Se alguma vez você estiver sem autoestima e sem acreditar em si mesmo, lembre-se do quanto a Tsuburaya acreditava em si mesma. Veja, a Tsuburaya tinha a ambição de fazer de Ultraman uma franquia de apelo mundial - o que é bastante ousado, quando Ultraman sequer é a principal franquia de tokusatsu do Japão - sempre esteve atrás de Kamen Rider, Godzilla e Super Sentais em popularidade nacional.
Assim foi criada a série ULTRAMAN: TOWARDS THE FUTURE que é uma série australiana de Ultraman e que rendeu um jogo muito, muito ruim para Super Nintendo. A série é... okayish, não é hedionda mas nada que emplacou muito também. Diante desse insucesso, a Tsuburaya chegou a conclusão que só havia uma coisa a fazer... apostar mais alto ainda e fazer uma série inteiramente americana! Because America fuck yeah! Nascia assim a Ultraman: The Ultimate Hero!
Mas hey, você meu prosopopeico leitor deve estar se perguntando "ué, que inusitado uma série americana ter abertura em japonês, não parece algo que eles fariam durante os anos 90", no que você estaria completamente certo
UÉ, QUE INUSITADO UMA SÉRIE AMERICANA TER ABERTURA EM JAPONÊS, NÃO PARECE ALGO QUE ELES FARIAM DURANTE OS ANOS 90
Você está absolutamente certo!
Ultrahomem, o herói finaleiro, tem a abertura em japonês porque essa série nunca foi exibida nos US and A. Pq? Bem, a grosso modo porque a Tsuburaya nunca conseguiu vender a série para nenhuma emissora americana. Isso se deve, claro, ao fato que não existia uma cultura de tokusatsu na TV americana e você precisaria ter um produto razoavelmente bom nas mãos para fazer isso dar certo - o que definitivamente não é o caso dessa série.
Quer dizer, ela não é ruim como outras tentativas de "americanizar" coisas estrangeiras, tipo o filme para TV de Doctor Who ou o live action de Dragon Ball Z... até porque poucas coisas na vida são piores que essas coisas... mas ainda é bem, bem, beeeeeem ruim. Não tanto por causa das atuações dos atores que são fracos - totalmente você veria perfeitamente fazendo jogos FMV para o Sega CD, mas por causa da ação em si:
Eu não sei dizer exatamente o que, mas é bastante claro que algo deu muito errado na confecção das fantasisas do monstro e ela sairam muito, muito mais frageis do que deveriam ser porque a série inteira parece que os atores "lutam" meio que com medo de estragar as fantasias.
O resultado é que as lutas são bem, bem decepcionantes mesmo para produções baratas da época - e olha que Ultraman UH não é sequer uma produção barata, ela tem valores de produção bastante decentes. Mas ver essas lutas com os caras "tomando cuidado" não dá véi, simplesmente não dá.
O design dos monstros é até legal, porque eles são versões reimaginadas anos 90 dos monstros da série original do Ultraman dos anos 90 - embora normalmente não seja o caso, mas eu acho realmente que essa coisa edgy dos anos 90 meio que funcionou aqui. Pena que as lutem não funcionem, mas enfim.
Ultraman UH acabou encontrando seu lugar ao sol na Terra do Sol Nascente, onde foi lançada com o nome de Ultraman Powered... e rapidamente esquecida. Bem, não tão esquecida assim já que foi o jogo anunciado como carro-chefe do lançamento do 3DO no Japão. O que não é uma escolha ruim, já que Ultraman é uma marca de apelo nacional... e o 3DO precisaria de toda ajuda que pudesse, porque japoneses são bem reticentes em comprar de marcas estrangeiras (um problema que a Microsoft com o Xbox no Japão até hoje).
O jogo é bem fiel a série, infelizmente fiel demais porque o gameplay para um jogo de luta não é bom. Imagine o gameplay de Mortal Kombat - que já é aquela coisa duranga e burocrática - só que lento como se todas as lutas fossem dentro d'água. Pois é, isso é o Ultrahomem Empoderado. Um jogo lento, travado e com poucos golpes. Não tem nada de único nesse jogo, e mesmo o básico que ele faz não é particularmente bem feito.
O que é uma pena realmente, porque em todos os aspectos que não envolvem... bem, jogar o jogo... são bem feitinhos e remetem ao que se espera de um console da nova geração. O jogo contem quase todos os monstros da série (o que não é tão dificil, são 13 episódios) em imagens digitalizadas de boa qualidade, mas a grande atração mesmo é o Visual Mode que tem versões resumidas dos episódios referentes ao monstro que você vai lutar.
Não é nada muito extenso até porque não dá pra fazer milagre com um CD de 500 MB, mas a qualidade de imagem e som é boa o suficiente para você ter a sensação que está jogando um videogame de nova geração. Não que houvessem muitos fãs de Ultraman Powered espalhados pelo mundo, mas se houvessem definitivamente seria um deleite rever o episódio resumido antes de lutar contra o monstro do dia.
Tal como a série é mais mediocre do que ruim, mas pelo menos o jogo ganha um biscoitinho extra pelo esforço do conteúdo adicional.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 062
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 005
Preview na edição 002