sábado, 13 de março de 2021

[MEGA DRIVE] PULSEMAN (Julho de 1994) [#650]



Uma coisa que provavelmente você não sabe é que a mitocôndria, a parte da celula que converte oxigênio em energia, já foi um ser vivo independente que um dia (a bilhões de anos atrás) foi engolida por uma célula maior e acabou sobrevivendo ali ao ponto que ao longo de gerações e gerações se fundiu com a celula maior. Estando assimilada a tanto tempo, hoje ninguém mais lembra que as mitocondrias já foram um ser independente - nem mesmo ela própria.

E isso explica muito bem o que é a Game Freak. Hoje todo mundo conhece a Game Freak como "aquele estúdio dentro da Nintendo que faz os jogos Pokémon", mas é fácil esquecer que um dia a Game Freak já teve vida própria antes de ser assimilada pela Nintendo.

E que empresa a Game Freak é enquanto produtora independente? Uma bem esquisita.


A Game Freak tem problemas, acho que todos podemos concordar com isso. E com efeito eu já havia coberto um jogo da GF antes, e puta que o pariu se não é um dos jogos mais bizarros que eu já joguei na minha vida: MAGICAL TALULUTO-KUN.

Caso você não esteja ligando o nome a pessoa, eu te lembrarei do nível de estranheza que estamos falando:


Hã... você está enfrentando um feto voador enquanto um vulcão totalmente chapado faz uma cara de "aaah, soltei um gás...". UADAFÃQUI?! Cara, a Game Freak realmente faz jus ao nome. Mas seria esse o caso de Pulsohomem? Vamos ver a história desse jogo aqui:

No futurista ano de 1999 (esse jogo é de 1994), o famoso cientista e engenheiro da computação Dr Yoshiyama não apenas é a liderança mundial em pesquisa sobre inteligencia artificial, como de fato ele conseguiu criar uma Inteligência Artificial real. Ele chamou sua criação de C-Life e conseguiu torná-la consciente, capaz de pensar e sentir. 

Entretanto esse jogo concorre a título de jogo mais realista de todos os tempos, já que a reação do Dr. Yoshiama ao criar a primeira waifu 2D do mundo é a mais compreensível possível:


Não apenas o Dr. se apaixonou por sua waifu, mas como desenvolveu uma forma de ir para o mundo virtual consumar o seu amor. Eu tenho que dizer que nunca encontrei um jogo com o qual eu posso realmente me identificar, taí algo pelo qual vale a pena lutar!

Mas enfim, nosso herói de uma geração carimbou a passoquinha da C-Life e o resultado final de seu amor foi o nascimento de uma garoto meio humano, meio inteligencia artificial chamado Pulseman. E caso você esteja se perguntando como possivelmente em que realidade isso faz o menor sentido logistico, como uma coisa dessas pode sequer ser fisicamente possível... bem vindo a um jogo da Game Freak.

Você explica jogos da Game Freak, apenas aceita.

Gamefreak, really?!

Enfim, Pulseman tem o poder de canalizar eletricidade através de seu corpo, além de poder entrar e sair do mundo virtual que ele usa isso para combater o crime because GREAT JUSTICE!


... embora nenhuma gamefreakice prévia me preparou para ver o desenvolvimento do óvulo Pulseman... porém o que vocês não sabiam é a dramática virada shakespeariana desse jogo: um longo período de exposição a realidade virtual a mente do Dr. Yoshiyama virou passoca (como aprendemos que acontece em THE LAWNMOWER MAN) e agora ele é o terrível vilão criminoso Dr. Waruyama (o trocadilho é que "warui" é maligno em japones) que agora lidera a terrível Galaxy Gang!


Não surpreendentemente, muitas dessas ideias foram reaproveitadas em Pokémon alguns anos depois como a Galaxy Gang virou o Team Galactic em Pokémon Ruby/Sapphire. Na verdade o próprio Pulseman foi reaproveitado como Pokémon, porque se isso não é um Rotom meu nome é Paulo Isidoro Oswald de Souza. Com efeito, esse jogo foi feito pelo mesmo exato time que faria os jogos dos monstrinhos: direção de Ken Sugimori e Satoshi Taijiri, trilha sonora de Junichi Masuda e tudo mais.
Mas a pergunta que realmente importa é: esse jogo é tão bizarro quanto sua premissa promete?

