terça-feira, 9 de junho de 2020

[AÇÃO GAMES 034] FLASHBACK: Quest for Identity (SNES 1994 e Mega Drive, 1993) [#396]



Sendo uma das poucas pessoas sãs na internet, eu já disse aqui que Prince of Persia é um jogo bem merda. Mas tipo muito merda. Puta merda que jogo merdalhão merdalhoso. Mas sendo alguém sabio e comedido como eu sou, não me escapa o fato que o Principe da Pérsia tem seus méritos. Tecnicos, isso é, esse jogo não é nada divertido de se jogar.


A ideia de utilizar rotoscopia para animar os movimentos do personagem geram um efeito visualmente fluído ainda nos dias de hoje.


Eu também não particularmente odeio o conceito de "um jogo de ação matemático", em que as distancias para correr e pular tem que ser calculadas, transformando o jogo mais em um puzzle do que um jogo de ação. Essa é uma ideia boa, na verdade.

Só que Prince of Persia não executa ela bem. Colocar um limite de tempo ferrado adicionado a um sistema de combate que é pavoroso trás apenas dor. Tanto que por um tempo Jordan Mechner foi o meu grande vilão. Hoje eu lembro disso e rio, quando eu tenho que lidar em base diaria com coisas muito mais terríveis como os jogos adaptados para filme da Ocean ou qualquer coisa tenha saído para o Amiga. E a Sega, claro, tem sempre a Sega.

Mas então em 1993 alguns caras da Delphine Software que não estavam vendendo agua do banho viram seus colegas criarem um dos melhores jogos dos anos 90:  Out of This World. Matutando como fariam isso, eles decidiram tomar vergonha na cara e fazer o que a muito já devia ter sido feito: consertar Prince of Persia.

Então, basicamente, Flashback é Prince of Persia, só que bom. E com elementos de Out of This World. O que o torna melhor ainda.


A primeira coisa que chama atenção em Flashback é justamente o quanto esse jogo é bonito e fluído, você não poderia dizer que esse não é um jogo indie feito esse ano. Realmente o efeito de rotoscopia é uma coisa do balacobaco que não fica datada, ao contrário dessa expressão que eu acabei de usar.

Mas ok, vocês não vieram jogar joguinhos para apertar botões e fazer coisas, vocês querem é historinhas que eu sei! Então, qual é a desse Flashback além de ter nome de quadro preguiçoso de programa dominical que só joga qualquer coisa do acervo com uma narração em cima porque foda-se?


O jogo começa com um homem misterioso sendo perseguido em um prédio misterioso por homens igualmente misteriosos com misteriosas armas a laser. A animação não é tão fluída quanto o jogo, verdade, mas suponho que eles se eles tinham que escolher, colocar recursos no jogo e não na cutscene foi a escolha acertada.


Inadvertidamente a seus perseguidores misteriosos, nosso misterioso herói sobreviveu ao acidente na selva e estava apenas tirando uma soneca. Infelizmente, quando ele acorda, ele bate em seu cubo misterioso, fazendo-o cair da borda.

Bem, é um jogo de muitos mistérios, não? Que serão respondidos só mais tarde, porque ao contrário do que era comum na época em que os jogos tinham a história só no no manual, neste aqui você começa sem entender porra nenhuma e gradualmente vai sendo explicado o que aconteceu. O que combina com o tema do jogo, já que nosso herói está sem memória e precisa de uma máquina para fazer funcionar esse cubo onde ele fez backup das suas memórias. Essa é sua primeira missão no jogo.


Uau, esse jogo é realmente bonito, não?

Mas bem, seu maior problema nesse jogo são os controles, porque eles são muito, muito contraintuitivos. Eu vou explicar os controles e veja se você consegue entender alguma coisa, ok?

