[#1345][Set/98] GUARDIAN'S CRUSADE (ou "Knight & Baby" no Japão)
Faz pouco mais de uma semana que eu tive o desprazer de sofrer um dos piores jRPGs que eu já calhei de sofrer violencia nesse blog - um que atende pelo nome de SHADOW MADNESS. Ainda não acho pior que o acidente de trem que foi BREATH OF FIRE 2, mas não foi por falta de tentativa. Isso sendo dito, imaginem vocês minha surpresa ao pesquisar sobre o jogo de hoje e descobrir que ele é avaliado ABAIXO de SHADOW MADNESS nas listas de piores jogos do PS.
... meu deus... o quão ruim esse jogo deve ser pras pessoas avaliarem abaixo de um jogo que consegue errar absolutamente tudo? Aí minha reação não pode ser outra que senão:
Mas vamos lá, só imagino o tipo de bomba me aguarda e...
Hã... na verdade o estilo de arte é... bem fofinho, na verdade. Eu esperava aqueles poligonos que envelheceram mal, mas a real é que a escolha artistica do jogo ficou excelente! O estilo de arte escolhida do jogo não apenas casa perfeitamente com as limitações técnicas do PS1, como ficou realmente bonita.
A arte desse jogo tem uma vibe de cartoon do leste europeu daqueles que passavam na TV Cultura no Glub-Glub. Com efeito, o estilo de arte desse jogo lembra muito as obras do artista finlandes Tove Janson:
Falando em fofura, o nome original japonês do jogo é Knight & Baby - o que é imensamente mais carismático que o nome genérico ocidental. E eu suponho que essa seja a razão da avaliação tão baixa do jogo: Guardian Crusade é um jogo simples e sob vários aspectos infantil... mas isso não é uma coisa ruim. É uma proposta diferente de como as coisas rolavam nos anos 90, mas não ruim.
E eu diria mais, diria que enquanto esse é um dos jogos menos ambiciosos que eu já vi na minha vida, mas todo o pouco que ele faz - e é bem pouco mesmo, esse realmente é um jogo bem simples - é feito com muito carinho. Lançado na era em que os jRPGs ficavam cada vez mais e mais ambiciosos (esse jogo foi lançado apenas poucos meses após PARASITE EVE, por exemplo), GC é meio que uma carta de amor as raízes do gênero.
Isso quer dizer que o jogo brinca com vários clichês do genero de uma maneira bem lúdica, por exemplo eu adoro como você vive esbarrando com grupos de aventureiros que estão numa quest para coletar 5 gemas sagradas para salvar o mundo de um mal maligno que odeia o bem - e que em qualquer outro jogo estes seriam os protagonistas do jogo. Aqui, entretanto, vc só levanta as sobrancelhas e pensa "okay, isso parece super sério e importante... bem, boa sorte pra eles" e continua sua própria jornada.
Que, como todo o resto, é uma jornada bem leve e fofa na real: seu herói Knight encontrou um porco sagrado chamado Baby, e teve uma visão que ele deveria leva-lo a Torre de Deus. E é isso, você e seu parceiro porco digimon fazem essa jornada, e como eu disse enquanto a jornada em si é bem pouco ambiciosa, o caminho nela é feita com bastante carinho.
Eu digo isso pq no combate existem duas mecanicas exclusivas a esse jogo: a primeira é do Baby, seu porco-dragão pet. Você não exatamente controla ele em combate, no máximo pode dar ordens gerais (ataque, defenda, me cure), mas ele faz o que tem vontade - e esse é o ponto aqui. Existe uma mecanica de afeição que aumenta conforme você alimenta ele e com o que vc alimenta ele, e que diminui se vc der comidas ruins pra ele ou deixar ele apanhar muito em combate (ficar com HP baixo o tempo todo) ou mesmo morrer em combate.
Se a afeição dele estiver realmente baixa ele vai atacar é você! Porém se a afeição estiver alta, ele tem a habilidade de aprender copiar alguns inimigos e se transforma neles durante o combate de uma lista de formas que ele já aprendeu - sendo que para os complecionistas, vc po. Então funciona meio que como um parceiro digimon que você influencia, mas não controla.
