terça-feira, 23 de março de 2021

[SNES] BONKERS (Outubro de 1994) [#661]



Diferente do que acontece no Brasil, os canais americanos fazem apenas uma pequena parte da programação exibido em sua programação, especialmente telejornais. O resto da programação, especialmente séries, é adquirido diretamente de estúdios independentes. Por exemplo, Buffy foi na verdade feito pela Mutant Enemy Productions que pertence ao Joss Whedon, e então vendido para a Fox (na verdade a Fox compra o pitch meeting e então banca a produção, mas vc entendeu a ideia).

Na maior parte das vezes tais contratos são exclusivos; ou seja, uma produção pode ser exibida apenas em um canal. Mas nem sempre. É aqui que entra uma coisa chamada modelo de Syndication. Quando está em syndication uma série pode ser vendida para qualquer canal, as vezes passando em dois canais diferentes ao mesmo tempo.

Algumas séries eram feitas pensando diretamente ser feitas para serem syndication (como STAR TREK THE NEXT GENERATION que passou em vários canais diferentes ao mesmo tempo), mas a maioria ia pra syndication depois que a emissora original não tinha mais interesse nela. Por exemplo, a Fox vende as temporadas antigas para outras emissoras pra fazer uma grana extra com algo que não importa mais pra eles.


Tá, mas e o que isso importa para o texto de hoje? Importa que a muito tempo (desde o começo dos anos 80) a Disney tinha a ideia de ter o seu próprio bloco de desenhos animados vendidos via syndication. Não apenas pela grana (claro, também pela grana), mas a ideia de ter vários canais diferente simultaneamente exibindo o seu produto pelo país todo iria fixar a sua marca fortemente no imaginário das crianças.

Lembre-se que a Disney ganha muito dinheiro com os produtos dela (filmes, séries, etc), mas o que realmente faz a Disney trilhardária é o merchandising associado as suas marcas: parques temáticos, camisetas, capas de caderno, camisetas, mochilas, enfim a porra toda. Então, sim, ter uma ferramenta para marcar seus produtos a ferro e fogo no coração e mente das crianças era um ótimo negócio. Ergo, um bloco de desenhos animados para ser vendido aos borbotões via syndication.

Nascia assim o Disney Afternoon, lançado em 1990 e que durou até 1999. Na sua formação original tinha Ursinhos Gummi, DUCKTALESCHIP'N DALE RESCUE RANGERS e Talespin (um spin-off muito esquisito de THE JUNGLE BOOK em que o Baloo é um piloto de avião just because), eventualmente recebendo adição de outros cartoons como DARKWING DUCKGOOF TROOP e a série de TV de DISNEY'S ALADDIN.



Como dá pra ver, tudo isso virou videojogos (dos quais só DARKWING DUCK não é bom, até que saiu muita coisa interessante disso) entre dezenas de outros produtos licenciados. No Brasil as coisas não funcionam bem assim e originalmente os desenhos eram vendidos avulsos. Mas eles conseguiram um acordo com a Globo para exibir o programa de 93 a 96 dentro da programação infantil da emissora (com o Zé Carioca como apresentador).

A partir de 97 o bloco foi acertado com SBT onde ganhou um programa próprio, uma apresentação (e posteriormente uma novelinha) com crianças brasileiras apresentando que até 2002. Nos outros países o Disney Club tinha mais o formato que a gente conhece de programa infantil (até o Justin Timberlake começou a carreira como apresentador do Disney Club), mas a versão brasileira foi adaptada por Cao Hamburger, que como o nome artistico já diz é um cara muito criativo e foi diretor e roteirista do Castelo Ra-Tim-Bum antes disso. 

Foi especialmente através do Disney CLUB que eu assisti a maior parte desses desenhos que, naquela época, não tinha nada realmente melhor no horário. Ou em muitos horários depois disso, sejamos honestos.


Eu gostava do desenho do Timão e Pumba, de Super Patos e Aladdin (embora olhando em retrospectiva esses dois ultimos não seja realmente desenhos muito bons), mas sabe do que eu não gostava mesmo na época? Um desenho que sempre me fez revirar os olhos e dizer "aff, isso não" mesmo para os padrões de baixa qualidade que tinhamos nos anos 90 era Bonkers. Puta que pariu como eu detestava esse desenho...

"Uma Cilada para Roger Rabbit", de 1988 dirigido por Robert Zemeckis (de De Volta para o Futuro, Forest Gump e Naufrago) é um dos maiores sucessos da Disney até hoje, tendo ganhado 4 Oscars e arrecadado pelo menos cinco vezes o seu orçamento. A ideia do filme é a seguinte: uma realidade onde humanos e desenhos animados coexistem, e os cartoons são filmados por desenhos animados atores. 


A grande estrela dos cartoons, Roger Rabbit é acusado de um crime que ele não cometeu e agora ele tem que trabalhar junto com o detetive durão e seriozão humano para provar sua inocencia. A clássica comédia de buddy cops, onde um deles é um cartoon wacky e o outro um humano sério. E que por algum motivo o coelho é casado com a hottest redhead dos cartoons, just because.


É um filme legal, certamente, mas sabe o que mais a Disney achou que seria legal? "Hey, vamos pegar essa ideia e fazer um desenho animado com ela!". Então surgiu assim Bonkers, um desenho onde um cartoon fracassado tenta a carreira de policial junto com um humano seriozão que não aguenta suas merdas de cartoon... só que como é um desenho animado, o humano também é um desenho, só que de outro tipo... eu acho. Espera, o que?


