terça-feira, 5 de janeiro de 2021

[SNES/MEGA DRIVE] VIRTUAL BART (Setembro de 1994)[#606]


No ponto em que estamos agora das revistas, setembro de 1994, é basicamente impossível passar pelo menos duas edições - frequentemente nem uma - sem vermos alguma coisa sobre Street Fighter 2 (qualquer uma das suas 58 versões) ou Mortal Kombat 2. Quando eles esgotavam de falar sobre o lançamento do arcade, saiam então as versões domésticas e todo ciclo de loucura recomeçava. Todo ano de 1994 é basicamente isso nas revistas, mas... você lembra de como as coisas eram antes disso?

Antes do frenesi dos jogos de luta (ou de achar o "próximo" grande jogo de luta), havia uma marca que tinha um efeito similar na Ação Games, uma franquia que dificilmente você passaria uma edição sem ve-la nas revistas e quando o lançamento passava, então recomeçava com os ports para os outros consoles. Não é algo que é facilmente lembrado agora, mas já houveram dias em que a grande coisa dos videogames eram... OS SIMPSONS.

Na verdade, mesmo o desenho dos Simpsons (que ainda existe hoje) perdeu completamente a relevancia porque ... porra, é um desenho de 1989, não tem como você continuar sendo interessante após 32 anos ininterruptos...

CAHAM...


Hã... tá, okay, não é possível manter uma série interessante após tanto tanto sem modificações consideraveis no elenco e mesmo tom narrativo da série ...

VOCÊ DIZIA MESMO QUE?


Tá bom, tá bom, você não consegue ficar relevante por tanto tempo sem continuar atual e fazendo questões relevantes e colocando o dedo na ferida que pouca gente (ou mesmo ninguém) tem coragem de fazer... tá feliz agora?

E QUANTO A...

Olha, Jorge, just get off my back on this one, okay? Bom. Então, jogos dos Simpsons, que no começo dos tempos eram a grande mina de ouro dos videogames e foram soterrados pela popularidade dos jogos de luta... que fim levaram, afinal?

A resposta é... que ninguém ligava, realmente. Quer dizer, os jogos dos Simpsons, sem exceção eram medonhos, pavorosos e um pior que o outro. Bem, com exceção do único jogo bom dos Simpsons que é o beat'm up para arcade... E QUE NUNCA FOI PORTADO PARA CONSOLE NENHUM NEM A AÇÃO GAMES NUNCA FALOU DELE PORQUE EU SÓ ME FODO NESSA MERDA MESMO, PUTA QUE O PARIU...

... mas enfim, se alguma coisa esse jogos eram uma aula de como NÃO fazer um videojogo ao ponto que um dos jogos mais iconicos do começo da vida dos 16 bits, THE SIMPSONS: BART'S NIGHTMARE, teve uma continuação e eu nunca soube disso. Ou mesmo me importei. Assim como muita gente. 

Quer dizer, aquele jogo é horrível mesmo: uma sequencia de minigames simplórios e filhadaputamente dificeis conectados por um overworld que por si só é uma fase horrível de se jogar. 


Mas hey, pelo menos não é como se eles pudessem piorar isso fazendo referencia a um dos piores filmes de todos os tempos - e que de alguma forma influencia a cultura pop até hoje..



Isso é a prova não apenas que Deus existe, mas como ele me odeia a um nível pessoal. Ah, bem, apesar da referencia me fazer ter pesadelos, a boa noticia é que esse jogo é LEVEMENTE melhor que o jogo que o precedeu já que não tem mais a maldita fase overworld da rua, e agora VOCÊ TEM MAIS QUE UMA VIDA.

Então, sim, esse jogo é ligeiramente melhor que o anterior, mas dizer isso é mais ou menos o mesmo que dizer que a merda que eu caguei hoje é melhor que a merda que eu caguei ontem. O jogo continua sendo uma coleção de minigames basicões praticamente injogaveis de tão dificeis... então é claro que eu vou levar vocês comigo nessa jornada de sofrimento e dor.


A história desse jogo é que está tendo uma feira de ciencias na escola do Bart. Sabe, eu realmente aprecio como um país que realmente não tem lá os maiores amores pela ciência ainda sim incentiva esse tipo de mesmo nas cidadezinhas mais grotões. Esse ano parece que a competição está... bem simples, na verdade, porque um menino trouxe uma planta carnívora e outra um alíen.

Enquanto essas coisas são interessantes per se, não é exatamente um experimento aqui. É só pegar a coisa mais exótica que você achar e apresentar, não tem experimentação nisso.


Seguindo o mesmo espírito, Bart também pegou a primeira coisa que ele encontrou para apresentar... a cabeça do seu pai numa jarra. Uau, que coisa mais... hã... é, definitivamente é alguma coisa, e não uma boa.


