sábado, 10 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 058] NORMY'S BEACH BABE-O-RAMA (Mega Drive, 1994)[#518]



Em um mundo justo, a High-Score Productions seria considerada uma das grandes desenvolvedoras de jogos retro, um estúdio reverenciado a par de Treasure (GUNSTAR HEROES). Mas você vê, vivemos em uma sociedade (virtual) onde a comunidade de jogos retro em geral parece ter um viés anti-esportes inflamado e ressentido, provavelmente fruto do seu publico alvo ter anos e anos de ser socados dentro de lockers por Chadões quarterbacks. Assim sendo, um desenvolvedor focado em jogos de esporte como a HSP provavelmente nunca obterá o respeito e reconhecimento que eles merecem.

Basicamente todos os jogos que a Ação Games celebra como "melhores jogos de esporte ever" são deles, como NHL Hockey '94 e Madden NFL '94. Enfim, quando a Eletronic Arts queria um jogo de esporte sólido para dominar aquele ano, era a HSP que eles procuravam. 


Porém nossos bravos guerreiros da HSP, não teriam eles seus próprios sonhos? Não almejariam eles fazer algo diferente do que apenas "o jogo de esporte daquela categoria do ano" para a EA? Não que eles não fossem competentes no que fizessem, mas... e as suas aspirações artisticas? Tal qual um Human Gear, não pode um simples desenvolvedor de jogos de esporte sonhar? 

Bem, sim. Após muito pedido e insistencia, a Eletronic Arts deu sinal verde (e grana verde) para que eles fizessem o seu único não-esportivo/de corrida/boxe de todos os tempos: um jogo de plataforma que representaria todas as aspirações artisticas reprimidas destes bravos guerreiros. O jogo de ação super obscuro no Mega Drive chamado Normy’s Beach Babe-O-Rama, que basicamente é sobre um manezão que é ultra popular com as bodalicious babes da praia.

Lançado em 1994, praticamente sem alarde ou publicidade - mesmo a sua publichser sendo um juggernaut como a Eletronic Arts, Normy é um jogo que parece muito mais um favor para os desenvolvedores do que uma tentativa real de ganhar dinheiro. Quase consigo imaginar a reunião da diretoria, com os engravatados da Electronic Arts permitindo que a HSP fizesse seu aspirante idiota a Sonic, levemente arriscado e autorreferencial SE isso significasse que eles ficariam de boas fazendo NHL '95 e Madden '95 e alguns jogos de corrida no o Saturn que ninguém jogou ... porque ninguém jogava Saturn mesmo. Sério, se você acha que a Sega é atrapalhada esperem até eu chegar no DESASTRE que foi essa coisa, chega a ser artistico como eles conseguiram fazer um console que não tinha apelo de marketing para NINGUÉM além das pessoas que realmente o fizeram. Mas divago, o tempo do Saturn ainda está por vir.

Mas então "Normy’s Beach Babe-O-Rama"... embora o título imediatamente remeta as comédias sexuais adolescentes dos anos 80 como "Porky's" ou "O Ultimo Americano Virgem" (sim, existia todo um genero de filmes assim antes de American Pie), o jogo em si é na verdade bastante comportado.

Se você estava esperando uma experiência em 16 bits de LEISURE SUIT LARRY certamente ficarão desapontados... não que eu estivesse nem nada... já que o humor sexual do jogo dificilmente vai além do que você encontraria em um filme da Disney. Na verdade, o jogo não tem realmente nenhuma "babe", fora algumas caricaturas desenhadas que aparecem um minuto tempo total conjunto somado. 

Mas se o jogo não é sobre BABES DUDE, então sobre o que ele é? Bem, no final das contas é apenas mais um jogo de plataforma genérico em meio a um mar de plataformas genéricas, com alguns pedacinhos de meta-comédia sendo a única coisa que se destaca de outras entradas há muito esquecidas, como os AWESOME POSSUM... KICKS DR. MACHINO'S BUTT da vida. 

Mas ei, por que ficar tagarelando sobre o jogo quando podemos mostra-lo em toda sua bodaliciedade?


O jogo começa com Normy, descrito como "pegadorus dudes" em um daqueles letreiros estilo desenho do Papa-Léguas, olhando para as meninas jogando vôlei de biquíni na praia com a maior cara de predador sexual que ele pode fazer. Como uma viatura da policia apenas não levou esse cara imediatamente não pode ser considerado como nada senão uma crítica a segurança publica californiana.


Felizmente o destino das garotas é muito menos sombrio do que o que se encaminhava e as babes apenas são abduzidas por aliens. Ufa, pelo menos isso!


Oh noes! Não apenas suas atividades futuras de predador sexual foram frustradas por aliens como a praia foi transformada em lixão tóxico do nada! Agora cabe a Normy salvar as bodalicious babes, embora eu não faço ideia do que ele pode fazer a respeito do lixão tóxico... fazer um abaixo assinado para a prefeitura, talvez?

Bem, suponho que ter bodalicious babes ajuda a conseguir mais assinaturas... embora eu duvido que esse jogo tenha aspirações tão cívicas assim... 


Seja como for, não tem jogo se nosso herói não puder fazer nada a respeito e para este fim uma gaivota dropa uma loção de espaço-tempo na cabeça de Normy... que ele passa na cabeça e bebe porque... é isso que todo mundo faz quando recebe uma loção aleatória de uma gaivota passando.

