sexta-feira, 7 de abril de 2023

[#1080][Nov/96] BRAHMA FORCE: The Assault on Beltlogger 9

A primeira vez na minha vida que eu ouvi falar da Força Brama, a cerveja número 9 foi enquanto eu via a Super Game Power para saber que jogos eu jogaria. E as (poucas) palavras que eu li me deixaram apavorado:


Ao que minha reação, obviamente, foi:


A PIADA COM CERVEJA NEM FOI TÃO RUIM, MELHOR QUE A SUA FOI!

Não foi isso que me deixou em choque e horror, Jorge. Foi a parte de "sendo uma sequencia de Epidemic". E que jogo é esse tal de Epidemic? Ora, é apenas o segundo jogo da série KILEAK THE BLOOD, sendo que ese segundo jogo da série foi lançado apenas no Japão e nenhuma revista brasileira falou dele.

Ou seja, esse jogo é essencialmente KILEAK THE BLOOD 3!

HÃ... KILEAK THE BLOOD? REALMENTE NÃO CONSIGO LEMBRAR DESSE JOGO, TENHO UMA VAGA MEMÓRIA QUE TEM ALGUMA COISA HAVER COM ROBOS E CORREDORES APERTADOS...

Aqui, me permita refrescar a sua memória:

Pra ter uma ideia do quão esse jogo é terrível, a revista oficial Playstation Magazine na sua primeira edição deu nota 4/10 pra esse jogo. 4/10 numa publicação oficial que é basicamente destinada a fazer publicidade do seu console, isso é o quão terrível esse jogo é. E com isso a promotoria encerra.

UAU, ISSO PARECE BEM... RUIM.

Pois é, então imagine minha emoção ao descobrir que eu vou ter que jogar "Kileak 3: o espermatozoide agora é outro" (para entender essa piada leia o texto de KILEAK THE BLOOD, eu não posso fazer tudo por vc também). Mas bem, vamos começar do começo...


Eu concordo, jogo. Eu estar jogando Kileak 3 definitivamente é uma linha muito fina entre a insanidade e o desespero, porque não tem como ter genialidade envolvida em fucking Kileak 3!


O que rola aqui é que nosso boy-magia protagnista está puxando um sono criogenico enquanto sua nave não chega ao destino. E com o que sonham protagonistas de CG do PS1? Com sua cocotinha elétrica, é claro. No caso, mais especificamente no video que ela mandou dizendo que foi realocada para uma missão de TRÊS ANOS e que não iria ve-lo por um tempinho.

Mano, a tua mina tá indo embora numa expedição de TRÊS ANOS e tu ficou sabendo disso pq ela te gravou um video no whatsapp? Não sei como te dizer isso, mas isso é um pé na bunda se eu já vi algum na vida!

E então você meio que já deduziu o plot aqui, certo? Nosso herói vai chegar no seu objetivo e a mina que ele não vê a três anos vai estar lá e...


... okay, por esse eu não esperava. As coisas deram uma virada para o clima pesado logo na abertura, veja só você. O que rola aqui é sua cocotante morreu de "ferimentos auto-infligidos". O que a principio se imaginou tratar-se de suicidio, obviamente, mas não foi bem esse o caso.

Ela, e sua equipe de expedição, descobriram um novo tipo de vírus que enlouquece as tendencias agressivas de uma pessoa e na falta de alvo melhor, até mesmo contra si mesmo. Ou seja, esse jogo é uma versão sci-fi de The Happening, só que menos contrangedor... o que não é tão dificil, mesmo sendo fucking Kileak 3.


A Sindrome de Pickman é como esse vírus foi chamado, em homenagem a primeira vitima - ou seja, o peão de obra que levou uma pedra na escavação e tomou uma baforada de fungo do inferno que tava quieto a 5 mil anos. 

