sábado, 10 de setembro de 2022

[#970][Dez/95] FAR EAST OF EDEN: Tengai Makyou Zero


Uma coisa que eu me pergunto de vez é como seriam os jogos de Super Nintendo hoje se houvesse sido continuado o desenvolvimento de jogos para o console. Você sabe, a tecnologia de hoje mas usando o mesmo hardware de 1990, que tipo de jogos teriamos?

Bem, a resposta mais realista que eu consigo imaginar é que simplesmente seria instalado um computador no próprio cartucho - tipo um raspberry pi - e ele faria o pesado do processamento por si só. Sim, as vezes eu penso isso, eu sou divertido em festas.


O que eu não sabia, entretanto, é que em 1995 eles já tinham pensado nisso. Entre os inúmeros chips que sairam para o Super Nintendo, o SPC7110 essencialmente fazia isso: ele era um microprocessador que fazia o trabalho pesado especialmente no que tange a descompressão de dados - o que quer dizer que muito mais informação podia ser socada dentro do cartucho.

Apenas 4 jogos foram realmente feitos com essa tecnologia, entretanto, já que apesar do espaço extra no cartucho ganho ser consideravel essa brincadeira toda deixava a coisa muito cara. E hoje falaremos de um desses quatro jogos - até porque senão qual seria o ponto dessa intro, né? 

Tão logo o jogo começa, Tengai Makyou não se faz de timido ao mostrar que está com espaço em cartucho para dar e vender, exibindo cutscenes de abertura que fariam inveja a vários jogos do Sega CD:


Graficamente, este jogo é impressionante para um jogo de Super Nintendo. Os sprites são grandes, muito bem animados, coloridos e muito bem detalhados. Por exemplo, nas batalhas NÃO tem inimigos pallet-swap em todo o jogo, cada inimigo não é uma recolorização dos anteriores e sim cada um tem um sprite único e muito detalhado. 


Em adição a isso, cutscenes e animações de batalha não é tudo onde esse jogo gasta seus recursos: existe também um sistema de calendário em tempo real - não diferente do que viria a ser usado nos jogos de Pokemon Gold e Silver anos mais tarde - onde uma hora real significa uma hora de dia do jogo.

Isso significa que existem eventos especiais que acontecem em feriados do mundo real, e algumas coisas levam tempo do mundo real para acontecer, ou tem feiras que acontecem em determinados dias da semana ou as vezes apenas usam o tempo mesmo  - tipo vc chega na cidade e o cara te diz que a loja vai abrir dali a uma hora, então vc tem que voltar dali a uma hora no minimo. O que hoje não é algo totalmente inédito, claro, mas em 1995 para o Super Nintendo eram ideias realmente  explodidora de mentes. 


Musicalmente o jogo também é impressionante. Não pela qualidade das faixas (exceto por algumas  é bastante sem graça) e sim pela quantidade: o jogo tem 4 HORAS de música. Nunca antes na história desse Super Nintendinho, eu te digo. A música não é ruim, mas verdade que também não é bom - elas fazem seu trabalho, mas não ficam na sua cabeça ou são muito memoráveis. 

Seja como for, esse jogo definitivamente tem méritos tecnicos impressionantes, logo esse ser um dos maiores jogos do Super Nintendo que você nunca jogou pq nunca foi lançado no ocidente é apenas questão do jogo em si ser bom, né?

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.......hã, o jogo é bom, né?

Então... é aí que o jogo começa a desandar. O enredo é genérico pra caramba (basicamente "você é o herói destinado, colete 6 mcguffins e vá matar o mal!!!"), os personagens não são dignos de nota, não há grandes reviravoltas e você fica realmente entediado apenas apos algumas horas de jogo. 


A ideia geral da coisa é que o filho do rei fica putinho quando a Chama Sagrada não escolhe ele como sucessor. Ele então ouve os sussurros do capeta e é incitado a abrir o portão do inferno pro capeta ajuda-lo com o seu golpe de estado. O que, obviamente, era uma cilada bino, o demonio possui o cara e inicia um reino de terror. Depois disso, o jogador assume o papel de Higan, um descendente do clã do fogo que prontamente parte para derrotar os generais de Ninigi por toda Jipang.