Existem três botões nesse jogo. O primeiro é de sacar e guardar a arma, até aí ok. O segundo é o botão de usar itens. Não de pegar itens do chão, mas exclusivamente de usar itens selecionados. Estranho, mas ok. O terceiro botão... é o botão de ação. O que ele faz? Bem, tudo, praticamente.

Se você estiver com a arma sacada, ele atira. Se você estiver na frente de um item, ele pega o item. Se você apertar para frente com ele segurado, você corre. Se você apertar para cima com ele segurado, você pula para frente (se apertar para cima sem sair do lugar você só pula para cima sem ir para frente). Puta merda, correr, atirar, pegar itens e pular tudo no mesmo botão! Mas tudo bem, não é como se o jogo exigisse que você fizesse uma combinação dessas coisas em sequencia, né?


Oh fuck...

Ainda sim, o combate é melhor que Prince of Persia... o que dia muito sobre o quão ruim esse jogo é... e embora não seja exatamente estelar, não estraga sua diversão. O jogo corta um dobrado em outras coisas para compensar isso.

Em primeiro lugar, toda vez que você pega um item dá uma cutscene bonitinha disso - o que é um toque eu não esperava em um cartucho de Mega Drive. Quando você pega um holocubo, por exemplo, dá essa cutscene:


... exceto na versão de Sega CD, que os gráficos são 3D e o holocubo é assim:


Além de eu gostar mais do estilo desenhado, que combina com a arte do jogo afinal, eu sempre achei que o holocubo devia ser, bem, um cubo. Qual é o proposito de se chamar holocubo se vai ser um holoestojodeóculos?

Ainda sim, é um toque legal.


Então, na maior parte do tempo, Flashback é basicamente Prince of Persia se você tivesse uma pistola - o que é bastante satisfatório quando você não tem que fazer varias coisas ao mesmo tempo. A forma que os inimigos voam para trás ao serem baleados e o som que eles fazem ao exalarem seu ultimo suspiro de vida pensando na familia que provavelmente passar fome neste futuro distópico e cruel é uma recompensa em si própria.

Mas, e é aqui que a coisa realmente grande entra, Flashback não se contenta em ser apenas "o primo funcional" de Prince of Persia, e é aqui que os elementos de Out of This World entram e esse jogo fica realmente divertido.


Utilizando os elementos de Out of This World, o jogo vai além do básico ativar alavancas e pisar em botões para abrir portas, possuindo elementos que o classificam mais como adventure do que um jogo de plataforma. Nesta tela por exemplo, você pode atirar uma pedra no sensor bem na direita para ativa-lo, isso vai abrir a porta. Atire outra pedra para o guarda ir investigar, então desça e passe correndo para de onde o guarda veio. Claro, você pode só descer e fazer o bom e velho duelo com o robo embaixo de você, mas esses robozinhos se você parar para lutar sem pegar distancia, é bem dificil conseguir vencer.


Viu, bem mais fácil assim.


A tela de gerenciamento de itens é bem fácil de ser usada também. Aperte start, coloque o cursor em cima do item que voce quer usar e tire do pause. Agora esse item está selecionado para ser o item ativado quando você apertar o botão de usar item. Simples e prático para uma aventura ultradinamica e moderna. 


Mas eu estava falando das quests, que são a coia que eu mais gostei desse jogo. Para sair da floresta, a primeira area, por exemplo, você precisa entrar numa instalação onde possa pegar um transporte de volta para a cidade. Só que para entrar você precisa de uma ID. Para ganhar a ID, você precisa ajudar esse cara que foi atacado, dando um teletransporte pra ele ir para um hospital (porque eu não me teletransporto pra fora dessa joça é algo que jamais saberemos, entretanto). Ao ser transportado, ele deixa para trás a ID dele e com isso você pode dar o fora da selva.