Tá, mas pq isso é importante? Ora, pq nosso herói é um Space Marine e a missão para qual ele está indo consiste em investigar pq um asteroide de mineração perdeu totalmente o contato. Suponho que não é spoiler nenhum já adiantar que um surto de Sindrome do Pegahomem pode estar envolvido e esse asteroide por acaso é o Beltlogger 9 do título


O plano é simples: a missão vai enviar dois times simultaneamente para entrar pelos dois lados da estação. A Thor Squadron, e o seu: a Brahma Force. Claro, alguém poderia argumentar que usar nomes que a lingua inglesa não consegue dizer sem parecer que vai falar "Gourlaaaaami" não é eficiente numa comunicação de emergencia como é o campo de batalha já que entender um nome errado pode ser a diferença entre a vida e a morte, mas soa cool e isso é tudo que importa.

Tudo. Que. Importa.

Adicionalmente, é só entrar numa estação de mineração, o que possivelmente poderia dar errado?


Alguém hackeia os canais de comunicação da nave e diz: "Eu sou Dionisio Vega, bem vindos aos meus dominios". Ao que nosso herói prontamente responde - e eu quero dizer que ele realmente diz isso, não estou zoando: "Hã? Dionisio Vega? Esse nome não está na lista dos habitantes da estação!".

Sim cara, alguém acabou de hackear o seu canal particualr de comunicação e sua preocupação é que o nome que ele deu não está no manifesto da população local. Começo a entender pq a mina foi dar um rolê de três anos e só te avisou pelo whatsapp...


Como desgraça pouca é bobagem, os drones da estação abatem a equipe Brahma de desembarque, deixando nosso herói como único sobrevivente. Claro, vc pode questionar que diabos de Space Marines são esses que são destruídos por drones de mineração, mas seja como for nosso campeão então pede para abortar a missão e dar meia volta, ao que ele só ouve um sonoro "te fode ae nerdão, lero lero".

E assim começa nossa jornada em Beltlogger 9 para descobrir o que aconteceu e talvez tentar contato com o pessoal que entrou do outro lado da estação... se é que eles estão vivos, pq Dionisio Vega interrompeu as comunicações e não se sabe agora que fim eles levaram.

Maldito seja Dionisio Vega e seu nome super cool!


Ma bene, chega de patifaria e vamos falar do jogo... que talvez de forma pouco surpreendente é muito melhor que KILEAK THE BLOOD. Eu digo "pouco surpreendente" pq pra ser pior os caras teriam que se puxar e muito! Mas enfim...

Independente de suas origens, BRAHMA Force é surpreendentemente fácil de controlar. Desde o o primeiro momento que você pega no controle já nota como seu mecha responde bem aos comandos. Adicione a isso que o jogo não se passa mais em corredores apertados (variando entre areas amplas o suficiente ou pelo menos corredores onde não falta espaço pra vc desviar dos tiros) e temos um jogo bastante jogavel aqui.


O sistema de mira é particularmente curioso: você só pode mover a mira para a direita e para a esquerda, como em um Doom-like (apesar do jogo ser todo em 3D). Então como você atira nos inimigos que não estão alinhados na sua altura? Se você manter a mira nele por alguns instantes, o computador do seu mecha trava a mira no alvo pra vc. Quanto tempo demora pra travar a mira e o quanto vc pode se mexer sem perder a mira depende da arma que vc está usando e do nível de upgrade dela (logo, itens de upgrade tornam travar a mira mais rápido e te dar mais liberdade para se mexer). 

Isso pode parecer estranho no começo, mas assim que vc pega o jeito tem realmente a sensação de que está operando um mecha com um computador de bordo te auxiliando... o que é todo o ponto do jogo, afinal. Então 10/10 pela imersão, isso não pode ser tirado desse jogo.


Adicione a isso que as informações da sua tela são completamente configuraveis e que ela balança um pouco quando seu robozão anda (mas não muito como o modo bipede em GUNGRIFFON) e você tem realmente uma imersão completa no que o jogo se propõe a fazer.

