quarta-feira, 10 de março de 2021

[MEGA DRIVE] CONTRA: Hard Corps (Agosto de 1994)[#647]


Dificuldade em videojogos é uma coisa tricky, embora não é algo que eu sou idealmente contra. Um jogo ser dificil pode ser uma escolha de design, e em vários jogos de sucesso é como o Ninja Gaiden do Xbox ou Cuphead (eu ia chamar de "recente" mas já fazem 4 anos, carai o tempo passa mesmo). E claro, não tem como não lembrar do jogo mais influente da década passada que fez praticamente todos os jogos de ação pegarem elementos do seu gameplay (até mesmo God of War): Dark Souls.

O meu problema não é com a dificuldade per se e sim que nos anos 90 mais frequentemente sim do que não ela não era usada como uma escolha deliberada de gameplay e sim como uma ferramenta barata para tornar o jogo artificialmente mais longo. Eu posso pensar aqui em vários exemplos de jogos que seriam jogos perfeitamente bons, até mesmo clássicos atemporais mas que foram cagados porque ou os produtores ou a publisher meteu a mão no jogo para fazer ele "render mais". 

A Europa tinha umas regras de censura muito doidas, de modo que para proteger a inocencia das crianças todos os personagens foram transformados em robos

Jogos como BATTLETOADSEARTHWORM JIM e THE LION KING são exemplos de jogos que podiam ter arrebentado a boca do balão, mas se tornaram injogaveis pela dificuldade. Assim como DYNAMITE HEADDY e STREETS OF RAGE 3 são excelentes jogos no Japão, mas na América foram cagados pela Sega que deixou o jogo mais dificil pras crianças não poderem terminar ele numa alugada.

E tem, é claro, ainda os que são dificeis apenas porque os caras não faziam a mais remota ideia do que estão fazendo então o level design, detecção de colisão e posicionamento dos inimigos é pavoroso nem tanto por maldade e sim por incopetencia mesmo.

Como de costume, a capa japonesa é a melhor - mesmo que não seja particularmente awesome

Isso sendo dito, aqui e acolá, quando as estrelas estão certas existem alguns jogos que são dificeis porque essa é uma escolha criativa do produtor e quando você pega um jogo dessa série já está avisado de antemão que terá seu couro arrancado. É um acordo previamente conhecido, se você joga isso é porque você sabe no que está se metendo. Esse tipo de jogo eu não tenho nada contra realmente, mesmo que não seja o meu copo de chá, eu acho que as duas partes envolvidas consentem com o que estão fazendo tudo é justo.

Por isso mesmo eu não tenho nada realmente contra a série Contra. Mesmo que talvez Contra: Corpos Duros talvez tenha ido um "pouquinho" longe demais

Eu realmente acho que essa imagem define perfeitamente esse jogo: você fugindo de moto e um cara vem correndo NA PERNA carregando um missil pra tacar em você. Você pode argumentar que isso não faz sentido e não é assim que misseis funcionam... o que é justamente todo o ponto de Contra: Hard Corps.

Bem, a melhor maneira de descrever Contra: Hard Corps é imaginar o que aconteceria se, em cada semana durante o ciclo de desenvolvimento do jogo, a pessoa responsável continuasse exigindo de sua equipe "deixe 20% mais cooler". E a cada vez, a equipe de desenvolvimento voltava às suas pranchetas, adicionando o máximo que podiam, até que, finalmente, em vez de repetir seu pedido por mais grandiosidade, a cabeça do designer principal explodiu. Não tenho ideia se foi assim que o jogo foi realmente feito, mas é quase impossível imaginar qualquer outro método para produzir um jogo como este. 

Contra: Hard Corps, tal qual seu predecessor CONTRA III: THE ALIEN WARS no SNES, é basicamente uma sequencia de cenas do tipo "qual a coisa mais awesome fuck yeah que a gente consegue fazer agora?" uma emendada na outra. 

Foi aqui que pediram um mecha gigante que arremessa carros em um lobisomem de óculos escuros e braços bionicos?

Você começa o jogo correndo por uma chuva de fogo inimigo enquanto arrasa um pequeno exército, antes de lutar contra uma formiga de metal gigante que atira lasers e, em seguida, atravessa um terremoto para lutar contra um robô lançador de chamas que rompe um prédio só para chegar até você. Matar esse mecha tomba outro prédio pelo qual você corre para lutar contra um robô de 10 andares que joga carros em você. De lá, você monta em uma hélice giratória que te arremessa pelo ar, antes de lutar contra um cara em um suit com mãos de espada que ele usa para cortar um arranha-céu.

E essa é apenas a primeira fase.

Viajar DENTRO do avião é para quadradões!

