segunda-feira, 3 de abril de 2023

[#1078][Nov/96] STREET FIGHTER EX PLUS ALPHA

Esse Ryu tomou umas paradinhas e ficou meio inchado, se é que me entendem

Continuando a pegada de ontem, ainda estamos na vibe dos jogos de luta pq estamos nas revistas de 1997 e é claro que metade dos jogos serão sobre jogos de luta... porém esse aqui é um particularmente curioso. Eu já falei aqui um bazilhão de vezes sobre como a Capcom e a SNK disputavam na unha a liderança do mundo dos jogos de luta 2D, porém no mundo de jogos de luta 3D eles não eram sequer uma nota de rodapé perto que o domínio que a Namco (com TEKKEN 3 e SOUL EDGE) e a Sega (com VIRTUA FIGHTER 3 e seus derivados, tipo FIGHTERS MEGAMIX) tinham.

Fato este que, obviamente, a Capcom estava totalmente ciente e digo mais do que isso, pretendia fazer algo a respeito... mais ou menos. Isso pq o produtor da Capcom Noritaka Fuanamizu sabia que existia muito dinheiro a ser feito aí, mas também sabia que:


A Capcom até tentou um jogo de luta 3D, o STAR GLADIATOR: Episode 1 - Final Crusade, mas honestamente essa tentativa não foi a muito lugar realmente. A solução seria a) investir pesado em aprender a fazer jogos de luta do zero ou b) tercerizar para alguém fazer os jogos por eles.

A solução mais rápida e barata, é claro, era a segunda e portanto a preferida... mas tinha um problema: a Capcom já havia tido uma experiencia com tercerizar sua marca para fazer um "Street Fighter diferente" e o resultado que tivemos disso foi... que os antigos deuses e os novos nos ajudem... STREET FIGHTER: THE MOVIE. Yeah, não ficou um gosto muito bom disso, eu tenho que dizer...

Não é estranho a capa japonesa do jogo ser minimalista, mas eu duvido que de pra ser MAIS  minimalista do que isso, francamente

Mas E SE, veja bem E SE houvesse alguém que conhecesse Street Fighter de trás pra frente e tinha grandes chances de entregar um produto decente? Por sorte, a Capcom tinha alguém EXATAMENTE assim no seu caderninho de telefones (nossa, agora eu parei pra pensar quantas decadas que eu não vejo uma agenda de telefones): ninguém menos que o diretor do STREET FIGHTER II: THE WORLD WARRIOR, Akira Nishitani.

Mais precisamente, Nishitani havia saído da Capcom não muito tempo atrás e fundado a sua própria empresa, a Arika (sim, ele só trocou as silabas do seu nome) na qual estava desenvolvendo - vejam só vocês - um jogo de luta 3D! Veja só se não é uma coincidencia perfeita?



A Capcom então bateu um fio para seu velho funcionário e ofereceu financiar o desenvolvimento, o direito de usar os personagens consagrados de Street Fighter e distribuir o jogo, tudo que Nishitani e seus boys magia tinham que fazer era transformar o jogo que a Arika estava desenvolvendo em um Street Fighter 3D.

O que, se você pensar bem, é uma relação de trabalho bem estranha. Sério, Nishitani foi tipo "fodam-se vc, Capcom, estou pedindo demissão pra nunca mais ter que ver a cara de vcs na minha vida... mas vou fazer jogos pra vcs porque preciso do dinheiro e... ainda posso trabalhar com Street Fighter?"


Ao que a Capcom respondeu: “FAÇA NOSSA VERSÃO 3D. NÃO SABEMOS COMO. FAÇA POR NÓS. AS PESSOAS VÃO TE CULPAR SE ISSO FOR RUIM E NOS AMAR SE NÃO FOR.”

E foi assim que esse jogo nasceu. Agora, se isso deu certo, vc me pergunta?

Bem…

Er…

Ahhhhh…

Um…

Mais ou menos?


Olha, tem o Ryu no jogo! E a Sakura, todo mundo gosta da Sakura! Isso significa que deve ser bom, né? ... né? Então... Bem, primeiro, vamos começar com a história, isso!