Ok, eu sei que jogos dessa época não são conhecidos por tentarem grandes narrativas... ou sequer tentar uma narrativa at all, mas... QUÉ?! Tipo, isso é uma das coisas mais aleatórias que eu já vi na minha vida! E olha que as babes foram sequestradas por aliens e aí tem uma viagem no tempo assim DO NADA com uma loção de passar no cabelo e beber dropada por uma gaivota.

Sério dudes...


Enfim... a jogabilidade é muito parecida com o Sonic, exceto com controles muito mais HORRENDOS e animações mais toscas. Embora você tenha a habilidade de girar (marromenos), seu método principal de ataque é acertar dinossauros e cia com uma marreta. Porque é assim que Normy rola, na marretada, como já foi tematicamente estabelecido a este ponto, claro. 

Basicamente esse jogo lembra muito o TAZ-MANIA do Mega Drive só que tentando ser mais rápido, de modo que a maior parte do tempo tudo que você faz é passar por cima de pedras e evitar homens das cavernas furiosos, parando periodicamente ao longo do caminho para coletar bolas de praia e resolver quebra-cabeças muito, muito simples. 

A propósito, eu já disse que a mecânica de salto aqui é muito, muito tosca? Porque ela é, tipo muito.



Então você salta mais sobre plataformas vulcânicas enquanto um pastiche do tema de 2001 toca no fundo e, sim, NÃO há muita variação de estágio para estágio aqui. Quer dizer, os gráficos são decentes e eu até posso apreciar os níveis grandes, mas quando TODOS os planos de fundo parecem tão intercambiáveis, que diferença faz? Falando em decepção, a luta do chefe aqui (contra um homem das cavernas parecido com Fred Flintsone que tenta esmagá-lo) é a porra mais genérica que já existiu em um videogame, e LITERALMENTE não consigo pensar em nada interessante para dizer sobre isso.

Então, depois de resgatar a babe das ondas, você bebe um pouco mais do suco da máquina do tempo e é levado para a idade média, depois ... a época do Tarzan em 1932 por algum motivo... e assim por diante, passando por fases genéricas como floresta, castelo assombrado e um monte de coisas que todo mundo já viu antes milhares de vezes



A única fase realmente interessante e que apresenta algo novo é a última, porque ela é literalmente no inferno. Então você salta sobre brasas e poços de enxofre em uma espécie de paródia do Inferno de Dante, com o primeiro nível consistindo de instrutores de academia, o segundo consistindo de nerds de computador que jogam disquetes em você, o terceiro nível, naturalmente, está cheio de advogados, enquanto o quarto nível do inferno está cheio de ... bonecos de neve? E se você acha isso maluco, espere até chegar ao nível cinco, que é protegido inteiramente por pickles enfurecidos. Sempre desconfiei que pickles eram coisa do capeta.

O sexto nível está cheio de políticos tentam matá-lo com impostos, o que dá algum crédito ao jogo pelo realismo, e o nível sete é o domínio das mais hediondas e vis criaturas da terra, condenadas a mais profunda camada do inferno: imitadores de Elvis. Então você cruza o rio Styx e luta contra o próprio Satanás na batalha final do jogo. Que, surpreendentemente, é muito fácil, mas até então o capeta sempre foi um dos menos babacas da biblia mesmo.


Enfim, ainda é um jogo muito ruim, mas pelo menos vou dar a eles ALGUM crédito pelo humor na última fase, e se o jogo todo fosse assim até correria o risco de ser - temo em usar essa palavra - divertido

O que, não que eu precise precise te lembrar disso, não é e esse jogo é uma merda. E é o pior tipo de merda também, o tipo de merda que não é merda o suficiente para ser verdadeiramente memorável. Quero dizer, é certamente um jogo jogável SE você tiver a imunidade a tédio necessária para chegar ao final, mas com toda a sinceridade, essa coisa é simplesmente chata com uma letra maiúscula, tamanho 60, em negrito.

O protagonista principal é sem graça, os gráficos são monótonos, as animações são fracas, a história não é envolvente e a mecânica central parece remendada de vários jogos diferentes - todos eles muito esquecíveis. Mas o pior deste jogo são os controles. Para que um jogo de plataforma funcione, os controles TÊM de ser precisos, e em Normy eles são escorregadios, desajeitados e tão confiáveis ​​quanto uma ditadura explicando "suicidios" nas suas prisões.



Este não é o pior jogo de plataforma do Mega Drive (diabos, provavelmente não é nem mesmo o pior jogo de plataforma se desconsiderarmos os ports de Amiga), mas ainda é uma experiência terrivelmente mundana e totalmente esquecível, de ponta a ponta.

Estou tentando pensar em qualquer elemento redentor do jogo, mas não dá, Normy é terrivelmente enfadonho e comum, infelizmente. Eventualmente o jogo tenta impressionar o jogador com suas referencias a cultura pop (como um inimigo na idade média que o cavaleiro negro do Monty Python), mas o jogo também não se esforça muito nisso e bem esporádico.

Como o Vanilla Ice e o Virtua Boy, tenho certeza de que Normy pareceu uma boa ideia na época. Não foi.