sábado, 19 de setembro de 2020

[AÇÃO GAMES 043] TIME SLIP (SNES, 1993) [#496]




Se o jogo de hoje não foi originalmente pensado como "CONTRA III: The Alien Wars, mas com a viagem no tempo", eu como meu chapéu. Não, pensando melhor não. Primeiro porque ninguém usa essa expressão em português, segundo porque o único chapéu que tenho em casa é um boné do Mario empoeirado a mais de cinco anos e isso me mataria se eu o comesse. Claro, eu poderia lava-lo para comer ele, mas suponho que esse não seja o ponto aqui. Em vez disso, vamos apenas dizer que eu ficaria muito surpreso. 

Mas do que eu estava falando mesmo? Ah sim, o jogo de SNES de 1993 da Sales Curve Enterteinmente (atual Square-Enix Europe) e publicado pela Vic Tokay, Time Slip!



Eu olho essa tela de Press Start e não consigo afastar a sensação que ela foi feita no Paint. Nada contra os grandes artistas de Paint que existem por aí, exceto que vocês estão investindo tempo e talento em algo que sempre vai parecer amador e tosco de qualquer jeito. Nada contra.

Enfim, um homem vestindo um macacão desnecessariamente apertado olha com repulsa o relógio mais feio do mundo. "Que relógio feio", ele pensa consigo mesmo, esquecendo o velho provérbio sobre pessoas vestindo macacões verdes brilhantes com tetos de vidro. O Lime Avenger aqui é o nosso herói, pronto para salvar o mundo do que quer que o que estiver ameaçando esta semana. Não se preocupe, não apertar Start nos contará a história do jogo.


Ah sim, a ameaça desta vez são alienígenas do planeta Tirmat. Eu achei que eles eram do planeta Tiamat à primeira vista, mas um exame mais minucioso da fonte revela que o que eu considerava a letra A é na verdade uma letra maiúscula R. Aqui está uma dica: se as pessoas tiverem que examinar atentamente sua fonte para entender o que você escreveu, você  está usando a fonte errada.

Em vez do que os aliens fazem de querer conquistar a Terra apenas porque eles não tem nada melhor para fazer, os Tirmatianos tem um motivo aqui. Seu planeta natal está prestes a ser destruído por uma fenda no espaço-tempo e a Terra é o planeta habitável mais próximo. Bem, suponho que eu conheça humanos o suficiente para saber que apenas pedir gentilmente para acomodar milhões de aliens ilegais não daria certo (THEY TAKE OUR JIIIIIIIIUUUUUUUBBBZZZZZ), então, é, conquistar a Terra a força faz sentido.



Então dá para entender o lado deles na história e sentir alguma simpatia por eles nessas circunstâncias. Claro, você teria mais simpatia por eles se o plano de invasão dos tirmatianos não consistisse de enviar soldados a várias eras no passado da Terra, para que pudessem dominar o planeta antes que domesticássemos os cães e criássemos os corgi.

Desculpem amigos, mas se tem algo pelo qual eu sempre lutarei é por um mundo com puppies corgi!


Uma outra coisa: os tirmatianos conhecem o suficiente da Terra para nomear sua nave espacial  de Torquemada, presumivelmente em homenagem ao chefe da Inquisição Espanhola do século,Tomas de Torquemada. Nomear suas naves em homenagem a alguém cujo nome é sinônimo de crueldade e intolerância é uma possível dica de que os tirmatianos não são os mocinhos aqui. 


Em resposta a descoberta dessa ameaça, a Terra rapidamente enjambra um sistema de viagem no tempo para se defender. Fico feliz que a viagem no tempo estivesse tão perto de ser descoberta que era apenas questão de apressar o processo, certamente foi um momento muito oportuno para sermos invadidos.

Bem, é isso. Problema resolvido. Espero que tenham sucesso em invadir outro planeta Tirmatianos, seja ele qual for, já que a Terra está completamente segura agora e...



Damn you, Tirmatianos atacando nossas bases de clones viajantes no tempo! Mas tudo bem, enquanto houver vida haverá...


Eita fodeo a porra toda agora! E agora, José?


Uma esperança esbelta para a humanidade reside na forma de um homem que sobrevive ao ataque, um homem que viaja para o passado para combater as hordas de alienígenas, um homem chamado Dr. Vincent Gilgamesh. 

Espera, o que? Esse é o nome que vocês vão usar? Dr. Vincent Gilgamesh. Gilgamesh contra Tiamat, ok, eu entendi a referencia babilonica aqui, e isso não é algo que se diz com muita frequencia. Ou frequencia alguma, na verdade.