Milhouse tenta dar um migué com uma máquina de movimento perpetuo (um aparelho que teoricamente gera energia o suficiente para alimentar a si mesmo e assim funciona infinitamente, o que é a pedra filosofal da fisica e tão impossível de realizar quanto), mas ele só ligou um aspirador de pó num tubo. Bem, considerando que é uma feira de ciencias pra crianças da quarta série, é a apresentação mais realista até aqui.

Já Sophie Jensen está aproveitando a oportunidade para... tentar trazer seu esquilo de volta a vida com eletricidade enquanto ela chora. Uau, isso é...


De fato é, Steven. Mas voltando ao que estavamos falando:


Bart então entra numa sala que o projeto da feira é um aparelho de realidade virtual e... de alguma forma participa do negócio, porque ele achou Passageiro do Futuro maneiro e seu futuro numa instituição mental está garantido... é isso. As fases do jogo são cenários de VR e você precisa completar todos para "escapar" da máquina.

FASE DO DINOSSAURO


Oh boy, pegue duas coisas que nunca deram certo em videogames e junte elas, o que possivelmente poderia dar errado? Quer dizer, não apenas não existe um jogo bom dos Simpsons para console, como também não existe um jogo bom de ser um DINÓCERO para videogames também. Essa fase é os dois juntos. 

Sabe, eu realmente queria entender essa obsessão da industria dos anos 90 em não me deixar ser feliz sendo um DINÓCERO. Não é tão dificil, gente. Dar pulões, ter garras afiadas, comer o intestino de pessoas enquanto eles clamam inutilmente por suas vidas, você sabe, os prazeres simples da vida. Mas não, eu definitivamente não posso ter isso num videogame, posso?

Essa fase contribui para que não. Você tem apenas dois comandos: pulo e rabada, e o jogo consegue falhar absurdamente em ser um jogo de plataforma fazendo apenas isso. A primeira coisa que dá pra notar na imagem acima é o quanto essa fase é inclementemente dificil, existem basilhões de coisas na tela pra causar dano ao ponto que esse é um daqueles raros jogos que fazem o Super Nintendo ter flickering de tanta coisa na tela te atacando (um fenomeno muito raro na quarta geração de consoles).


A outra coisa que essa fase tem é te dar um ataque merda que você precisa de um trilhão de hits para derrotar qualquer coisa, de modo que você toma menos dano apenas pulando aloucadamente e caindo nos saltos de fé do qual essa fase é inteiramente constituída.

O puro suco de plataforma ruim dos anos 90!

FASE DO PORCO (que naõ é aranha)


Eu sei o que você está pensando. Sei EXATAMENTE o que você está pensando: "essa fase do DINÓCERO é bem ruim, mas como ela poderia ficar pior?". Bem, se não foi isso que você pensou, saiba que foi exatamente o que os nepomucenos da Sculpted Software pensaram, e pior ainda, foi o que eles fizeram!

Essa fase funciona mais ou menos como a fase do DINÓCERO, só que com duas mudanças:

a) Você não tem nenhum ataque;
b) A fase é um labirinto e você precisa ficar entrando e saindo de portas para achar a saída;

E é isso. Mantém a porcaria da dificuldade, mas agora ao invés de uma fase linear você fica andando pra cima e pra baixo mexendo em alavancas que vc não sabe o que é que elas abrem (se é que abrem alguma coisa) e tomando dano de um dos jogos mais dificeis ever. Porque sempre dá pra piorar, que porcaria!


... porque é a fase do porco, entenderam? Porcaria... é, foi o que deu pra fazer...

Bem, em defesa dessa fase ao menos a cutscene de game over é ... hã, digamos... original:


BABY BART


Own, quem não adora uma fase com bebês ultradinamicos repletos de atitude que saem voando por aí? Bem, enquanto os sprites do Baby Bart são de fato adoraveis, os controles dessa fase fazem com que você deseje que aconteça com ele todo o mal que você jamais permitiria que acontecesse ao Baby Yoda.

O problema aqui é que a fase é focada em balanços e você fica parado apenas durante poucos milésimos de segundo durante a fase inteira. Isso já não é muito bom, mas em um jogo que estabeleceu controles atrozes e saltos de fé como se estivesse sendo pago pra isso, exigir saltos com precisão de pixels onde o seu bonequinho não para quieto na tela é simplesmente criminoso.


E se errar um único dos pulos que tem uma janela de poucos pixels para serem acertados, começa toda merda de novo. Não que você saiba exatamente onde tem que cair porque os gráficos são confusos do que é plataforma e do que é apenas cenográfico, e mesmo que soubesse a detecção de acerto é ó, uma bosta.

