sexta-feira, 5 de março de 2021

[SNES/MD] BOOGERMAN: A Pick and Flick Adventure (Novembro de 1994)[#643]

Imagine, por um momento, que estamos na reta final de 1994. E imagine, apenas pelo esporte disso, que você é o público alvo pretendido pela indústria de videogames: um pré-adolescente repleto de atitude contra o "sistema" desses coroas, saca cara?

Apenas imagine isso.

Antes de começar, eu tenho que dizer que odeio o sistema de passwords desse jogo. Tipo você pega a revista e ve algo escrito "goblin, ogro, troll" e boa sorte tentando chutar o que é o que.


Pois bem, após uma decada culturalmente perdida como os anos 80 em que todo entretenimento para crianças era nada senão um comercial de brinquedos água com açucar, entramos então em uma nova decada em que as regras eram basicamente que não haviam regras. E isso teve um efeito porque quando não uma coisa é reprimida por muito tempo, no momento que você solta se tem um efeito mola e se vai muito na direção oposta, até eventualmente chegar a um ponto de equilibrio.

E toda cultura da primeira metade dos anos 90 é basicamente uma contracultura dos anos 80. O que significa que saem os heróis bonzinhos com lição de moral no fim do episódio e entra a era em que o legal mesmo é ser darkiiii trevoso e dumauuuuuu. Bem, não "mau" MAU de verdade, "mau" para o padrão conversador protestante da família tradicional estadounidense, mas você entendeu.

Agora, como não podia deixar de ser, a televisão também foi tomada por essa contracultura, essa subversão politicamente correta e o que é que você pode fazer que vai chocar as mamães mas sem chegar a ser subversão de verdade? Sim, exatamente, nojentices. Toilet humor, como os gringos chamam. THE REN & STIMPY SHOW abriu as portas de toda uma dimensão de desenhos animados que seriam asquerosos de se assistir, odiados pelas associações de mães mas amados pelas crianças because "on your face, COROA!!!".

Yo dude, so tubular! Radical!

Eu já expliquei mais sobre essa situação no meu texto sobre THE REN & STIMPY, mas é importante situar a situação cultural da época para explicar o jogo de hoje. Todos comigo até aqui? Ótimo.

Pois então, imagine, apenas imagine, se houvesse um jogo que quisesse capitalizar em cima dessa moda de asquerosidade que era tão popular com as crianças. Parece fazer sentido de um ponto de vista comercial, certo? Porém agora imagine que esse jogo não apenas existiu mas foi tão longe na sua proposta, pegou tão pesado na sua escatologia que as próprias crianças dos anos 90 reagiram com "ewww, no" a ponto desse jogo ser um fracasso de vendas apesar de ser um jogo realmente decente.

Quer dizer, o quão nojento um jogo precisa ser para provocar essa reação nas crianças? Precisa ser Boogerman, o vulto "Homem Catota-de-Nariz". Aicks, esse vai ser um dia dificil, não vai?

Então, nossa história começa...


Hã, ele completa o logo da Sega propelido pelo seu próprio peido e então atira ranho na tela. Boy, oh boy, essa vai ser uma viagem de classe, né? Aproposito a abertura do SNES é igual, só que começa direto na parte do ranho - não tem ninguém peidando no logo da Sega, ao contrário do que você poderia esperar.

Então, nossa história começa...


Em uma noite escura e chuvosa, o professor FEDEBAUM construiu uma máquina para acabar com toda a poluição do mundo! Esta máquina pegaria toda a poluição e transexuaria ela para a dimensão X-CREMENTO. Espera, ela faria o que meu amigo?


Hã, okay... eu genuinamente acho que isso é um erro de digitação porque "transexual" não é uma palavra que humor da quinta série usava naquela época, mas o jogo ter um erro de digitação na história não torna realmente as coisas melhores.

Enfim, tudo estaria bem e o mundo estaria livre da poluição, yay! Exceto que o bilionário excentrico Arrogante Maltrapilho achava que algo não estava cheirando bem nessa história porque... hã, deixa pra lá, essa piada é obvia demais até pra mim. Ele então se disfarçou de zelador e foi investigar o laboratório do professor FEDEBAUM apenas para se certificar que ele naõ estava era transportando todo o lixo para uma dimensão paralela onde ele criaria um exercito de lixo sentience e então dominaria o mundo. Mas qualé, qual é realmente a chance disso acontecer?


Hã, alguma coisa é roubada, ele assume sua identidade de Catota-Man e vai atrás dela na direção X-CREMENTO. Não tenho certeza de como o texto está relacionado com a cutscene, mas tenho certeza que isso não é importante e jamais será abordado novamente porque estamos falando do jogo do "Homem Meleca-de-Nariz" de 1994, tenho bastante certeza que coerencia narrativa não era o objetivo sendo buscado aqui.

