quinta-feira, 18 de junho de 2020

[AÇÃO GAMES 052] T2: TERMINATOR'S 2 JUDGEMENT DAY (SNES, 1994) [#404]


Não confundir com T2: TERMINATOR'S 2 THE ARCADE GAME... porque tem tanto de Terminator assim, meu deus?!
Seres humanos são criaturas de fé, por natureza. O mundo é um lugar terrível, complexo, caótico e incompreensível, e é apenas natural que a única forma de cooptar com tamanha realidade atroz seja apelar para uma solução mágica que pode explicar todos os seus problemas de uma forma simples. Deuses, astrologia, homeopatia, O Segredo, não importa o quão idiota seja o bullshit, o ser humano precisa acreditar em alguma coisa.

Eu, por exemplo, acredito em 1994. Depois de jogar o maravilhindo, espetaculoso, chocolatante Mega Man X, tenho minha fé irresoluta de que 1994 é o ano que as coisas mudarão. Agora a indústria dos videogames vai que vai quicando, e tudo vai dar certo. 1994, o ano do tetra, nos salvará. Para proteger minha própria sanidade, eu preciso acreditar nisso.



O que mal sabia eu, entretanto, é que minha recem descoberta fé seria imediatamente testada de forma inclemente logo nas primeiras páginas da Ação Games: um jogo do Exterminador do Futuro. Eu já comentei algumas vezes (como em AQUI AQUI AQUI AQUI E AQUI) que existe alguma força quantica a respeito dessa franquia que impede fisicamente que qualquer jogo do Terminator seja qualquer coisa que não uma pilha de lixo radioativa mononucleica. Sério, algum tipo de maldição sobrevoa essa franquia e ao por as mãos nela qualquer programador automaticamente se torna tão apto a programar quanto um orangotango com cirrose. Bem, suponho que os jogos dessa tristeza sempre serem feitos por safados como a Ocean e a LJN também ajuda muito no processo.

O único jogo que quebra essa regra é justamente Robocop x Terminator, que não só é um jogo do Robocop decente (outro feito impensável), como a versão de Mega Drive é mais legal que a de SNES. Ou seja, foi um puta de um milagre e eu não posso realmente contar que isso aconteça novamente. Então aqui estou eu, prestes a testar minha recem adquirida fé em 1994 ao jogar mais um jogo de Terminator, porque por algum motivo é um desafio impensável fazer um jogo sobre um robo do futuro metendo bala. Vai entender.

E, para ser bem sincero com vocês, minha fé já começa com um teste monstruoso de resiliencia, porque eu não vejo como possivelmente isso pode dar certo. Em primeiro lugar, esse jogo tem um video do AVGN e isso nunca é um bom sinal para quem joga...


 Mas tudo bem, segura na mão de 1994 - o ano da virada - liga o jogo, a tela fica escura alguns segundos... por vários segundos, okaaaay e...


COMO ZAQUEU EU QUERO SUBIR!!!

Sério, não tem fé no mundo que possa me preparar para isso. Gente, não tem como possivelmente isso dar certo, nem mesmo o ano salvador de 1994 pode operar um milagre desse tamanho, não tem como isso possivelmente dar certo gente...


Ah, ok. Esse Terminator está maneiro, e enquanto a música tema claramente não é a música de T2, pelo menos parece uma versão que alguém sem a licença da música faria para tentar parecer com a original. E se você não apertar nada, o jogo roda essa intro do Arnoldão peladão Austin Powers style, o que foi bem legal.


Olha só, eu já disse um "bem legal" e o jogo nem começou. Ok, talvez eu tenha  me precipitado e esse jogo não seja tão ruim quanto TUDO aponta que ele seja. É, vamos começar o jogo e quem sabe...


Hã, estranho. Por padrão o som desse jogo é mono e você tem que ir até as opções para mudar para estereo. Acho que esse é único jogo até hoje que eu vi fazer isso. Quer dizer, ter saída de som de apenas um lado da sua TV ou fone de ouvido é legal para quem tem problemas de audição em um ouvido apenas, mas eu não vejo porque isso deveria ser a programação padrão do jogo.

Estranho, mas não necessariamente ruim. Tenho certeza que isso não impactará a qualidade do jogo e...


