domingo, 22 de novembro de 2020

[SUPER NINTENDO] ALCAHEST (Dezembro de 1993) [#562]

 

No finzinho de 1993, a então Squaresoft lançou um dos jogos com histórico de desenvolvimento mais complicado até então, SECRET OF MANA. Originalmente criado para ser um jogo incrivelmente ambicioso do SNES CD, o projeto foi limitado para caber em um cartucho e ainda sim seus melhores assets (multiplos finais, arte, trilha sonora, etc) foram reservados para um jogo feito com calma e redondinho: Chrono Trigger.

Infelizmente o que sobrou de Secret of Mana é repleto de boas intenções, execução... err... Quer dizer, a arte do jogo ainda é lindissima - mantenho que é um dos jogos mais bonitos do Super Nintendo - mas o sistema de combate misturando ação com RPG é pavoroso (ter um atributo "hit" com porcentagem de acerto não é algo que funciona em um jogo de ação) e o uso de menus para selecionar a magias não é nada melhor realmente. A ideia de ter sua party andando com você na tela também é legal, mas a IA é muito ruim e metade do tempo você pistola por causa da sua party enroscando no cenário e coisas assim.


Ok, mas porque eu estou falando de Secret of Mana? Bem, porque paralelamente a isso a HAL Laboratory (mais conhecida pelos jogos do Kirby) lançou que é a versão "bonitinha" de Secret of Mana - e esse é este Alcahest. E, como todo mundo sabe, "bonitinho" quer dizer que é o "feio arrumadinho".


Por um lado, Alcahest é definitivamente o "Secret of Mana do homem pobre" porque nem de perto tem o esmero visual ou a ambição (especialmente pelo tamanho do mapa do mundo) do jogo famoso da Squaresoft. Por outro lado, ele não tem nenhum dos defeitos do jogo citado. Alcahest pode não ter o talento bruto por trás de SoM, mas compensa isso em competencia.


Nossa história começa em uma cálida noite de verão em que uma estrela ominosa brilha no céu. Cara, com o ano de 2020 que a gente tá tento "estrela ominosa no céu" pra mim se chama "Sol" pq a gente não tem um dia de paz nessa merda. Mas voltado a nossa história, nossa estrela de luz que nos conduz e que nos faz sonhar estaria aqui para nos banhar em sonhos e esperança de toda sua ominosidade?

VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUE ESSA PALAVRA SIGNIFICA, NÉ?

Definitivamente não.


Bem, para surpresa de absolutamente zero pessoas, a estrela ominosa na verdade era o arauto do deus-demônio Alcahest - daí o  nome do jogo, e não porque o jogo é patrocinado por uma distribuídora de alcool-gel.

Assim, um herói reuniu os quatro espíritos elementais que protegem o mundo e com auxílio do poder deles mandou o capiroto para a capirotolandia, todos foram felizes, o bem vence o mal e espanta o temporal, yay, fim.

Espera, se tudo foi resolvido então como é que tem  jogo?


1000 anos se passaram, e um imperador impiedoso movimenta suas tropas para dominação mundial na base da chulapada. Com efeito, tudo que resta entre ele e a dominação mundial é o reino de Panakea, pois todos sabem que os panacas são dificeis de derrotar.

E como desgraça pouca é bobagem, no meio dessa folia no matagal toda surge mais uma vez no céu uma estrela ominosa...


O jogo começa exatamente quando as tropas do Imperador (que está sendo manipulado por cultistas do deus-demonio Alcahest) estão caçando Alen, o escolhido pelos espiritos guardiões do mundo para empunhar a Espada Guardiã e salvar o mundo para mata-lo antes que ele tenha a chance de, bem, reunir mais uma vez os espiritos guardiões e salvar o mundo.

Felizmente eles são gentis o bastante para informar a Alen que ele é o chosen one, porque do contrário o rapaz jamais saberia e o mundo não seria salvo. Se eles tivessem dito que queriam mata-lo apenas por causa de impostos atrasados ou algo assim, muitos problemas teriam sido evitados para Alcahest.


Oh, bem, agora Alen foi resgatado por um dos espiritos guardiões e você está com cara de idiota por ter dado com a língua nos dentes, né espertão?

Enfim, Alcahest (o jogo) não tenta inventar a roda aqui: um vilão do mal quer ressucitar um deus maligno porque acha que vai controlar o poder dele para ter servir ou algo assim. Porque, claro, isso sempre dá certo, né?

Suponho que seja desnecessário dizer que você termina lutando contra o capiroto no final, claro que sim, como não?


A primeira coisa que você vai notar a respeito de Alcahest é o jogo é um action-RPG... sem a parte do RPG. Aqui não existe atributos, experiencia, níveis, nada. Você bate e o que você acertar acertou, se errar errou. Para surpresa de ninguém (exceto da Squaresoft), esse é um sistema que funciona bem melhor em um videogame. Pode não ser ambicioso como SoM com nove tipo de armas com movimentação e alcance diferentes e cada uma com seu próprio nível de experiencia - aqui você só tem uma espada mesmo - mas funciona.

