sábado, 28 de maio de 2022

[#896][SNES] ARDY LIGHTFOOT [Novembro de 1993]


A Gamers tinha um critério bem simples, ainda que bastante tecnico, para publicar jogos: caiu na area é penalti. Simples assim. Aparecia um jogo novo no bairro deles não importava se era de dois, três anos atrás, eles metiam bala - especialmente se fosse um jogo que não saiu em nenhuma outra revista. 

No caso aqui, por exemplo, temos o Durinho Péleve que na verdade foi lançado em novembro de 93 no Japão e só veio aparecer agora numa revista BR, dois anos e meio depois. E que tipo de jogo é o nosso amigo? Alias, antes disso, uma pergunta melhor ainda: que espécie de bicho é essa coisa?

Então aqui temos Ardy, que é uma....uh...raposa...? Gato? Gatoposa? Lince? Racoon? Eu não sei o que diabos ele deveria ser. E ele tem um pinguim azul como sidekick ajudante... porque não teria, né? Bem, seja lá o que caceta esse bicho deveria ser, o que podemos ter certeza é que esse é o bilhonésimo mascote-plataformer porque lembre-se da lei dos anos 90 que todos as empresas tinham que ter o seu animal antropomorfico de mascote e esse é o da... é o da...

... oh não...

... não, não, não, não, tudo menos isso! Tudo menos o jogo do mascote da Titus! NOOOOOOOOOO!!!

Bem, a boa noticia é que a raposa vermelha da morte não fez esse jogo, apenas o publicou no ocidente. Esse é de fato um jogo de mascote de plataforma, mas é de uma empresa muito melhor e mais relevante para os videogames: a Ascii.

A ASCII É RELEVANTE? COMO EU NUNCA OUVI FALAR DE UM JOGO DELES?

Ah, mas com certeza que ouviu sim. Com efeito, muita gente gastou dezenas, provavelmente centenas de horas com jogos dessa empresa: 


Então, a Ascii é okay e embora seus jogos para Super Nintendo não seja algo lendário e épico, também não servem para sofriveis - só ver MELFLAND STORIES, por exemplo. E, verdade seja dita, sempre é muito pouco provavel que ao encontrar um jogo do qual pouca gente ouviu falar como esse ele seja algo tão bom quanto um clássico do Super Nintendo. Via de regra, jogos pouco conhecidos são pouco conhecidos por uma razão. 

Claro que vez ou outra aparece um WONDER PROJECT J que me pega de jeito, mas é bem raro isso acontecer. Na imensa maioria das vezes esses jogos menos conhecidos caem na categoria de "tá, okay, nada contra mas também não tenho muito a favor", e é exatamente aqui que esse jogo se encaixa.



A história aqui é bem simples: nosso herói (seja lá o que ele for) está procurando as 7 esferas do dragão esmeraldas que se reunidas invocarão Sheng Long um arco-iris mágico que vai realizar um desejo. O vilão obviamente quer o mesmo e o resto vc já sabe. O que é realmente interessante, entretanto, é que a versão japonesa do jogo vem com a intro contada através de um mini-manga no manual:


Isso é realmente legal, tenho que dizer. Mas falando do gameplay em si, bem, ele é essencialmente a versão para Super Nintendo de PSYCHO FOX - o que é mais particularmente verdade quando o protagonista meio que parece uma raposa (entre uns 5 outros bichos) - onde usamos o pinguim azul de estimação chamado Arc como arma, mas se você for atingido você perde a capacidade de abusar do seu amigo e ninguém quer isso, não é?

Só que diferente de PSYCHO FOX, você sempre pode pular na cabeça dos inimigos usando o esquema de apertar pra baixo no ar pra transformar o pulo em ataque (você sabe, como a bundada do Mickey em CASTLE OF ILLUSION ou a bengalada quicante do Tio Patinhas em DUCKTALES). Isso funciona. Eu me pergunto se alguém já tentou pular na cabeça de alguém de pé em uma briga... vc precisaria pular muito alto, mas imagino que causaria bastante estrago apenas com o peso do seu corpo e o pescoço não foi feito para... hã, mas divago, ee volta ao que eu estava dizendo. 



O meu ponto aqui é que você não tem como fazer um jogo de plataforma muito mais genérico do que isso. Você tem saltos difíceis, inimigos pra pular na cabeça e estrelas para coletar. Tem um chefe no final de algumas fases, que, claro, você precisa decorar o padrão de ataque e acertar entre 3 e 6 vezes.

Então esse jogo tem alguma mecanica exclusivo ou algo que o torne memorável? Hã... hmm... bem, o world map é realmente bonito. Sério, este é um dos melhores world map que eu já vi em um jogo até agora, então tem isso. Verdade seja dita, toda arte desse jogo é muito agradável: as cores, as animações, os desenhos. Eles não são excelentes, mas eles são muito agradaveis. Então, kudos para o departamento de arte deste jogo.


Mas fora isso... é, não tem mais muita coisa não. Nada de ruim, mas nada de revolucionário também. Esse jogo é igual a qualquer outro jogo de plataforma e, embora seja divertido nos primeiros 30 minutos, torna-se monótono bem rápido.

Eu suponho que poderia ter sido feito mais com seu pinguim/arma, mas então PSYCHO FOX já tinha feito isso em 1989. Sim, você pode jogá-lo nos inimigos e ele tem duas formas diferentes em que pode se transformar, mas suas diferentes formas ocorrem apenas em 3 dos 17 estágios, então whatever.


Novamente, Ardy Lightfoot não é um jogo ruim. É bastante jogável e até agradável. Mas definitivamente não tem nada de especial e, mais importante, os controles são meio duros pra chama-lo de um "excelente jogo de plataforma". No fim do dia, um jogo de plataforma é tão bom quanto seus controles. 

Você olha para uma obra-prima como SUPER MARIO WORLD com seu controle impecável e design de nível impressionante e é fácil ver por que ele resiste ao teste do tempo. Ardy Lightfoot, infelizmente, tem um design esquecível e controles menos do que estelares. Não é ultra responsivo, e a mecanica do salto de mola traseira é um pouco duro de se usar - e você usa bastante. 



Em geral, alguma coisa em como o personagem responde não parece certo, adicione a isso que a dificuldade é irregular (numa fase vc passa sem piscar, na seguinte é massacrado pela dificuldade) e isso é o suficiente para tira-lo do livro das "perolas escondidas" do Super Nintendo.  

Mas hey, pelo menos o jogo é decente o suficiente para joga-lo como um jogo de plataforma - o que é mais do que frequentemente se pode dizer dos jogos mascote-plataforma, como AERO THE ACRO-BAT ou BUBSY in: CLAW ENCOUNTERS OF FURRED KIND ou JAMES POND: UNDERWATER AGENT ou RAYMAN... hã, quer saber?

Esse jogo ser "apenas" jogavel tá ótimo pra mim, podia ser muito pior que isso...


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 008 (Abril de 1996)