Como em todo jogo de luta, tem algum tipo de torneio aqui e por trás de tudo, há uma sub-história sobre todo mundo quer meter a porrada no M Bison e na Shadaloo/Shadowlaw/Xangrilá/Whaterloo (a grafia dessa coisa muda a todo jogo, então whatever)... e meio que foi essa a história. Bem, é o quadrilhonesimo oitavo Street Fighter, eu realmente não culpo os caras por estarem sem ideias a essa altura...


OK, então o elenco de personagens é ... não é ruim, mas não é o que eu chamaria de brilhante também. Temos o Ryu, o Ryu de vermelho (vulgo Ken), a menina dos pernão e o militar americano cujo corte de cabelo não fazem nenhum sentido, porque não seria um jogo de Street Fighter sem os quatro personagens mais iconicos da franquia. Então eles socaram o Zangief e Dhalsim apenas porque não e adicionaram a Ryu Colegial (vulgo Sakura) porque obviamente não tem personagens com o mesmo moveset do Ryu o suficientes nesse jogo.

E então criaram mais dois personagens originais que são essencialmente o Ryu também. Sério, existem muitos clones do Ryu nesse jogo. Além do próprio Ryu tem o Ken, Kairi, Allen e a Sakura, todos com essencialmente os mesmos golpes. Mas se vc ainda não tem versões do Ryu o suficiente, nada tema pq dá pra desbloquear uma uma versão sombria do Kairi, que é praticamente o mesma, mas... você sabe, sombria. Ah, e tem o Akuma como personagem secreto também... que usa os mesmos golpes, como vc pode imaginar

Porém os 52 clones do Ryu são o menor dos meus problemas com esse jogo, pq então temos ESSE cara:


HOLY FUCKING CRAP QUE PORRA VOCÊ TOMOU, MANO?!?! Caramba, cara, vá deitar um pouco em um quarto escuro, você está claramente ligadaço pra caralho!

Este é D.Dark. Doutrina Sombria. Ele é... isso aí. Seu cenário é no esgoto e ele brinca com bombas, fios e canivetes extensíveis. Ele é como um Scorpion apenas com controles melhores do que MK4 (o que nem é tão dificil), mas nenhuma personalidade além de seus olhos maníacos. Ele até joga um cabo que pode ser usado para puxar os oponentes em sua direção, because Scorpion. Ele é meio bom como personagem e também é meio terrível. Como esse jogo.


Basicamente, o que você tem aqui é uma mistura gigante de personagens vazios e fillers que são tão memoráveis quanto eu dando um discurso em publico, e você realmente não poderia se importa menos com nenhum deles. E essa é a questão principal: você tem sua meia dúzia de personagens de Street Fighter e então você tem ... o resto, que parece ter saído de um jogo inteiramente diferente e com 1/100 do carisma. 


Sério, quem se importa com Hokuto? Para que ela está lá? E C.Jack, o cara de chapéu que controla como o Bison (ou Balrog se vc for o chatinho da Gamers)? Skullomania? Sério que tem um cara com uma roupa Halloween de esqueleto? OK, ele é vagamente interessante, mas para ser honesto, todo o jogo faz um trabalho tão ruim em apresentar a história de cada personagem que você não realmente se importa. 

A unica coisa que vc pensa é que se eles iam encher linguiça com esses caras, podia então ter apenas colocado uma versão 3D do elenco original completo de Street Figher 2. Ao menos seria uma curiosidade pra ver como o E. Honda ou o Blanka ficam em gráficos 3D do PS1, o que não é muito mas pelo menos é mais do que a Pullum. Sim, não existe uma única pessoa viva neste planeta de oito bilhões de pessoas que lembre da Pullum, e esse é o nível do elenco aqui.

Não, Sakura, NÃO é perfect. Longe disso. É tudo menos isso. Não comece a dançar com sua saia e cabelo feito de blocos. Não é tão sensual quanto vc pensa que é.

