segunda-feira, 23 de novembro de 2020

[SNES] JOE & MAC 2: Lost in the Tropics (Abril de 1994) [#563]


Volta e meia, especialmente naquela época, os videogames nos levam a um outro tempo. Um tempo onde a vida era mais simples, o ser humano se alimentava apenas de coisas naturais, se exercitava mais, o ar era mais limpo, a água era mais pura... e a expectativa de vida era 18 anos. Estou falando da época das cavernas, obviamente.

Hoje até não é mais tão comum haverem jogos de homens das cavernas, mas naquele tempo era bem fácil ver o apelo de pegar um tacape e sair traulitando seu caminho para a vitória na cabeça dos inimigos because uga uga. Nesse sentido, a série que primeiro me vem a mente é "Joe & Mac" da Data East, uma empresa mais conhecida por fazer jogos... okay-ish... como HIGH SEAS HAVOC e KARNOV'S REVENGE


Zé e Marcos é uma franquia estranha: eles tiveram um primeiro jogo, obviamente chamado de JOE & MAC em que dois homens das cavernas saem traulitando seu caminho na glória porradeira como Deus queria que fosse. Arcade cooperativo, portado para todos os sistemas conhecidos pelo homem, huge fun, right? Então seria de se esperar que houvesse uma continuação direta, certo? 

Então... não.


Congo's Capper, segundo jogo da série Joe & Mac

Por algum motivo o segundo jogo da série, Congo's Caper é um tanto... estranho. O jogador assume o controle do Congo do título, que era um macaco até o dia que bolas desceram do céu e transformaram ele e sua namorada macaca em híbridos meio humano/meio macaco, e aí um demonio aparece voando, espeta Congo com seu tridente que o transforma em macaco de novo e leva sua namorada sequestrada ... okaaaay... assim, ele tem que viajar por muitos mundos coletando joias e jogando um minijogo de caça-níqueis, enquanto luta contra dinossauros, vampiros, piratas, um dragão e pessoas estranhas de asas demoníacas com tridentes, para citar alguns de seus adversários. Tentar resumir sua jornada e seus encontros em uma narrativa coesa é difícil, mas... bem, não tem muito "mas" realmente, é um jogo tão estranho quanto dificil - o que quer dizer que é muito, muito dificil.

Congo's Capper não foi um jogo muito popular, seja pela dificuldade, seja porque é apenas singleplayer ou apenas porque é bizarro demais para o gosto americano, de modo que para o terceiro jogo da série a Data East decidiu voltar as raízes e apenas fazer um jogo de plataforma cooperativo mesmo, Joe & Mac 2: Perdidos nos Trópicos.

A história: na vila de Kali, um homem das cavernas chamado Gork rouba a coroa do chefe durante a noite. Então, no dia seguinte, Joe e Mac são ordenados pelo chefe a recuperar a coroa, mas não até que eles recuperem as sete pedras do arco-íris, porque de alguma forma isso é o que precisa pra chegar na caverna de Gork... O que torna a vida dos entregadores de ifood bem dificil no caso desse cara, toda vez que alguém quer chegar na casa dele tem que passar por 5 estágios, coletar pedras arco-íris, fazer uma ponte de luz, fazer a entrega, colocar as pedras de volta no lugar guardadas por dinossauros-chefes...

Imagino quantas vezes Gork deve ter dito "puta merda, esqueci de comprar manteiga... ah, foda-se, não vou fazer tudo isso de novo". Eu diria que a vida de Gork não é fácil, mas então ninguém te obriga a morar na puta que pariu do oeste, né Gork?


O terceiro jogo da série Joe & Mac controla como um jogo de plataforma bem básico dos tempos do arcade ainda: um botão pula, o outro ataca. E só. Tem também um ataque de oraoraoraoraoraora mas eu não entendi como ativa nem parece fazer muita diferença anyway. É um jogo de plataforma tão básico quanto básico pode ser, ainda que funcional mesmo no modo cooperativo. Como tudo que a Data East fez, é... okay-ish...

Após a primeira fase, você pode visitar uma aldeia e gastar todo o dinheiro coletado para comprar itens de vida ou power ups. Mas você também pode optar por mobiliar a sua cabana e até comprar flores, o que permitirá que você escolha uma das três garotas escondidas atrás de um conjunto de cortinas. Há uma chance de que ela se case com você e, se o fizer, você pode reformar ainda mais a sua cabana e comprar mais coisas para ela. Se você a fizer feliz o suficiente, ela dará um ou dois filhos... apesar de seu personagem estar em outro continente, o que é bastante suspeito.

Em contrapartida, no final do jogo Joe e seu brother Mac recuperam a coroa do chefe, e então navegam juntinhos em direção ao norte - deixando suas familias para trás sem arrependimentos. Basicamente a versão pré-histórica de Brokenback Mountain, taí um jogo que é praticamente uma obra de Nelson Rodrigues de relacionamentos disfuncionais


Este não é um jogo particularmente longo, mas é um particularmente dificil. Por outro lado, você pode pegar passwords a cada fase, então eu suponho que você pode fazer um esforço de fazer uma fase na moda louca e conseguir os passwords, o que é jogavel, eu... acho. Enfim, é um jogo okay-ish, em que a parte mais interessante é a parte de construir sua casinha e brincar de mini The Sims, mas ela é muito subutilizada. Se o jogo explorasse mais esse lado, seria um jogo memorável - especialmente porque não existia nada do tipo na época.

Mais uma vez a Data East deixou passar a oportunidade de fazer algo memorável para fazer apenas um jogo que, bem, é um jogo, definitivamente podemos dizer que é um jogo, mas não muito mais que isso também. Como esperado da Data East.


Um último fato interessante é que embora este jogo tenha sido lançado como Joe & Mac 2 na América do Norte, a Europa e o Japão chamam o jogo de Joe & Mac 3 por causa do Congo's Capper (e de fato, um dos itens de decoração da cabana é um retrato do Congo). Agora o interessante é que o subtítulo em japonês é Shuyaku wa Yappari Joe & Mac, significa algo como “Claro que os papéis principais são Joe e Mac”, debochando do segundo jogo. Lost in the Tropics, por sua vez, é uma legenda estranha para os lançamentos em inglês, considerando que apenas uma fase ocorre em um cenário tropical. 

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