terça-feira, 27 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 048] SONIC THE HEDGEHOG CHAOS (ou Sonic & Tails, no Japão) [Master System, 1993][#536]




ANTERIORMENTE, EM C DE AÇÃO GAMES...




Eu finalmente e definitivamente venci a Sega. E eu não me sinto feliz por isso.

NOW *Supernatural sounds*


O que é um homem sem o seu maior inimigo? O que é o Batman sem o Coringa? O Super Homem sem o Lex Luthor? Um bolsominion sem a completa ausencia de empatia humana?

Essa é a coisa que ninguém fala sobre travar um duelo contra seu nemesis que o define: eventualmente você vence. Ou perde. Perder é o de menos, é o fim da estrada, mas como você fica quando a vitória é sua? O que você faz? Como você encara o dia seguinte?

A mais de um ano atrás eu tive meu confronto final com meu mais tradicional inimigo: a Sega. E que batalha gloriosa foi: de um lado a Sega colocou seu melhor e mais verdadeiro esforço em um jogo para provar que eles deveriam dominar o mundo, e do outro eu desmistifiquei porque Sonic 2 é um pedaço de bosta modorrento.

Foi glorioso, foi épico, mas ... foi o fim.

O jogo foi lançado nos Estados Unidos e no Japão apenas para Game Gear alguns meses depois. A capa ocidental é igual a de Master System, e essa é a japonesa
Se Sonic 2 foi o melhor esforço da Sega, então eu havia vencido total e completamente. E onde isso me levou exatamente? A novos inimigos talvez mais poderosos e famigerados, mas definitivamente sem o mesmo charme de ser o MEU arquiinimigo. Quer dizer, atualmente eu lido com Jordan's Mechners, Amigas e adaptações de jogos em filmes pela Ocean, e não tenho a menor dúvida que todos eles são muito mais hediondos crimes contra a humanidade do que a Sega jamais foi, mas...

... não é a mesma coisa. O Sega, porque eu tive que despedaça-la completamente tão cedo? O que eu farei sem você após sua completa e definitiva morte?

Mas então, quando eu menos esperava...


Enquanto eu me digladiava com perolas do quilate de GOLDEN AXE III , mal sabia eu que silenciosamente um grupo de cultistas buscava reviver a Sega em toda sua glória que jamais existiu. Isso porque, na calada da noite, uma pequena second party japonesa chamada Aspect Co. Ltda (conhecida por apenas portar jogos do Mega Drive para o Master System e o Game Gear) começou a trabalhar em um discreto projeto que viria a ser o último jogo do Sonic para o Master System.

O Master System, de todas as coisas.

Vai raposinha do hino nacional!
Mal sabiam eles, entretanto, que inadvertidamente estavam revivendo o cadaver do meu maior inimigo.

Isso porque no final de 1993 o Master System estava praticamente acabado. No Japão e nos Estados Unidos ninguém mais lembrava sequer que ele havia existido um dia, e mesmo nos grotões menos desenvolvidos videogamisticamente como o Brasil e a Europa, ele havia sido reduzido a "presente barato pra dar qualquer coisa para a criança".

Bons e velhos tempos! Só 18% ao mês!

Mesmo nesses lugares pouco vanguardistas no mundo dos videojogos onde a Sega ainda era uma competidora devido exclusivamente a força da quantidade de porcaria barata que eles lançavam, as pessoas já haviam move onde para o Mega Drive. Nenhum gamemaníaco deliberadamente comprava um Master System a essa altura, apenas crianças ganhavam esse console barato como presente porcaria de tia.

Só que foi então, nesse cenário catastrófico e horrendo, que aconteceu. Algo inesperado, algo inacreditável, algo... bem, nada menos do que um milagre aconteceu. A Sega, a mesma Sega que teve o CD três anos antes da Sony e jogou isso pelo ralo, a mesma Sega que criou um addon para o Mega Drive para competir em publicidade e poder de compra dos consumidores com o seu próximo videogame...



... ESSA Sega teve uma ideia comercialmente genial. Em um movimento completamente inesperado, ela... eu nem acredito que vou dizer isso, mas tenho que dizer... ela... a Sega se deu ao trabalho de ler a situação do seu mercado e lançar um jogo de acordo com as necessidades do seu publico!

O que? A Sega teve uma ideia comercialmente sensível? A nossa Sega? Caras, se isso não é um dos selos para começar o apocalipse sendo quebrado, então eu não sei mais o que poderia ser!

Bem, o fato é que a Sega identificou que o Master System era um console basicamente de segunda mão para crianças e... lançou um jogo do Sonic para crianças! O que faz todo sentido biológico, não é assustador a Sega fazendo sentido?

Não, sério, se eu precisasse apresentar videogames para uma criança de 5 a 8 anos, Sonic Chaos (não vou chamar de "Sonic & Tails" porque eu tenho preguiça de apertar "&", talkey?) é apenas o jogo perfeito para isso! Quer dizer, ele tem todos os valores de produção de um completo (com efeito, ele foi feito majoritariamente por assets do port de Sonic 2 para Mega Drive), parece um jogo "de verdade", mas apenas seu level design foi adaptado para ser o mais kid's friendly possível!

