fez é o melhor expoente disso, OUT OF THIS WORLD (chamado de "ANOTHER WORLD" na Europa). Em Out of This World você tem 15 cenários que precisam ser resolvidos para conseguir avançar. Por exemplo, na primeira fase você se você for para a tela da esquerda sai em um precipício com cipós. Se for para a direita tem um cramuião que te mata com um hit. Como passar?
Nesse caso, você tem que provocar o bicho, então correr em panico com as mãos pra cima de volta até o cipó e usar ele para dar um olé no bicho e assim poder prosseguir. Out of This World é todo assim, uma coletanea de puzzles em um jogo de plataforma, não é um jogo muito longo (dura cerca de 20 minutos quando você sabe o que fazer) mas eu gosto bastante dele.
Com efeito, bastante gente gostou do joguinho que o francês fez porque Out of This World se tornou um clássico cult (essa expressão significa que ele não explodiu de vendas no lançamento, mas ao longo do tempo o boca-a-boca o fez ser um sucesso absoluto). Tanto sucesso, de fato, que um dia ele foi chamado no escritório da Virgin Interactive para ter uma conversa:
- Oh, não se preocupe Eric, você não está com problemas. Pelo contrário, o seu trabalho foi tão bem sucedido que tivemos uma excelente proposta por ele!
- Sacrebleu!
- Mais especificamente, a Sega viu esse jogo como uma excelente oportunidade para divulgar o Sega CD e quer que a continuação dele seja exclusivo para o sistema. Isso é um problema para você?
- Champignon!
- Bom, bom, então, você tem alguma ideia de como fazer uma continuação?
- Omelette du fromage!
- Interessante, a ideia de fazer um jogo sob o ponto de vista do nativo que te ajuda no primeiro jogo, o que ele está fazendo nas cenas que ele não aparece e como ele vai parar nos lugares que ele está parece bastante interessante mesmo. Tipo um bastidores do que aconteceu no primeiro jogo, como De Volta para o Futuro 2! Gostei!
- Abajour!
- Que bom que concordamos com isso, Eric. Agora, quanto tempo você acha que precisa para desenvolver esse jogo?
- Allons-y!
- Um ano pelo menos? Hã, isso vai ser complicado porque a Sega quer esse jogo pra Black Friday de 94. O que você poderia fazer com, digamos, 3 meses?
- Baguette!
- 5 minutos de jogo? Hmm, suponho que a Sega não vá se importar. E qualquer coisa a gente coloca o primeiro jogo incluído no CD, então ninguém vai realmente reclamar. Está bom pra vc assim?
- Soutien!
- Honestamente, também acho que vai ficar uma merda. Mas se a Sega não se importa com o seu público, quem somos nós para recusar dinheiro fácil?
Essa é a versão resumida do dialogo verídico que aconteceu entre Chahi e a direção da Virgin - o original exigiria um conhecimento muito mais profundo de francês do que vocês são capazes de possuir.
SABE O QUE É PIOR? EU SEI QUE NO FUNDO TU REALMENTE ACREDITA NESSAS COISAS QUE TU INVENTA.
Eu não invento, eu declaro fatos. Seja como for, o fato é que a produção de Heart of Alien foi um rushaço desabalado e o resultado final foi um jogo que não apenas possui um quarto do tamanho do jogo anterior (sim, ele realmente pode ser terminado em 5 minutos) como os puzzles para serem resolvidos foram todos substituídos por pegadinhas ao estilo "pensa rápido... morreu!". Se alguma coisa, esse jogo definitivamente parece muito mais com SPACE ACE do SNES que com o Out of This World original.
E acredite, vc nunca quer ser comparado com Space Ace do SNES. Nunca. Sob hipotese alguma. Jamais.
Então se o level design do jogo foi feita a moda louca "vamo que vamo taca qualquer merda aí", não preciso dizer que a parte emocional desse jogo ... bem, eu realmente não preciso dizer nada, né?
Porque por mais estranho que possa parecer dizer isso de um jogo de 20 minutos de 1992, a sensação de companheirismo é um dos pontos forte do jogo. Lester, o protagonista do primeiro jogo, é jogado em um mundo desconhecido cheio de perigos, e eventualmente ele é capturado pelos nativos. Em sua cela, ele e outro alienigina que dividia o xilindró com você unem forças para escapar. Você e seu parceiro alien não conseguem conversar devido a barreira do idioma, mas vocês compartilham uma linguagem universal: confiança, amizade e meter laser nesses filhos da puta que nos prenderam.
Em uma situação tão desesperadora como estar em um mundo que você não sabe absolutamente nada a respeito e qualquer coisa pode te matar, acabamos nos agarrando a esses sentimentos familiares e desenvolvemos um vínculo forte com esse amigo, que se torna muito evidente à medida que o jogo lança gatilhos emocionais e desafios para nós. Quando o alienígena está em perigo, há uma onda de pânico para ajudá-lo e salvá-lo como ele salva você quando tem a oportunidade. Quando vocês estão separados, frequentemente você se pergunta onde anda o seu parça e se você vai voltar a ve-lo novamente. Como disse uma grande escritora certa feita, existem coisas que não se pode fazer ao lado de alguém sem se tornar amigo dessa pessoa.
Então a ideia de fazer uma continuação pelo ponto de vista do seu amigo alien é bastante legal na verdade. Porra, eu totalmente jogaria esse jogo! Só que, como estabelecido até aqui, essa continuação não é esse jogo.
É só um caça-níquel feita na moda louca vamo-que-vamo, todo esse feeling de camaradagem, de nos conectar emocionalmente com um NPC, fornecer desenvolvimento de personagem adequado sem um único diálogo, esse jogo não faz nada disso. Ou coisa alguma realmente.
Tanto que algum tempo depois Eric Chahi declarou que essa continuação não representa sua visão artistica para Out of This World e não a considera canonica para esse universo. A gente concorda, Eric. A gente concorda.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 072
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 072