Mas vamos parar de fala-fala e fazer o que viemos fazer: falar da boa e velha catota voando pra todo lado. Sim, porque esse é o principal ataque do nosso herói, meter o dedo no nariz e pegar munição para abater seus inimigos:


Por alguma razão, e não me faça tentar entender as razões desse jogo, existe um power-up na forma de caixa de leite faz seu tatuzão se transformar numa escarrada - sendo um ataque mais rápido e em linha reta. Qual é a relação eu não faço ideia.

Além disso nosso herói conta com seu poderoso arroto, porém é um ataque que precisa ser carregado e por isso não é tão útil assim, ou caso você faça esse comando abaixado no lugar do arroto sai o ataque preferido em onze entre dez alunos da quinta série:


Existe ainda o power up da lata de cerveja, para recarregar seus gases (faz sentido) e da pimenta para transformar o arroto e peido em versões flamejantes deles mesmos, ou até usar o peido como jetpack para voar por alguns segundos. Caso você esteja ficando sem meleca de nariz, não tema também: o jogo é bastante abundante em deixar montes de meleca dos outros espalhados pela fase que nosso herói guarda no seu nariz até a hora que precisar usa-la. Pois é, eu sei.

Mesmo os marcadores na tela são tematicamente apropriados, com sua barra de gases no canto superior direito, e a quantidade de meleca de nariz no superior esquerdo. 

Porém caso esses movimentos e power ups não tenham feito você perder o apetite, temos ainda os cenários repletos não apenas de muco como de... puta merda... de espinhas no chão para estourar e sair aquele pus vigoroso. Ô diliça...


E se caso isso não tenha sido suficiente para provar o ponto do jogo, que tal vermos a animação que ele faz quando você deixa o personagem parado?


Eu poderia colocar mais alguns exemplos, mas acho que deu pra pegar a ideia da coisa. A coisa vai tamanha que, acredite ou não, as crianças dos anos 90 acharam que o jogo força a barra. Quer dizer, sério, para uma criança dos anos 90 achar que nojentice foi longe demais é porque foi longe demais MESMO.

E de fato esse jogo foi longe demais MESMO. Boogerman foi um fracasso tão retumbante que não teve continuação nos anos 90 e em 2014 tentaram fazer um kickstarter para ressucitar a franquia, porém o jogo não atingiu nem 10% da meta. E isso em um mundo onde O BUBSY TEVE UMA VERSÃO MODERNA LANÇADA! O FUCKING BUBSY!

Se isso não é um atestado do quanto você errou com o seu jogo, não sei mais o que seria.


E sabe qual é a pior parte desssa história toda? Boogerman não é um jogo ruim. De verdade, ele é bacaninha. 

Acredite ou não, esse jogo é bastante... hã, eu não consigo usar uma palavra como "bonito" aqui, mas definitivamente bem animado. Algumas cenas tem uma qualidade de animação EARTHWORM JIM, mas sem a dificuldade "eu odeio cada atomo do seu corpo" do jogo mais popular. Claramente foi colocada muita atenção e esforço aqui, a animação de quando você morre é uma das melhores que eu já vi em um jogo dessa geração:


Os controles respondem bem e o level design é decente, ele flerta perigosamente com o estilo "anything goes" de plataforma europeia (vulgo jogo de Amiga), mas não chega a ser ruim realmente. É um bom jogo que pouca gente jogou porque pelamor de deus, né?

Nessa fase, por exemplo, o fundo parece ser carne e tem pus saindo, línguas e orelhas saindo do fundo, e você anda por cima de uma gosma verde que de tão velha já está sólida.

Por outro lado, ele só não é acima de "bom" porque o jogo tem sérios problemas de hit detection. Nunca é realmente claro quando seu personagem pulou em cima dos inimigos (ele também é um "hop'n bop", como diria a SGP) ou quando toma dano por isso, o jogo inteiro é uma grande loteria nesse sentido e isso não é legal.  As lutas com os chefes são o pior expoente disso, como eles são grandes na tela você nunca sabe se conseguiu passar por ele ou tomou dano. O jogo ser repleto de inimigos pequenos que você não consegue acertar também, como esse do GIF acima, torna o jogo mais dificil do que precisaria ser.

Não que a dificuldade seja algo EARTHWORM JIM, mas ele definitivamente é dificil pelos motivos errados. Ainda sim é um jogo até bacana de se jogar desde que você não olhe pra tela.


Hã, pensando bem, taí algo que parece que não funcionar...

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