Não, tudo bem. Sim, claro que acho que "Vincent Gilgamesh" é um nome legal, ele parece um cara legal que pode fazer coisas legais. Ele definitivamente não se parece só alguém que está de saco cheio de carregar o escapamento do carro que encontrou largado na calçada. Enfim, deprimido com suas escolhas de vida ou não, esse é o nosso herói.


Então na primeira fase do jogo você viaja no tempo para a idade média e... usa balas para liquefazer um sem fim de humanos onde eles estão? Achei que íamos impedir que os aliens extinguissem a raça humana, não ajuda-los no processo.

Seja como for, Dr. Gilgamesh tomou a ação incrivelmente heróica de viajar para um passado distante e surpreender a população local com seu armamento altamente avançado. Não tenho muita certeza de como isso salvará a humanidade e, se eu fosse o Dr. Gilgamesh, estaria constantemente preocupado em abater um dos meus ancestrais e, assim, deixar de existir. Por outro lado, existe a chance dele acertar o antepassado de um dos criadores do reboot de Hellboy, então é um risco que eu entendo ser corrido.


Em termos de jogabilidade, o jogo realmente uma versão de baixo orçamento de Contra III. Os comandos são basicamente os mesmos (só que piores) e os gráficos parecem gráficos do primeiro ano do SNES (só que piores). Porém, existem diferenças: você não morre em um único hit e possui uma barra de vida saúde com cinco segmentos inteiros! 

O problema é que não tem knockdown quando você sofre dano, então se um inimigo encostar em você provavelmente isso vai drenar sua vida toda de qualquer jeito. Outra diferença para Contra é que você tem apenas uma arma principal, uma metralhadora que pode ser aprimorada através da coleta de power-ups para disparar mais rápido e depois disparar três balas de cada vez. 

Nada dos vários tiros mirabolantes e diferentes que você encontra em Contra porque fazer isso daria trabalho, obviamente. Fora isso, você corre e pula sobre projéteis enquanto atira nos pobres habitantes desavisados dessa floresta medieval.


Outro problema é que os controles não são tão fluídos e leves quanto Contra. E acredite: se você vai jogar todas as balas que você conseguiu comprimir em um cartucho de SNES contra o jogador, é no minimo justo que o jogador tenha como reagir a isso. Isso é algo que a Konami faz muito bem, Contra é inclementemente dificil, mas ao menos o jogador tem ferramentas para lutar de volta.

Aqui não, seu personagem é lento e os pulos tem que ser feitos com precisão pixelar. Contra o chefe acima, por exemplo, você tem que saltar sobre ele para não ser atropelado. Só que a janela de pixels que você tem para fazer isso é rídicula. Apenas para testar, jogando com Savestate eu precisei tentar 8 vezes seguidas para conseguir pular sobre o chefe sem tomar dano por encostar nele, e agora imagine que o jogo inteiro é assim!

A primeira fase continua em uma caverna decorada com caveiras, onde vc é perseguido por anões musculosos e sem cabeça. Há duas explicações possíveis para isso: ou o plano dos tirmatianos foi formado por um mal-entendido grotesco do conteúdo de Branca de Neve ou por uma feliz coincidência que eles viajaram para um período de tempo que, por acaso, foi povoado por fisiculturistas em miniatura assassinos sem cabeças, criaturas que não foram registradas pela história humana porque o Dr. Gilgamesh foi forçado a destruir todos eles.

E esse é o maior problema desse jogo: ele é um bullet hell constante e a única forma de vencer é saber em que pixels você tem que pisar a cada momento do jogo. As lutas contra chefe são o maior expoente dessa cultura de que os programadores do jogo mapearam cada movimento necessário para vencer o jogo e não apenas deixar o jogador se virar com as ferramentas que tem, mas o jogo inteiro é pensado dessa maneira e antes cedo do que tarde fica bastante cansativo.

A unica forma de vencer o jogo é avançar, saber em quais pixels você tem que estar a cada segundo, morrer para avançar um pouco mais e assim palmo a palmo. O que, pouco surpreendentemente, não é divertido.

Haha, você não pode me bater, cara, eu tenho um escudo triangular multicolorido! E também muitos ataques especiais, um BZ, dois BBs, dois GAs ... não faço ideia do que eles fazem.
E tal qual Contra, a segunda fase tenta dar uma apimentada nas coisas mostrando um estilo de gameplay diferente. Em Contra nós tinhamos fases que o objetivo era ir para o fundo da tela (um efeito bem impressionante para o Nintendinho, tenho que dizer) ou com visão por cima.

Bem, o que Time Slip fará para variar as coisas por aqui?


Ah c'mon! Uma seção de tiro com rolagem lateral? O bom e velho shmup? Sério?

