quinta-feira, 18 de março de 2021

[SNES] CLAYFIGHTER 2: Judgement Clay (Janeiro de 1995) [#656]


Se você está procurando franquias de jogos de luta esquecidas que provavelmente deveriam permanecer esquecidas, é difícil pensar um nome mais adequado que ClayFighter. A série tem algum valor devido à sua direção de arte única, que usou fotos digitalizadas para os personagens como em Mortal Kombat, mas ao invés de fotos de pessoas usou bonecos de animação em argila. O que é muito, muito mais trabalhoso do que mandar um mané aleatório colocar uma fantasia de Halloween (sim, WAY OF THE WARRIOR, estou olhando pra vc) e merece ser aplaudido pelo esforço.

Mas tire esse atributo e uma coisa fica clara: ClayFighter é muito esquecível enquanto jogo. E ClayFighter 2: Judgment Clay - uma paródia não tão esforçada assim de Terminator 2: Judgment Day - pode não ser o pior jogo da série, mas faz um bom trabalho em resumir suas muitas deficiências.

A mais óbvia dessas deficiências é a jogabilidade. Esta foi uma série que surgiu na sombra do sucesso de Street Fighter 2, então havia um padrão seguir. Mas ClayFighter evidentemente perdeu o memorando e não pega emprestado nenhuma das complexidades ou profundidade da jogabilidade de Street Fighter. Se alguma coisa, Clayfighter se inspira mais na luta monótona e travada do Mortal Kombat original.

ClayFighter simplesmente pegou um gênero popular e adicionou seu próprio gimmick à equação (personagens de argila) e deu o dia por encerrado. É um daqueles jogos de luta bastante simplórios que não contemplam qualquer tipo de estratégia, combos ou algo mais complexo do que pular e dar voadora - eventualmente dando um golpe especial, mas eles são meio duros de sair. 

Mano, olha que coisa perturbadora esses bonecos de cenário de fundo

C2 é mais sobre humor do que fornecer uma experiência de luta satisfatória. Talvez humor não seja a palavra chave aqui, mas nessa continuação enquanto o gameplay não foi consertado pelo menos a questão artistica foi ampliada: agora você não tem apenas bonecos de massinha, você tem cenários de argila e muitos deles são puro nightmare fuel. Um bairro dominado por bebês delinquentes e uma multidão de boxe que parecem muppets feitos com ácido, mas o meu favorito é o penúltimo estágio que apresenta imagens grotescas dos lutadores que não sobreviveram ao primeiro jogo.

Eu posso respeitar isso. E falando nisso, vamos dar uma olhada nessa galerinha muito louca!

BAD MR. FROSTY


A trama de ClayFighters é inspirada, acredite ou não, em H.P. Lovecraft. Mais especificamente no seu clássico "A cor que caiu do espaço", quando um meteoro cai nos arredores de Mudsville e começa a causar mutações em formas de vida e até mesmo objetos inanimados das redondezas - e como você pode imaginar, não para o bem. Essas coisas nunca são para o bem

Um dos objetos afetados pela radiação lovecraftiana do meteoro foi um boneco de neve chamado Mr. Frosty, que é agora é o BAD Mr. Frosty. E Bad Mr. Frosty decidiu que queria tomar o lugar o Papai Noel porque ... hã, porque ele é BAD, eu acho?

O que levou Frosty a ser preso por invasão, arrombamento e  agressão do Papai Noel. Condenado a um bloco de gelo de segurança máxima por um longo período, agora Bad Mr. Frosty está de volta as ruas, ele entra no novo torneio de luta para conseguir a fama e fortuna suficiente para perseguir o seu objetivo de tomar o lugar do Papai Noel. E você sabe que ele não está para brincadeira porque ele está usando um boné ao contrário ELE É BADASS, CUIDADO!


THE BLOB


Blob começou a vida de forma diferente de qualquer outra aberração de massinha de argila desse jogo. Ele não foi um objeto contaminado pela radiação do meteoro, ele é a própria gosma radioativa contida no meteoro Clayteriano. Quando a gosma do meteoro não tinha mais nada para contaminar, tornou-se senciente, deu a si mesmo um nome (bem como um gênero). Seu objetivo: contaminar o mundo inteiro com sua gosmesa, tanto que o seu cenário é uma cidade já tomada por sua gosmisidade. Kewl.

GOOGOO



Googoo (que não é o que hipnotiza galinhas) tem um dos cenários mais pertubadores do jogo: uma gangue inteira de bebês gigantes barra pesada (eu não acredito que usei essa frase) hangeando por aí fazendo, você sabe, coisas de bebês gigantes barra pesada. 

