sexta-feira, 18 de setembro de 2020

[SUPER GAME POWER 001] STAR TREK THE NEXT GENERATION: Echoes from the Past (Mega Drive) ou Future's Past (SNES)[#495]


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Não parece para quem olha hoje sem contexto da época, mas Star Trek era uma série muito, muito, muito progressista para sua época. Eu sei que olhando as personagens femininas que só aparecem como elenco de apoio de minissaia sem protagonismo nas histórias, mas para o que dava para fazer na época Gene Rodenberry lutou o que dava para criar um futuro utópico onde a raça humana atingiu tudo que poderia ser.

Por exemplo, originalmente sua ideia é que o primeiro oficial da Enterprise fosse uma mulher. Ao que a emissora, em 1966, disse "mas nem fodendo!". A segunda opção que ele tinha para o papel foi aquele que todos viemos a conhecer, um dos personagens mais iconicos da história da televisão.

E assim para a série toda. Gene Rodenberry não conseguiu fazer tudo que ele quis fazer na série, como ter metade da tripulação ser feminina, mas o que ele conseguiu fazer foi bastante impressionante para 1966. Como ter um protagonista russo no auge da guerra fria, ou ter uma personagem negra que não era serviçal nem nada do tipo.

Assistindo Star Trek, você pode argumentar que a Tenente Uhura não faz muita coisa e que ela poderia ter mais destaque, no que Gene Rodenberry concordava. Mas só ter uma mulher negra sendo tratada como um personagem igual aos outros já era realmente sem precedentes na televisão americana.  Foda né? Isso é o que o pessoal chama de "bons tempos", que merda...

FELIZMENTE esses "bons e velhos tempos" passaram e hoje são motivo de vergonha, mas Gene Rodenberry ficou anos e anos matutando como seria se ele realmente pudesse fazer tudo que ele queria fazer. Sabe, mostrando o ser humano em seu melhor, sem os conflitos mocorongas que regem a vida das pessoas, você sabe, apenas indo audaciosamente onde ninguém jamais esteve.

Pois bem, em 1987 ele finalmente conseguiu vender a ideia de fazer Star Trek da forma que ele queria fazer: com um elenco consideravel feminino sem ser apenas para usar minissaias, ninguém darias pitis homéricos por ter protagonistas negros na tela e várias coisa que não tinha como fazer em 1966. 



A versão de SNES foi lançada antes e tem o subtítulo "Future's Past", enquanto a do Mega Drive foi lançada depois e se chama "Echoes from the Past"


Acrescido a isso ele também tinha um orçamento que ele jamais poderia ter sonhado nos anos 60 já que Star Trek se tornou um sucesso cult e era muito mais fácil achar gente disposta a colocar dinheiro nisso. O que permitia não apenas efeitos especiais melhores, mas contratar atores melhores.

Acho que todo mundo adora o carisma tosco do Capitão Kirk, mas ninguém iria tão longe a dizer que Willian Shatner é um bom ator... ou sequer um mediano, porque né?


Mas que nível de qualidade estamos falando aqui? Bem, basta apenas dizer que "Star Trek: A Nova Geração" tem atores como Whoppi Goldberg. Sir John de Lancie (também conhecido como o dublador do Discord) e Patrick Stewart. Sim, o fucking Professor Xavier foi capitão da Enterprise durante sete anos - o que é um nível de atuação infinitamente melhor.

Hã... não tão melhor assim, eu acho... bem, eu nunca disse que "Star Trek: A Nova Geração" é melhor produzido, e tem um dos melhores inimigos de toda ficção ever: os Borgs.

Os Borgs são um hibrido entre inteligencia artificial e hivemind coletivo, e a coisa deles é que eles assimilam qualquer cultura com que entram em contato para sua coletividade. O que por si só já seria ruim o bastante, mas a coisa deles é que eles também assimilam qualquer coisa que você usar contra eles e então upgradeam a espécie para ser imune aquela forma de ataque.

Vem daí a famosa frase "Resistance is futile, you will be assimiled".

Professor Xavier foi borgificado!

Esse conceito foi utilizado pela DC não muito tempo depois para criar o Doomsday, quando eles decidiram que precisavam de um vilão forte o bastante para matar o Super-Homem.

Star Trek: The Next Generation teve sua última temporada em 1994, e no auge da popularidade da série foram encomendados videojogos para Super Nintendo e Mega Drive, que é o que nos trouxe até aqui. Mas como é esse jogo?


Uma coisa que eu gosto bastante dessa adaptação é que ele realmente se preocupa em capturar o feeling do produto original, o que é uma coisa que eu insisto bastante por aqui. Porque é o que eu espero de uma adaptação afinal, não recontar a midia original em outra forma, mas emular a sensação de outra forma. E nesse sentido o jogo da Spectrum Holobyte é muito feliz.

Mas... qual é o feeling de Star Trek que esse jogo consegue transmitir?