E eu diria que funcionar é uma parte muito importante do que faz um jogo, bem, funcionar.

Um detalhe interessante desse jogo é que a detecção de colisão dos inimigos é bastante zoada, como não é incomum em jogos dessa época. O que é incomum a jogos dessa época, entretanto, é que a hit detection é zoada... a seu favor. Ataques que não deveriam pegar nos inimigos pegam, então... neat-o... i guess?

Hã, eu acertei o bicho estando de costas pra ele...?

O jogo não funciona em um mapa de mundo aberto como um RPG, e sim no bom e velho sistema de fases - sendo que as fases são apenas dungeon crawling. Mais especificamente, em cada dungeon existem quatro itens colecionaveis que você precisa para abrindo seu caminho - sendo que na proxima fase esses itens são jogados fora e vc precisa de quatro novos itens.

Novamente, é simples... mas funciona.

Nessa area, por exemplo, você precisa da tocha para iluminar a area e achar a passagem

Porém as comparações com SoM não terminam por aí. Talvez a feature mais popular do jogo da Squaresoft é que você tem dois companions na tela, possivelmente tornando esse jogo jogavel por até três jogadores. O problema é que o pathing desses personagens é terrível, eles enroscam em tudo e ficam trancando o seu avanço.

Como em tudo mais, Alcahest usa uma versão mais simples disso só que mais funcional. Aqui seu companion nunca trava em nada porque ele está sempre colado no seu personagem. Ele também não tem IA nenhuma, ele apenas ataca quando você ataca e usa seu ataque especial (que consome a barrinha de SP que você vê na tela) quando você aperta X. É tudo manual, só que você anda apenas com o personagem principal e o companion segue encoxando.


Existem ao total 5 companions com ataques normais e especiais distintos, sendo que em cada fase você joga com um deles de acordo com onde se passa a fase, sendo que apenas nas últimas fases você pode escolher qual companion te segue. Eles não apenas tem uma certa personalidade (dentro dos limites da época, claro) como nos créditos finais do jogo tem um pequeno epilogo mostrando o que foi feito de cada um deles.


Garstein, o mago recem graduado na Academia de Magia, é meio covarde e não quer assumir muita responsabilidade com nada e tende a teleportar quando a coisa aperta. O que é uma pena, porque seu ataque normal é o melhor do jogo: uma magia teleguiada que tem o maior alcance de todos os companions.

Após a derrota de Alcahest, Garstein saiu para explorar o mundo até que um dia desapareceu ao explorar a dimensão do submundo da onde vem os demonios. Porém acho que ele passa bem, porque até os dias de hoje são enviados tesouros e magias recem descobertas por ele para a Academia de Magia.

Então a possibilidade mais provável é que ele passa bem, apenas achou o Inferno um lugar agradável e fixou residencia lá com todas as succubus que ele pode sonhar. Nenhum juri do mundo o condenaria por isso... porque é culpa dos aliens magos, quero dizer, todo mundo sabe disso.


Elikshil é a princesa de Panakeia, e você a encontra quando tenta evitar que o Império tome o último reino livre do mundo. No que você... não é exatamente bem sucedido, o rei de Panakeia vem a contrair óbito porém você consegue salvar a princesa de nome dificil de pronunciar.

Nosso herói então sugere que a princesa vá para um lugar seguro enquanto ele faz suas coisas de herói, ao que a moçoila responde que tomate cru é vitamina, ela não vai se esconder porra nenhuma e aqui é vingaaaaaaaaança maluco coe mermão tametirano?

A princesa tem um ataque bem bosta na real, ela só atira uma adaguinha, porém seu ataque especial que consome SP é o melhor do jogo: ela cura sua barra de vida, é o único companion que faz isso. Embora itens (tanto de HP quanto de MP ou SP) não sejam escassos, o que permite que você possa utilizar as habilidades regularmente, não apenas ter alguém que efetivamente cura é uma mão na roda como faz toda diferença do mundo contra chefes.

Após a queda de Alcahest, Elikshil assume como rainha de Panakeia e sob seu reinado justo e sábio ela lidera a reconstrução do mundo, liderando a humanidade para uma de paz duradoura onde existem doguinhos e ovomaltines para todos.


Sirius é o último cavaleiro de Panakeia, e o motivo pelo qual o Império estava tendo tanto trabalho com esse reino em particular - o que só acaba sendo sucedido quando o cultista de Alcahest o hipnotiza para lutar por ele. Nada que você não possa resolver com a boa e velha lambada na lapa, violencia sempre é a resposta.