Oh god, my fucking bloody god, é ruim! É muito ruim! É pavoroso de ruim! Deus se eu mergulhasse um feto em uma fossa septica e então saísse por aí rodopiando ele pelo cordão umbilical não seria tão ruim assim! Quer dizer, é tão indescritivelmente ruim que eu até tenho dificuldade em descrever o quão ruim ele é!

SIM, É ISSO QUE INDESCRITIVEL SIGNIFICA. SE VOCÊ CONTINUAR EXPLICANDO O QUE VOCÊ ACABOU DE DIZER, VÃO TE CONTRATAR PARA ESCREVER O PROXIMO FILME DO CHRISTOPHER NOLAN

Aicks, melhor parar. Mas então, em primeiro lugar Arnoldão da Massa é lento. Holy shit como ele é lento, é um dos personagens mais lentos que eu já vi em um jogo de SNES e a sensação é de estar jogando um point'n click de Amiga.

Mas não é só isso, o ataque dele é bizarro porque Arnold tem dois ataques aqui: o soco e a joelhada. Teoricamente, o soco alcança mais longe e a joelhada é para quem está encostando em você. Só que o soco sempre acerta um ponto fixo (digamos, uns 2 pixels para frente do Terminator) e se o inimigo estiver antes desse ponto (entre o Arnold e o punho extendido), então o soco não pega.



Porque, você sabe, é assim que um soco funciona: se o cara não estiver na distancia exata do seu braço estendido, se ele estiver mais perto que isso, então sua mão passa por ele porque você consegue acertar apenas o mesmo ponto na frente e nada antes disso. Você está me dizendo que esses caras da LJN nunca tomaram um soco na vida? De alguma forma, eu duvido muito disso...

MAS ENTÃO É SÓ USAR A JOELHADA, CERTO? QUER DIZER, É PRA ISSO QUE O OUTRO BOTÃO SERVE, NÃO É?

Foi o que eu pensei inicialmente. Só que a joelhada só funciona com inimigos que estão colados em você. Embora não pareça, existe muito espaço entre a deadzone do soco e o alcance da joelhada (que tem uma detecção de colisão hedionda), então o mais comum é que os inimigos fiquem nesse limbo onde nenhum dos seus ataques acerta.

Isso não seria tão ruim se você pudesse atacar enquanto se move, seria só ajustar a distancia. Seria, se isso fosse possível. Você só consegue atacar enquanto está parado no lugar, eu não faço ideia do porque.

Bem, o que esperar dos caras que programaram o pulo do Terminator pra ser ISSO:


Sério, o que alcachofras é esse T800 dando sarradas aereas aloucadamente? Eu realmente não vejo como pode ser possível você acidentalmente programar o seu jogo para ficar assim e não perceber a tosquice que ficou.

Parece que o ano mágico de 1994 falhou comigo...


Não, não, eu não posso pensar assim. Claramente é um teste a minha fé recem adquirida, tenho certeza que o milagroso ano de 1994 proverá se eu me manter fiel. O que é bastante dificil com as hordas e hordas de motoqueiros que o jogo joga em cima de você, sabe?

Sem mentira, eu acho que já devo ter socado mais de cem. Parece dificil não desistir a este ponto.



 Só que é algo que eu não recomendo fazer, porque lá pelo vigésimo ou trigésimo motoqueiro um deles vai dropar uma arma ao ser nocauteado. E aí as coisas mudam radicalmente. Ter uma arma de fogo resolve a maior parte dos problemas desse jogo. Seu personagem continua lento como o cão na toquinha em um dia de inverno, mas suas balas compensam isso. O alcance bizarro não importa mais, agora você atira. As hordas de motoqueiros não importam mais também, já que o jogo é bastante generoso com munição para a escopeta (que fica no lugar do botão da joelhada) e a pistola comum tem munição infinita.

A sarrada aerea continua ridicula, mas não dá pra resolver tudo com uma arma também. 

O meu ponto é que após você conseguir uma arma o jogo fica, bem, jogavel. Eu não vou usar uma palavra ousada como "bom" para descreve-lo, mas definitivamente é jogavel. Diabos, é até satisfatório atirar de escopeta nos motoqueiros...

Ah, nada como um tiro de escopeta não-letal no meio do peito!
E se você errar o tiro tudo bem, porque em um toque muito maneiro da LJN (eu não acredito que estou dizendo isso, sangue de 94 tem poder!), o cenário é bastante destrutível! E destruir o cenário sempre é bacana!



