Esse período de transição entre o fim do PS1 e o PS2 pegar fogo e se mostrar o absurdo behemot que foi (ainda hoje o console mais vendido de todos os tempos), foi a época que eu fiquei afastado dos videojogos e não tenho muitas memórias videogamisticas. Isso quer dizer que eu nunca tinha jogado RESIDENT EVIL 3: Nemesis até semana passada, por exemplo.
Estou colocando essa informação, pq se me perguntassem qual é o padrão ouro dos jogos de plataforma 3D, aqueles que seriam o paragon contra o qual todos os outros jogos de plataforma 3D seriam comparados eu teria chutado alguma coisa de renome tipo SUPER MARIO 64 ou quem sabe BANJO-KAZOOIE. E enquanto esses jogos são, de facto, aulas de como fazer um jogo de plataforma 3D repleto de colecionaveis, se você quer o melhor do melhor, o olho-vivo e faro-fino da plataformagem 3D, bem, então o que você quer são os jogos do nosso amigo Spiroleta e suas loucas aventuras dragonianas.
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Como de costume, a capa americana do jogo é tipo "sou tão trevoso e badass! Tremam!", enquanto a japonesa é toda "Supiro-kun tomodachi!" |
Esse é estado-da-arte da plataforma 3D ao ponto que mesmo hoje não existe um consenso entre os fãs de qual o melhor jogo da trilogia inicial, dado que todos são bastante awesome (não posso atestar pelo terceiro ainda, mas chegaremos lá). Spiroleta o Dragoneta, o ápice da plataformagem 3D. Taí algo que eu não poderia ter adivinhado nem em um milhão de anos.
Mas vamos começar pelo começo: após salvar a Terra dos Dragões no jogo anterior, Spyro e seu parsa Sparx estão curtindo os louros da fama por terem salvo o reino. Hã, taí algo raro, o herói ser reconhecido socialmente após ter salvo o mundo, nem tantas obras fazem isso, sabia? De toda forma, Spyro agora está de boa na lagoa e planejando suas férias no Piscinão de Ramos, pq agora ele é um fucking herói e cada mergulho é um flash!
O NUMERO DE PESSOAS COM IDADE PARA ENTENDER ESSA REFERENCIA DIMINUI DRASTICAMENTE A CADA DIA, SABIA?
Estou perfeitamente ciente disso, Jorge. Perfeitamente ciente ... Mas então Spyro está indo tirar férias na praia e pega um portal para o Balneário dos Dragões. Entretanto esse não é o Super Spyro Beach Volleyball, pq enquanto isso na dimensão paralela de Avalar o bicho tá pegando. Literalmente: o Professor estava experimentando com um novo tipo de portal interdimensional que ele havia inventado, e acidentalmente abriu o portal para que Avalar fosse dominada pelo conquistador de mundos, Ripto e seu exército de seres malignos do mal que odeiam o bem.
Como um último esforço para salvar o seu mundo, o Professor e os rebeldes que restaram (todos os dois), invocam um lendário dragão das lendas para combater o mal. Que é o Spyro, que por um acaso estava passando na linha cruzada dos portais interdimensionais na hora, sabe como essas coisas são. De qualquer forma, você está lá agora, tem uma fauna furry macia e com cheiro de baunilha te pedindo ajuda, e não é como se o nosso herói estivesse muito ocupado mesmo. Não é exatamente ciencia espacial isso, sabe?
ELES TE GANHARAM NA FAUNA FURRY, NÃO É?
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Eu, hã, usei a cena do remake para PS4 por... hã... razões... |
O que eu posso dizer, sou um homem simples de gostos simples. Mas falando sério agora, um grande aprimoramento é que agora no começo de cada fase rola uma cutscene mostrando como as tropas de Ripto estão oprimindo os locais pacificos, e no final da fase um videozinho (geralmente engraçado) mostrando como você ajudou a resistencia a dar a volta por cima.
Isso é novo e definitivamente é divertido, mas claramente não é o suficiente para uma sequencia. Então, a questão é: você tem em suas mãos o melhor jogo do genero no sistema, o primeiro SPYRO THE DRAGON, como exatamente você melhora isso? De algumas formas, na verdade.
O primeiro jogo, por exemplo, é lembrado por como sua produtora Insomniac fez jus ao nome e passou noites em claro esbagaçando o hardware do PS1 de modo a conseguir fazer ele executar as coisas que apenas o Nintendo 64 fazia. Isso quer dizer que o primeiro jogo tem espaços abertos maiores do que qualquer coisa que vc já tinha imaginado no PS1 até então, sem usar neblina ou escuridão, com tudo rodando super rápido a 30 FPS sem engasgar.
Ou seja, o draw distance daquele jogo é tão absurdo que só de tirar o CD da caixa o PS1 já ficava tipo:
O problema era que... bem, problema não é bem a palavra aqui pq não é algo que piora o jogo, pelo contrário, mas de toda forma a coisa é que esse espaço não era tão preenchido assim. Isso quer dizer que as fases de Spyro eram repletas de espaço para correr e vc podia tentar chegar naquele castelo laaaaaa longe, mas na fase em si não tinha tanta coisa.
Um ano depois, a Insomniac não precisou dedicar tempo a fazer o jogo funcionar - dado que a engine do jogo anterior já estava pronta - e pode dedicar esse tempo exclusivamente ao level design. Isso quer dizer que embora o jogo tenha menos fases que o anterior (são apenas três mundos agora), cada fase é no geral mais interessante e com mais detalhes que qualquer contraparte em sua prequencia.