Essa fase deveria se passar na pré-história e eu nem sequer atiro em dinossauros, apenas trilobitas voadores. Porque, sim, claro, de repente, andar de um lado para o outro no fundo do oceano não é bom o suficiente para você e você decidiu que não quer nada além de se espalhar pela frente da moto a que agora de repente tenho acesso sem explicação alguma, não é?

E mesmo pelos baixos padrões que eu tenho de shmups, este aqui é um dos bem ruins ruim. Isso porque os controles de tiro nessa sessão são alguma coisa indizivel. O que, você pode estar se perguntando como os controles em um shmup 2D podem ser tão ruins assim, então senta por que lá vem a história.

Apertando Y sua moto atira para frente, mas se você estiver apertando algum direcional ela atira nessa direção. Então se você apertar Y enquanto está segundo para baixo para descer a sua moto na tela, você atira para baixo. O problema é que isso acontece só quando você segura o botão do direcional, se você soltar ele para de atirar para baixo.

Agora, o que acontece se você quiser (e você vai precisar, acredite) atirar nos inimigos que estão na parte de baixo da tela? Quer dizer, você não pode só ficar segurando baixo+Y porque senão sua moto vai descer e você vai encostar neles - e encostar em qualquer coisa drena sua vida, não esqueça disso.

Bem, os programadores do jogo pensaram nisso. Se você segurar A enquanto atira com Y, o canhão da sua moto trava naquela direção e começa a atirar ali sem você precisar segurar o direcional. Então como atirar em inimigos na parte de baixo da tela sem descer seu personagem até lá?

Super easy, barely an inconvenience!



Apenas aperte baixo+Y para começar a atirar para baixo, enquanto estiver apertando isso segure A, e pronto, agora você atira para baixo sem ter que ir para baixo! Ah, apenas repita isso em todas as 8 direções do controle alternando em frações de segundo porque esse jogo ainda é um bullet hell e você vai precisar atirar em todas as direções e continuar atirando por alguns segundos enquanto desvia de toda sorte de coisa.

Boa sorte com isso!

O único DINOSSERO que você encontra no jogo é o chefe, o que tem essa coisa dos videogames me decepcionarem com DINOSSEROS?
O Egito Antigo é a terceira fase, e como você pode perceber um padrão aqui, você atira em muitos poucos aliens e em vários jovens sem camisa armados apenas com uma lança, jovens sem dúvida aterrorizados pela pessoa estranha que acabou de aparecer do nada com armas que eles não podem sequer começar a compreender.

Tenho que me perguntar sobre o status do Dr. Gilgamesh como um "mocinho" dessa história.


Após uma longa, longa, looooooonga fase (sério, as fases desse jogo são muito longas) você enfrenta ninguém menos que o próprio Anúbis, deus do levantamento de pesos! Julgar as almas dos mortos é um ótimo exercício para ficar bombado, ao que parece.

É uma pena para Anubis que ele seja o chefe mais fácil de todo o jogo. Ele deveria ter passado mais tempo trabalhando nas pernas, porque foi onde eu atirei nele até ele morrer.


Após derrotar Anubis maromba... a fase continua. Esse jogo tem mais ou menos uma hora de duração e apenas 5 fases, então cada fase são uns bons vinte minutos de decorar posicionamento pixel-a-pixel. Não que dividir em fases faça muita diferença entretanto, já que ao morrer você dá respawn onde você morreu e não existem passwords ou salvar o jogo.

A divisão em fases é meralmente proforma. Me senti tão chique usando essa palavra agora, so grownup!

Enfim, após derrotar anubis-bomba o (enorme) resto da fase continua em uma piramide hitech por algum motivo, você derrota muitos robos não interessantes e vai para a próxima era.


É a Roma Antiga na fase quatro, e os desenvolvedores realmente visualizaram o Império Romano, sendo nada mais que uma série de torres de tijolos com escadas aparafusadas para criar uma experiência emocionante de atirar enquanto está pendurado na escada.

Bem, whatever, ao menos Gilgamesh está lutando contra os próprios tirmatianos agora. São coisinhas magras com armas grandes. Não é de admirar que seu planeta natal esteja sendo destruído por uma anomalia no espaço-tempo, seu bando de nerds esqueléticos!


Olhe para este tirmatiano. Seus companheiros de ninhada, família-clone ou o que quer que eles tenham em seu planeta natal estão arriscando suas vidas para garantir a sobrevivência da sua espécies, e esse cara está sentado ali tocando saxofone. Bom trabalho, Glarxxon - enquanto você toca Careless Whisper repetidas vezes, o Dr. Gilgamesh está colocando um fim em toda esperança para o seu povo!