Após o fim do jogo, Sirius sai cavalgando por aí sendo cavaleiresco e cavalheiresco, se tornando o lendário cavaleiro das lendas

QUER DIZER QUE DENTRO DAS LENDAS ELE JÁ ERA UMA LENDA? É UM TIPO DE LENDACEPTION ISSO?

Você overthink demais as coisas, Jorge.


Alcahest na verdade é um demonio que se alimenta dos sentimentos negativos humanos e sempre irá renascer a cada mil anos enquanto os humanos forem cuzões uns com os outros - ou seja, para sempre. Magna é membro de uma das civilizações anteriores que ruiu perante Alcahest, que de alguma forma sobreviveu a batalha contra o deus-demonio e se tornou um cigorgue para conseguir hibernar por mil anos para lutar contra ele quando o capiroto aparecesse novamente.

Assim Magna adormeceu em uma capsula dentro da própria fortaleza de Alcahest (na verdade, as ruínas da nave com a qual ele chegou a esse mundo) esperando o dia que o capiroto acordasse. Essas ruínas na verdade são hoje sobre o que se construíu o palácio de Panakeia e é por isso que os cultistas de Alcahest estavam tão pilhados em tomar Panakeia, para ter o corpo do seu amo e senhor das trevas e ódio transgenico de volta.

Após chutar a bunda de Alcahest mais uma vez, Magna volta a hibernar para esperar quando o capiroto ressuscitasse nos próximos mil anos. Até porque a única possibilidade de Alcahest não voltar é as pessoas deixarem de serem cuzonas... então, é, certamente ele vai ter que acordar de novo daqui a mil anos.


Nevis é um jovem dragão dourado que não particularmente se importa com humanos, entretanto ela particularmente se importa em que o mundo continue existindo e ter o capiroto-mor tocando terror é altamente relevante ao seus interesses. Por isso ela assume a forma de uma waifu humana sem calças para chutar bundas capirotisticas.

O ataque normal de Nevis não é grande coisa, mas seu ataque especial de SP é bem legal: ela volta a sua forma de dragão dourado e passa fogo em todos inimigos na tela because FIRE PAUAAAAAAAAAA. Ok, eu posso respeitar isso.


Após o fim do jogo, Nevis volta para seu cantinho afim de desfrutar de uma paz livre de capirotos. Ela diz para si mesma que as breves vidas humanas não lhe dizem respeito... mas no fundo ela sente falta das aventuras que teve com seus amigos mortais. Que bonitinho gente

Então, sim, o jogo tem uma certa variedade na forma dos seus companions, mas também nos seus ataques já que cada espirito guardião recuperado dá um ataque diferente quanto segura Y para carregar a barra (novamente, como em Secret of Mana) e uma magia diferente. Não é a extravagancia de haverem quase 40 magias inteiramente diferentes umas das outras como SoM, são apenas 4... mas por outro lado você pode troca fácilmente o espirito da sua espada apertando L ou R - como em Mega Man X - e isso é muito mais dinamico e funciona muito melhor do que o sistema de menus criados pela Squaresoft.

Esse é o ataque segurando Y quando você está com o guardião do vento na espada

Alcahest é um jogo divertido de se jogar, porém infelizmente nunca foi portado para o ocidente. Existe uma tradução de fãs fácil de achar na internet, mas nos anos 90 apenas pirateando importando o jogo japones mesmo. 

Imagino que muito disso foi porque o jogo não é realmente muito bonito de se olhar - especialmente para a época que foi lançado, os personagens principais parecem um tipo genérico que parece ter saído de um manga dos anos 80; Allen se parece com um personagem rejeitado de Fire Emblem e os personagens coadjuvantes não parecem nada para se falar, variando da típica donzela bonita ao cavaleiro clichê. Nevis é grande waifu material, tho.

Ao longo do jogo você enfrenta os generais do Império de forma recorrente, e fica legal porque dá aquele tom de anime shonen com vilões recorrentes. Essa luta acima é particularmente legal porque os dois compartilham uma única barra de vida, e o que você der o último golpe morre e o outro volta para se vingar pelo parceiro nas outras fases

VOCE ESTÁ FALANDO DA FORMA DE DRAGOA, NÃO ESTÁ?

Hã, eu, err... então... Apesar dos personagens genéricos, Alcahest é digno de nota por fazer tudo de forma competente - ainda que não brilhante. A história é bem amarradinha, a duração é okay e a dificuldade é aceitável para a época. Seria ótimo com gráficos mais bonitos e com possibilidade de dois jogadores, mas é o que a casa oferece.

Alcahest em sua forma pomba-gira, quem é Sephirot perto dessa diva?

Um jogo sólido da Hal Laboratories, mostrando que eles sabem fazer outra coisa da vida além de abominações onívoras rosadas.

God may have mercy, Kirby not

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 004