sábado, 24 de setembro de 2022

[#984][Out/96] MARVEL SUPER HEROES in WAR OF THE GEMS


"Marvel Super Heroes in War of the Gems" não é, ao contrário do que poderia se imaginar pelo título, o tão aguardado crossover do universo cinemático da Marvel com Steven Universe, infelizmente. Outra coisa que você poderia imaginar por esse título é que esse jogo seria um port para Super Nintendo do jogo de luta da Capcom MARVEL SUPER HEROES.

Apesar de ambos serem inspirados na saga de Thanos e as jóias do infinito, o de arcade é um jogo de luta mas esse aqui é um beat'm up bem similar a outro jogo da Capcom, o X-MEN: Mutant Apocalypse - com efeito, eu ficaria bem surpreso se soubesse que foi usada a mesma engine.

Porém antes de falar sobre o jogo eu queria falar sobre uma outra coisa: como todos sabem, essa saga em particular é um dos maiores momentos da história do cinema de todos os tempos e como tal eu gostaria de falar sobre ela. Até porque eu não vou ter outra chance, então é agora ou nunca para falar dos Vingadeiros.

AVENGERS: INFINITY WAR (texto originalmente escrito em 2018)

"Vingadores 3: Guerra Infinita" é o maior filme de todos os tempos. Agora, calme lá, segure suas tetas de mel, rapunzel, que provavelmente você já começou a vomitar coisas como "mas... mas... mas e Casablanca, Cidadão Kane, Metropolis e um monte de filmes que eu nunca vi e se vi achei um saco mas digo que são o melhor do cinema porque é o que impressiona as novinhas no Starbucks?". Calma. Respira.

O que eu disse é que V3 é o maior filme de todos os tempos, não o melhor. Qual o melhor? Essa essa seria uma discussão muito longa e muito subjetiva, e que eu totalmente não pretendo ter aqui. Embora qualquer resposta que não seja "Pacific Rim" esteja errada, acho que isso é um tanto óbvio. O que eu quero dizer é que ele é o maior no sentido de mais ambicioso, mais caro (bem, os unicos filmes mais caros que esse produzidos até hoje são "Vingadores 2" e "Piratas do Caribe algum numero porque eu parei de contar e sério quem se importa ainda com isso?"), com mais crossovers, mais longo.

É um filme que conclui dez anos de cinematografia distribuidos em 16 filmes (alguns ótimos, alguns bons, alguns ruins e alguns são Thor 2), abraçando aproximadamente 40 personagens. É muito grande, muito ambicioso, tão amplo que é dificil até mesmo traçar comparativos para explicar esse filme. Por isso, da forma como eu vejo as coisas, eu vou fazer algo diferente: eu vou comparar com um dos poucos filmes que podem ser comparados com Vingadores. Um filme de uma franquia tão grande, tão forte e tão ambicioso quanto.



Quando você pesa as coisas, The Last Jedi é um dos poucos filmes que pode justamente ser comparado ao tamanho de Vingadores 3. Com a diferença que TLJ é uma bosta, e entender onde ele erra ajuda muito a entender onde Vingadores acerta.

O "tema" de The Last Jedi é fracasso, e isso implica que você verá muitas coisas não saindo da forma que você esperava que elas saissem. Oh, surpresa surpresa, os pais da Rey são... ninguém importante. O Supremo Líder Snookie na verdade é... jamais saberemos. E ele está morto agora. Quem liga? Kylo Ren na verdade matou seu pai porque... Harrysson Ford só queria pegar o contracheque e vazar de Star Wars, não tem muito mais do que isso, na verdade.


Ok, eu entendo que muitos dos problemas desse filme se devem ao filme anterior ter sido escrito e dirigido por JJ Abrams, e se tem algo que você não quer fazer na sua trilogia é dar a fundação dela na mão desse cara. Ele, literalmente, é o cara que se ORGULHA em dizer "ah taca qualquer merda aí e depois a gente vê".


- Hey, JJ, porque tem um urso polar na ilha de Lost, tipo no meio do pacifico?
- Porque ursos polares são maneiros e ninguém esperava aquilo!
- Totalmente, mas porque ele está lá?
- Sei lá cara, só pareceu legal! Se for realmente importante, depois a gente entra nos forums desses nerds que acham que eu faço algum planejamento e escolhe uma resposta.