O chefe do Império Romano é o David Bowie com dois metros e meio de altura. Por quê? Quem diabos sabe... Ele também não parece muito interessado na luta. Você poderia pelo menos olhar para mim quando deveríamos duelar até a morte, é o minimo que a etiqueta manda fazer.

Tem outra luta de chefe no final deste estágio, mas são apenas as esferas flutuantes em uma configuração ligeiramente diferente da fase anterior e como posso dizer algo interessante sobre isso quando acabei de lutar contra o homem das estrelas mais fabuloso do mundo, dono de várias ilhas do Caribe e, aparentemente, um gigante literal? Eu não posso, eu simplesmente não posso. Para a próxima etapa, então!


A quinta e ultima fase se passa em um futuro pós-apocaliptico... onde pilotamos a porcaria da moto de novo. Porque Deus está morto e me culpa pessoalmente por isso. Enfim, muitas ginasticas de dedo mais tarde...


Eu não quero só falar coisas negativas desse jogo, entretanto. Ele pode ser um clone genérico de Contra, mas isso não é uma coisa necessariamente ruim. Todo mundo gosta de Contra, e ter uma versão barata dele pode não ser tão bom quanto, mas está longe de ser a pior coisa que já aconteceu a qualquer gamer.

Então, é, ser um Contra do homem pobre não é algo de todo indesejável, apenas...


... MAS PUTA QUE PARIU, TU NÃO DÁ UM ARREGO HEIM JOGO?!?

Na segunda metade da última fase, nosso herói decide ir resolver o problema na fonte e vai ao planeta morimbundo dos Tirmatianos para acelerar o processo de extinção deles. O problema é que não dá pra enxergar nada do que tem na tela, então boa sorte em desviar de tiros invisiveis. Todos os problemas do jogo são exponenciados de forma doentia aqui, porque foda-se você, por isso.

Como se o jogo não fosse difícil o suficiente antes. O nível de dificuldade do Time Slip é a principal razão pela qual o jogo não é muito divertido. Há tantos inimigos ocupando a tela - inimigos que são difíceis de derrotar sem sofrer danos, graças aos controles lentos e aos sprites volumosos - que ter uma barra de vida não faz diferença nenhuma realmente.


O penúltimo chefe é uma parede de mamilos robóticos. Cada mamilo floresce, por sua vez, para revelar uma pequena arma que atira no Dr. Gilgamesh. Destrua esse canhão de mamilo e o próximo aparece, e assim por diante. Repita isso até que você destrua todos os ciber-mamilos e faça-o um pouco mais, porque os desenvolvedores assumiram que estaríamos nos divertindo tanto lutando contra esse chefe que eles fizeram com que alguns dos mamilos se regenerassem.


O último do chefe é... um macaco-robo que tenta te pegar como uma daquelas garras de shopping. Eu não faço ideia de como destruir isso vai impedir os tirmatianos, mas whatever float your boat.


Oh cara, o Umidade vai tocar essa noite! Sim, vai ser no The Club. Tá olhando o que? É uma cidade pequena, só temos um clube.

Então, o Dr. Gilgamesh salva o dia condenando uma raça de alienígenas sensíveis e amantes de saxofones a completa a aniquilação. Tudo isso parece um pouco desnecessário, sabe? Poderíamos ter resolvido algo, certo? Os tirmatianos poderiam ter voltado no tempo e avisado seus antepassados da catástrofe iminente para que eles trabalhassem em uma solução que não envolvesse obliterar a espécie nativa de outro planeta.

Sei lá, a gente poderíamos ter emprestado Marte até eles conseguirem uma saída definitiva, eu sei lá. Essa é a verdaeira lição aqui, da próxima vez vamos tentar dialogar antes de recorrer a invasões interestelares, talkey?

Violência nunca acaba bem pra ninguém, principalmente pra quem tem que jogar esse jogo.


Esse é o Humidade pra você, sempre provocando tumultos entre os jovens impressionáveis com sua música e e sua postura anti-establishment de shopping. Basicamente o Legião Urbana do século 22. A palavra "Gilgamesh" também está escrita quatro vezes nesta página de jornal, o que parece um pouco excessivo, mas acho que mesmo em 2147 jornalistas tem que encher linguiça para fechar o número minimo de linhas.

Se você prestou atenção - e eu não te culparia se não prestou -, você perceberá que Time Slip é um dos jogos que você deve evitar. É um clone Contra relativamente competente, porém arruinado por escolhas de design terríveis - como as fases de shmup, o sistema de subarmas que não é útil e a dificuldade doentia.

Em vez disso, jogue Contra III, jogue qualquer Metal Slug, diabos, até saia de casa e converse com outro ser humano. Bem, ok, talvez não esse último. Não vamos fazer loucuras também.