segunda-feira, 28 de julho de 2025

[#1517][Jan/2000] SEVEN MANSIONS: Ghastly Smile (ou "Nanatsu no Hikan: Senritsu no Bishō" no Japão)


Ante de começar esse projeto, eu não sabia absolutamente nada sobre o Dreamcast. Menos do que nada, na verdade, eu nunca sequer havia visto um único jogo de Dreamcast na vida (talvez exceto os que depois foram portados para o PS2 quando do falecimento do console, como DEAD OR ALIVE 2.

É, EU NÃO CONSIGO IMAGINAR PORQUE VOCÊ CONHECERIA DEAD OR ALIVE 2 DE TODAS AS COISAS...


Existem mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia, Jorge... mas divago. O fato é que eu não sabia nada sobre o Dreamcast antes de começar esse projeto e sabia menos ainda que o último console da Sega seria essa máquina bem lubrificada de vomitar jogos bizarros. Hoje, quando eu penso "tão ruim que é bom" em videogames, eu imediatamente penso na caixinha perolada da Sega e como grandes são as chances de você sair do jogo com uma sensação de "WHAT. THE. ACTUAL. FUCK.".

Estou falando de uma máquina que nos deu perolas como D2 ou BLUE STINGER... e hoje se junta este glorioso panteão de "mano, o que eles fumaram aqui?" esta joia que atende pelo nome de "Sete Mansões Mas por "Mansão" Entenda Qualquer Tipo de Construção: Sorriso Que Pode Evoluir para Haunter". Vamos a essa tolice, então.

Agora, me permitam deixar isso bem claro desde o início: este não é um jogo bom por nenhuma métrica. Com efeito, ele tem uma das piores e mais duras jogabilidades que eu já vi em um survival horror e por menos da metade disso COUNTDOWN VAMPIRES foi esculhambado pelo AVGN. Mas sério, é ruim, realmente ruim, você quase consegue ouvir as juntas do protagonista empenando quando ele ataca. Quero dizer: existe ruim, existe constrangedor, e existe ISSO:


Gente, sério, isso está rodando em um console uma geração superior ao PS1 e lançado meio ano depois de RESIDENT EVIL 3: Nemesis. Não existe nenhuma razão, causa ou circunstancia no mundo que essa coisa aí acima aconteça quando ISSO já existia em uma geração atrás:


Todo mundo comigo até aqui? Provavelmente não, mas sigamos. Isso não quer dizer, no entanto, que esse jogo não seja sem qualidades redentoras. Com efeito, esse jogo faz algo literalmente muito único: é o único survival horror que eu conheço que dá pra jogar cooperativo local até Resident Evil 6. Posso estar errado, mas do topo da minha cabeça é o que eu lembro e tem que ser elogiado que isso está rodando em um Dreamcast. 

Então, kudos onde kudos são devidos, apenas por isso o jogo merece uma conferida, mesmo a sua execução - tal como o Naruto - possa ser meio dura as vezes. Ou sempre. Mas é, survival horror com cooperativo, tela dividida, taí algo que você não encontra todo dia.


Isso sendo dito, mais do que o cooperativo, o que eu acho que realmente REALMENTE vende o jogo é o quão ablublé das ideias tudo na sua história realmente é, estou falando de coisas do nível de D2 olhar e dizer "tu é dos meu, bro". Vamos a isso então:

Pra começar, o jogo gentilmente permite que você escolha entre dois protagonistas: Kay, que parece alguém vestida exclusivamente com roupas de achados e perdidos de uma pista de boliche de 1997; ou Raina, que por razões que jamais serão explicadas passa o jogo inteiro agindo como se tivesse cerca de seis anos de idade.

Qualquer um que você não escolher te seguirá e você deve protegê-lo — ou vê-lo morrer horrivelmente no minimo (mas não limitado a) pelo menos uma vez, dado que o jogo tem friendly fire. No modo para um jogador tem nas opções se você quer que a máquina controle o outro boneco ou ele apenas fique lá paradão nas cenas de ação, e eu estou em duvida qual dos dois tem mais chance de matar o seu coleguinha.


