A capa americana do jogo tem uma vibe de capa de CD new age para um jogo que é sobre DINOCEROS, não tenho certeza de qual publico eles estão tentando atingir aqui |
O cerebro humano funciona de formas misteriosas, isso precisa ser dito. Veja por exemplo esse jogo da Cryo, que até então era um jogo que chamou atenção por ser o próximo lançamento deles após o sucesso de DUNE (não o RTS, a visual novel/point'n click).
O meu ponto aqui é que não há dúvida de que os gráficos da aventura dos dinossauros de Cryo foi de tirar o fôlego na época. Incrivelmente primitivo hoje, mas na época era como se o monitor do seu computador estivesse fazendo mágica de verdade. Como quando você encontrou o CD de 250 horas de internet do UOL e tinha um clipe da Legião Urbana e quando você via, de alguma forma, seu PC estava mostrando um videoclipe como se fosse uma televisão. Da mesma forma, os gráficos de Lost Eden na época era como se você estivesse jogando o filme de Jurassic Park! Aqui, compartilhe o momento comigo:
Uau, parece horrível agora. Por isso que eu disse que é difícil entender realmente como o cerebro humano realmente funciona que na época a gente dizia "uau, não tem como ser mais real que isso" mesmo que a gente esteja vendo como o mundo real realmente se parece e não era nada parecido com esse gráficos.
Bem, se os gráficos não envelheceram tão bem, pelo menos o mesmo não pode ser dito da música: eu gosto muito da música desse jogo e me faz achar que a qualquer momento eu ia ver o Matt dançando tiozonicamente em algum lugar do cenário. A música do jogo parece muito com Deep Forest:
Sim, vc precisa ter uma licença Internet Old School Lv 5 para entender essa referencia. Prossigamos com, depois de todas aquelas fotos pré-renderizadas de gráficos impossíveis, de repente o Sr. Wizard Dude Bocafroxa.
De alguma forma os movimentos labiais nesse jogo me fazem lembrar da Annoying Orange. Hoje é um dia de referencias antigas da internet, huh?
Mas se a animação dos personagens é estranha, a do grande vilão do jogo é simplesmente hilária:
Mano, roubaram o teu pescoço não sei se tu tá ligado nisso. Pois é, toda essa renderização extraordinária, gráficos como nunca tínhamos visto, e eles nem se deram ao trabalho de animar sua mandíbula separada do seu ombro.
Tá, mas agora você pode estar se perguntando pq eu estou falando tanto dos gráficos de um jogo de 1995 quando eu normalmente não faço isso. E a resposta bem simples realmente: porque não tem muito mais o que falar a respeito desse jogo. Isso porque ele é mais ou menos um point'n click em que os puzzles são ridiculamente simples e a narrativa meio que não vai lugar nenhum realmente.
Ao contrário do que acontece normalmente, a capa europeia do jogo não tenta ser filosofica intelectual sei lá o que. Ela é apenas melhor mesmo. |
Mas vamos começar do começo: a coisa mais interessante a respeito desse jogo é o seu background. A história gira em torno do protagonista silencioso Adão em uma realidade alternativa da Terra chamada Éden (e sim, mais tarde você conhece uma mulher chamada Eva também). É um mundo onde dinossauros sencientes vivem ao lado de tribos de humanos e homens-macacos. Todos estão sendo exterminados pelo malvado Moorkus Rex e seu exército de tiranossauros tirânicos (chamados de Tyranns, sutileza mandou um abraço).
Mas nem sempre foi assim: o bisavô de Adão, Príamo, havia unido homens e dinossauros para construir cidadelas gigantes para manter os tiranos à distância. Infelizmente, seu filho, Vangor, estava cracudo por poder e assim destruiu as cidadelas (exceto uma que se tornou seu lar) para que "elas não fossem usadas contra ele", junto com o conhecimento de como construí-las. O próximo na linha de sucessão ao trono era o pai de Adão, Gregor, que no jogo é um velho fraco com medo do conflito. Adam agora carrega os pecados de seus antepassados, mas está determinado a impedir Moorkus Rex.
Dude, too much information! |
Ele percebe que para fazer isso, ele deve redescobrir como Príamo construiu as antigas cidadelas - e a primeira parte do jogo é uma sequencia de puzzles rudimentares em que você acaba no porão restante da Cidadela para descobrir que os dinossauros trabalharam juntos com os humanos no passado, com Príamo comandando-os a construir cidadelas por meio de uma flauta mágica. Então, Adão parte para unir os povos de nossa nação.
Premissa legal, no problemo até aqui.
O narrador da história é esse pterodactilo cracudo |
Uma vez fora da cidadela do Adão, que funciona como um point'n click bem ordinário por 20 minutos, o jogo muda para uma série de cinco mapas que você precisa explorar. Isso forma a maior parte do jogo - você vagueia aleatoriamente pelos mapas coletando itens enquanto ocasionalmente esbarra em dinossauros e humanóides. Os humanóides tendem a estar em locais fixos, mas os dinossauros se movem aleatoriamente e não há como saber onde eles estão, então você precisa examinar todas as 48 posições de cada mapa, às vezes repetidamente.