Ajuda muito também que no quesito gráficos, BRAHMA Force tem um desempenho melhor do que vc esperaria para um jogo não tão mainstream assim dessa época. Os gráficos com mapeamento de textura 3-D são nítidos e há uma quantidade surpreendentemente baixa de poligonos estourando quando vc se aproxima das coisas. E embora o jogo todo se passe no mesmo cenário - a estação mineradora Beltlogger 9 - cada ambiente é detalhado e vc consegue diferenciar as fases, não tendo aquela sensação horrível que vc está jogando apenas a mesma fase por horas e horas e horas. As cutscenes também são bastante boas já que envolvem basicamente mechas, e fazer objetos angulares era muito mais fácil e ficava melhor em 1996 do que tentar renderizar pessoas.


Outra coisa que eu posso elogiar nesse jogo é seu level design: em cada fase você precisa coletar uma chave e ir até a saída, e os mapas 3D são bastante claros para te orientar. Com efeito, é o melhor mapa que eu já vi em um jogo nesse blog até então (talvez empatado com os metroidvanias como SUPER METROID e CASTLEVANIA: Symphony of the Night).

ISSO, DEFINITIVAMENTE, SÃO MUITOS ELOGIOS PARA KILEAK 3, TAÍ ALGO QUE EU NÃO ESPERAVA...

Maaaaaaaaaaaaaaas...

OKAY, ISSO EU ESPERAVA.

... mas contudo todavia porém entretanto, esse jogo tem um pequeno, minusculo, imperceptível problema que eu sou obrigado a mencionar aqui. Coisa boba, mas...


... bem, ele não é muito divertido de jogar realmente. Achei que isso talvez fosse importante mencionar. E eu digo isso baseado que apesar de todas suas qualidades tecnica, tem o fato que o combate nesse jogo é um saquinho... o que algumas culturas poderiam considerar um problema dado que isso é um fucking FPS! Atirar em coisas e não ser atirado é meio que todo o jogo, não?

Cada nível é atulhado de drones raivosos, alguns são pequenos e alguns são grandes, mas todos tem a fúria dos sete infernos em ir pra cima de vc com velocidade e agressividade com um poder de fogo consideravel. Um inimigo ou dois drenarem toda sua vida antes de vc sequer entender de onde está levando tiro não é algo incomum realmente, e todos inimigos swarmam em cima de você logo o jogo os permite.


Mas tá, isso faria apenas o jogo ser dificil mas não necessariamente ruim, é apenas ir com calma e limpar a area, certo? Talvez abusar um pouco das salas seguras e ir limpando a fase, dá pra ser feito, né?

Então... eu mencionei que apenas OS INIMIGOS SPAWNAM INFINITAMENTE? Mas sério, parabéns ao jirimum que pensou essa ideia brilhante, vcs cagaram o jogo. Porra seus dementes, lhes ocorreu por um segundo sequer, umzinho que seja, que existe um motivo pelo qual os FPS não fazem isso desde DOOM? Não?


Lutar contra os inimigos nesse jogo é inútil pq vc só perde energia e no máximo, mas enfase no NEM SEMPRE, pode ganhar de volta para repor algo que vc perdeu. Mas nunca realmente ganha nada com isso. As armas e suas diferentes formas de travar a mira são criativas, mas nada disso realmente adianta se o combate é apenas perda de tempo e de recursos já que pra cada inimigo que vc matar vai spawnam mais dois de fora da tela.

Então parabéns a todos os envolvidos, conseguiram pegar um jogo que é todo tecnicamente redondinho, tem uma história interessante, tem conceitos interessantes mecanicamente... e tiraram toda a diversão de jogar isso com uma única decisão de design infeliz. Mas meus parabéns MESMO!


E essa é a razão pela qual nunca houve um Kileak 4. Não pq vivemos sob o jugo de um deus misericordioso, mas sim pq os caras mataram um jogo que seria perfeitamente jogavel, a franquia e quase a própria empresa com uma única decisão de design infeliz. Aí é foda, mermão.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 119 (Setembro de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 036 (Março de 1997)