Mas pq eu estou pegando no pé do elenco do jogo tanto, vc pergunta? Pq é meio que tudo esse jogo tem realmente já que o resto é essencialmente... vc sabe, Street Fighter 2, só que com bonecos em 3D. É isso, pegaram a programação do jogo de 1992, colocaram nesses bonecos e é isso, é esse o jogo.

Vc já jogou esse exato jogo, só que com outros gráficos e, sejamos honestos, respostas dos controles melhores. Eu sei que parece estranho reclamar que Street Fighter 3D é, enfim, Street Fighter só que em 3D, mas não tem outra forma de descrever esse jogo em 1997 como "okay, mas eu já estou jogando isso a 5 anos". Mesmo o efeito de meteoro quando você termina um round com um super-super combo ou um super-super-super-combo (onde você encadeia três supercombos um no outro, o que é surpreendentemente fácil às vezes, dependendo do personagem), parece feito sem o minimo de entusiasmo


E a música? Foda-se, que música sem graça da porra - logo onde a música é um dos pontos mais iconicos de Street Fighter! Não tenho ideia de que instrumentos são esses que eles estão tocando, mas a maioria deles soa alguma coisas estilo jazz-rock com um pouco de etno-pop adicionado para uma diferenciada, mas cada música é desastrosamente desinspirada. 

Os efeitos sonoros? Nada especial tambem, não é satisfatório socar os coleguinhas sem o adversário fazer UOOOOOOO UOOOO PTUM BAAAA no fim do round. E um som tão iconico que voce certamente ouviu na sua cabeça mesmo com a minha descrição porca. Aqui eles soam como se alguém estivesse batendo um pedaço de madeira no chão ou sacudindo um pedaço de papel. 


Nenhuma dessas coisas é ruim per se, é apenas ... desapontante. É desaponante ver um jogo que você sabe que pode ser feito melhor do que isso e por pessoas que até trabalharam na série de jogos antes ser feito tão preguiçosamente. É simplesmente desapontante.

E é isso. Uma vez que você viu os bonequinhos em 3D, esse jogo é uma versão feita sem tesão de Street Fighter 2. Só que em 3D, apenas com movimentos adaptados de forma realista (o hurricane kick é mais realista porque o personagem não apenas gira no ar como o pião da casa própria, eles realmente giram as pernas um movimento de cada vez) mas que no fim é apenas outra versão de Street Fighter. 

Enquanto não tem nada de errado com os menus de PS1, eu queria dizer que esse é o único jogo que eu vi até hoje qUe o Start SAI do menu, então é possível perder um continue pq vc apertou Start. Dafuq, man?

A física parece okay, os personagens não são ridiculamente desbalanceados, os controles respondem bem, parece um jogo de Street Fighter. O personagem se move como você espera, eles executam os movimentos que você espera (com algumas pequenas alterações) e você pode lutar praticamente da mesma forma que nos jogos 2D, apenas com bonecos 3D. 

E aí está o problema. O jogo em si, a mecânica, a sensação do jogo, o fato de ser essencialmente Street Fighter em 3D, é tecnicamente sólido e realmente joga okay para a época. O problema é que apenas é outra versão de um jogo que já estava a 5 anos no mercado. 


A unica coisa realmente memoravel que eu carregarei desse jogo, alem dos gráficos, é o o locutor na tela de título se cansando de ter que adicionar mais palavras aleatórias ao final do título, ficando mais desanimado a cada palavra

“STREET FIGHTER EE EX… plus alfa, tanto faz.”

Você quase espera que ele continuasse adicionando palavras aleatórias ao final. “STREET FIGHTER EE EX PLUS ALPHA BATTLE RANGER KRYPTON FLUORESCENT MOON ATTACK B SERIES ALPHA ZULU CHARLIE TANGO SHIFT M!”

... 

“2!”


Basicamente, então, é okay mas é desapontante. É aquele meio-termo terrível. E é o pior tipo de meio termo, aquele que é apenas desinteressante.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 118 (Agosto de 1997)


Edição 119 (Setembro de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 032 (Novembro de 1996)


Edição 043 (Outubro de 1997)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 012 (Outubro de 1996)


Edição 018 (Maio de 1997)


Edição 022 (Setembro de 1997)