JJ Abrams é o Masami Kurumada do cinema americano.



Mas, para ser justo, eu meio que gostei DESTAS subversões de expectativas. Eu realmente não ligo para quem o Supremo Líder Snookie é, ou para quem os pais dela são. Na verdade, acho ótimo eles serem ninguém porque isso transforma a força em uma entidade mística no universo - não em um gene recessivo qualquer. Então, kudos onde kudos são devidos.

O que me incomoda é que o tema "fracasso" desse filme é apenas uma desculpa para os personagens fazerem escolhas explicitamente idiotas, e para o roteiro poder ser resolvido com o menor esforço possível por parte dos escritores. 


Rose e Finn falham em desativar o que eles iam desativar na nave do Império Jr., e isso deveria ser um plot twist inexperado! Afinal eles são heróis desafiando ordens para seguir seus corações e fazer "a coisa certa", não é isso que sempre acontece nesses filmes? E agora eles falharam? Oh não, como pode?

... bem, talvez se o plano deles não dependesse de confiar em um cara deixou desde o primeiro segundo que estava pouco ou nada se fodendo e ia vender para quem pagasse mais? Tipo, ESSE cara:

Tipo, ele literalmente disse que vendia armas para os dois lados do conflito e que tomate cru é vitamina. De que planeta vocês vieram para não ver isso acontecendo, seus idiotas?! Se o filme queria que eu sentisse alguma coisa aqui, de fato eu senti: estou puto com a burrice da Rose e do Finn. Pelo Bantha colorido do céu, a missão fracassou porque vocês são umas antas e bem feito para vocês!

Outro grande momento de "fracasso" nesse filme é quando o Supremo Líder Snookie tem uma das mortes mais não-intencionalmente hilárias do cinema. Ok, isso foi inesperado, eu podia apostar que eles iam arrastar a coisa do big bad evil até o fim. E então Kylo oferece a Rey para se juntar a ele e eles construirem uma nova ordem galactica. Sem Jedis ou Sith, apenas deixar as coisas direito - ao menos a visão dele de direito, mas enfim.

Pelo que sabemos sobre a Rey, ela não tem nenhum motivo para não aceitar a oferta. Ela não tem nenhuma grande paixão pela galaxia - que nunca foi particularmente legal com ela - nem é militante de nenhuma grande causa. Ela treinou dois dias com o Luke e isso dela faz a ativista jedi mais engajada ever? Err, pouco provavel.



Mas então, contra tudo que o personagem DEVERIA fazer... ela não aceita e eles se tornam inimigos. Porque é mais fácil escrever bem vs mal do que o que quer que acontecesse daquele ponto em diante. Claro, é da Disney que estamos falando, então eu diria que o cara que propos jogar pela janela toda aquela linha de brinquedos, cereais e camisetas estampadas foi morto pelo seu John Disney com um Death Note. Não um com poderes, um caderno comum mesmo que JD bateu nele até seus globos oculares estarem na mesma altura que seus dedões dos pés.

Porque pau no cu do fluxo natural dos personagens, essa marca tem que vender manolo. Finn, por exemplo, tem um arco de sacrificio clássico. Considerando que ele matou sua rival (que nós não sabemos muito bem quem era senão a Stormtropper de armadura legal) depois de... três minutos (deus esse filme não acerta uma), não resta muito para ele fazer por aqui.


Quer dizer, claro, ele é um cara legal mas sem um lugar na história, que tenta forçar a barra para ser relevante e caga mais ainda a coisa toda. Então, em um último sacrificio heróico, ele se redime morrendo como um herói e salvando o maldito dia.

... certo?

... CERTO?

Não, é claro que não. Você não prestou atenção em nada até aqui? Mais importante do que Finn faria ou deixaria de fazer ENQUANTO PERSONAGEM, a Disney queria um personagem negro em Star Wars e acaba por aí. Eles não pensaram em uma ÚNICA função para o personagem a não ser uma quota e ficar olhando para os dedos sem uma função narrativa na história... bem, com ISSO eu tenho um problema.