Seja como for, a diferença principal é que Kay tem mais combates com zumbis mas ganha as respostas dos puzzles, enquanto Raina tem menos luta mas vc tem que decifrar o arcanismo dos puzzles desse jogo. Novamente, estou em duvida qual dos dois tem mais chances de te matar pq como já citado o combate desse jogo é pavoroso, mas o que eles passam por puzzles não é nenhum passeio no parque também. Escolha seu veneno.

Então Kay e Raina, amigos de infância em férias de verão (porque seus planos de verão não incluiriam vasculhar uma ilha cheia de experimentos científicos que deram errado?), decidem procurar o antigo mentor de Kay, Dr. Ernest. Por quê? Porque Ernest lhes enviou uma carta tão enigmática que faz os dois pensarem "vamos até uma ilha misteriosa sem contato com o mundo e sem comunicar as autoridades para ver o que aconteceu!". Mas então, se personagens de histórias de terror tivessem bom senso, 97% delas não aconteceriam em primeiro lugar...


Eles chegam. Kay se machuca instantaneamente apenas... andando. Nosso herói, senhoras e senhores. Raina, profundamente preocupada, o abandona imediatamente no meio de uma ilha que eles não tem ideia de qual é a fauna nativa e vai até o laboratório mais suspeito do mundo em busca de ajuda. Enquanto ela está fora, um homem aleatório com um laser mágico surge do nada e cura a... dor na canela... eu achei que era uma torção de tornozelo do Kay, mas suponho que isso aumentaria o preço de animar a cena... mas divago, o que importa é que depois da cura com um laser mágico ele casualmente diz para beber Kei a "água incrível" da ilha se quiser se sentir ainda melhor. Claro, amigo. Nada de estranho nisso.

Kay finalmente manca até o laboratório, apenas para dar de cara com os  monstros principais do jogo, que são... hã... eles são, hmm... olha, eu não tenho exatamente certeza do que eles são... eles meio que agem como zumbis mas tem essas coisas penduradas no lugar dos braços e fazem o barulho mais irritante que qualquer monstro em qualquer jogo já fez na história dos videojogos... 

Eu não estou brincando quando digo que eles ficam fazendo esse barulho em loop durante toda duração do jogo, pq o que é um design de som campeão, não é mesmo? Mas espere! Kay encontra uma faca. Com certeza, agora os monstros vão ver só! 


... ou iriam, em um jogo com uma jogabilidade que não parecesse estar rodando em um 3DO. Seja como for, em algum lugar no meio de tudo isso, Kay encontra Raina e a anima com... doces. Sim, doces. Lembra quando eu mencionei que ela age como se tivesse seis anos? Então, não era piada, era bem literal. 


É... nada de errado nisso, definitivamente, né Japão... mas enfim, os dois então encontram um cara chamado Schneider — um mutante que se denomina "sublimador", e que revela seu plano mestre de exterminar a humanidade e substituí-la por sua própria raça de humanos sublimados.

Vou te dizer que eu tenho sentimentos mistos a respeito desse cara. Por um lado a escolha de nomes dele é horrível, o que diabos são "humanos sublimados", afinal? Tipo eles conseguem passar do estado sólido para o estado gasoso sem passar pelo estado líquido? Mas então, por outro lado, eu não tenho como negar o quanto de vontade esse cara está colocando no seu plano:


Qualé, não tem como torcer contra um cara que coloca TANTA vontade assim no seu plano, a gente tem que concordar com isso. Depois de uma luta de chefe em que a IA do jogo mostra o quão util ela pode ser, nossos heróis cansam de perdem o interesse em vasculhar o laboratório (sabe, o lugar cheio de pistas?), e decidem dar uma olhada na casa do professor que eles vieram procurar. Lá eles encontram Christy, a filha doente de Ernest e Tanya, sua misteriosa cuidadora com olhos brilhantes.


Christy e Tanya sabem onde Ernest está? Não. Esse desvio foi uma total perda de tempo e energia. Então eles saem e encontram o Homem do Laser novamente e finalmente se apresenta: Allan, filho de Ernest. O que levanta a pergunta óbvia: agora a pouco quando eles foram na casa, ambos conheciam a Christy. Então como diabos Kay e Raina conheciam Christy, mas não o irmão dela? Será que os irmãos moravam em andares secretos separados da mesma casa?