WATERSLIDE


A boa noticia é que chega de plataformas! A noticia ruim é que tem algo pior no lugar! Agora Bart desliza nesse toboágua e supostamente tem que desviar das coisas. Basicão e desnecessariamente dificil, mas ok. O problema é que de tempos em tempos tem umas interjunções e você tem que escolher um lado - se escolher o lado errado bate na bunda do Homer, toma dano e volta.

O problema é que não tem como você saber, não é uma escolha realmente é 100% sorte. Para piorar, na última sessão se você escolher errado você não apenas toma dano e recua, você morre. Então essa fase, mesmo que você chegue ao fim com toda porcaria que o jogo te atira na tela, SEMPRE tem 50% de chance de falhar e não tem NADA que você possa fazer a respeito disso, é completamente aleatório.

Puta merda mesmo...

MAD BARTMAX 


Provavelmente você não lembra de OUTLANDER e eu não te culpo por isso, eu também não lembraria se tivesse a opção de apagar da minha mente a pior tentativa de fazer um jogo ao estilo Mad Max. A boa noticia é que Outlander não é mais o pior jogo a tentar fazer o seu próprio Mad Max, a notícia ruim é que eu acabei de jogar ele.

Nessa fase você "dirige" uma motoquinha e tem que tentar sobreviver até o final da fase. Digo "dirige" porque pra um jogo que sequer consegue fazer pulos direito, eu não acho que preciso dizer como seria uma fase pilotando um veículo, certo?


Mas então, o problema aqui é que tem esses caras pra te atacar enquanto você dirige... e não tem nada que você possa fazer para impedir que eles te causem dano. Sim, você tem uma arma dagua que deveria ser a sua shotgun e pode dar chutes como em ROAD RASH, mas a verdade que enquanto é possível derrotar os palíndromos se você dedicar algum tempo a isso, não é possível faze-lo antes que eles te deem ao menos um hit. Frequentemente mais porque eles tem a mesma resistencia dos inimigos na fase do DINÓCERO.

Então todo inimigo que surge leva pelo menos um teco da sua energia sem chance de evitar, boa sorte tentando fazer isso durar até o fim da fase. Eu desejaria boa sorte com isso, mas a verdade é que não existe tanta sorte assim no mundo suficiente para fazer isso.

ESTILINGUE DE TOMATE


Vou conceder que ao menos essa fase é original: Bart tem que atirar tomate (e na segunda parte ovo) nos coleguinhas no dia de tirar a fotografia da turma. A parte criativa entra em como você faz isso: tem essa barra que fica indo e você arremessa sempre em linha reta para acertar as crianças em arco. Seria uma fase de bonus passavel em um jogo de verdade, esse tanto eu posso te dizer.

O problema é, mais uma vez, a execução caga a porra toda. Pra começar, você não pode acertar nenhum dos adultos na fase - por mais que seja algo que Bart especialmente faria - senão ela termina imediatamente. Não obstante isso, o limite de tempo é muito, muito apertado para acertar todas as crianças então mesmo não errando um tiro provavelmente não vai dar tempo.


Sua única forma de passar dessa fase é atirar rushando desesperadamente... o que não preciso dizer que tem resultados ... menos que excelentes. Mais uma vez o jogo sendo desnecessariamente dificil para esconder que de outra forma ele tem menos de 30 minutos de conteúdo. Os "bons e velhos tempos" dos videogames, eu te digo.


Virtual Bart tem algumas qualidades, de fato, porém nenhuma delas está relacionada ao gameplay. Em primeiro lugar, a apresentação visual do jogo é bastante boa e todas as fases tem a sua própria cutscene de morte, sendo que elas são suficientemente bem animadas para um jogo de Super Nintendo.

O mais interessante, entretanto, é que esse jogo teve participação dos dubladores da série que gravaram samples de voz exclusivas para o jogo. Por exemplo, é o próprio Dan Castellaneta (dublador do Homer) que diz o "VIRTUAAAAAAAAAAALL BAAAAAAAART" da tela título, além de falas curtas e gritos que você ouve durante o jogo. A qualidade do som é muito boa nesse sentido até...

Minorities, at my water park!

... porém não sem um preço, já que isso ocupa todo espaço de áudio do jogo. O que significa que os jogos não tem música de fundo, é apenas silencio e os efeitos sonoros - o que acaba criando um clima ébrio bastante desconfortável de se jogar.

Aspectos tecnicos a parte, o que temos é mais um daqueles jogos que são uma coletaneas de minigames, nenhum deles com bons controles... ou sequer ruins, porque tem que melhorar muito pra ser "apenas" ruins... e quase nenhuma criatividade. Ser o melhor jogo dos Simpsons para um consoles doméstico (até este ponto) não queria realmente dizer muita coisa, e Virtual Bart mostra o quão pouco isso significa.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 063


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