segunda-feira, 21 de setembro de 2020

[AÇÃO GAMES 043] SUPER BACK TO THE FUTURE: Part II (SNES, 1993)[#498]




Sabe uma coisa que é fácil de fazer? Quer dizer, realmente fácil? É fazer um jogo licenciado de um filme de sucesso dos anos 90. Quer dizer, as crianças já estão emocionalmente apegadas aos seus personagens, tudo que você precisa fazer é pegar a premissa básica e jogar algumas referencias aos filmes aqui e acolá. 

Quer dizer, pegue Exterminador do Futuro, por exemplo. Robo indestrutível viaja no tempo para matar uma pessoa e você precisa dete-lo. Ou usa-lo para deter outro robo mais indestrutível e mais foda ainda, na continuação. Porra, o jogo praticamente está pronto, é só você não cagar as mecanicas do jogo,

Apenas não faça o jogo ser injogavel, só isso. E ainda sim, por mais fácil que fosse, nós tivemos:


THE TERMINATOR (SNES)
The Terminator (Mega Drive)
Terminator 2 (Nintendinho)
Terminator 2: Judgement Day (Nintendinho)

Meu deus! É uma abominação horrível atrás da outra, como em uma fabrica bem lubricidada de cagar pesadelos! Eu não lembro de ter jogado um jogo bom de Terminator e não teria como ser mais fácil fazer um jogo do que isso!



Claro, essa não é uma habilidade única de Terminator e praticamente todos os grandes jogos baseados em filmes de sucesso sofrem com isso. O exemplo mais fácil que me vem a mente é De Volta para o Futuro, que é outra franquia incrivelmente fácil de adaptar como jogo. Quer dizer, tem várias cenas de perseguição, brigas, e um dos meios de transporte mais iconicos do cinema: o hoverboard. É só juntar tudo isso em um jogo de plataforma e correr para o abraço. 

O quão dificil pode ser isso, afinal?

Bem, aparentemente... muito.


E por "muito", eu quero dizer MUITO MESMO!


E por "muito mesmo", eu quero realmente dizer "PAREM PELO AMOR DAS COXAS DA RIKKA-SAMA, APENAS PAREM! TENHAM MISERICÓRDIA!"


A terra e o céu são testemunhas que eu tive minha cota de jogos bosta de De Volta para o Futuro, grande Scott! Bem, a boa noticia é falta apenas um jogo de BTTF e então eu estarei livre dessa prisão de sangue e dor. Com efeito, não é apenas um jogo de De Volta para o Futuro, mas precisamente o primeiro jogo de Super Nintendo que eu aluguei na vida.

Foi também uma das únicas vezes na minha vida que eu aluguei um jogo em uma quarta-feira, porque foi o dia que a minha mãe comprou meu Super Nintendo, e como ele era o que se chamava de modelo "baby" (no Brasil, os donos de loja abriam a caixa do video game e tiravam o segundo controle e a fita de Super Mario World que vinha junto para venderem separadamente) e não vinha com jogo. Então para não ficar com um videogame sem jogos só olhando para ele, eu pude alugar um jogo e esse foi Super Back to the Future 2.

Não que a gente tivesse dinheiro para isso (ou mesmo para comprar o videogame, aconteceu da gente vender uma linha telefonica na época - a magia do mundo sem privatizações), minha mãe realmente pagou os pecados dela tentando fazer uma criança parcialmente autista feliz. Mas enfim, menos sobre mim e mais sobre Marty Mcchicken!



Mas que tipo de jogo é esse? Bem, sabe o que eu disse antes sobre ser fácil fazer jogos licenciados, era só não cagar tudo com um gameplay bosta? Bem, SBTTF 2 é o exemplo perfeito disso. É um jogo que nem tem um gameplay estelar, mas é funcional. E apenas isso (também conhecido como "o minimo necessário que um jogo precisa fazer!") já faz dele o melhor jogo de De Volta para o Futuro que eu já joguei.

Não disse que não era dificil? Bem, mas ser o melhor jogo dessa franquia não quer dizer tanto assim realmente, então... como é o jogo?

Hill Valley, a cidade com maior número de cabines telefonicas por metro quadrado de 2015
Em SBttF2, Marty nunca sai do hoverboard, sendo esse o traço definidor do jogo. Isso porque eles tentaram emular a inércia de andar de patinete, eu acho, e o resultado é que o jogo inteiro é uma grande fase do gelo. Se você pular para frente parado, Marty não vai a lugar nenhum praticamente - ele mal se move poucos milimetros na tela. Para pular para frente você tem que pegar alguma distancia e isso torna o jogo mais engessado do que seria divertido ser. 