Bem, a coisa de Star Trek é que a série é ficção cientifica. Enquanto os episódios em si são bastante simples no conceito (na maior parte das vezes, bem bobinho de simples), existe uma sensação de que é algo complexo e de um universo intricado. Star Trek não é tão complicado quanto parece olhando de longe e definitivamente não tão profundo quanto os fãs gostam de achar que é.

E nesse sentido o jogo transmite a sensação de Star Trek muito bem: o jogo parece muito complexo e profundo, mas na realidade é bastante simples.

Quando você inicia o jogo, a primeira coisa que você vê é que está na ponte da Enterprise e existem inúmeros, inúmeros menus. Em um cenário de 360 graus, existem vários menus que você pode entrar: 

Cada uma das "salas" que dá para entrar (ou seja os menus) é representada por um personagem da série e tem uma função específica. Por exemplo no "Brieffing" o Capitão Picard te dá uma dica do que fazer a seguir, no "Teleport" você pode selecionar uma equipe de membros da série para descer ao que quer que a nave esteja orbitando e por aí vai. Parecem muitas opções, e de fato são.

Por exemplo, na tela de engenharia (com o Data) você pode setar as coordenadas para visitar outros planetas e sistemas, e de fato existem muitas, muitas opções de mundos para visitar.

Tudo isso são planetas que existem. Tipo, são muitos, muitos mundos mesmos. E fica mais complexo que isso ainda porque você pode gerenciar os níveis de energia da sua nave. Você pode distribuir a energia da nave entre armas, motores, escudos frontais, laterais e traseiros, suporte de vida, teleporte e por aí vai. 

São realmente muitos, muitos detalhes para gerenciar na sua nave.

É, REALMENTE PARECE BASTANTE COMPLICADO

E é. Só que tem uma coisa, um pequeno detalhe aqui: isso não é realmente importante para jogar o jogo. Configurar a nave até pode tornar o jogo mais fácil, mas nem de perto isso é necessário para jogar o jogo. De igual modo, os milhões de planetas e lugares para visitar na verdade não são visitaveis. 

Se você for um grande, grande fã de Star Trek pode se deleitar pelo fato da entrada estar no jogo e você pode pegar a referencia, mas meio que é só isso. O jogo tem até mesmo um database do universo de Star Trek tão completo quanto é possível colocar em um cartucho de 1993 para quem é fã da série, mas você não precisa ler uma única linha disso.


Tal como a série, o jogo tem várias coisinhas que dão a ilusão de profundidade sem ser realmente, e isso é uma coisa bastante bacana. Mas e quanto ao jogo em si?

Bem, uma vez que você tira toda essa camada de pseudo-profundidade o jogo é realmente simples. Existem dois modos de jogo: combate de nave e dungeons. Na parte de combate de nave, que é onde a configuração de energia faz diferença, e você faz duelos de navezinhas simplórios.

A outra parte do jogo, quando você não está treteando com naves romulanas (romulanos são a variação pistola dos vulcanos, uma facção que não adotou vida longa e prospera porra nenhuma e é faca na caveira), são explorar dungeons.

Você monta uma equipe de quatro membros e explora a dungeon. Você controla cada membro individualmente (enquanto você controla um, os outros três ficam parados), embora não exista muita variedade entre os membros da série. O Sr. Worf tem um pouco mais de vida, o La Forge e o Data enxergam no escuro, mas nada muito além disso também.

Você anda pelas dungeons, atira, escaneia itens para solucionar puzzles bem básicos e... meio que é isso realmente.

É meio que um Syndicate do homem pobre, sabe?

Uma coisa pequena, mas interessante, é uma maneira sutil como as missões são iguais mas tem um flavor diferentes dependendo do time que você usa. Há um em que você deve achar um inimigo em um posto avançado, e os civis presentes irão te dar dicas dependendo de quem está liderando a equipe. Deanna Troi, a conselheira empática, geralmente faz com que eles se abram mais. Realmente não afeta o resultado, mas o toque é legal.

Enfim, se você é um grande fã da série o jogo te dá o suficiente para você não sentir que foi tapeado ao jogar um jogo licenciado. Em uma época pré-internet em que não haviam informações dando solta por aí, com certeza é algo interessante para um fã. 


Porém o inverso provavelmente também é verdadeiro: o jogo não tem muito a oferecer para quem não se importa tanto com Star Trek. As missões são parecem muito repetitivas e você não se sente realmente desafiado. Você realmente não aprende nada depois da primeira missão, não é como em um grande jogo em que você pode pegar o que aprendeu no início do jogo e ele constrói a partir disso. 

É um jogo apenas funcional, mas que ganha estrelinhas extras pelo esforço. Meio que como o material original.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER

Versão para Super Nintendo na Edição 001


VERSÃO PARA MEGA DRIVE
Edição 003




MATÉRIA NA AÇÃO GAMES

Versão para SNES e Mega Drive na Edição 059




PREVIEW NA EDIÇÃO 038