Não é nada absolutamente criptico, e também não é nada absolutamente obvio - quer dizer, parece obvio depois que eu expliquei, mas conforme você está jogando e explorando o mapa, você tem que ir montando as peças na sua cabeça sobre como conseguir avançar no jogo. Fazer um adventure é muito dificil justamente por causa disso, acertar a tonalidade entre ser tão criptico que isso só faz sentido que o cara que bolou o puzzle fizer um TCC sobre ele, ou ser apenas óbvio. Flashback faz isso na medida certa para ser o meio termo divertido!


Então, até esse ponto Flashback é um jogo tão bom quanto pode ser dentro do que se propõe a fazer, mas sabe o que seria melhor ainda? Se o jogo investisse pesado na ambientação... o que ele faz!

O grande grosso do jogo se passa em Titã, onde seu objetivo é conseguir voltar para a Terra e avisar a todos que os aliens estão infiltrados entre nós e se preparando para tomar conta de tudo. Você sabe isso porque o nosso brilhante cientista Conrad Hart desenvolveu uma tecnologia capaz de analisar a densidade molecular dos individuos e ver quem é humano e quem é alien (esse é o visor que aparece na capa do jogo). Claro que os aliens não ficaram nada felizes com isso, e por isso Conradão da massa começa o jogo sendo perseguido - o que ele já esperava que acontecesse, por isso ele armazenou sua memória em um holocubo só por garantia.

O que é meio ironico, porque você recupera sua memória já na segunda fase - para um jogo cujo subtítulo é "Quest for Identity", você esperaria que fosse mais dificil do que isso. 

Super Easy, Barely An Inconvenience
Mas enfim, o ponto é que o grosso do jogo você fica rodando nessa cidade tentando voltar para a Terra. A melhor forma de fazer isso, você descobre, é participar de um reality show mortal no estilo The Running Man, cujo vencedor ganha uma viagem pra fora desse buraco. 

Arnold, o poeta dos anos 80
O problema é que você precisa "dar um jeitinho" para entrar entre os competidores do programa, e isso vai custar dinheiro com um bom falsificador. Para levantar dinheiro, você tem que trabalhar fazendo quests em Nova Washington, maior cidade de Titã

Eu não faço ideia de pq os bairros da cidade são nomeados como continentes da Terra, suponho que acabaram as ideias

Não é um esquema muito diferente de Alien 3 de Super Nintendo, e como funcionou bem naquele jogo, funciona bem aqui. Mas como eu estava dizendo, o que faz funcionar melhor ianda é a ambietação já que Nova Washington é uma distopia cyberpunk que mistura Blade Runner, They Live e The Running Man, tudo embalado por uma trilha sonora que faz você se sentir mal por não ter uma entrada USB na cabeça. Eu esperava a qualquer momento encontrar o Keanu Reeves dizendo para a gente queimar essa cidade.

Após conseguir sua licença para trabalhar (sério, esse jogo parece Papers Please 2077 as vezes), é nesses computadores que você pega suas missões. Como bom cyberpunk que se prese, muitas luzes piscando.

A primeira missão é bem simples, apenas fazer uma simples entrega. E paga bem mal. Mas ok, não é como se esse pacote misterioso fosse algo pelo qual vão tentar me matar, né? Ah, fuck, eles vão...

Mas ok, ganhar 100 pila pra quase morrer ainda é melhor que ser jornalista. Pelo menos eu mantenho minha dignidade.
Puta merda, 100 pila não vale isso! Eu devia ter sido jornalista!
Enfim, você já entendeu como as coisas funcionam. Você trabalha em New Washington, participa do reality show da morte, eventualmente vai ao planeta dos aliens (onde consegue uma arma que teleporta e isso é incorporado aos puzzles, chupa essa Aperture Science!) e etc. Tudo muito bom, tudo muito bem.

Flashback tem uma duração perfeita, quests interessantes, e sempre esta tentando fazer coisas novas dentro das suas possibilidades. Outro dos raros jogos que resistiu ao teste do tempo, fornecendo algo que era novo e divertido na epoca, e ainda é bem divertido tantos anos depois. 

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