sábado, 3 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 045] PLOK (SNES, 1993) [#511]




Sabe, eu não tinha pensado nisso até agora mas desenhar um personagem de videogame dos anos 90 é bastante parecido com ser um wrestler. Imagino que você também não tenha pensado nisso, BTW. Porque pensa só: você não tem grandes dialogos, ou sequer monologos, e as vezes raramente tem falas (com efeito, o Mario só viria a falar daqui a três anos onde estamos hoje na Ação Games, em Super Mario 64 de 1996).

Então o que você tem para conquistar o público? Seu carisma, basicamente. E isso é uma coisa muito difícil de quantificar, de explicar, embora seja muito fácil de reconhecer. Ou você tem, ou não. Quando você vê um Bubsy ou um Awesome Possum da vida, por exemplo, você sabe que quer espanca-los com um pau de virar tripa embora talvez não saiba dizer exatamente o porque. Você apenas sabe que quer (no caso desses dois que eu citei, que PRECISA).




Bem, o contrário também é verdadeiro e isso nos leva ao jogo de hoje. Plok é talvez o mascote mais carismático que eu já vi em um jogo de plataforma da época, e com efeito eu diria que ele é mais legal do que seu jogo - mas já chegaremos a isso. Primeiro, vamos começar do começo.

E por começo eu quero dizer REALMENTE do começo, quando um mago chamado Penguino criou Plok Primeiro, que mais tarde viria a ser conhecido como "vovô Plok":



Foi um toque bastante bacana da publisher Tradewest utilizar a publicidade na forma uma história em quadrinhos para apresentar o personagem, eu realmente vejo a coisa de "continua... numa loja perto de você" funcionando.

Verdade seja dita, nem todas propagandas feitas pela Tradewest eram tão inspiradas. Algumas eram apenas realmente horríveis e fizeram muito mais mal do que bem:


Olha, eu realmente não acho que seja uma boa ideia associar o seu jogo com BATTLETOADS AND DOUBLE DRAGON. Primeiro porque Plok! é um genero inteiramente diferente e as pessoas vão jogar ele com as expectativas erradas. Segundo porque esses jogos são horríveis, como eu tão bem enfatizei na época.

Bem, seja como for, temos aí Plok e como você pode ver pelo ad acima, ele é um carinha bem pistola. Não se engane pela capa japonesa do jogo, entretanto: Plok is all about pistolice!


Essa é uma das raras ocasiões que eu tenho que dizer que a capa americana do jogo é bem, bem melhor que a japonesa já que transmite toda pistolice e misantropia do nosso protagonista. Acho que é por isso que eu gostei tanto desse cara, FINALMENTE um herói de jogo dos anos 90 com o qual eu posso me identificar!

Plok é um cara que só quer uma coisa n vida: aproveitar sua ilha plokal em paz e tranquilidade, onde ele pode apreciar todas as bandeiras que ele colecionou. Desde que as pessoas fiquem longe das suas coisas (e dele), ele está bem e não quer mais nada da vida. Eu posso respeitar isso.


Ah, um dia glorioso onde não tem ninguém por perto e tudo está do jeito que ele deixou. Plok boy está vivendo a vida, eu te digo. Vivendo a vida. Mas claro, se tudo fosse perfeito e bom não haveria jogo, então logo a tragédia acontece!


Oh noes! Sua bela bandeira que adorna seu Plok lar foi roubada! O horror! Ó, o horror!

Mas nosso plokistico amigo não deixará por isso mesmo, e logo parte do encalço do piltre que não apenas entrou na sua propriedade como ousou roubar sua bandeira! Ah, calhordas energumenos, vocês verão a fúria de um mascote de videogame de 16 bits que se veste como um membro da KKK só que com a paleta de cores do Homem de Ferro!


Plok observa todos os cantos da sua ilha em uma (longa) apresentação do cenário, jurando juras plokinianas de vingança e terror. Após muito procurar, ele encontra o vil vilão!


Oh, wow! Plok não está para brincadeira com quem mexe em suas bandeiras! Eu não imaginava que em um jogo de Super Nintendo nosso herói parte em uma jornada de vingança ameaçando fazer com que membros saiam voando!

Quer dizer, até Mortal Kombat no SNES foi censurado mas Plok nos mostrará toda violencia Tarantinesca que sempre almejamos ver em 16 bits?


Bem, não. Plok literalmente faz membros voarem porque ele usa os seus membros como armas.

Aparentemente, Plok é feito de tecido, com os braços e as pernas presos com velcro, o que significa que ele pode lançá-los nos inimigos como arma. Você pode lançar até quatro ataques de uma vez, e quando fica sem mais membros para jogar Plok fica pulando sobre a bunda dele, o que inclusive muda a jogabilidade de Plok e ele é bem menos ágil pulando sobre a bunda do que se estivesse sobre pés. Faz sentido.


Tem um botão que dá um salto mortal no estilo Sonic, o que te faz pular mais alto. Mas mesmo que isso faça Plok uma lâmina giratória de destruição, é tão inofensivo quanto um salto comum. E ao encostar em qualquer inimigo ele perde... um valor a ser definido. Não existe muita consistencia em quantos hits você pode levar, apesar da barra de vida ser bastante grande em média é algo entre quatro e cinco hits. A menos que o jogo queira que seja menos, o que acontece bastante também.