Infelizmente, não. 

Os gráficos lembram os jogos do Mega Man para Game Boy Advance, o que é uma coisa impressionante para um jogo de Mega Drive

A primeira vista, Pulseman parece a versão do homem pobre de Mega Man X para o Mega Drive - o que é algo bom, especialmente considerando as limitações de cores do Mega Drive. Mas as semelhanças terminam aí porque nosso não-bombardeiro vermelho não dispara nada. Ele tem apenas um ataque corpo a corpo.

Só que quando você corre alguns metros então o filho do amor maravilhoso entre um homem e sua waifu fica energizado e pode disparar um projétil de energia. Hã, é uma mecanica esquisita ter que pegar embalo para poder dar um tiro e definitivamente não é com o que você pode contar sempre.



Até porque tem um uso mais útil para a sua carga de eletricidade ganha ao correr: Pulsohomem pode se transformar em uma bola de energia e quicar pelas paredes da fase ao estilo ROCKET KNIGHT ADVENTURES só que com menos controle do personagem. Então esse jogo é meio que uma versão do homem pobre de Mega Man e do Sparkster, olha só - na verdade esse jogo deveria se chamar originalmente Spark, mas o nome foi mudado por causa do gambá da Konami.

Adicionalmente, essa bola de energia também que o Pulseman viaje por coisas como fios e parafusos. E afora isso de poder entrar em fios, que nem é isso tudo, o jogo não é particularmente criativo e o level design não é particularmente impressionante (o que também não era o forte da Game Freak em Taluluto-kun).



Não me entenda errado, é um jogo bom, tem gráficos bonitos, os controles respondem bem, mas realmente falta aquele algo a mais para esse jogo ser realmente memorável. Porque se você ver todas as coisas pelas quais esse jogo é lembrado não tem realmente haver com o gameplay do jogo: ser um jogo da Game Freak para a Sega, parecer um ripoff de Mega Man, pegação de waifus 2D. O resultado final ainda é acima da média, mas a média não é exatamente essas coisas tb né?

O design de inimigos pobre tb é outro erro que impede este jogo de ser um verdadeiro clássico. Tenha em mente que os chefes são bastante imaginativos e bem feitos na maioria das vezes, apenas os inimigos comuns são abaixo da média. A maioria dos mobs faz pouco mais do que se mover (o mesmo problema de inimigos pouco interativos que eu apontei em SONIC & KNUCKLES), o que seria bom se eles fossem posicionados de forma criativa, ou pelo menos adequadamente ... mas eles não são. 



Na verdade, os mobs costumam estar mal posicionados, geralmente fora do seu campo de visão mas ainda no seu caminho, então você não pode evitar ser atingido ao pular ou tentar acompanhar as áreas de rolagem automática. As fases geralmente têm apenas alguns inimigos espalhados e parecem um tanto vazias, o que é provavelmente uma coisa boa considerando o quão mal a Game Freak os implementou. Teria sido bom ter encontrado mais inimigos que forçam os jogadores a usar os poderes do herói de forma mais criativa. Uma variedade maior também teria sido útil, uma vez que existem apenas cerca de dez tipos de mobs. 

A única mecanica diferencial nesse jogo é que em algumas fases tem água e você perde seus poderes elétricos. Então... yay?

Enfim, Pulseman é um jogo mediano mas que podia ter ido um passo além - especialmente quando você considera o que a Game Freak fez e o que ela seria capaz de fazer. O level design é levemente abaixo da média; os controles, gráficos e a música, porém, são algo especial para os padrões do Mega Drive. A história ajuda a elevar este jogo a um nível mais alto, apesar do fato dela não ter uma grande resolução (não existe um grande confronto dramático do tipo "Pulseman eu sou seu pai" nem nada).

Pulseman nunca foi lançado fora do Japão, embora esteve disponível para download no Sega Channel por um tempo, e não se pode dizer que seja um crime ele não estar disponível para o resto do mundo. É um jogo de plataforma bem feitinho, mas vai só até aí.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
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