Em 1991, a Capcom estava numa pira inexplicavel de D&D ao ponto que lançou dois beat‘em ups de fantasia medieval um seguido do outro. Um era chamado de Knights of the Round, que era mais baseado em fantasia medieval raíz com cavaleiros do Rei Arthur, e o outro foi esse Rei dos Dragões que é Advanced Dungeons and Dragons.
Na verdade esse jogo é tão AD&D que eu me surpreendo que não rolou um processinho, poruqe o jogo usa as mesmas classes (sim, "elfo" era classe - a ideia de raça não era algo que existia no RPG daquela época) e monstros do jogo na cara dura.
Curiosamente, a Capcom lançou ambos os jogos para o SNES cerca de três anos depois, em 1994 e no mesmo mês, nada menos. Aparentemente a febre de RPG de mesa da Capcom vinha em ondas, vai entender, porque um pouco incomum ver essas conversões tardias - geralmente os ports eram lançados até em dois anos ou não eram mais lançados.
Nesse sentido, é claro que alguns sacrifícios foram feitos como ir de três jogadores para dois, tamanho reduzido dos sprite e menos inimigos na tela, mas até onde dava pra fazer essa versão de King of Dragons pode ser considerado uma tradução bastante fiel de seu original de 1991. Isso sendo dito, vejamos como é esse tal de Rei dos Dragonetas.
Como eu disse esse jogo é nascido na fase RPG de mesa da Capcom, sendo ele fortemente baseado em AD&D. E RPG é um jogo cujo todo o ponto do jogo é a criatividade e imaginação, de modo que eu posso me permitir ter alguma esperança com a história. Criatividade e imaginação, aqui vamos nós!
Ou não. Bem, é verdade que ser fãs de RPG não te torna automaticamente um bom jogador de RPG. Dito isso, vamos pelo menos ver os personagens vê se tem alguma coisa interessante aqui... mas eu não levantaria muito minhas expectativas.
Começamos com o bom e velho guerreiro, porque aqui é RPG raíz rapa. E eu gosto como a Capcom não tem noção nenhuma de peso, porque um cara com 183cm e 90kg nem a pau tem tudo isso de musculo, ele estaria quase magro com essa altura e peso.
Seja como for, para mostrar toda sua RPGcidade eles usam a sempre engraçada piada que conjuradores usam roupões de banho. Ok, to vendo que a história brilhante do jogo não foi acidental...
Claro que um RPG que se preze não pode faltar o clerigão da massa (um clerigão anemico, por 209cm e 109kg tb tá pouco), e como em um RPG raíz ele não cura ninguém aqui: só mostra toda intolerancia do Senhor. Sabe uma coisa que eu sempre achei interessante sobre clérigos? Originalmente eles não podiam usar armas cortantes pois o derramamento de sangue é contra a intenção divina, ou algo assim.
Até aí beleza, mas então o que eles usam pra lutar? Armas não cortantes. Como uma maça. Com espinhos.
Sim, usar uma espada não pode, mas tacar isso no cranio de alguem tá tudo certo.
O senhor definitivamente age de formas misteriosas.
Como todos sabem, dominar as artes arcanas da magia é um procedimento que exige anos e anos de estudos dedicados, por isso os magos são essas figuras de idade e longas barbas brancas... o que no Japão (a Capcom é japonesa) significa 28 anos. Sim, aos 28 anos você já é um idoso sábio e experiente, e depois vocês dizem que quando eu falo dessa obsessão do Japão com lolis é implicancia minha.
Como eu disse, na segunda edição de Dungeons and Dragons (o Advanced Dungeons and Dragons) não haviam "raças", você escolhia apenas uma classe. Uma das classes disponíveis era o elfo, que é basicamente um ranger - todos elfos são arqueiros da floresta, fale-me sobre imobilidade social...
Enquanto a grande revolução social dos elfos não acontece depondo a monarquia elfica através de guilhotinas, ao menos podemos descansar sossegados ao sermos informados que ao menos os elfos não aceitam muito abusos. O ideal não seria aceitar abuso nenhum, mas sempre é importante começar de algum lugar #staystrongelf
Por último mas não menos importante, o bom e velho anão com seu machadão. Que na prática é apenas outro guerreiro só que esse vai se aposentar, ter uma estalagem e limpar os copos cuspindo neles quando os aventureiros vierem buscar quests. Você conhece as regras.