Todas as escolhas dramaticas fazem nesse filme ou são a forçação de mão do roteirista porque ele tem uma agenda externa para cumprir, ou porque ele não tem capacidade (ou liberdade) para escrever uma cena direito então os personagens tomam as piores escolhas possíveis.


Porque a mulher de cabelo roxo não pegou o Poe em um canto e disse "Olha aqui seu merda, caso tu não tenha percebido o Império Jr. está nos seguindo em hypervelocidade, o que é impossível a menos que tenha um espião dizendo para onde nós estamos indo. Então para de perguntar sobre a porra do meu plano antes que eu enfie um tiro onde o Stephen Hawkings não brilha só para eu me garantir que você não é ele!"? 

Seria uma coisa lógica e simples a fazer, mas não, o filme arrasta toooodo um longo mal entendido - fazendo ela parecer incompetente e burra - apenas para jogar mais uma "subversão" na sua cara com o minimo de esforço possível. Poe "fracassou", que é o tema do filme? Completamente. Mas porque ele foi burro, então pau no cu dele.

Tá, chega de falar desse filme. O que eu quero falar agora é sobre outro filme sobre fracasso, onde os personagens também cagam a porra toda. Só que esse é um filme completamente satisfatório...


... e divertido ...


... e com cenas de ação poderosas...


... e genuinamente dramático...


... e perturbador ...


... e hilário ...


... e subverte todas suas expectativas ...


... ok, vocês já entenderam, né? Mas o que faz ESSE filme sobre "falhar" funcionar tão bem e o outro não? Varias coisas.

Em primeiro lugar, Thanos é uma pessoa de verdade. Eu não concordo com o plano dele de exterminar metade da vida no universo, mas eu não acho que eu deveria. Ele é um sociopata que acha que a sua visão errada do universo está correta. Mas isso não é importante. O que é importante é que ele não está fazendo isso pelo prazer de ser mau, eu entendo seus motivos e entendo o caminho que levou ele a essa conclusão.

O que eu mais gosto a respeito do Thanos é que ele reage as coisas de uma forma que uma pessoa de verdade reagiria. Por exemplo, de uma olhada em como ele reage quando Loki diz "ok, pode matar o Thor então":

Uat?

Ele literalmente para o que está fazendo e olha surpreso para o Loki. Ele não esperava aquela resposta. Ele não é onisciente. Ele não é uma força do mal suprema e infalível. Ele é um cara que não sabe de tudo.

Agora compare com os outros vilões da Marvel: Malekith, Ronan, o cara de maquiagem nos olhos de Dr. Estranho que eu realmente não me importo com o nome. Nenhum deles reagiria dessa forma porque eles não são pessoas, eles são obstáculos do mal. Bom, exceto quando o Starlord começa a dançar e o Ronan olha para ele com uma cara de "mas que porra é essa?", esse foi um raro momento de uma reação human em um vilão da Marvel.

E não é a pouco tempo que a Marvel vem fazendo isso: desde o primeiro Homem de Ferro o vilão é um cara genericamente mau  incapaz de expressar a minima emoção humana. Na verdade, em 16 filmes anteriores da Marvel, você pode nomear apenas duas vezes que tivemos um vilão assim: Loki e Kilmonger. O irmão do Thor e o primo do Pantera Negra são dois personagens complexos que querem, a seu proprio modo, dominar o mundo mas por razões mais elaboradas do que apenas "muahahahaha". Então, depois de dez anos de vilões genéricos ruins, essa é uma grande subversão de expectativas.


Essa, é claro, é apenas uma observação de uma coisa pequena. Temos as grandes coisas, como quando ele chora quando tem que matar Gamora. Acho que isso pode não ter soado tão impressionante como é: o grande vilão do vilme da Marvel chora. Você consegue visualizar algum vilão de filme da Marvel (exceto os dois citados) chorando? Você consegue visualizar o supremo líder Snookie chorando? Você consegue imaginar o Vince Mcmahon chorando?

Não é qualquer vilãozinho generico que tem o suficiente para chorar, e eu posso dizer honestamente que não esperava isso. Diz a lenda que todo bom vilão se vê como o herói da sua própria história, e isso é profundamente verdadeiro aqui.