Além disso, os objetivos em cada fase são criativos e relacionados com o filme, acredite ou não. Por exemplo, na primeira fase você tem conseguir armas, assim como o endereço do John Connor para poder seguir adiante.

Na segunda fase você tem que revirar a casa até achar uma foto do John Connor porque a terceira será encontra-lo no shopping e protege-lo do T1000, e assim por diante. Cada fase tem um objetivo diferente de acordo com a cena do filme que ela se passa, isso é bem legal. Menos legal é que a LJN achou que precisava dar uma alongada no jogo e em cada fase você tem que encontrar "objetos do futuro", então é meio paia ficar procurando por eles nas fases. Ainda sim, não é a pior coisa que eu já vi em um videogame.

Na terceira fase, por exemplo depois de encontrar John Connor você tem que escolta-lo até a saída abrindo caminho a bala. Até onde missões de escolta vão, essa até que não é das mais irritantes.

Outro toque muito bacana é que a partir da segunda fase o T1000 começa a te perseguir, e eu achei a perseguição dele feita de uma forma bastante competente. Veja, você não pode realmente derrota-lo, mas se depois de alguns tiros ele cai por tempo o suficiente para você conseguir fugir. O que funciona ao proposito de gerar tensão e passar a sensação que você está sendo perseguido por uma máquina implacavel.

O Terminator foi programado para exterminar muitas coisas, mas especialmente essa lixeira explosiva
Então Terminator 2 para Super Nintendo é, surpreendentemente, um jogo... decente. Atirar nos inimigos é satisfatório, você tem uma barra de vida okay, lutar contra o T1000 passa a sensação que deveria passar, os objetivos são variados... não é um jogo ruim, realmente.

Eu até diria que ele quase poderia ser chamado de bom... QUASE, não fosse por uma coisa que afunda o jogo mais rápido do que alguém usando sapatos de cimento por ter dedurado a mafia. Uma parte tão ruim, tão hedionda, tão nefasta que mata o jogo para muita gente.

Estou falando, é claro, dos trechos entre uma fase e outra em que você precisa ir de moto até a próxima fase.



Tá, o que é que tem? Você anda nessa cidadezinha bonitinha, seguindo a setinha para ir para próxima fase, certo?

Então... gente, sem mentira nenhuma, sem exagero, eu jogo videogame a mais de trinta anos e nem mesmo eu consigo explicar como os controles dessa fase funcionam. Como você faz curvas nesse jogo é um mistério indecifrável, eu sei que tem algo haver com segurar Y e apertar alguma coisa no direcional, mas o que exatamente é algo que eu não faço a menor ideia do que é.

Esses são os PIORES controles que eu já vi em qualquer jogo de qualquer genero na minha vida. Não é nem que o controle não responde ao que você comanda, você sequer entende como funciona! Quando eu vi o AVGN reclamando disso eu achei que ele estava exagerando, afinal não tem TANTO botão assim no Super Nintendo e eu nunca preciso preciso mais do que alguns segundos mexendo para entender um padrão.

Adicione a isso ter que desviar do transito com fugir dos motoqueiros e policiais te perseguindo que acabou a brincadeira

As vezes o AVGN exagera para propositos do video (afinal é entretenimento, não um documentário), como nesse video mesmo a coisa de coletar os "objetos do futuro" não é tão ruim assim quanto ele dá a entender. Mas esse trecho de pilotagem aqui, puta merda, não é humano uma coisa dessas!

Mas não, isso aqui é alguma coisa além do compreensível. É insano, novamente são os piores controles que eu já vi na minha vida e isso quer dizer alguma coisa!

Ah, e você só tem uma vida para o jogo inteiro, embora quando sua vida desça para zero pela primeira vez, o T-800 recupera com 50% de energia auxiliar (o que é fiel ao filme, olha só).



 Então a conclusão que eu chego é que a magia de 1994 chegou muito, muito perto de fazer esse jogo ser jogavel. Em se falando em um jogo do Terminator, isso por si só já é um fodendo milagre! Porém mesmo milagres tem limitações de até onde podem ir, e mesmo o ano iluminado de 1994 não pode com os poderes profanos e infindos da LJN no fim das contas. Valeu a tentativa mesmo assim.

Te dou um doce se você adivinhar em qual fase a Ação Games empacou no jogo

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 030