Mas que puta ideia boa!



Existem poucos inimigos nesse jogo, e o design das fases foi projetado para ser o menos frustrante possível - a maioria das fases pode ser terminada em menos de um minuto se você apenas seguir em frente. Porém não é um level design porco, existe bastante a ser explorado se você quiser fuçar em caminhos alternativos.

Para um gamer tradicional isso é apenas idiota já que não tem recompensa nenhuma que valha a pena desviar do seu caminho, mas para uma criança pequena a sensação é de estar jogando o seu primeiro videogame de verdade sem que ela saiba que está jogando o equivalente videogamistico a um bicicleta com rodinhas!



Mesmo as batalhas com os chefes tem esse feeling de que visualmente parecem uma batalha com chefe de um jogo de verdade, quando a experiencia toda foi adaptada para que uma criança pudesse jogar em suas primeiras iterações com videogames!

A melhor e mais notável alteração para tornar esse jogo mais acessível para crianças, porém, é a inclusão de Tails como personagem solo. No inicio do jogo você pode escolher jogar com Sonic ou Tails, sendo a diferença que a raposinha de duas caudas que desperta paixões em furries por onde passa tem um comando bem simples para voar por alguns segundos - o que, em um jogo de plataforma, faz toda diferença do mundo.



O level design já foi adaptado para retirar todos os caroços de frustração que basicamente constituem Sonic 2, porém se a criança ainda tiver problemas com isso basta apenas jogar com Tails e sua habilidade de voar resolve a maior parte dos problemas. A grande sacada disso é que resolve os problemas utilizando ferramentas de gameplay e não simplesmente eliminando os desafios como em MICKEY'S SAFARI IN LETTERLAND  

Isso reforça a sensação que a criança está jogando um jogo de verdade, que é justamente todo o ponto aqui.

Esta viagem é realmente necessária?
Para os que quiserem um pouco mais desafio, entretanto, o jogo também tem cobre suas costas. O verdadeiro final do jogo só pode ser visto jogando com Sonic e coletando 100 anéis em cada fase para abrir as fases de bonus onde você pode tentar conseguir uma esmeralda do caos. Não é nada particularmente complexo, mas ainda sim é mais desafiador do que jogar sem modo voo do Tails.

Então de certa forma jogar com Tails é o modo easy e jogar com o Sonic é o modo normal, e considerando que o Tails é muito mais incrível que o Sonic isso faz todo sentido! Na verdade, eu não sei porque essa ideia já não foi usada em Sonic 2 exceto talvez porque aquele jogo ser um acidente da vida. Pensando bem, porque essa série toda não é sobre a raposa IMORTAL E QUE VOA é algo que eu jamais vou conseguir entender.


Produtos para crianças são vistos como despejos que você pode lançar qualquer coisa de qualquer jeito já que o publico alvo é idiota. Claro, existem exceções como My Little Pony: Friendship is Magic, mas ainda sim a situação não é lá essas Brastemp.

Isso hoje, imagine então em 1993. Por isso é realmente impressionante o quanto de esforço a Sega colocou em fazer um "Sonic para crianças" não apenas em termos de level design adequado, como colocar um esforço para melhorar a programação de Sonic 2 do Master System.

Como o jogo foi simplificado, a maior parte dele agora é sobre seguir em frente - o que ironicamente acabou eliminando a parte frustrante dos jogos do Sonic. Espero que daqui pra frente a Sega incorpore mais esse elemento do que as pessoas esperam de um jogo do ouriço azul (a parte de ir rápido)
Sonic Chaos não apenas tem gráficos com mais quadros de animação e mais nítidos do que o jogo no qual ele foi baseado (na verdade, os gráficos do Master System são melhores do que muitos jogos do Mega Drive), como o gameplay é melhor do que qualquer jogo do Sonic já feito. Aqui seu personagem não parece um porco gordo com uma inercia desgraçada para sair do lugar, e sim tem o peso adequado para um jogo de plataforma dinamico e ultrarrapido. Parabens caras, eu nunca duvidei que uma hora vocês iam ter que acertar!



TODO SEU PONTO SOBRE ESSA COISA DA SEGA É QUE VOCÊ SEMPRE DISSE QUE...

Shhh shhh shhh... pronto, pronto, passou. O meu ponto é que esse pode ser o marco de um novo começo para a Sega, o próximo jogo nessa edição é o próprio Sonic CD que muitas pessoas apontam como o melhor jogo do Sonic E um exclusivo do Sega CD - algo que a Sega já deveria ter feito a muito tempo se quisesse realmente vender o seu acessório ultra caro.

Está tudo em posição, vamos ver se eles serão dignos de voltarem a ser meu adversário!

ENTÃO... SE ELES FIZERAM UM BOM JOGO SERÃO SEU ADVERSÁRIO PORQUE... VOCÊ É CONTRA ALGO QUE VOCÊ GOSTARIA, QUE SÃO BONS JOGOS?

Meu relacionamento com a Sega é complexo, não?



EDIÇÃO 049