Antes que mais perguntas pertinentes sejam levantadas, o grupo se separa como em um episódio de Scooby-Doo, mas não antes de Kei dar mais doces para Raina se acalmar. Okay, sério, apesar dela ter o corpo de uma adolescente ela REALMENTE se comporta como uma criança de 6 anos de idade e isso não está ficando menos errado a cada segundo que passa.

Kei esbarra em outro cara aleatório, Ricky, que não explica quem é e desaparece imediatamente. Maneiro, bom pra vc campeão. Reviravolta: Christy e Tanya são sequestradas! Oh noes! Depressa, para outro laboratório! 

Lá, um guarda robô exige provas de que Kay e Raina são Schneider. Então, logicamente, eles encontram uma fita de Schneider gritando e a tocam para o robô. E funciona. Protocolos de segurança à la Looney Tunes nunca falham, é o que eu te digo.


Então eles encontram Tanya, com os olhos brilhando vermelhos malignamente enquanto toca órgão apenas para provar que ela é realmente muito maligna do mal que odeia o bem, usa o sharingan para controlar Kay e Raina. Ela sequestra Raina, deixa Kay parada ali como um idiota, mas eventualmente Kay se recupera. Ele encontra Tanya prestes a injetar em Raina algo que a transformará em uma sublimadora. Nesse momento, Schneider prende todos em uma sala cheia de gás venenoso. 


Tanya, percebendo de repente que odeia Schneider (?), os ajuda a escapar... e então desaparece para sempre. Sério, ela saiu do jogo. Então... que poderes de hipnose eram aqueles? Qual era o objetivo dela? Por que ela mudou de lado? Essas todas são excelentes perguntas, para as quais jamais teremos uma resposta. 

Ricky reaparece, ferido, e revela que é, na verdade, um agente secreto enviado para explodir o laboratório. Mas agora que ele tem um machucado, a tarefa recai sobre nossos heróis... porque eu tenho certeza que é protocolo do FBI sabonetar as missões para civis em caso de desconforto leve, sendo que uma deles age como uma literal criança. Então ele desaparece mancando na obscuridade, para nunca mais ser visto também. E esse foi o nosso Ricky, senhoras e senhores!

"Eu não serei capaz de mover, vocês terão que completar a missão por mim" pede o agente Ricky, antes de sair andando embora. Se o novo "Corra que a Policia Vem Aí" tiver piadas nesse nível, meu dia está ganho.

Finalmente, eles finalmente encontram o professor Ernest que eles vieram procurar, preso e delirando sobre algo chamado "A Arca" que destruirá a humanidade. A resposta de Kay e Raina: "É, tá bom, senta lá, Claudia." Então é hora de armar as bombas que Ricky deu a eles — mas primeiro, a luta contra o chefe! Schneider se transforma... no diabo. Literalmente. Raina tem uma crise de panico e pede mais doces. Eu queria ser criativo o suficiente para estar inventando isso. 

Eles derrotam o capiroto, explodem o laboratório. Missão cumprida! Exceto... algo enorme emerge do mar: a própria Arca. Aparentemente, é o "terceiro laboratório secreto" da ilha (a esse ponto eu realmente estou preocupado que sejam sete mesmo como o título do jogo diz).

Lá dentro, eles encontram... o subliminador definitivo, que é claro que é uma novinha vestida de freira steampunk. Quer dizer, como mais você vestiria a raça suprema que vai tomar o lugar da humanidade no planeta?

Então, um triângulo mágico aparece e projeta a verdadeira mente maligna por trás de tudo: Allan. Sim, o homem-laser Allan. Hora do monólogo do vilão. Allan explica: que quando eram pequenos, Christy bebeu água poluída e adoeceu. Então, naturalmente, os irmãos planejam exterminar a humanidade e substituí-la por monstros sublimados que não irão poluir o meio ambiente. Como a água suja os traumatizou tanto, eles decidiram se tornar Frankensteins ecoterroristas. 

Essa... é a pior motivação que eu já vi em mais de mil e quinhentos jogos nesse blog. Não, sério, eu lido com muita porcaria aqui em base diária, mas vc está me dizendo que quer extinguir a humanidade e substituí-los por monstros biomutantes porque sua irmã bebeu agua suja quando era criança? É aí que você traça a linha, agua suja? Isso é a coisa que você absolutamente não pode aceitar?

