Em junho de 1992, no Rio de Janeiro aconteceu talvez o evento mais importante dos anos 90: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Eco-92. Não apenas porque foi a primeira conferencia sobre meio ambiente em mais de vinte anos, mas nunca a preocupação com o futuro do planeta recebeu tanta cobertura e atenção.
Até a Eco 92, as pessoas tinham como proteção ao meio ambiente apenas salvar uns bichinhos fofinhos que você via no zoológico mas na real não mudaria nada sua vida. Dessa vez não, foi a primeira vez que as massas tomaram noção de uma coisa muito importante: foda-se os pandinhas cute cute, a gente está tornando a Terra inabitável pra gente! E não é daqui a 5 mil anos, é até o final desse século!
Isso é realmente importante, e é realmente importante que esse assunto faça parte do senso comum do cidadão mediano. Uma consequencia até certo ponto previsivel é que isso spawnou uma leva de desenhos animados de concientização ambiental nos anos 90 como o famoso Capitão Planeta, Free Willy e Widget, the World Watcher.
Widget é um alien de uma raça de observadores de mundo, que se metem em planetas que estão fodendo com seu meio ambiente para coloca-los na linha. Parece uma coisa meio agressiva colocando assim, de modo que para aliviar a tensão nossos intrometidos vizinhantes são desenhados dessa forma:
Sério, esse é o protagonista do desenho. Ok, eu entendi a mensagem aqui caras: cuidem do planeta, ou uma desgraça feia do inferno dessas vem aqui. Porra, comecei a reciclar pra ontem, só tira esse exu-cavera daqui!
O defining trait de Widget era que ele podia se transformar... em qualquer coisa, basicamente, nunca foi estabelecida nenhuma regra ou limite para isso. O que torna a vida dos escritores mais fácil, certamente.
Deus, os anos 90 foram realmente dificeis... |
O desenho hoje não é lembrado por ninguém, nem foi um grande sucesso na época. Era o tipo de desenho do tipo "ok, ao menos ainda é melhor que uma jornalista tirando da bunda dela como eu devo viver a vida pq ela ganhou um programa de TV por ser esposa do chefe", ele meio que apena estava lá. Ainda sim, deve ter tido fãs o suficientes para a Atlus publicar dois jogos sobre ele. Pois é, antes de viver de Ladrões Fantasmas de Corações, é assim que eles pagavam as contas.
Widget foi lançado para o Nintendinho quase um ano inteiro depois que o desenho animado foi ao ar nos Estados Unidos, me fazendo pensar que o jogo já nasceu morto, mas enfim. Ao menos a coisa dele se transformar em qualquer coisa pode dar legal em um jogo de videogame se eles souberem fazer direito.
Naturalmente, você joga como Widget, o alienígena roxo que está sempre feliz apesar da camada de ozônio cada vez mais fina. Ele tem uma pistola espacial upgradeavel como uma arma e, depois que você termina uma fase, ele ganha a tal da transformação.
Essas transformações variam de canhões estacionários a camundongos com habilidades de super-salto e pteranodons voadores. Existem cinco transformações ao todo, e elas são necessárias para você passar por certas partes dos níveis. Para se você chegar numa fase que tem uma parte obrigatória de agua, por exemplo, você tem que sair da fase e terminar outra até ganhar a transformação que te permita nadar. O mesmo para buracos pequenos que só o rato passa e etc.
Infelizmente as transformações gastam mana, então você não pode usar tanto elas - o que é uma pena pq o jogo seria bem mais divertido se não fosse assim. Quando não está transformado em nada, Widget em sua forma normal é um personagem lento e sem graça que solta um grito estridente toda vez que ele pula, e tem o tiro mais lento que eu já vi na história dos videogames. Seu personagem é lento, seu tiro é lento, a única coisa que não é lenta são os inimigos.
Sério, o jogo é tão lento que eu até achei que o meu emulador estava com problema. Mas não, a própria Ação Games reclama em como tudo é devagar nesse jogo. Não bastasse se mover como um idoso com escoliose renal, mas seu sprite parece grande demais para a fase e, como resultado, ele é atingido facilmente.
O que é uma pena que o personagem e tudo que cerca ele são horríveis, porque não fosse isso o jogo poderia funcionar como um clone simpático (e barato) de Mega Man.
Depois de vencer o primeiro nível, outros três níveis se abrem e você pode jogar em qualquer ordem. Só que cada nível tem áreas que só podem ser acessadas por meio de uma das transformações do Widget, então você descobrir a ordem certa de jogar os níveis para conseguir avançar. Basicamente, um Mega Man do homem pobre. O fato que seu boneco disparo tiros de três pelotas de cada vez aumenta essa sensação.
Forma de um monstro de lama, ativar! |
Como você não sabe quais transformações precisará em cada nível, tem bastante tentativa e erro. Como os níveis são curtos muitas tentativas e erros e repetições. Não é um problema muito grande porque as fases são curtas, então ok.
O maior problema, além de como seu personagem parece, se move e ataca (ou seja, TUDO) é que além das transformações - que são usadas com pouca frequência -, não tem nada que você não tenha visto em outros jogos de plataforma e com personagens principais que não pareçam uma uva passa do prato de uma criança que não gosta de arroz a grega.
Para chegar nessa parte você precisa ter a transformação do pterodonte, então se chegar até aqui sem ela só saindo e tentando terminar outras fases primeiro |
Widget é um jogo bontinho mas esquecível, como o desenho no qual ele se baseia. E de forma alguma é não é um jogo BOM. Os gráficos e o áudio são bastante genéricos (exceto a música tema do jogo, que é uma rendição bastante decente do tema do desenho animado), e o poder de transformação do Widget é prejudicado pelo fato de que eles duram apenas enquanto você tiver mana, ou são uteis apenas em locais específicos. Se você é um fã devoto do cartoon, o jogo pode ser interessante.
Mas então quem, eu rogo, é fã de um desenho como Widget? Eu, heim...