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Na versão de Super Nintendo a história recebeu uma incrementada: agora os magos do Rei conseguiram colocar o dragão para dormir por um ano, periodo após o qual ele vai acordar mais forte ainda. Por isso os heróis tem que chegar até ele antes disso... o que totalmente não vai acontecer e eles vão ter que enfrentar o dragão full power, sabe como é. |
Enfim, você escolhe um dos cinco arquétipos de RPG e cada um tem habilidades diferentes, variando de força, velocidade, HP e nível. O Fighter e o Cleric são semelhantes, empunhando armas brancas, com o Fighter tendo uma vantagem em força e o Cleric tomando menos dano. O Wizard tem ataques de projéteis mágicos que começam bastante fracos, mas ficam mais fortes com o decorrer do jogo. O Elfo empunha um arco e uma flecha para ataques de longo alcance, mas causa pouco dano e precisa de distancia. E o anão é semelhante ao Fighter, mas mais baixinho então suas armas não alcançam tão longe - em compensação o ataques de certos inimigos passam direto sobre sua cabeça.
Em sua essencia, King of Dragons é um beat'm up e um dos bastante simples: um botão bate, outro pula, e os dois juntos dão um ataque especial que gasta energia. Limpe a tela e avance, enxague e repita.
O diferencial desse jogo, o que faz ele se diferenciar de todos os outros beat'm ups (incluindo dos da Capcom) é que a pontuação do personagem tem uma utilidade aqui: atua como seu medidor de experiência, subindo de nível ao atingir certos valores e aumentando sua barra de vida.
Existem também atualizações de armas e armadura encontradas ao longo da jornada para fortalecer seus atributos - e mudam o visual do personagem, o que é um toque bem legal e raro nessa época. O legal é que a cada fase você pode trocar o seu personagem e eles mantem a experiencia e o nível de upgrade das armas, então não há punição por experimentar outros personagens.
São dezesseis níveis no total, o que parece ser bastante, mas as fases em si são bastante curtas, então a duração acaba sendo padrão para esse tipo de jogo. Qual é a pegadinha aqui então? Ora, isso significa que tem muito mais chefes, o que torna o jogo bastante comedor de fichas mesmo para os já altos padrões de outros beat-em-ups da época. Se alguma coisa esse pode considerar um defeito do jogo, mas então não é como se jogos de arcade em geral fossem muito melhor que isso também...
Falando do beat'm up da Capcom, a ação aqui em si não parece muito com Final Fight. Não tem combos de golpes, apenas golpes com um hit só ou projeteis mágicos/flechas. Mas isso não é lá muito problema porque a maioria dos inimigos são eliminados com um único golpe e os que não são, são empurrados para trás ao receber dano sem sair da tela. O resultado é que o jogo tem um bom fluxo de inimigos e dificilmente voce tem que ficar parado esperando inimigos que foram jogados pra fora da tela voltarem, o que é uma das coisas que mais me emputece em beat'm ups.
Além disso as orbes de ataques especiais são abundantes, então sempre tem algo para fazer no jogo. O guerreiro, o clérigo e o anão também podem bloquear ataques inimigos, mas isso é tão difícil de acontecer que não dá pra contar muito com isso.
The King of Dragons é um jogo muito bom para um beat'm up de 1991, com o mesmo nível de qualidade de outros jogos da Capcom, com visual interessante e sempre algo acontecendo para te manter interessado - upar seu personagem e ver ele matar inimigos com menos hits e ganhar armas novas sempre é mais legal do que, você sabe, não upar seu personagem.
Enfim, é um jogo bastante simples, verdade, mas que faz tudo certinho na sua simplicidade.
Essa série posteriormente evoluirá ainda mais os conceitos apresentados neste jogo, enquanto mantém alguns dos elementos de RPG que estão faltando aqui, como um sistema de loja que permite escolher os seus upgrades. Ainda sim, novamente, para 1991 está mais do que bom
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Edição 002
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