Só que tem uma outra mecanica de jogo ainda: os Living Toys, que são brinquedos que vc adquire explorando as dungeons e as cidades, e elas são meio que as "magias" do jogo - você inclusive gasta mana para summonar eles. Existem três categorias de LT: os que vc invoca um boneco para ficar junto no campo de batalha atacando, os que dão um efeito e vão embora (tipo o Living Toy que casta magia de cura), e os que ficam no campo mas não atacam - eles tem um efeito continuo enquanto não forem destruídos.
Isso quer dizer que vc tem dois membros fixos na party (você e o Baby), mais dois LT que podem ser summonados (seja de ataque, seja de efeito continuo) e ainda os de uso único. Só que os LT de campo ao serem derrotados não podem mais serem chamados de volta até o próximo combate.
ENTÃO OS LIVING TOYS SÃO ESSENCIALMENTE POKEMONS?
Basicamente. E essa é a beleza da coisa, você no mesmo jogo um Digimon E um Pokémon! Olha só se isso não é o ápice dos anos 90 fundidos em um só ou o que? Claro, novamente, esse é um jogo que se alguma coisa prima pela simplicidade, não espere nenhuma mecanica nível junction do FINAL FANTASY 8, mas tem lá o seu charme.
E no fim do dia, "charme" é a palavra aqui. A história é mega simplória, mas é bonitinha. O jogo tem combates bem feijão com arroz, mas é arrumadinho. Meio que como se a Tamsoft estivesse ciente das suas limitações e sabendo que jamais conseguiriam fazer um GRANDIA ou um BREATH OF FIRE 3, tentaram fazer algo humilde mas arrumadinho.
Por exemplo, se uma semana atrás eu falei do ablublé sem lé com cré dos dialogos de SHADOW MADNESS que torna exaustivo sequer saber para onde ir, Guardian Crusade sabe que não está me posição de testar a sua paciencia e tem um botão para a fada Navi genérica te acompanha dar uma dica de onde ir a seguir. Os combates não são lá essa maravilha toda? Bem, pelo menos eles tem a decencia de colocar os inimigos na tela e vc pode escolher quando e SE engajar em combate.
Na verdade, o jogo vai até um passo além para tornar o combate mais confortável pra vc: existem dois tipos de inimigos no mapa. Os que estão abaixo do seu nível fogem de você, os que são um desafio te perseguem - não que não de pra evitar se vc quiser. Isso te dá um termometro bastante bom se o seu nível está adequado e te dá controle sobre quando engajar em combates aleatórios, eu não poderia pedir mais que isso.
E assim se aplica a tudo nesse jogo: a interface de vender e gerenciar itens não é a coisa mais cremosa da história da humanidade, mas faz o serviço direitinho sem te aporrinhar em nenhum momento - inclusive dizendo se o item que tem na loja é mais forte que o que você tem equipado atualmente, MEU DEEUS DO CÉU PQ ERA TÃO DIFICIL FAZER UMA COISA TÃO SIMPLES CARALHO SHADOW MADNESS QUAL QUE É O TEU PROBLEMA?
Quando você voa no mapa do overworld, a Tamsoft sabia que não tinha um Nobuo Uematsu da vida para fazer uma musica descaralhada de airship, e nem mesmo os recursos para fazer uma nave mega poligonal como a Ragnarok de FINAL FANTASY 8. Mas então o mundo inteiro é renderizado em 3D de uma maneira contínua e quando Baby finalmente aprende a voar você pode ver todo o mundinho desse jogo lá embaixo como um pequeno diorama. Todas as cidadezinhas e as pessoinhas nelas, tudo em tempo real! É tão bonitinho!
A bussola ajuda muito num jogo em que vc pode girar a camera a vontade, pq mais jogos não fazem uma coisa tão simples assim pra resolver a sua vida, heim QUEST 64?
E no fim do dia, Guardian Crusade é isso: um jogo que não oferece muito, mas que sabe que não pode oferecer muito então o que oferece ele faz de coração. Como uma pessoa humilde recebendo visitas, mas fazendo o que pode pra ser bem educada. É um jogo que diz humildemente tão logo você chega "não repara a bagunça, desculpa qualquer coisa".
Você não tem do que se desculpar, Guardian Crusade.