E... é isso, todo o jogo não desenvolve muito mais que isso. Vc pode facilmente prever tudo o que jogo joga em vc (exceto por uma ou duas pequenas reviravoltas) e nada disso é interessante ou parece que foi feito com o minimo interesse. São tantas oportunidades perdidas! Você pode ver o potencial de drama, humor, ótimo desenvolvimento de personagens e reviravoltas na trama, as bases estão lá, apenas o jogo não consegue entregar isso. Verdade seja dita, ele sequer tenta.


Vários personagens têm um background interessante, com motivos conflitantes e uma história convincente para contar, apenas para ser usada em uma ou duas cenas durante todo o jogo e então você segue em frente e NUNCA ouve nada sobre esse personagem novamente.

Mas okay, a narrativa ser sonorífera e os personagens completamente irrelevantes ainda não é a pá de cal no jogo se o gameplay for interessante... o que totalmente não é o caso, nem vou tentar enganar vocês aqui. 


Primeiro, a coisa do relógio interno é uma ideia muito legal, mas é tão mal implementada que acaba sendo irrelevante, grandes são as chances que vc nem note. Mais ou menos nessa época BREATH OF FIRE 2 já tinha um sistema de ciclo de dia e noite que influenciava na rotina das cidades pelo menos, mas aqui nem isso, é uma mecânica de truques que não melhora a jogabilidade em nada.

Em segundo lugar, a taxa de encontros aleatórios é ENORME. Você dá alguns passos, blam, encontro aleatório. Isso, juntamente com o fato de que o combate leva muito tempo, já que as animações de feitiços e ataques são muito longas (e bonitas, mas fica velha quando você está repetindo os mesmos movimentos repetidamente), faz com que caminhar do ponto A para o ponto B seja uma missão de paciencia (e uma necessidade, porque você precisa dessa doce experiência e do gold). 


Para agravar ainda mais esse problema, toda vez que um inimigo usa um feitiço, você PRECISA pressionar A para fechar a caixa de diálogo com o nome do feitiço, meu deus o que custava dar uma agilizada na coisa e não travar o jogo pedindo pra vc confirmar um prompet? 

Terceiro, as batalhas não são nada interessantes. O sistema de batalha é um sistema realmente básico. E quando eu digo básico é básico do básico mesmo, então você pode facilmente criar uma rotina (atacar até X HP, definir seu healer para curar, continuar atacando) que vencerá QUALQUER luta do jogo, INCLUINDO o chefe final (desde que você tenha nível o suficiente para sobreviver ao seu ataque mais poderoso). O jogo não te joga nenhuma bola curva e em nenhum momento desafia sua estratégia de maneira inesperada.


Por fim, não há variedade na composição do seu grupo. Seus personagens parecem iguais na batalha. Claro, alguns são melhores no ataque físico, alguns são melhores curandeiros, mas todos podem fazer basicamente as mesmas coisas com diferentes graus de competência. Adicione a isso que você continua usando os mesmos movimentos em todas as lutas do jogo e temos algo realmente maçante aqui. 

Em nenhum momento você precisa pensar na composição ou estratégia do grupo, ou em como criar uma estratégia específica contra um inimigo específico. Para agravar ainda mais esse problema, existem apenas 5 fraquezas elementares no jogo (Física, Vento, Raio, Água, Fogo), e todos os personagens são capazes de usar todos os elementos, então não há batalhas em que um personagem brilhe ou tenha problemas .

Enfim, medíocre é uma palavra que descreve bem este jogo. É muito bonito, mas além de seus gráficos fantásticos, não acrescenta muito a vida de ninguém - definitivamente não no quesito diversão, que é o que mais importa. Em suma, parece uma oportunidade perdida - um jogo que poderia ser realmente ótimo e desafiar os clássicos como um dos melhores jRPGs do console...


... e talvez tivesse conseguido... se ao menos ele tivesse tentado. O jogo não desenvolve seus personagens, falha no enredo ultra-desinteressante e tras um combate que parece mais um combate de atrição contra a sua paciencia, não um desafio. Se você é um entusiasta de jRPG e quer experimentar este jogo, vá em frente, mas eu aconselho você a manter suas expectativas baixas - o    que pode ser dificil especialmente depois da abertura de nível Sega CD.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 032 (Novembro de 1996)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 017 (Abril de 1997)