Okay... então Christy, agora revelada como a controlando a Arca com seu cérebro enquanto estava em coma (ou mais ou menos isso, é super confuso e mal explicado), muda de ideia repentinamente: "Não quero mais matar todo mundo." Por quê? Quem sabe, mas eu diria que ouvir em voz alta alguem dizer que quer extinguir a raça humana por causa de um gole de agua suja pode te fazer perceber o quão idiota isso soa. 

Seja qual for o motivo, Christy decide matar Alan e então morre de tristeza por matar seu irmão e isso resolve a nossa história. E acredite, eu estou contando de uma forma bem mais poética do que é mostrado na tela...


Eu quero avisar que eu não editei nada dessa cena, ela corta desse jeito mesmo. Christy vai full Padmé e apenas desiste de viver, e então corta para o professor Ernest - que acabou de ver seus dois filhos morrerem diante dos seus olhos enquanto eles tentavam extinguir a humanidade - vagamente chateado que a visita dos seus alunos está acabando.

Mas existe um motivo pra isso, aha, acha que é putaria o negócio? Claro que não, o professor está agindo desse jeito pq seus filhos na verdade estão bem! Christy está viva e aparentemente curada de ter bebido agua suja... e Allan agora sofre de amnésia cartunesca e reverteu a achar que era uma criança de novo. Okay, tá bom, já chega, que porra é que esse jogo tem com gente crescida agindo como crianças?


Puta merda caras, ao menos tentem disfarçar os fetiches de vocês melhor! Mas enfim, Alan agora corre por aí como uma criança e quando você poderia esperar que então o jogo terminaria com ele e Raina (que também tem 6 anos de idade mentalmente) pulando amarelinha ou alguma coisa... 


O QUE? EEEEEWWWWWWW!!! Cara, esse é o casal mais sem química que eu já vi, ela age como uma literal criança o jogo todo e no fim vc passa o manjubão nela? ARGH, alô? É do FBI? Eu quero, não, minha sanidade DEPENDE de eu denunciar um jogo!

Mas esse não é o fim, entretanto. Porque antes dos créditos rolarem... 

Então, logo antes dos créditos rolarem, a câmera dá um zoom dramático em uma gaivota... que na verdade é um robô. Por quê? Não pergunte. O jogo também não sabe. A unica coisa que eu consigo pensar é aquela cena do filme do Homer Simpson, com o cachorro vilão no final:

Então esse foi Seven Mansions: Ghastly Smile. Eu vou repetir mais uma vez: em todos esses anos nessa indústria vital, eu nunca vi algo tão idiota na minha vida inteira - e olha que eu já estou indo para quase 100 jogos de Dreamcast, a casa de 128 bits das grandes tolices. Mas mesmo para os padrões do Dreamcast, isso é outro nível de tolice, defintivamente.

Por que a gaivota é um robô? Por que Schneider se transforma em Satã? Por que Raina age como se tivesse seis anos? Pra que o Ricky está nessa história? E qual era a coisa da Tanya? Como ninguém na produção desse jogo foi preso pela Policia Federal olhar os conteúdos dos seus computdores? Essas e muitas outras questões, não é nem que Seven Mansions não sabe responder, eu duvido muito que eles tem noção que estavam levantando as questões em primeiro lugar...

Então, eu odeio esse jogo? Absolutamente não.

Os controles são ruins ao ponto do risível, mas não  é a pior coisa do mundo pq a camera é customizável (vc pode jogar com camera fixa a lá RESIDENT EVIL, com camera atrás do ombro e em primeira pessoa) e o mapa é bem funcional e fácil de acessar com um botão. Não é um jogo terrível de se jogar e isso faz dele quebrado no melhor jeito possível. Quer dizer, definitivamente ser um raro survival horror coop ajuda, porém o que REALMENTE carrega o jogo é que... bem que outro jogo teria um personagem como o Ricky — o agente secreto que aparece, não diz nada e deixa tudo para dois adolescentes sem noção?

Minha real duvida a respeito desse jogo é sobre qual é meu momento favorito dessa bela loucura. Pessoalmente, estou dividido entre "minha irmã bebeu água suja, então vamos full Umbrela e destruir a humanidade com uma nova raça de mutantes" e "gaivota robô surpresa".

É decisão mais difícil que eu já tive que tomar nesse blog. 

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 157 (Novembro de 2000)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 055 (Março de 2000 - Semana 1)