quinta-feira, 4 de junho de 2020

[AÇÃO GAMES 051] BEETHOVEN: THE ULTIMATE CANINE CAPER! (SNES, 1994) [#391]





Hoje, crianças, não é um dia comum. Ouso dizer, inclusive, que dia algum será um “dia comum” novamente tão cedo, quiça jamais. Quando os epidemiologistas dizem que o mundo de antigamente não existe mais, eles não sabem o quanto estão certos. Não por causa de qualquer vírus, mas pelo que aconteceu hoje. Hoje, saibam vocês, foi o dia que eu transcendi a humanidade




Não, não desse jeito. Pensando bem, quase desse jeito também. Porque tal qual Dio Brando, eu também deixei para trás minha humanidade e foi por escolha. Escolha de quando eu decidi começar este projeto que tamanhas agruras me trouxe. E hoje eu atingi uma marca inacreditavel nesse projeto, uma milestone de sofrimento e pancreas feio: hoje é o dia que eu falo não apenas sobre um jogo hediondamente ruim qualquer, mas o CENTESIMO jogo a receber a tag de “The Worst of”.

Sim, parabéns para mim! Chegamos a marca de nada menos que CEM, eu disse CEM jogos abissalmente pavorosos jogados! Durante cem vezes eu contemplei todo o horror do qual a raça humana é capaz, e de alguma forma eu segui em frente. O que me motiva? O que faz com que eu retenha a sanidade e devore meus próprios metacarpos em um ato de loucura? Será a esperança de um premio reservado a minha persistencia estóica? Será que o agridoce nectar da sanidade a muito deixou meus lábios ressequidos? Quem poderá realmente dizer?

SE VOCÊ ACHA QUE É RUIM JOGAR CEM JOGOS RUINS, EXPERIMENTA TER QUE OUVIR VOCÊ RECLAMAR SOBRE CADA UM DELES

Oh, Jorge, minha doce voz rabugenta que assola meus pensamentos, o que seria de mim sem você?

UMA PESSOA SÃ.

Dificilmente. Seja como for, suponho que eu deva então falar do jogo merda baseado em um filme caça-niquel bem safado. Com vocês, Beethoven 2dn.

Vamos lá então: uma moda que existia nos anos 90 eram filmes de crianças muito espertas infernizando tiozinhos aleatórios que podem ou não ter feito por merecer. Filmes como Esqueceram de mim, Denis o Pimentinha, O Pestinha e Olha Quem está Falando era toda fúria de fogo e trovão nessa época. E no afã de engavetar mais alguns dinheiros, um executivo então pensou “hã, parece que as pessoas gostam desses filmes de crianças ferrando a vida de um cara... mas se elas gostam disso mesmo com crianças sendo repulsivas, certamente elas vão gostar muito mais se no lugar de uma criança tiver um... DOGUINHO!”.



Eu realmente não posso disputar com essa lógica. Então eles pegaram um bom e velho filme de criança pestinha aprontando mil e uma confusões na vida de um cara, e substituiram esse elemento desagradavel (vulgo criança) por um cachorro de 120 kg. O que até hoje consta como o melhor recasting da história do cinema. Nascia assim Beethoven.

Então Beethoven é um filme de cachorro, mas felizmente é um filme de cachorro antes do crime contra a humanidade que é Marley & Eu. Porque cybercatmaidloli-sama seja louvada, depois desse filme TODO filme de cachorro decidiu que o cachorro do filme tinha que ter uma morte triste no final. Mas é todo. Vão se foderem, quem é o doente que acha que isso é divertido? A maior prova que ou Deus não existe, ou ele existe e é uma entidade de pura maldade incompreensível Lovecraftiana é que cachorros morrem. Eu não quero um lembrete disso no meu entretenimento, obrigado.



Então nascia assim Beethoven, que no Brasil recebeu o subtitulo inspirado de ”O Magnífico”. Não faço ideia do porque, tho, suponho que seja para facilitar não confundir com o outro Beethoven que não era um dogão capaz de produzir mais baba do que as cataratas do Iguaçu. De qualquer forma, escrito pelo mestre supremo dos filmes de anos 80 John Huges (Curtindo a Vida Adoidado, O Clube dos 5, Mulher Nota 1000, Esqueceram de Mim e o próprio Denis o Pimentinha), Beethoven é um bom filme sobre um dogão doguiniando e nenhum doguinho morre no final. Good stuff.