Quando você encontra os humanos, eles te dizem que você precisa conquistar os dinossauros para eles construirem a citadela. E para conquistar o dinossauro vc precisa dar algum item aleatório pra eles (brontossauros querem cogumelo, velociraptors querem ouro, os triceratops querem... ninhos de passaros ... por algum motivo...etc). Sem mentira alguma, o dialogo funciona da seguinte forma:
- The brontosaurus sees no friendship in you
*Gives mushroom*
- The brontosaurus hail you as the Bringer of Hope, the Legendary Hero!
Uau, alguém foi pago pra escrever isso. E você acordando pra estar no trabalho as 7h.
O elenco desse jogo é... bem, ele é... |
E... é isso o jogo, basicamente. Sério, é isso o jogo: encontre humanos, eles vão te pedir para encontrar os dinossauros da area, ande aleatoriamente até achar os dinos, de o item que eles querem, toque a flauta, parta pro próximo mapa. As vezes os humanoides te pedem uma coisa mais especifica ou outra, mas no grosso mesmo o jogo é isso.
O que quer dizer que 90% do jogo é andando aleatoriamente em mundos compostos por uma sequencia de fotos ligadas, exatamente como em MYST, só que enquanto MYST tinha localizações fantásticas em CG (o jogo pode ter todos os defeitos do mundo enquanto jogo, mas ao menos as locações eram interessantes), Lost Eden é uma série de paisagens genéricas mal renderizadas, nenhuma das quais tem qualquer influência na jogabilidade. É semelhante a jogar paciencia usando um baralho de cartas, mas não do tipo divertido com waifus e sim cartas com fotos de gramados genéricos.
ESSE EXEMPLO NEM FAZ NENHUM SENTIDO, VC ESTÁ ALÉM DE QUALQUER AJUDA REALMENTE...
Provavel. De qualquer modo, o manual do jogo cita que o jogo teve "participação especial" do lendário designer de RPGs de mesa Steve Jackson, mas é dificil imaginar o que ele fez exatamente. Mais especificamente, o manual do jogo diz o seguinte:
“These days the quest is on for the ultimate Adventure Game – the Interactive Movie. In this respect, Lost Eden is something of a milestone. Cryo’s painstaking design and programming work has created nothing short of an Adventure Gaming masterpiece. The action is full-screen. The animations are stunningly realistic. Game control – the Interface – is unobtrusive. And in no other game that I have played have the game characters been developed so carefully. The result is an Adventure Game with a unique feel to it. [… ] I have thoroughly enjoyed being involved with its development. And I’m sure you will share my enthusiasm when you immerse yourself in the adventure plot.”
A maior parte do que o Estevão Filho do Zé disse no manual disse ae tá errado, pra não dizer tudo. Para começar, as animações de alguns dinossauros são incrivelmente irrealistas nas CG, e quase todo o jogo parece inacabado. Um jogador experiente e determinado poderia completá-lo facilmente em menos de um domingo. The Shell of Tau dá pistas para os poucos quebra-cabeças que existem, nenhum dos quais é remotamente desafiador. Também não há árvores de diálogo, fazendo com que os dialogos super simplórios pareçam menos interessantes ainda.
Na maior parte do tempo, o que você vai estar fazendo nesse jogo é coletar cogumelos e ouro para iniciar cidadelas, ocasionalmente recebendo um item-chave depois de concluído.
Chapéu bonito, moço |
Todo o desafio do jogo vem da aleatoriedade e pura sorte durante a exploração. Um item-chave, a Pedra do Sol, está escondido em uma caverna no canto superior esquerdo de um mapa - nunca há uma única menção de que você precisa para visitar esta área. Há um que de inevitabilidade no jogo, onde não apenas você não pode perder, mas ganhar não requer nenhum esforço. O que seria okay se o jogo oferecesse algo em troca (se fosse bem escrito e você jogasse apenas pela história, ou algo assim), mas esse não é o caso.
O que é lamentável, pois tinha um potencial aqui. Os pontos fortes de Lost Eden são como ele não tem vergonha de ser totalmente estranho sem precisar explicar nada (humanos e dinossauros falantes convivem e isso é tido como natural no cenário, não tem nem uma cutscene explicando isso), a música é gostosinha (tem uma vibe étnica, com gritos e sons tribais). Os personagens são bizarros (uma tribo se parece com cabeças Maori, outras parecem feitas de concha), e todos os diálogos repletos de nomes absurdos de fantasia são dublados com seriedade absoluta - o que fica muito legal.
1995, dias loucos |
Steve Jackson estava certo ao dizer que a premissa e a atmosfera do jogo são únicas, mas a jogabilidade real parece determinada a impedir que você aproveite. Em todos os aspectos esse jogo é pior que DUNE e quem não soubesse melhor diria que esse jogo foi feito muito antes de DUNE - quando na verdade foi lançado quase três anos depois.
Talvez seja a magia arrakina, ou talvez seja que a Cryo é one hit wonder que talvez nunca mais consiga reproduzir o grande acerto do passado. Considerando que o outro grande jogo deles nessa época é TIMECOP... eu temo que seja mais o segundo caso que o primeiro. Ou então jogos de DINÓCEROS são amaldiçoados a serem ruins nos videogames, tem isso também.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 018
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