Hã, a ideia de que em um desenho existem humanos que são cartoons e cartoons que são cartoons é meio esquisita, mas não é a pior coisa realmente. Leva um tempo, mas você consegue suspender a descrença para isso. O que você não consegue se acostumar é o quão PUTA QUE PARIU IRRITANTE O PROTAGONISTA É!

Não, sério, acho que esse é o personagem mais chato a protagonizar um desenho da Disney, a vontade de socar sua cara mal animada é incomensurável! Ele tem uma voz aguda desgraçada, o ciclo de atenção de uma criança que injetou heroina com açucar na veia e sempre fazia a coisa mais estupida possível que parece que esse desenho é protagonizado pelo Jar Jar Binks.

Bonkers não é um desenho particularmente bonito, não é particularmente bem animado, não é engraçado e consegue ser irritante ao ponto da insanidade cada momento que o protagonista está em cena. O que durou quatro temporadas porque claramente Deus nos abandonou a muito atrás e como quase tudo que passou no Disney Afternoon, um videojogo feito pela Capcom.


O que raramente dá errado, com exceção de DARKWING DUCK, you suck pal. E não dá errado aqui também.

A esse ponto de 1994 tanto a Capcom quanto a Konami conheciam tão bem os hardwares de 16bits que faziam jogos até mesmo melhores que as first partys sem se esforçar muito (especialmente no caso do Mega Drive, mas também não é preciso tanto assim pra ser melhor que a Sega) e mesmo os jogos feitos sem muito esforço, meio que no automático, são solidamente bons. Como esse daqui.

O jogo em si é, como diria a SGP, um side-scroller hop'n bop bastante típico, onde os inimigos são derrotados saltando sobre eles, e o progresso é feito movendo-se para a direita o mais rápido possível. Nada que no quarto ano de vida do SNES e sétimo ano do Mega Drive já não tenha sido feito a exaustão, porém esse jogo tem pequenas coisas divertidas que ajudam a manter o jogo pelo menos interessante. 


Existem muitos colecionaveis no jogo, de modo que sempre há o que explorar. Por exemplo eu terminei com apenas 1/3 dos corações extras de energia que você pode coletar, e eu não particularmente rushei o jogo então realmente tem bastante conteúdo. Outra coisa interessante para se fazer é que o jogo mantem um registro do tempo de cada fase, então ele meio que é o primeiro jogo que incentiva o speed run e a você bater o seu próprio recorde - até porque esse é um jogo curto, afinal.

A coisa do speedrun, e eu entendo que não é algo desprezível porque hoje tem um publico bem grande que gosta disso, é auxíliada principalmente pela mecanica principal do jogo: você tem uma barra de dash que fica enchendo sozinha e quando você você aperta o Y seu pesronagem sai correndo até esbarrar em alguma coisa - algo que lembra muito, muito mesmo TINY TOON ADVENTURES: BUSTER BUSTS LOOSE da Konami para SNES.


Isso quer dizer que se você conhecer a fase e tiver bons reflexos dá pra explorar tentar bater tempos cada vez mais rápidos na fase, explorar caminhos e hop'n bops na cabeça de inimigos que te poupem preciosos segundos - o que certamente é uma forma de se divertir para varias pessoas, então é cool.

Agora o mais legal é que isso não vem ao custo do jogo ser injogavel de outra maneira, que é um dos (vários) problemas de SONIC THE HEDGEHOG. Não, o jogo pode ser perfeitamente jogavel como uum plataformer comum, a coisa do speedrun é um opcional se você quiser fazer. Não é como se o jogo tivesse que ser jogado dessa maneira mas nem isso funcionasse direito (novamente, como eu já entrei em muitos detalhes falando de SONIC THE HEDGEHOG), então se é opcional e tem quem goste é bacana. Nós podemos ser amigos dessa forma.


Embora o jogo não pareça especialmente impressionante para o ano em que foi feito (no final de 1994 já haviam jogos muito bem animados), os gráficos são ok para um jogo Disney/Capcom. Tem até algumas algumas animações exclusivas quando você leva certos golpes, o que dá um toque maneiro. 

O jogo também merece crédito por sua tela de contínue: um standup em que uma dinamite antropomórfica conta piadas horríveis. A única maneira de continuar jogando é escolher rir, por mais difícil que seja escolher essa opção dada a qualidade das piadas. 


Bonkers não é um jogo ruim, mas tem dois problemas. O primeiro é que esse jogo foi lançado tarde demais: para um jogo do final de 1994, não é nada particularmente especial. Se tivesse sido lançado uns dois anos possivelmente antes teria sido um clássico como o próprio TINY TOON ADVENTURES: BUSTER BUSTS LOOSE que ele se inspira tanto. Se bem que o jogo do Perninha tem um hop'n bop mais satisfatório e é mais bonito, se bem que isso é mais pq Tiny Toon é um desenho mais bonito que Bonkers.

O que nos leva ao segundo problema: esse jogo é baseado em um cartoon desgraçado de ruim. Mesmo que o jogo fosse 15x melhor, ainda sim eu sequer consideraria pegar ele na locadora pq é fucking Bonkers, vai pro inferno com essa merda. Então desde o começo essa sempre foi  uma venda muito dificil de ser feita.


A Capcom inclusive poderia investir mais tempo e recursos para deixar o jogo mais redondinho e ser tão bom quanto Tiny Toon, mas... cara, sério, quem é que vai investir tempo e dinheiro em Bonkers?

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 074