segunda-feira, 5 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 045] MARIO & WARIO (SNES, 1993) [#513]




Todo mundo sabe que Van Goch foi um dos maiores pintores de todos os tempos, porém menos gente sabe que ele nunca foi reconhecido em vida pelo seu trabalho - com efeito, ele vendeu apenas um quadro durante sua vida. De igual forma, H. P. Lovecraft também jamais gozou do sinonimo de paragon da literatura que ele é hoje (muito talvez porque ele era um babaca de marca maior, mas isso é outra discussão). Meu ponto aqui é que alguns homens nascem para ser postumos, como dizia Frederico.

Eu digo isso porque algum dia em 2130 quando as gerações futuras estiverem estudando estrutura e história dos videogames, minha genialidade será reconhecida. Não posso fazer nada se eu sou uma mente muito a frente do meu tempo - e minha falta de reconhecimento não tem nada haver com eu sugerir um tempo incerto ("porque algum dia") logo em seguida de dar uma data exata ("em 2130"). Claro que não.



Quando eu falei sobre Rocket Knight Adventures, eu falei sobre a estrutura de vilões de videogame, sobre como você precisa um vilão grande e mau para as épicas batalhas finais, porém um vilão menos obviamente maligno para cenas mais flexíveis - mais um rival do que alguém que faz maldades, por exemplo.

E sabe quem mais concorda comigo? Ora, ninguém menos que a fodenda Nintendo! Isso porque em 1992 eles acharam que Mario precisava de algo do tipo, não dava pra colocar todos os problemas do Marioverso nas costas do Bowser. Nascia assim a ideia de fazer uma versão ganaciosa do Mario, mais conhecido como Wario.

"WarioWare, Inc.: Mega Microgames!" - Game Boy Advance, 2003

Sua carreira nos portateis é vasta - ele foi vilão em Super Mario Land 2 para Game Boy, com tanto sucesso que ganhou sua própria série após isso: Wario Land (posteriormente ele ganhou muitas outras). Entretanto, a grande coisa contra o personagem é que ele nunca teve um grande jogo para o Super Nintendo, então jogadores mais tradicionais dos consoles da Nintendo não são tão familiarizados com o personagem. 

Bem, "nunca" é uma palavra forte, já que Wario teve um jogo para o Super Nintendo sim - porém um jogo que nunca saiu do Japão. E também não é um jogo exatamente da Nintendo, ele foi desenvolvido por sua second party favorita: a Game Freak. Mais especificamente, dirigido por alguém que seria muito, muito importante para a história da Big N nos anos seguintes: Satoshi Tajiri.

Mais conhecido como o cara que inventou isso:


Bem, mas sobre o que é esse jogo?

Ora, um dia Mario e sua gangue (ou seja, Peach e Yoshi, Luigi não foi convidado para esse passeio) estavam dando um rolê quando Wario viu esta como uma oportunidade de sacanear o nosso herói e seus amigos. Como, você pergunta?


Ah, o velho golpe de passar voando de avião para largar um balde só de zoeira! A pegadinha desnecessariamente elaborada clássica! Quer dizer, o Wario não quer nada realmente, é só pra avacalhar com ele mesmo! Eu posso respeitar esse nível de cuzãozice, tenho que dizer.

Mas oh noes, Mario (ou Peach ou Yoshi) está com um balde na cabeça e longe de casa! Mas felizmente o bosque é vigiado por uma fadinha chamada Wanda que, enquanto não tem poderes para retirar o balde, ela pode orientar nossos amigos para chegarem até Luigi que não guarda rancor por não ter sido chamado para o piquinique. Todos sabemos que Weegie nunca guarda rancor, é praticamente o Mr. Rogers dos videogames!


Bem, quase nunca.

De qualquer forma, você pode se perguntar o quão dificil seria apenas tirar um balde da cabeça e a resposta é... super easy, barely an inconvenience. Não pensar muito na premissa senão ela desmorona é a marca registrada do trabalho de Satoshi Tajiri, popular criador da série sobre escravizar animais selvagens razoavelmente inteligentes para coloca-los em rinhas profissionais.

Enfim, o jogo é esse. Você controla a fadinha com o mouse do Super Nintendo, e com um clique pode fazer o personagem andando mudar de direção ou ativar plataformas.


O jogo é basicamente Lemmings se você tivesse só uma habilidade durante o jogo todo. Mario caminha cegamente para a frente, virando-se apenas quando bate em uma parede ou é atingido por você. 

A única real variação é que você pode pegar o caminho mais rápido até o final, ou fazer o "caminho completo" para pegar quatro estrelas e ganhar uma vida extra. Por outro lado o tempo é curto e você deve levar Mario a Luigi antes que o tempo acabe. Parece bastante simples, não é?



A apresentação visual tem o padrão Nintendo de qualidade, e ter um personagem para cada nível de dificuldade (a princesa é o fácil porque ela anda devagar, Mario é o médio e Yoshi é o dificil com seu passo acelerado) é um toque muito legal.

Mas por melhor que seja, não tem como ignorar que esse jogo é um ponei de um truque só que na falta de ferramentas para criar puzzles diferentes através das opções de gameplay o jogo garante sua duração através da dificuldade: o desafio aqui é muito mais conseguir fazer do que saber o que fazer - o que em um puzzle soa apenas gera apenas frustração.



Falando em frustração, nos oito mundos padrão o jogador pode reiniciar do mesmo estágio no mesmo mundo mesmo após o game over, deixando você se perguntar qual a importância que as vidas extras realmente têm. Bem, é importante manter essas vidas extras até o final do jogo, porque se você tiver um game over em qualquer ponto do mundo 9 ou 10, precisará começar do início do mundo 9.

Infelizmente, isso pode se tornar bastante entediante. Mega Man faz algo semelhante, com o jogador precisando recomeçar desde o início do castelo do Dr. Wily, caso você tenha um game over após as oito iniciais terem sido concluídas. Mas é mais aceitável porque é um jogo de ação. 


Mas em um puzzle é muito chato. Como se você estivesse respondendo um quiz, todas as respostas estavam corretas, exceto a última, e se você errar ela precisava voltar e refazer as perguntas que você já acertou. Não posso deixar de achar que talvez este jogo não precisasse de um sistema de vidas, e seria melhor coletar as estrelas para desbloquear níveis secretos ou algo assim.

Um puzzle tem que ser jogado com a cabeça, mas a grande parte do desafio de Mario & Wario está exclusivamente em seus dedos. Por mais bem feitinha que a produção seja, esse é um detalhe que não dá pra deixar passar.

PREVIEW NA EDIÇÃO 038