E Thanos não é apenas emocionalmente vulneravel, ele é fisicamente vulneravel também. Mesmo tendo a manopla do infinito e várias joias já desde o começo do filme, os heróis chegam tão perto de derrota-lo DUAS vezes. Isso torna as batalhas emocionantes, porque Thanos é muito poderoso mas ele pode ser vencido, e você não sabe como vai terminar.



E os heróis não vencem o Thanos não porque o roxão tira um poder secreto da jóia do toba ou algum ex-machina assim. Ele não é derrotado porque os heróis falham.

Falha. Essa palavrinha de novo, hã? Tal qual em Star Wars, os heróis falham miseravelmente em vencer devido a escolhas infelizes. Porém, e aqui está toda a diferença do mundo, nós entendemos porque eles fizeram essas escolhas - ao contrário de Star Wars, que parece que foi só burrice mesmo.

Thanos avança em seu objetivo não porque os Vingadores são burros, mas porque eles não estão comprometidos o suficiente em sacrificar coisas. Loki entrega a joia do infinito para salvar Thor, Gamora não deixa Nebula para trás, o Doutor Estranho não deixa Tony morrer, e o pessoal em Wakanda não quer deixar Visão morrer.



E não apenas sobre morrer, o filme também é sobre abrir mão de outros tipos de coisas também. Thor teve a melhor chance de matar o Thanos, mas ele falhou. Porque ele é burro ou incopetente? Não, porque ele é orgulhoso. Porque ele estava com raiva e tomou uma decisão com sangue quente humanamente compreensível. Você entende porque o Thor não deu a machadada na cabeça do Thanos e sim no peito: porque ele queria que o Thanos visse que foi derrotado, porque é assim que o Thor é.

Ele falhou em abrir mão do seu orgulho, e isso causou a derrota deles. Com exceção do Doutor Estranho (que parece ter algum tipo de plano), nenhuma dessas escolhas são racionais a longo prazo. Como o Capitão América disse "nós não negociamos vidas". Ponto. Ele falhou por um principio ético nobre, e conhecendo o Capitão América nós entendemos que ele só poderia agir dessa forma.

Compare isso, agora, a falhar porque você estacionou sua nave na praia e confiou em um trambiqueiro tão trambiqueiro que eu estou realmente surpreso que o personagem do Del Toro não tem "VIDA LOKA" tatuado nos dedos da mão. Retardados, puta merda...

Para ser perfeito, o DVD de Avengers 3 tinha que vir com um curta com um resumo do MCU sendo narrado por esses dois


Mas vê o meu ponto? De um lado, dez anos de construção de personagens com quem nos importamos tomando decisões erradas (de um ponto de vista lógico) por motivos que nós entendemos sem precisarem ser ditos. Do outro, personagens que nem o proprio filme sabe o que estão fazendo ali por burrice. 

E não é só isso, Vingadores 3 trabalha não só com o que nós sabemos sobre o passado dos personagens, mas sobre o futuro deles. Todo mundo sabe que a Gamora não vai morrer porque tem Guardiões da Galaxia 3 já. E Homem-Aranha 2. E Pantera Negra 2. Então é óbvio que eles não vão matar todo mundo, os heróis vão dar um jeito e vencer como sempre...

... fuck.

... oh fuck.

... holy shiting megablaster fuck.

E essa, talvez, seja a jogada de metanarrativa mais incrivel da história do cinema porque ele joga não apenas com o que estamos vendo na tela, mas com o que "sabemos" dos bastidores. Em certo sentido, Vingadores 3 é o Spec Ops: The Line dos blockbusters. Eles usaram o meta para nos manipular.


Eu entrei no cinema pensando "teu cu que alguem importante vai morrer, só olhar o cronograma de filems da marvel e..." e saí "Bem, se juntar os Asgardianos que sobraram com o Rocket dá pra fazer um bom filme de Guardiões da Galaxia, o Homem-Aranha tem essa coisa de dimensões paralelas..."

E mesmo que não seja verdade, mesmo que eles ressucitem todo mundo e o bem vença o mal e espante o temporal no quarto filme, não importa. De verdade. A experiencia de assistir ESSE filme foi incrível, eu me preocupo com o próximo filme quando o proximo filme chegar. Tantos estúdios gastam milhões tentando criar "universos cinematográficos" sem entender o que fez o da Marvel funcionar: antes de qualquer coisa, faça um bom filme. Se for bom, as pessoas vão querer ver mais. Então faça outro bom filme. E assim por diante.