Ao terminar a primeira fase, Plok pelo menos consegue recuperar sua bandeira e...


... espera um momento, isso não é uma bandeira! Isso é uma cueca! Plok foi tapeado e fica exponencialmente pistola!

Esse é um dos grandes charmes, ao completar fases nosso herói não atinge seu objetivo (do contrário o jogo termina), e ele fica puto da cara com isso. É realmente um traço de personalidade que você não vê muito em jogos de plataforma, e faz você realmente simpatizar com nosso herói.

God fucking dammit!

Além da pistolagem de Plok, os aspectos tecnicos do jogo são outra grande ferramenta de carisma dele. A coisa de arressar os membros e eles voltarem para você é muito bem animada, impressionante mesmo para os padrões do Super Nintendo e dá uma energia ao jogo que você não enconstra por aí.


Outro aspecto tecnico excelente nesse jogo é a trilha sonora, é um blues super animado que - dentro das limitações de um videogame de 1993 - parece que tem alguém tocando gaita. O feeling é realmente ótimo.

Mas... se Plok tem um personagem super carismático, trilha sonora arregadora e uma animação que não tem par no Super Nintendo... então como esse jogo não é um clássico? Como Plok não é cantado em prosa e verso como um dos maiores jogos de plataforma de todos os tempos?

Suponho que a essa altura você já deva imaginar o motivo: o personagem pode ser ótimo, mas não adianta muito se a estrutura do jogo não for das mais legais. E nesse sentido, Plok pisa feio no tomate.

Vamos lá: depois de completar o primeiro mundo, Plok da Silva consegue finalmente recuperar sua bandeira!


Yay! De posse de seu bem mais precioso, Plok retorna para casa triunfante, como o herói que é!


 Isso ae, ninguém se mete com o Plokeira véia senão vão ver o que é bom pra tosse! Então assim nosso herói chega em casa...

... apenas para descobrir que:


Patifes! A badeira foi roubada apenas para afastar Plok da sua ilha para que ela fosse tomada pelas pulgas que foram criadas junto com seu avô foi criado para lutar! Então a partir do segundo mundo, Plok agora não precisa mais apenas entrar nas fases e atravessa-las, ele tem que limpar a ilha das pulgas...

... e é aqui que o jogo fica muito, muito sacal.


A partir do segundo mundo as fases tornam-se labirinticas e não basta mais ir até o final da fase. Em primeiro lugar, você tem que achar o final da fase - o que já é ruim, mas piora. Porque não é só achar o final da fase, você só pode terminar a fase de matar todas as "pulgas" da fase.

E por "pulgas" o jogo chama esses sapos azuis saltitantes espalhados pela fase. Quantos você precisa matar? Bem, tá vendo a barrinha branca? Cada um é um "sapo-pulga" que leva um bazilhão de hits para morrer e estão espalhados nos mais distantes cu do judas da fase. E, meu deus, como é absolutamente chato vagar pra cima e pra baixo na fase caçando esses bichinhos.

Aí, meu amigo, é teste pra cardíaco. Eu não tenho palavras para descrever o quão chato isso é e o quão desconexa essa mecanica com o personagem. Quando eu falei sobre Rocket Knigh Adventures, esse jogo é um bom exemplo do quão importante é o protagonista do jogo e sua mecanica definidora serem casados no level design.

Os chefes desse jogo são implacáveis, muito grandes e rápidos é dificil evitar ser atingido por eles - e para piorar não existe invencibilidade pós-hit, então se o adversário tocar em você é bem provavel que ele drene toda sua vida
Plok não faz sentido nenhum do nada você ter que caçar pulgas, literalmente isso poderia estar em qualquer jogo - o que é a receita básica de como fazer um jogo completamente esquecível.

Para adicionar ofensa a injúria, o jogo é incrivelmente longo para um jogo de plataforma (de duas a três horas) mas não tem passwords ou save, então é terminar em uma sentada ou nem desce pro play! Adicione que o jogo é incrivelmente dificil e temos um oceano de frustração pela frente. Um que não precisava existir, esse é um fato matemático!

O jogo tem alguns power ups, como esse que te dá um bacamarte, mas eles são tão espaçados que não fazem muita diferença
Você sabe, este jogo de SNES com um dos protagonistas mais carismáticos que eu já joguei, e a música é muito boa. Mas é incrivelmente cruel. Não tem save, nem passwords, você começa sem continues e, quando encontra um, não continua no nível em que morreu. Muitas vezes, é mais fácil ignorar os inimigos do que tentar atacá-los, é raro encontrar uma maneira de recuperar a saúde, e muitas vezes você recebe uma fração de segundo para reagir a uma ameaça antes de sofrer dano. Além da péssima, péssima escolha de design sobre a coisa de caçar sapos-pulgas pelas fases, que é um saco.

Eu queria muito, muito gostar desse jogo. Mas não dá. Muitos jogos que mereciam melhor destino foram engolidos obscuridade dos anos 90, mas Plok não pode reclamar de injustiça nesse caso. Infelizmente.