Na verdade tão good que um orçamento de 18 milhõe de dolares tenfoldeou essa grana só em bilheteria - para grande surpresa até mesmo dos seus criadores. Assim, foi tocada uma corrida a moda louca para fazer um segundo filme do São Bernardo mais famoso do cinema. Feito na corrida, Beethoven 2nd estreou no ano seguinte. Agora, como você tira um filme sobre cachorros da bunda com menos de um ano entre produção e lançamento no cinemas?


Super easy, barely an inconvenience! Apenas encha o filme de ... PUPPIES! 10/10, filme do ano.

Então em Beethoven 2 a trama é que ele encontrou o amor da sua vida cananina, teve quatro filhotes com ela mas então a mãe foi levada por pessoas muito más e agora a familia Newton tem que criar essas ferinhas todas, o loco meu! Então o filme é basicamente sobre puppies puppizando, quaase uma versão cinematográfica de Animal Close Ups with Wide Angle Lens

That Craig is a Freakin Genius I tell ya...He's like an idea machine.

E sabe o que um filme feito as pressas pede? Sanatori! Um jogo merda feito mais na corrida ainda! É claro! Nascia assim o crime contra os videogames conhecido como Beethoven 2nd para o Super Nintendo, PC e Game Boy! (uma versão para Mega Drive e Game Gear chegou a ser iniciada, mas nunca foi lançada).

Mas o que torna esse jogo tão fenomenalmente ruim, o que faz dele o orgulhoso detentor de centésimo jogo bosta desse blog? Varias coisas.

Em primeiro lugar...

A tela de título diz que o jogo se chama Beethoven 2nd, mas a caixa o chama de Beethoven: The Ultimate Canine Caper. Normalmente, eu apontaria que os desenvolvedores sequer decidirem o maldito nome do jogo antes de lança-lo não é um bom presságio, mas como esse é um jogo feito na corrida de um filme igualmente feito a toque de caixa, bem, você já sabe exatamente como isso vai ser.

O segundo grande problema desse jogo é que controlar o seu amigo canino é hediondamente ruim. Olha, caras, eu entendi o que vocês quiseram fazer: toda coisa do filme é que o São Bernardo é um puta cachorrão pesado e toda comédia vem daí. Beleza, eu entendo você querer dar uma sensação de peso ao seu personagem no jogo para você sentir que está jogando com um bichão de cento e poucos quilos. Agora, se me permitem uma pequena sugestão tecnica, NÃO FAÇAM ISSO EM UM JOGO DE PLATADORMA SE O JOGADOR VAI SE SENTIR ESTAR CONTROLANDO UM MALDITO TIJOLO DE SEIS FUROS, CARALHO!

Se algum crédito tem que ser dado a esse filme, é que Tchaikovsky é um excelente nome para cachorro

Sério, Beethoven não é apenas pesado de se controlar, você tem que literealmente pegar tração com ele para pular qualquer obstáculo nesse jogo. E eu digo todo mesmo, não tem um único gravetinho (e você toma dano de tudo, incluindo gravetinhos) que você não precise embalar o cachorrão na corrida para pular. Por que causa, motivo, razão ou circunstancia alguém achou que fazer um simulador de carro atolado na lama seria divertido como videogame está além da minha mais louca tentativa de compreensão.

Minha fé na raça humana morreu no dia em que alguém disse “sabe o que esse jogo precisa? Passar a sensação que você está com um chevetão 86 no barro, é isso que esse jogo precisa!”. 

Controlar o Beethoven não seria tão problemático se você não tivesse que evitar tocar em absolutamente tudo nesse jogo. Você sabe, quando seu personagem é do tamanho e do peso de um cavalo adolescente, você poderia achar que faz sentido ao menos poder pular nos inimigos. Mas não, Beethove NÃO PODE ENCOSTAR EM NADA. E por nada, eu quero dizer ABSOLUTAMENTE NADA. Ou tudo. Porque não encostar em nada quer dizer encostar em tudo, então suponho que eu deveria dizer "não encostar em tudo" ou "encostar em nada". Não sei, preciso de um momento. Estou confuso sobre como o idioma funciona.