Eu lembro de ter visto muitos escritores iniciantes dizendo que estão guardando suas melhores ideia para "os outros livros da sua trilogia" e não, mil vezes não, não é assim que se faz seu idiota! Agradeça aos céus e ao chinelo do Kurumada se você conseguir emplacar UM livro, então coloque sua alma, derrame seu sangue e todo seu esforço nele. SE der certo, e isso é um grande SE, então repita novamente no próximo.

É assim que a CD Projekt Red faz jogos. É assim que o Patrick Rothfuss escreve livros. É assim que a Lady Gaga compõe CDs. Dê o seu melhor tiro agora. É a sua chance. Não amanhã, não no fim da trilogia, não depois. É o que a Marvel fez aqui. Eles fizeram o melhor filme que eles potencialmente poderiam fazer e as consequencias a gente vê depois. 

Isso significa, é claro, ser sincero no que você faz. Não ser superficial, não fazer apenas por fazer. Ponha sua alma no que você faz. Tipo a cena do lightspeed run em The Last Jedi é visualmente linda, mas ninguém parou meio segundo para pensar no quão idiota aquilo é. Ora, se é assim que funciona, em um universo onde até geladeira aceleram a velocidade da luz então porque não colocar um drone pilotando e vai que vai bruxão? Porque isso não é usado o tempo todo? O universo de Star Wars não faz sentido se aquele tipo de coisa é possível.


Mas não, ninguém pensou nisso. Apenas ficou visualmente bonito e manda bala.

Compare agora com a cena em que o Senhor das Estrelas confronta o Thanos e para vencer ele precisa atirar na mulher (ou alien, enfim) que ele ama. Sem truques, sem palhaçada, apenas uma arma na mão e o Josh Brolin do outro lado dizendo "chiiip chiiip chiiip". É uma cena pesada, emocionalmente complexa onde nada precisa ser explicado e ainda sim nós não sabemos o resultado.

No fim, todas as regras do jogo mudaram. As consequencias da batalha não são apenas sobre o proximo filme e sim sobre todos proximos dez ou quinze anos de filmes da empresa (ou, como eu disse, talvez não e isso mude mas por agora a batalha está vencida e amanhã é amanhã). Quantos filmes de uma franquia tem coragem de fazer uma coisa dessas? Meu Deus, esse é um filme muito especial.



The Last Jedi, por outro lado, é um filme onde 90% dos mocinhos da resistencia (sejam lá quem forem eles) morre, e isso muda o aspecto geral das coisas... de forma nenhuma. Tudo como antes no quartel de abrantes. Festinha, viagem no hyperespaço, yay! Quem liga!

Enquanto isso, no final de Vingadores 3 onde metade da população do universo morreu...


"Oh, Deus."

E isso é tudo que é dito. Sem festinha, sem musiquinha bonitinha, sem piadinha. Em choque o Capitão América apenas diz "Oh, Deus" e esse é o fim. O vilão venceu. Ninguém esperava isso, e não há nada que possa ser feito agora senão se vingar.

Ou talvez haja, mas isso é para amanhã. Por hoje é apenas "oh, God".  Fim.

Fim.

Esse é um filme quase perfeito (se alguma coisa, acho que as cenas em Wakanda poderiam ter sido melhor trabalhadas) que sabe quando ser engraçado sem estragar o tom de gravidade do filme, sem deixar de entregar uma história coerente e autocontida. Sabe como usar personagens queridos e sabe usar o metaconhecimento que nós como fãs temos para nos manipular.

É o filme que The Last Jedi poderia ter sido se tivese coragem ou alguém na Lucas Films estivesse minimamente interessado em chegar em qualquer lugar com a história, o que dificilmente parece ser o caso. 

E o que acontece daqui para frente? Bem, Rey vai liderar a resistencia, ter uma batalha final com Kylo e vence-lo (seja matando ele ou o transformando em bonzinho), fim. Yay. Ou alguma coisa assim. Por outro lado, o que acontece em Vingadores 4? Ok, eles podem ficar com raiva e querer metar porrada no Thanos... mas e daí? No que isso vai ajudar? Sobre o que REALMENTE vai ser o filme? Onde a Capitã Marvel - que atualmente é tipo o Superman da Marvel - entra nisso e que diferença ela pode fazer?