Andar e pular são os únicos comandos que esse jogo tem, fazendo com que a execução dele pareça um primo bem pobre de Sonic: The Hedgehog. Somando isso a inércia ruim do personagem, você realmente tem a sensação de estar jogando o Sonic do homem pobre.

Ó mais uma cabine telefonica. Eu não disse?
Seu pulo faz Marty entrar numa cambalhota que o torna invulneravel a dano - igual a Sonic - e com seu ataque de giro, a capacidade de pular e um botão para ganhar velocidade, você deve navegar pelos níveis de dificuldade crescente e derrotar os chefes baseados em cenas do filme, porém e fáceis. (a única real dificuldade está em seus próprios controles). 

Estranhamente, o jogo nem sempre parece que foi projetado com o hoverboard em mente. O hoveboard oferece velocidade - talvez não a velocidade do ouriço, mas ainda assim -, então não faz sentido que a câmera tenha um close-up tão perto.



Você não pode ver o que está à sua frente e precisará parar repetidamente enquanto a tela avança. Parece quase um jogo de Game Boy que lida com as limitações de sua resolução, mas este é o Super Nintendo, caramba! Você não precisa aumentar o zoom tão perto! Você está criando um jogo para telas muito maiores que um Game Boy!

Você se sente seguro em ir à velocidade máxima - como o jogo teoricamente foi projetado para ser jogado - somente depois de morrer tantas vezes em uma fase que você começa a memorizar a posição de cada. Caso contrário, a sensação é de estar jogando Road Runner's Death Valley Rally (como esse jogo recebeu nota 10 e o selo The Best of Ação Games é uma das coisas que eu jamais vou imaginar), onde a qualquer momento você pode dar de cara em uma armadilha da morte instantânea e mortal.

"Usar dois bastões de baseball ao mesmo tempo faz você duas vezes mais perigoso" - Biff Tanner, 2015
Ocasionalmente, os mapas tiram vantagem do hoverboard e oferecem algumas rampas para pular, mas não o suficiente. Também há bônus que você pode alcançar fazendo um salto de fé de uma borda após correr na velocidade máxima, esperando que haja uma vida extra do outro lado, em vez de uma parede de espinhos. PROTIP: geralmente é uma parede de espinhos.



Resumidamente, existem quatro problemas que atrapalham a diversão do jogo:

- A maneira como Marty sobe (e desce) como um foguete se você tentar pular sem pegar distancia.
- Sua incapacidade de esmagar os inimigos quando ele não está girando.
- Sem checkpoints.
- O SNES não tem a velocidade do processador do Mega Drive, então se você tentar fazer um jogo muito rápido ele fica lento. Esse jogo tem muitos slowdowns. Muitos.

Ok, talvez eu não tenha vendido para você o Super Back to the Future II. Bem, tudo bem, porque honestamente não é uma jóia perdida que merece uma segunda chance. É um jogo de plataforma mediano com vários defeitos, mas com algumas qualidades também.

O 1985 dominado pelo Biff milionário parece bem fiel ao filme, eu lembro do Marty em um globo estroboscópico enfrentando um punk muito chapado.
A começar, o aspecto sonoro é o que mais chama atenção nesse jogo. É o único jogo de BttF a ter a s músicas do filme renderizadas em um videogame sem fazer seus ouvidos sangrarem no processo (sim, Back to the Future, part III, estou olhando pra você). Ver cenas do filme ouvindo músicas do filme deveria ser o minimo que você poderia esperar de um jogo licenciado, mas infelizmente acontece mais não do que sim.

Agora, o ponto de venda mais marcante desse jogo certamente são seus gráficos. Sendo um lançamento exclusivo do Japão, os personagem do filme foram chibinizados estilo anime e o resultado ficou muito, muito kawaii

O mesmo pode ser dito dos punks flamejantes de 1955, minha cena favorita do filme
Se eu tivesse que chutar, inclusive, chutaria que esse é o motivo do jogo nunca ter sido lançado fora do Japão dado que poucas coisas são maiores que a insegurança masculina ocidental, e um jogo onde os personagens parecessem adoraveis e fofinhos ao invés de DARQUI TREVOSOS E DU MAUUU não deve ter sido visto pelos executivos com bons olhos. 

O vagabundo genérico sem graça de Time Slip tudo bem, mas fofura é algo que jamais seria permitida nos videogames nos anos 90.


Bem, se esse foi o caso mesmo do motivo do jogo nunca ter sido lançado no ocidente, Marty Mcfly só tem uma coisa a dizer sobre isso:


Bem, pode não ser brilhante, mas pelo menos é o melhor jogo de De Volta para o Futuro. O que não quer dizer tanta coisa assim, mas enfim...