Pule essa cerca sem encostar nela, ela vai te causar dano.


 O que acontece se um São Bernardo de 120 kg pular em um poodle com 1/500 do seu peso? Exatamente, o Poodle leva a melhor.


Esse jovem radical do skate, um jovem tão descolado que você suspeita que as palavras "tubular" e "gnarly" foram inventadas apenas para descrevê-lo? Não toque no jovem. Isso vai machucá-lo, apesar da tela mostrar que Beethoven tem quase o dobro do tamanho dele e, dessa altura, esmagaria a criança com facilidade.


E é claro, tema esse galhinho que mal dá para diferenciar do cenário de fundo! Tema esse galho, o mal encarnado e ruína de cães!!!



E, como não podia deixar de ser, temos então o bom e velho momento agora que todos vocês estavam esperando: MAS CALMA QUE PIORA.

Isso porque controlar essa pangordia já seria sofrimento o suficiente, mas isso empalidece diante da forma que esse jogo é constituído. O objetivo aqui é resgatar os quatro puppies do nosso herói, em jornadas de duas fases para cada puppie. A primeira fase é relativamente normal como um jogo de plataforma (não que controlar esse cachorro possa ser chamado de qualquer coisa como “normal” em qualquer mundo civilizado, mas enfim). No final da primeira fase você então encontra o seu pimporrucho e agora na segunda fase tem que trazer ele de volta para casa.


E por “trazer ele de volta para casa” eu quero dizer que literalmente você tem um botão para agarrar o filhote com a boca e carregar ele. Sim, exactamundo, metade desse jogo desgraçado da muléstia não é nada senão uma grande missão de escolta. Enquanto você está com o puppy na boca você não pode latir, a única forma de ataque do nosso campeão, então você tem que dividir entre fazer a fase normalmente (o que já não era divertido) e parar o que está fazendo para carregar o seu pulguentinho júnior.

Gente, quando eu digo que um jogo de plataforma precisa de uma mecanica única que o defina eu NÃO estou falando de colocar a porcaria da desgraça da merda de uma missão de escolta em um jogo que já era bem ruim por si só! Sério, qual é o maldito problema de vocês?!? O tem de errado com esses peidorreiros farofentos, não pode ser real uma coisa dessas!

Esse é Beethoven - grande o suficiente para assustar um leão da montanha, tem problemas de pisar em galhos. Aposto que o leão da montanha também não treta com os galhos.
O maior inimigo deste jogo é, sem dúvida, o som. Eu sei que essa é uma reclamação que eu faço quase exclusivamente de jogos do Mega Drive por motivos obvios, mas esse daqui leva o bolo sem dúvida. Imagine, se você puder, que você está serenando através desta maravilhosa região enquanto as obras de Beethoven (o compositor, não o cachorro) tocam ao fundo em rendiçõe de 16 bits destas. Como o som do SNES não é terrível, não temos um grande problema aqui.

Isso até você fazer a fase de escoltar o filhote, aí então adicione o latido quase constante de um poodle de 16 bits por cima. Porque, claro, as coisas já não estavam ruins o bastante nesse jogo sem ele precisar fazer você evocar sentimentos de Toad em você

SE DEUS QUISER AGORA ELA CALA A BOCA

Esse é Beethoven 2nd caso os desenvolvedores já tenham decidido que esse é o nome ou não. É justo compará-lo ao jogo Wayne's World de SNES - ambos foram lançados na mesma época, ambos baseados em filmes não-blockbusters e ambos feitos por desenvolvedores menores. Beethoven é levemente melhor - ok, não melhor, menos horrendo - do que o Wayne's World, porque não tenta estágios de labirinto ou fazer Bohemian Rhapsody parecer horrível saindo de um SNES. 

Mas isso não quer dizer muito realmente. As duas melhores coisas que se pode dizer desse jogo realmente são que: A) Ele não é Wayne's World, mesmo que por muito pouco e B) Ele é curto. Acho que nada resume melhor esse jogo do que o fato que comemoramos nos livrar dele em menos de vinte minutos.

E, bem, esse foi o centésimo jogo com a tag THE WORST OF! Parabéns para mim pela marca de cem jogos lixo jogados, e que venham os próximos cem jogos de sofrimento e dor! 


... não, espera...