Eu não sei, mas eu quero saber. No primeiro dia, se possível. Com ingressos pré-comprados. Já Star Wars, eu sei lá. Eu baixo no pirate bay depois, ou não. Não importa muito realmente.

A lição que tiramos disso tudo? Você pode fazer um filme sobre personagens falhando que não seja por razões idiotas ou pura burrice deles, e neste caso, faça com que as falhas os afetem de alguma forma relevante.

The Last Jedi falha em ambos em tantos níveis, Vingadores 3 tenta as mesmas coisas sendo tudo uqe potencialmente poderia ser e muito mais. Oh god.

 
AVENGERS: ENDGAME (texto originalmente escrito em 2019)

Em 25 de dezembro de 2017, Steven Moffat tinha um problema.

Como, exatamente, você escreve um episódio de despedida para o melhor Doutor de todos os tempos depois de ter escrito o melhor Doutor de todos os tempos, de ter escrito a série durante seis anos e de já ter escrito o episódio perfeito de Doctor Who? (Heaven Sent, que qualquer pessoa minimamente decente concordará comigo, é claro ).


Então como você se despede para sempre de uma coisa que você amou fazer durante tanto tempo? Você tenta superar a perfeição? Você tenta ousar algo novo aos 45 minutos do segundo tempo da final do campeonato? Como, exatamente, você não desaponta os fãs e nem a si mesmo?

A última impressão é a que fica, afinal (sim, Darling in the Franxx, estou olhando para você!)


Cyber Amy azul e seu coelhinho. Touch me harder. Heh hehe hehe heh.

Menos de dois anos depois, os irmãos Russo tinham um problema parecido só que em uma escala nunca antes sonhada na história da industria cinematográfica. Em Avengers: Infinity War eles pegaram o mundo com as calças na mão e entregaram o maior e mais impressionante filme de super-heróis de todos os tempos. Um filme que fez o mundo rir e chorar, e terminou de uma forma tão iconica que é uma das cenas que entrou para sempre na história do cinema mundial. Como dizia o grande filosofo moderno Illidan Stormrage, nós não estavamos preparados.

Um ano depois, o que estava em jogo era muito maior ainda. Como você não apenas continua um filme que marcou uma geração, como ao mesmo tempo encerra com chave de ouro uma inacreditavel história de onze anos de cinema distribuida em 21 filmes? Mais impressionante que isso, 21 filmes dos quais desde "Thor 2: O Mundo Sombrio" em 2013 (seis anos atrás) não tem um único filme ruim desse estúdio? Pode ter alguns "apenas ok", mas efetivamente ruim... nenhum.

Pense sobre isso por um momento. Quem tem um histórico assim? O estúdio Ghibli não tem. A Pixar não tem e Deus sabe que a Disney não tem. Embora eu ainda esteja para ver um filme ruim do Tarantino, ele sequer tem um numero parecido de filmes. Então com quem a gente pode comparar o que a Marvel fez nestes últimos 11 anos? Martin Scorcese, talvez, se ele tivesse feito 21 filmes em 11 anos ao invés de 51.


Não dá, não tem como. Não existe nenhum fenomeno como esse. O mundo enveredou por um caminho sem volta quando, onze anos atrás, Tony Stark disse "Eu sou o Homem de Ferro" e cravou seu lugar em nossos corações com fogo e fúria quando um tão adoravel Homem-Aranha disse que não se sentia tão bem.

11 anos. 21 filmes. 236 personagens principais. 17 diretores. 59 horas de filmes. Poucas séries cinematográficas na história da humanidade são tão longas (de cabeça eu consigo pensar apenas em Godzilla e 007), nenhuma tão bem sucedida. 

Uma geração inteira cresceu admirando, rindo e chorando com esses heróis. Eles significam tanto para tanta gente, então como você possivelmente pode encerrar isso? Pior ainda, como você continua isso depois de um filme tão absurdamente incrível como Vingadores: Guerra infinita?


Bem, a conclusão que os irmãos Russo chegaram foi mais ou menos a mesma que Steven Moffat chegou quando entregou as redeas depois de seis anos comandando Doctor Who: você não supera. Não dá, não tem como tentar vencer tanto sentimento em apenas uma hora, ou duas, ou três. Apenas não dá.