Quanto ao nosso herói, acredito que nada do que eu escrever será mais útil para compreender sua complexa psiqué do que reproduzir o que o manual do jogo descreve:

Goo Goo's first words were censored. So were almost all the rest of his words. Nobody knows where his foul mouth came from, but there's a strong belief it had something to do with spending most of his free time(well all of it) at the local pool hall.

Besides shooting a mean game of pool, Goo Goo loves milk and women, not necessarily in that order. Just ask his ex pre-school teacher. She didn't want to expel him, but what would you do if a toddler kept inviting you back to his playpen for a nightcap?

Uau. Apenas uau.


HOPPY


Antes do meteoro, Hoppy costumava ser apenas um coelhinho inocente até que foi transformado numa máquina de músculos que ama apenas os seus próprios músculos. 

Qual o segredo da sua forma de campeão, você pergunta? Ele fala com seus músculos! O treinamento de Hoppy geralmente envolve conversar com seus músculos individualmente. Já se acreditou que ele tinha uma relação especial com o bíceps esquerdo. Mas isso eram apenas fofocas desinformadas, a verdade que seu favorito sempre foi seu bíceps esquerdo. Porém quando Hoppy está com pressa, ele fala com seus músculos em grupos e torce pelo melhor.

... que merda foi que eu acabei de escrever? Cara, o manual desse jogo tem umas bios realmente... hã... únicas, vamos dizer assim.


KANGOO


Eu sei o que você está pensando: uma lutadora canguru, é hora da boa e velha ferocidade de sobrevivencia australiana, muitas rabadas na cara e tudo mais, certo? Bem, não. Apesar de ser uma grande lutadora, a verdade é que Kangoo é doce e humilde. Ela anda sempre com um kit de primeiros socorros para tratar os oponentes que ela acabou de espancar, esse é o tipo de canguru que Kangoo é.

Na verdade, ela até lutaria melhor se lutasse de olhos abertos mas a verdade é que ela ela não suporta a visão de argila espatifada. Mas se lutar é tão dificil pra ela, você pode se perguntar então pq ela apenas não desiste dessa vida, certo?

Kangoo tentou parar de lutar uma vez, mas seus fãs gritaram e espernearam. A princípio, ela pensou que fosse uma reação dramática, então, ela percebeu a verdade: seus fãs iriam espancá-la se ela não reconsiderasse e voltasse a vida das lutas. O que ela fez. Vendo as figuras extremamente perturbadoras que compõe o cenário dela, eu não realmente posso julga-la.


NANAMAN


Eu sei o que você está pensando, exatamente o que você está pensando: "Sabe o que esse jogo precisa? Precisa de um estereotipo que jamaicanos são preguiçosos e só querem ficar o dia todo na beira da praia fumando maconha e não querem nada com dureza, tá ligado?"

Bem, talvez você não tenha pensado nisso mas foi o que a Interplay pensou. Surge então Nanaman, nossa banana com sotaque jamaicano que só quer ficar de boas, mon. Exceto quando é tomada pelo ódio maligno da gosma do meteoro e aí mete a porrada geral, mas fora isso é praia e Bob Marley, tá ligado?

E o seu cenário é o que mais tem coisa na frente da tela, que bela bosta.


OCTOHEAD


Se Nanaman é o estereotipo do Jamaicano preguiço, Octohead é o representante fratboy americano que vive apenas para party e scorear. E como esse é um jogo em um console da Nintendo é bem garantido que ninguém vai scorear nada aqui então o negócio é FESTA DURO DIA E NOITE TUNTZ TUNTZ TUNTZ!


TINY


Tiny tem uma participação interessante nesse jogo: em determinado ponto, os desenvolvedores da Interplay não estavam se sentindo satisfeitos com a digitalização dos personagens para C2. Então eles pegaram um personagem do jogo anterior e o transpuseram literalmente como estava para fins de comparação com o novo jogo.



Sim, eu sei que isso parece desculpa furada para apenas adicionar um personagem novo sem esforço, mas se uma coisa da qual a Interplay não pode ser acusada é preguiça já que além dos personagens jogaveis eles criaram mais oito chefes, uma versão maligna de cada um dos personagens. E não são apenas color swaps como em Mortal Kombat, são realmente personagens novos remodelados com a massinha dos antigos. Então Blob tem sua versão maligna (bem, mais maligna ainda) como o Slyck, por exemplo


Ou então o pequeno detalhe que cada lutador tem um contador de tempo customizado para sua luta - algo que nem os jogos de luta pika das galaxias fazem. Isso definitivamente é um trabalho do caralho, e por isso eu saúdo o que a Interplay fez nesse jogo. Isso torna o jogo bom? Não, mas pelo menos tornou interessante o suficiente para manter a série viva por mais um tempo - Clayfighter ainda será visto na próxima geração, em um ambicioso jogo para Nintendo 64.

Nota 10 pelo esforço, nota 5 pelo gameplay.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 078



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