O segundo jogo usa cenarios igualmente grandes porém com muitas coisas nele e uma draw distance ridiculamente absurda que mesmo os jogos da Nintendo/Rare no Nintendo 64 ousam ir tão longe no campo de visão. Se o primeiro jogo já fazia o hardware do PS1 pedir arrego, esse então...
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PS1 em 1999... e vcs achando que eu não sei colocar meme de "Yamete Kudadasai" sem colocar putaria de hentão |
O esquema das fases, o objetivo em si do jogo mudou um pouco, porém mudou para melhor na minha opinião: vc desbloqueia a luta contra o chefe ao terminar todas as fases em cada um dos mundos, porém para desbloquear a fase final vc precisa também coletar pelo menos 40 orbs espalhadas pelas fases.
As orbs são colecionaveis secretos e para pegar elas é que as coisas ficam interessantes: cada fase tem de 2 a 4 orbs, que você consegue encontrando NPCs (as vezes escondidos, as vezes nem tantos) que de tão um minigame de desafio, vencendo o minigame você ganha uma orb. Como desafio extra, alguns desafios de orb só estão disponíveis após vc derrotar um numero minimo de inimigos nas fases e... coletar a alma deles, eu acho?
Seja como for, ao ter essa quota de inimigos atingida ativa um portal que funcionam como as fadas no jogo anterior, dando a Spyro supervelocidade, pulo mais alto, baforada de gelo ou superbaforada de fogo. Então o segredo é que quando vc junta essas duas coisas, você nunca, em momento algum, vai estar repetindo as mesmas coisas de uma fase para outra.
Sim, claro que existem padrões e categorias de minigames, mas o meu ponto é que a exploração já foi amplificada por fases mais "recheadas", passando mais a sensação que cada fase é um playground para você brincar como era a sensação de
SUPER MARIO 64 e agora ela é complementada pelos minigames, o que faz com que Spyro 2 se torne uma mistura curiosa de
SUPER MARIO 64 com
MARIO PARTY.
Esse é um daqueles casos em que juntar duas coisas boas separadas dá uma terceira coisa boa - como um pastel de queijo com goiabada, e não um exemplo onde juntar duas coisas boas dá uma terceira coisa muito estranha - como lasanha com torta de bolacha.
ESPERA, O QUE? QUEM É QUE MISTURA LASANHA COM TORTA DE BOLACHA?!!
Em minha defesa, assim como o primeiro ser humano que tomou leite da vaca pra testar se era bom, algumas coisas podem parecer ridiculas mas alguém uma hora tem que efetivamente testar pra poder dizer que não funciona, tá? ... e onde eu tava mesmo?
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Esse é o jogo de PS1 numero 350 nesse blog, e eu juro que após 349 jogos esse momento aqui me fez soltar um "NÃO FODE QUE O PS1 TÁ RENDERIZANDO AQUELA ILHA LÁ LONGE NA PUTA QUE PARIU!", absolutamente não é normal jogos de PS1 (e nem de N64 para esse propósito) terem um draw distance tão monstruoso |
Ah sim, se alguma coisa, eu só não diria que esse jogo é perfeito pq eles fazem uma tentativa muito infeliz de aplicar elementos de metroidvania, o que claramente não funciona. No mapa de cada mundo vc pode comprar uma habilidade (mergulhar, subir escadas e fazer um ground pound com a cabeça) pq o jogo pretendia que ele fosse meio metroidvania te fazendo só ser capaz de alcançar certas orbs com as habilidades novas.
Infelizmente o que ele consegue, no entanto, é apenas te fazer rushar para chegar ao final de todas as fases do primeiro mundo para então chegar ao segundo e comprar a habilidade de subir escadas (pq com mergulho+escadas vc consegue acessar 85% das orbs do jogo) e a partir daí fazer backtracking para coletar as orbs das fases que você rushou. Como dá pra ver, miraram no metroidvania, acertaram no backtracking. Não dá pra acertar todas.
Ainda sim, apesar dessa falha, não estraga o jogo o suficiente pra tirar dele o título de melhor jogo de plataforma 3D de todos os tempos até novembro/1999. Tá, eu sei que é um título bem especifico, mas é assim que a gente funciona nesse blog, okay? E de que outra forma eu poderia me referir a um jogo que melhora os controles do original (sendo esse o jogo de PS1 com melhores controles que eu já joguei até então), inclusive adicionando um movimento de subidinha no ar (bem parecido com a choradinha no pulo que o Yoshi fazia em
SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island) para resolver o problema de "o pulo quase dar mas vc cair", que era a coisa mais frustrante do primeiro
SPYRO THE DRAGON.
Controles melhores, gráficos mais bonitos e coloridos, cutscenes divertidas, level design melhor, minigames pra trazer variedade... Spyro 2 pode não ter trazido... trago... trouxedo... trougo... enfim, não realizou as mudanças de conceito que alavancaram continuações que superam seus originais como foi
DONKEY KONG COUNTRY 2: Diddy's Kong Quest e
CRASH BANDICOOT 2: Cortex Strikes Back, mas então nem tinha muito como fazer também. O primeiro
SPYRO THE DRAGON já é um jogo estelar para o PS1, e o mero fato da Insomniac ter conseguido melhor ele de alguma forma já é um fodendo feito no meu livro.
Nem sempre é realmente necessário reinventar a roda, especialmente quando vc já estava com a roda mais redonda do mundo em primeiro lugar.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 141 (Julho de 1999)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 063 (Junho de 1999)EDIÇÃO 069 (Dezembro de 1999)
MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 046 (Dezembro de 1999)EDIÇÃO 050 (Janeiro de 2000 - Semana 4)
EDIÇÃO 051 (Fevereiro de 2000 - Semana 1)