O que você pode fazer para não desapontar ninguém então é algo totalmente diferente: é escrever uma carta de amor. Aos atores que participaram disso. Aos diretores. Ao pessoal da produção. As pessoas que passaram inumeras horas em claro tentando tornar sonhos em realidade. Mas, acima de tudo, aos fãs. Vingadores: Endgame é um filme feito com amor, de fãs para fãs.


Para surpresa de absolutamente todo mundo, Vingadores: Guerra Infinita na verdade tem o vilão como seu personagem protagonista. O arco heróico é dele, os sacrificios são feitos por ele e ele supera um a um os desafios e faz por merecer cada particula de pó de sua inesperada vitória. Ele fez os sacrificios que os heróis não estavam dispostos a fazer (seja de pessoas que amam, seja de seus principios), ele está focado e concentrado naquilo que ele quer fazer (ao contrário dos heróis que estão espalhados e falham por não conseguirem trabalhar como equipe).

Thanos vence porque ele mereceu vencer. Ele vence porque ele foi aquilo que ele potencialmente poderia ser de melhor.


Avengers: Endgame é a vez dos heróis serem aquilo que eles potencialmente podem ser de melhor. Guerra Infinita pode ter nos dado muitas coisas, mas certamente não foi ver os maiores heróis da Terra lutando juntos da melhor forma que eles poderiam lutar. Heróis que aprendemos a amar, rir, chorar e xingar nestes ultimos 11 anos (PORRA STARLORD SUA ANTA!!!). Onze anos.

Avengers: Endgame nos dá isso. Todo personagem que já lutou por algo remotamente bom nos últimos onze anos. Aquele momento que esperamos tanto durante onze anos de vermos todos juntos, trabalhando como uma equipe. Se o primeiro filme foi do Thanos sendo impecavelmente o melhor que ele poderia ser, este é o filme dos heróis sendo 110% de tudo que eles podem ser.

E é lindo.

Thanos conseguiu irritar pessoalmente cada um dos heróis mais poderosos da Terra. Especialmente a Feiticeira Escarlate. É hora de pagar a conta, e isso não vai acabar bem pra você, pal

Não apenas eu, mas a sessão inteira do cinema aplaudiu, riu e chorou. Nós vibramos e nós lamentamos. Porque nós vimos aquilo que queriamos ver. E nos despedimos não apenas de um filme, mas de uma fase inteira de nossas vidas.

Endgame não é apenas um filme e não deve ser analisado como um, e sim como uma jornada através dessa história. Literalmente, até. Em uma estrutura a lá De Volta para o Futuro 2, revivemos grandes momentos do passado - e como não poderia deixar de ser em um filme da Marvel, o filme se autoparodia quando alguém aponta que basear seu plano em De Volta para o Futuro é uma ideia estupida. Ainda sim, não tem preço reviver estes momentos novamente por uma última vez.

Ai meus feels

Ouvir Come and Get your Love em Morag (em uma época estranha que mal suspeitavamos nós que nos apaixonariamos por esse adoravel bando de desajustados espaciais que aprenderam a se tornar uma família), a cena do elevador em Soldado Invernal (literalmente a cena que encerrou a era negra da fase 2 da Marvel e declarou que dali para frente os filme da Marvel seriam feitos com coração, para provar um ponto), ver o Loki no primeiro Avengers quando todo mundo tinha uniformes tão bregas (mas como bem disse o agente Coulson, talvez nós precisamos de um pouco de antiquado nesse momento), ver o Thor desmoronando ao rever Asgard em toda sua glória mais uma vez, principalmente sabendo como as coisas terminarão. 

É um filme que sabe perfeitamente o que você quer ver, o que isso significa para você e como brincar com as suas expectativas. Assim como os heróis do filme, a direção está sendo 110% daquilo que ela podedria ser.

Gavião Arqueiro é badass. Nunca critiquei.

Esse filme não é apenas sobre os personagens sendo o melhor que eles podem ser em combate (embora também seja), mas enquanto personagens mesmo. É um closure para o arco de personagem de cada um dos Avengers originais e quando você termina de assistir, (chorando) você tem a sensação de que foi dito tudo que precisava ser dito sobre estas pessoas extraordinárias e que esse é um bom ponto para terminar a história.