Contra: Hard Corps praticamente não tem downtime. Esse jogo não acredita em dar a você uma chance de se esquentar, ou adicionar algumas seções lentas após uma batalha difícil para permitir que você recupere o fôlego. Você simplesmente pula de cabeça e vai de uma luta de chefe maluca, para uma luta de chefe ainda mais doida, e daí para uma luta de chefe "Puta merda, aquela coisa queimou uma cidade inteira?". 

No meio disso, o melhor que pode haver são algumas áreas onde você SÓ tem que lutar contra algumas dezenas de inimigos do tipo bucha de canhão enquanto eles tentam preencher a tela inteira com balas, mas essas estão basicamente lá apenas para fornecer um ponto de demarcação entre uma batalha épica e o próximo. Em um jogo normal, essas partes seriam uma tela de contagem de pontos.

E quando você pensa "Como isso pode ficar mais louco?" você entra em uma luta contra o signos de Gêmeos. Sim, esse é um jogo em que você mata até constelações porque sim. Não há nem uma palavra para descrever esse tipo de loucura.

Senhor, o senhor já fez o seu cartão Renner? Senhor, volta aqui senhor!

Porém, todavia, contudo, entretanto, tanta insanidade não vem sem um preço. Qualquer pessoa familiarizada com videojogos já sabe que a palavra “Contra” é basicamente “ridiculamente difícil” em videogueimes. Porém nem mesmo o nome "Contra" pode chegar perto de transmitir o grau de dificuldade de que estamos falando aqui. Chamar Hard Corps de o jogo mais difícil da série Contra é como chamar Michael Jordan de o melhor jogador de basquete dos anos 90 ou o Barney como o melhor personagem de How I Met Your Mother. Todas são afirmações verdadeiras, mas elas falham em transmitir o quão grande é a lacuna entre isso e tudo o que vem em segundo lugar (CONTRA III: THE ALIEN WARS, Pernalonga e Marshal Ericksen, respectivamente). Até que você tenha visto em primeira mão, você simplesmente não consegue imaginar o quão dificil esse jogo é.

Contra: Hard Corps é difícil em uma escala apocalíptica. É tão difícil que até o John Wick deixaria contra atirar no seu cachorro. Antes de operar, neurocirurgiões se acalmam dizendo uns aos outros “Por que estamos tão preocupados? Não é como se estivéssemos jogando Contra: Hard Corps nem nada”. Agiotas carregam cópias deste jogo para intimidar as pessoas que lhes devem dinheiro. A Física Quantica acha que este jogo devia pegar um pouco mais leve.

Matando as constelações, um cavaleiro de ouro por vez

Não acredita em mim? Tenha isto em mente: este jogo é tão difícil que eles tiveram que torná-lo mais fácil para o mercado japonês. Embora Contra sempre foi um jogo de one hit death, na versão japonesa eles mudaram a formula da franquia para pegar mais leve dando uma barra de vida para os personagens.

Isso significa que alguém da Konami deu uma olhada no jogo e decidiu que, embora fosse bom, não havia como ninguém no Japão - você sabe, aquele país onde as pessoas podem realmente vencer todos aqueles shmups impossíveis como Ikaruga com 8 bilhões de tiros na tela sem usar continues e eles tem que  inventar três novas notas de letras acima de “A” para classificar as performances em jogos de luta - ia jogar, a menos que tornassem um pouco mais fácil. Isso é o quão difícil é esse jogo.

Tudo o que eu estou dizendo é que com certeza jamais compre um carro usado de alguém que alega já ter terminado sem cheats.

Não importa se o busão tá lotado o suficiente a ponto do pessoal estar andando no teto, sempre tem um atrasado correndo pra pegar ele


De qualquer forma, se esse nível de desafio atrai as pessoas ou não é em grande parte uma questão de gosto pessoal e, como eu disse, quando você decide jogar fucking Contra vc sabe no que está se metendo.

E, em defesa do jogo, pode ser um jogo insanamente difícil mas na maior parte, é justo. Não existem muitas mortes virtualmente inevitáveis ​​ou mortes sacanas baratas e, contanto que um jogador preste muita atenção, jogue com habilidade, tome boas decisões, reconheça os padrões do chefe e tenha reflexos de todos os ninjas que já existiram juntos, ele tem uma chance de conseguir jogar por até um minuto inteiro sem morrer. 

A coisa de poder escolher o caminho para ter fases diferentes é legal, mas acontece bem pouco

Pessoalmente esse jogo não é a minha coisa, mesmo dentro do nicho de run'n guns estupidamente dificeis você tem a opção de jogar jogos que dá pra ficar vivo por mais de um minuto como SUNSETRIDERSGUNSTAR HEROES ou mesmo CONTRA III: THE ALIEN WARS

No máximo dá pra recomendar se você tem curiosidade para ver o quão dificil um jogo pode ser. Ou se você estiver jogando com game genie, para ver o quão ridiculamente anos 90 radical esse jogo pode ser - o que sempre foi o ponto forte da série Contra, afinal

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