E então a história termina. Ela literalmente termina, eu quero dizer. Sem cenas pós-créditos aqui. Sem "os heróis voltarão em...". Sem mais cameos do Stan Lee. É o fim, e por mais incrivel que tenha sido essa jornada, ESSA história terminou.

É estranho imaginar como é esperar viver em um mundo assim, mas parte da jornada é o fim.

O dilema existencial de saber que seu corte de cabelo esta cagado, mas ao mesmo tempo você não quer mudar porque foi feito pelo Stan Lee

Claro, os filmes da Marvel continuarão existindo e eles tem algumas coisas realmente interessantes. Teremos os personagens que eram da Fox voltando para casa (e finalmente um filme decente do Doutor Destino, não é admissivel que o segundo maior vilão da Marvel não tenha um filme que preste), teremos Wolverine e os X-men. Teremos Deadpool. Teremos Antonie Mack como Capitão América e se isso não te da boas expectativas, então você não fez o seu dever de casa. Teremos mais do amigão da vizinhança, o espetacular Homem-Aranha.  Teremos todos os filme de super heróis da DC e da Sony que aprenderam alguma coisa com a Marvel. Teremos os Asgardianos da Galaxia. Teremos a imbátivel Garota Esquilo. Ok, ainda não, mas um cara pode sonhar.


O futuro reserva grandes coisas, isso é certo. Porém isto esta no futuro, e o ponto é que essa história terminou. Qualquer coisa que for construída daqui para frente, terá que ser construída do zero com resultados para daqui a dez, quinze anos. Eu me pergunto que pessoa eu serei daqui a quinze anos. Eu me pergunto que pessoa eu era onze anos atrás quando Tony Stark disse "Eu sou o Homem de Ferro" e as coisas nunca mais seriam as mesmas.

This ride is over, but what a ride that was. What a ride.

Então é isso, e é assim que termina. Endgame é um filme melhor que Infinity War? Honestamente, não importa. Não é sobre isso que se trata, e se você está fazendo essa pergunta, então você é o tipo de pessoa que faz as perguntas erradas.


Ao longo de três horas agitadas que graciosamente fluem antes de ultrapassar as suas boas-vindas, embarcamos em uma epopeia repleta de coração, humor e perda inconcebível. Você vai rir, você vai chorar, mas o mais importante, você vai seguir em frente. No filme de numero 22, o relacionamento de 11 anos com a Marvel Studios finalmente chegou à sua conclusão. E com Avengers: Endgame, não tem como ser um adeus mais perfeito.

Exceto o Capitão América e a Viúva Negra jogando Game Boy através de cabo link. This is fucking perfect.


Por fim, falando um pouco sobre o jogo... eu queria fazer algo diferente e contar uma história sobre ele. Isso porque, de certa forma, o jogo da Guerra Infinita para o Super Nintendo é um marco para a minha infancia tanto como os filmes foram.

Isso porque esse jogo foi a capa da edição 111 da Ação Games, a edição de janeiro de 1997. Porém essa não foi uma edição qualquer, foi uma edição muito especial:


O Super Nintendo e o Mega Drive definitivamente já estão nos seus ultimos dias aqui, porém ao invés de simplesmente parar de falar sobre eles como um idoso esquecido em um asilo, eles dedicaram uma última edição especial a esses sistemas. One last ride.

Depois disso a Ação Games quase não falou mais sobre o SNES e o Mega Drive, porque honestamente não tinha mais muito o que falar realmente. Então é isso, um gran finale, uma despedida com gala e pompa.


Isso foi muito bacana por parte da Ação Games, mas tão importante quanto isso, foi quando eu peguei essa edição nas bancas que eu realmente entendi que tinha acabado. O que realmente me disse que a era do Super Nintendo tinha terminado foi a edição 111 da Ação Games.

E por mais que eu amasse o Super Nintendo velho de guerra, eu sabia que era hora de seguir em frente. Era o começo de uma nova era, e o futuro não espera por ninguém.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 110 (Dezembro de 1996)


Edição 111 (Janeiro de 1997)

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 034 (Janeiro de 1997)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 015 (Janeiro de 1997)